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terça-feira, 29 de junho de 2010

No que estou crendo...

Minha confissão de fé tem sua base no Cristo ressurreto do Evangelho, mas a minha interpretação do Evangelho de Cristo, sofre alterações, pois num universo em movimento não posso me dar o luxo de ficar estagnado.

O meu credo expressa não uma filosofia, mas a minha dialética com a vida, a partir desses “pré”-supostos, esse credo está em aberto, passível de re-interpretação. Istó é, quando a práxis da vida, for confrontada com as contingências, faço ré-visão, dou "ré", e tento ver o que deixei de ver, pois é isso na minha existência que me faz decifrar os mistérios que são revelados nas ambivalências da vida! Não sou mais teó-logo, mas teó-fago, meu discurso não tem mais a pré-missa na lógica do Logos, mas na i-lógica dos dis-sabores da vida! ...Sendo assim quero deixar registrado algumas bases da minha fé.

1 – Creio que a “verdade” é que toda a “verdade” é cristo, somente cristo tem o absoluto da verdade, no demais o único absoluto é o relativo.

2 – Creio que a todo ponto de vista é à vista de um ponto, nos sempre vemos de um ponto, somente Deus tem todos os pontos de vista e tem a vista de todos os pontos.

3 – Creio que a nenhuma teologia pode responder as questões de fé, e se apresentar como resposta aos paradoxos da vida.

4 – Creio que a própria palavra “teologia”, já é um paradoxo, pois não se estuda Deus, ele não é um objeto estático que se observa e se descreve, Deus se experimenta, e quem o experimenta não consegue descrever.

5- Creio que a palavra “Teólogo” é um termo que descreve aquele que estuda Deus, mas visto que Deus não se estuda, mas se experimenta, prefiro então o termo “Teofago”, por isso Jesus disse: “aquele que comer da minha carne e beber do meu sangue”.

6. Creio que se tivesse mais “Teó-fago”, do que “Teó-logo”, teríamos menos discurso, e mais bondade, pois quem discursa sobre Deus, tem argumento até para genocídio, encontra razão para matar, mas quem experimenta Deus compreende que a razão se fez carne e preferiu morrer!

7 – Creio que o amor de Deus rege o universo e não o poder, pois o amor relativiza o poder, e admite ser contestado, o poder se impõe. Deus admite abrir mão do poder de impor, aceitando o homem se opor, a onipotência de Deus está em que ele pode não poder!

8 – Creio que a vida é o bem maior que temos, devemos reciclar tudo em nossa existência e descartar o que não tiver conexão com a vida, o verbo se fez carne e não discurso, por isso a teologia piedosa e verdadeira tem como lente “cristo em carne”, e não “cristo em discurso”.

9 – Creio que a as pessoas estão acima das instituições, por isso toda instituição existe em função das pessoas e não o inverso, quando inverte-se esse principio, a confissão de fé tiraniza torna-se exploradora e opressora, sendo meio de destruição daquilo que se propõe re-construir: "Aimagem de Deus no homem".

10- Creio que a noticia alvissareira do evangelho é que “Deus se tornou carne”, Ele não apresentou teses do de seu poder com verdades eternas, mas simplesmente enfrentou na carne os paradoxos da vida.

11 - Creio que Deus não se busca, pois ele não está “Lá” onde preciso me esforçar para encontrá-lo, embora Ele seja transcendente, “Há um só Deus e Pai de todos, que está acima de tudo”, Ele é transparente “por tudo”, também é imanente “e em tudo”. (Ef 4:6).Sendo assim todos esforços para “buscar Deus” é desnecessário, pois ele está em tudo, embora não seja tudo!

12 – Creio que em Cristo a teologia tem sua gênese “de baixo para cima”, e não de “cima para baixo”, afinal ele desceu, para depois subir, quem deseja subir, deve andar na poeira das suas sandálias, não se encontra Deus no “Espírito”, pois Deus se encontrou com o homem “em-carne”.

13 – Creio que a adoração deve começar na horizontal, e não na vertical, pois a recomendação de Cristo é que ao ofertar a Deus “vertical”, e lembrar-se que teu irmão tem algo contra ti “horizontal”, deixa a tua oferta e vai reconciliar com o teu irmão. Ou seja, o caminho para a dimensão vertical (Deus) tem sua genética na horizontal (homem).

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Hierarquia ou Hierodoulia?

Quem criou “hierarquia na igreja?” O modelo de relacionamento perfeito na Bíblia é a Trindade e entre nesse relacionamento não tem hierarquia, onde está a superioridade do Pai para o filho, ou do filho para Espírito Santo?

A palavra “Hierarquia” o “hieros”, sagrado + arché (comando, autoridade), já exprime uma filosofia de domínio, poder, que normalmente leva a opressão dos que não tem nenhum poder!

Já hierodoulia, também tem o “hieros”, o sagrado, mas “doulos” = servo, o sagrado está no servir, e não no poder, visto que o poder que é a essência do reino é despir de todo poder em prol de servir o outro!

O relacionamento descrito por Jesus entre Ele e o Pai em João 17: “Glorifica a teu filho para que ele glorifique a ti (...) assim como lhe conferiste autoridade sobre toda a carne a fim de que ele conceda a vida eterna a todos que lhe deste. (...) Eu glorifiquei a ti e agora glorifica-me (...) com a glória que tive junto de ti, antes que houvesse mundo” [1]. A fim de que todos sejam um; como és tu, o pai, em min e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste. (...) para que sejam um com nós o somos [2].

Interessante que na dimensão humana de relacionamentos o pai está no topo da hierarquia, mas na divindade, a soma de duas unidades é UM, e ainda mais, ele deseja que essa equação seja uniforme em relação à Igreja, só lembrando que ele estava dizendo isso para os discipulos, que viria a ser a “liderança”, que ele estava inciando!

Não digo que deve se excluir a “hierarquia”, no sentido de ninguém liderar, mas que essa é mais uma função, daqueles que sendo aperfeiçoados, ao mesmo tempo recebe a tarefa de ajudar outros a se aperfeiçoarem através dos dons concedidos por aquele que é o cabeça de todo o corpo.

Aqueles que ao exercerem uma função no corpo, não estão acima, não deixam de ser corpo [3]. A “hierarquia”, não deve existir no sentido de “poder para mandar”, mas poder para fazer antes, aquilo que deseja que outros façam!
Quando Jesus se autodenominou o pastor que da a vida pelas ovelhas [4], ele realmente fez aquilo ao qual falou, por isso tinha autoridade para estar no topo da “hierarquia”, mas quando com os discípulos pegou a toalha e lavou-lhes os pés, [5] mostrou que o poder da hierarquia está em não ter poder, pois “poder”, não é um poder de “oprimir os subordinados”, mas um poder de “se subordinar” deixando a prerrogativa de ter poder.

Se houver um líder com essas atitudes, ele não precisará poder para exercer uma hierarquia, pois todos o reconhecerão como alguém que está “acima” dos outros, justamente por se “colocar abaixo”, nesse caso seja bem vindo o “hieros” = (sagrado) + “arché” = (comando, autoridade), pois será autoridade sagrada, pois nesse reino sacro, quem quiser ter autoridade, terá que se despir de toda a força, e se vestir de humildade, os bem aventurados não são os que não tem poder para se impor, mas o que tem o poder de não ter poder, esses são os fortes do reino, pois tem como protótipo aquele que não venceu os principados e potestades, com a sua “divindade”, mas na sua humanidade derrotou-os na Cruz [6].
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Notas
[1] João 17:1-5
[2] João 17:21-22
[3] Efésios 4:11-13
[4] João 10:11
[5] João 13:15
[6] Colossenses 2:14-15

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Evolucionismo & Criacionismo: Um diálogo

A Teologia deve ter como ontogênese [1] a ecologia, e não a imago dei, [2] não a imagem daquele que criou, mas de onde o criado imerge, não é negar a transcendência [3] do criador na criatura, mas re-conhecer a natureza como suporte sine qua non [4] para a existência da criatura. É um convite a andar numa linha tênue: “afirmar a natureza imanente [5] no homem tanto em sua composição química, quanto na influência bio-psico-lógica [6], que molda a dimensão psico-soma da existência humana”.

A ecologia afirma o entranhamento da natureza no homem, na imago dei eleva-se o homem acima dessa. O ser criado na antropologia teista [7] precisa reconhecer que o homem como o último na cronologia é dependente em comparação aos outros seres que habitam o planeta antes dele. A antropologia criacionista [8] tanto quanto a evolucionista concordam com sua peculiaridade, a capacidade de transcender o eleva acima dos demais seres.

Claude Lévi-Strauss diz: “A cultura surgiu no momento em que o homem convencionou a primeira regra, a primeira norma (LARAIA 2009)”.

O teísmo [9] crê que o homem desde a sua origem é superior a natureza, mas também tem na regra, a origem do des-vinculo com ela. Pré-supõe no teísmo a semelhança do evolucionismo, num determinado momento o homem vivia em harmonia sendo uma unidade com a natureza. O conflito surge em ambas às teorias através da norma ou regra, essa é a gênese da transcendência no teísmo: “O conhecimento do bem e do mal”.

A antropologia Darwinista tem na regra a evolução, a criacionista, não na regra, mas a quebra dessa, a regressão. Na primeira o homem é elevado a um estado superior, na segunda o inverso, ele sai de um estado “superior”, que seria a “ausência de conflitos”, para a “imperfeição”, que é atitude de criar, decidir por si mesmo, o certo e o errado. Na primeira a regra eleva, na segunda somente submetendo-se a ela o homem é elevado, manteria a ausência de conflitos!

A antropologia teista ou evolucionista são unânimes, em afirmar que houve um momento de transcendência:

“Todo comportamento humano se origina no uso de símbolos. Foi o símbolo que transformou os nossos ancestrais antropóides em homem e fê-los humanos. Todas as culturas se espalharam e perpetuaram através de símbolos” (LARAIA 2009; p55 op.cit. Leslie White). [10]

O comportamento humano, a faculdade de criar símbolos trouxe a des-harmonia, entre o homem e a natureza, houve um tempo em que às instancias da vida tinham duas dimensões: O Id [11] (Eu quero) com o Ego [12] (Eu posso), não existia Superego [13] (Eu devo)! A vida era afirmação dos desejos sem oposição da realidade, o símbolo deu significado, trouxe a cultura, homem e natureza deixaram de ser unidade.

A cultura eleva o homem acima dos animais, e transporta-o a dimensão dos conflitos geradores de neurose pela quebra das regras. Mas se a cultura é a gênese dos conflitos, entre as três instâncias da vida: Eu Quero X Eu Posso X Eu Devo? De onde surgiu esse ponto de interrogação (?), seria ele filho da cultura, nomeado pela psicanálise de “superego”!

Antes do superego a vontade de potência (Nietsche) era afirmativa “eu Devo”! Mas a afirmação cede lugar à interrogação “Eu Devo?” Alguma coisa aconteceu, a afirmação precisa da negação para ter sentido, a moral eleva o homem acima dos demais, mas toda ação produz re-ação, a eleva-ação gerou conflitos, ganhou transcendência, mas também a capacidade de se tornar neuro-òptico!

A origem da cultura para a antropologia Darwinista é o equivalente à lei da “arvore do conhecimento”, eleva o homem a uma nova dimensão. O estágio que antecede a norma mantém o homem num estado de igualdade com a natureza colocando-o na dimensão dos animais, essa dimensão que antecede as normas e a incapacidade de simbolizar tornava o homem igual aos demais seres. O surgimento desses símbolos eleva-o acima dos outros seres.

No teísmo, a norma não eleva, ela adverte em manter a harmonia. O homem sempre é considerado superior à natureza, a questão é: “Como ser superior aos animais sem a presença dos conflitos”? Não é o conflito com a natureza que diferencia o homem dos demais habitantes do planeta?Na antropologia teista, a narrativa do Gênesis infere que a “evolução” dar-se-ia justamente em “não ir além da norma”, de forma que a “norma” existe para ser mantida.

Nas duas teorias, a norma é fator sine qua non para a “evolução”, ou “degradação”! O teísmo traz implícito que o homem desde a sua origem é superior, e que a quebra da norma lhe colocou em conflito com a natureza causando a sua finitude (morte). O homem estaria em evolução com a ausência do conhecimento, ou seja, estaria evoluindo preservando-se de conflitos, pois o conhecimento deu origem à morte. No teísmo, a norma não deve ser quebrada, sua “transgressão” leva à “re-gressão”, pois nasce o conflito, a consciência, a subjetividade! No evolucionismo, a norma leva à “evolução”.

Os antropólogos elevam o homem a uma categoria suprema ao constatar que de todos os seres vivos é o único que tem noção de tempo, vive o hoje com o olhar no ontem e projeta-se para o amanhã. No entanto, reconhecem que esse mesmo homem é um dos mais frágeis na cadeia evolucionista, necessita de anos para ter um pouco de autonomia, e como os demais seres que já existiram antes dele, pode ter o final do seu ciclo no planeta.

O pré-suposto do teísmo inverte essa concepção ao afirmar que a teoria da superioridade do homem, criado a imago dei dá sentido à existência no tocante à finitude da vida. Em contrapartida, faz com que o homem abuse do “poder” que lhe foi outorgado, pois a transcendência deu-lhe a ilusão de que pode viver não só além da natureza, mas a submeter aos seus desejos!

A Antropologia Darwinista e a Teísta tem um ponto em comum: “Houve um momento que o homem se distanciou da natureza”! A discordância vem na seguinte indagação: “Foi uma Queda (teísmo) ou um Salto (evolucionismo)?”.

Na evolução: “O homem pró-gride”, vai para a dimensão da se-“para-ação”, ter consciência da finitude é evolução, dar-se-ia origem aos ritos.

O teísmo vai à contramão, ele re-gride, essa se-“para-ação” positiva na evolução é vista como negativa, a auto-nomia na antropologia Darwinista é vista como pró-gressão, já no teísmo é re-gressão, no evolucionismo o homem é auto-nomo, a regra vem de dentro, no teismo o homem é Teo-nomos vem “de fora”, abre mão da lei em si (dentro) para a lei além de si (fora)!

Na auto-nomia evolucionista ao terminar o ciclo da vida, o homem volta ao ventre da mãe natureza, no teísmo o homem cria símbolos, projeta seus anseios sabe que irá para o ventre da mãe, mas crê que voltará para os braços do pai! Religião é símbolo é desejo que palavras não podem expressar!

A filosofia teísta nem sempre concordou com a “queda”, Hegel interpreta a quebra da regra, (lei) como “Queda para cima”, nesse caso, o “fogo” roubado dos deuses trouxe luz aos homens (prometeu), o “abrir os olhos” trouxe o “conhecimento do bem e do mal” (judaísmo-cristão), a criação de regra-símbolo, deu a capacidade do homem transcender (Darwinismo).

A “auto-percepção”, implica conflito entre o “homem x deus (es)” (teísmo) ou a “criança x pai” (psicanálise), homem x natureza (Darwinismo). O Theos [14] adverte o antropos [15] que a quebra da norma marcaria o inicio do conflito, “abrir os olhos” enfrentar a “de-grada-ação” (Teísmo) ou a “e-voluir-ação” (Darwinismo).

No teísmo houve pré-juizo, trocar o não saber pelo saber, no primeiro há ausência de conflitos, mas haveria crescimento sem esses? No segundo (Darwinismo) a vontade de potência (Nietsche) nem sempre teria potência para executar sua vontade, o movimento do corpo na expansão iria encontrar na regra (lei) o seu reverso a contração!

A finitude e o desejo de pró-“longar” a vida, nisso concordam as duas antropologias, mas a evolucionista aceita a bio-lógica, na lógica da bio. O homem vai passar como passou os que passaram antes dele, contudo ninguém nega a necessidade da religião que nos símbolos empresta sentido à existência, ao menos faz o homem crer que é especial, afinal ele é diferente, ou pelo menos é o único que crê assim acerca de si mesmo.
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NOTAS
[1] Série de transformações por que passa o indivíduo, desde a fecundação do ovo até o ser perfeito; ontogenia.
[2] É a doutrina de que o Homem foi criado à Imagem Divina. É a resposta bíblica a como surgiu o Homem, Criatura singular entre as existentes.
[3] s.f.1. Qualidade do que é transcendente; excelência; superioridade. 2. Sublimidade. 3. Grande importância.
[4] (locução latina sine qua non, sem o qual não)adj. 2 gén. 2 núm. Indispensável essencial (ex.: condição sine qua non).
[5] adj. 2 gén.1. Que não desaparece ou não se vai. 2. Permanente. 3. Inseparável do sujeito.
[6] Bio: pref.1. Exprime a noção de vida (ex.: biografia). 2. Exprime a noção de biologia ou biológico (ex.: biodiversidade). Psicológico adj.1. Pertencente ou relativo à psicologia.
[7] (antropo- + -logia)s. f.1. Estudo do homem considerado na série animal. 2. História natural do homem. teísta adj. 2 gén. s. 2 gén. Que ou pessoa que crê na existência de Deus.
[8] Antropologia idem 7, mas estuda o homem a partir da crença de o homem foi criado a imagem e semelhança do seu criador.
[9] O teísmo (grego theós, - oú, deus + - ismo) s.m. Crença na existência de Deus.
[10] LARAIA, Barros roque de. Cultura. Um conceito antropológico. 24ª edição. Editora Zahar. Rio de Janeiro – RJ. 2009.
[11] Id: conjunto de energias psíquicas que determina os desejos do sujeito
[12] Ego: estrutura onde está todo conhecimento que o indivíduo possui de si e sobre o meio
[13] Superego: estrutura que se desenvolve a partir do conhecimento mora e valores do indivíduo. Representa a mora dentro do indivíduo.
[14] Theos: Palavra grega para designar: “Deus”.
[15] Antropos: Palavra grega para designar “Homem”.
Fonte de consulta: http://www.priberam.pt/

Esse artigo foi postado originalmente no blog: CPFG (Confraria dos pensadores fora da gaiola)