Jesus e Paulo falam do pecado (singular) como a
perda da retidão do homem no Éden (Romanos 5.12) contudo, Paulo tenta aplicar
os efeitos dos “pecados” nas relações humanas no contexto das comunidades
cristãs.
Jesus não dá ênfase a “pecados” (plural), trata da
condição humana perdida no Éden e como restaurar sua relação com o próximo,
condição sem a qual impossibilitava o cristão de entrar no reino. (Mateus 5.20).
Paulo fala da humanidade caída, onde Judeus e
gentios estão nas mesmas condições (Romanos 3.19-20).
Nessa relação entre lei e pecado temos três
estágios:
1º LEI DA LIBERDADE: A árvore do conhecimento era
apenas uma opção, embora houvesse desejo, nenhum impulso determinaria sua
escolha (Gênesis 2.16-17).
O homem opta livremente em seguir a sugestão da
serpente: “abrir os olhos para o conhecimento e ser igual a Deus” (Gênesis
3.5). O desejo de ser “deus” de si mesmo.
2º LEI DO PECADO: O conhecimento do mal não daria
ao homem poder para dominar o mal conhecido. Deus advertiu Caim: “o pecado o
ameaça à porta; ele deseja conquistá-lo, mas você deve dominá-lo” (Gênesis
4.7).
A liberdade passou a ser limitada pelo desejo, onde
era apenas uma opção, passou a ser um conflito. O pecado passaria a dominar o
homem e ao homem caberia lutar para não se deixar dominar. A lei da liberdade
passou a ter um limitador: a “lei do pecado”?
Paulo didaticamente explica esse conflito em sua
experiência:
“eu não saberia o que é pecado, a não ser por meio
da lei. Pois, na realidade, eu não saberia o que é cobiça, se a lei não
dissesse: Não cobiçarás". (Romanos 7.7).
O pecado se utiliza do mandamento para produzir
efeito colateral: “produzir todo tipo de desejo cobiçoso. Pois, sem a lei, o
pecado está morto”.(Romanos 7.8).
Somente uma intervenção poderia amenizar ou dar ao
homem um possibilidade de lutar contra a lei do pecado que habita nele. A lei
da liberdade foi afetada pela lei do pecado, que agora precisaria de uma nova
lei...
3º LEI DO ESPÍRITO E VIDA: Depois e mostrar os
conflitos que havia no seu interior e que a lei serviu para mostrar a
intensidade do pecado que habita no homem (Romanos 7.13).
Paulo mostra que não basta desejar fazer o bem,
pois na prática, fazia o mal que não desejava, isso porque, havia um conflito
entre: o bem que conhecia e o mal que prevalecia. (Romanos 7.18-23),
Paulo fala da nova lei que faria oposição a lei do pecado que seria a anulação da condenação atrvés da “Lei do Espírito e Vida” que faria a libertação da lei do pecado e da morte.
Paulo fala da nova lei que faria oposição a lei do pecado que seria a anulação da condenação atrvés da “Lei do Espírito e Vida” que faria a libertação da lei do pecado e da morte.
A lei embora
com boas intenções (7.12) não tinha poder sobre o pecado, devido ao pecado que
habita no homem, então Deus interfere “enviando seu próprio Filho à semelhança
do homem pecador, como oferta pelo pecado. E assim condenou o pecado na carne”.
(Romanos 8.3).
A lei não atingia seu objetivo porque havia uma
contradição entre os desejos de viver de acordo com a lei e os desejos
despertados pela própria lei, dessa forma, o homem sequer saberia o que é cobiça
se a lei não dissesse: “Não cobiçarás” (Romanos 7.7).
Paulo então fala que agora seria possível “andar no
Espírito” através de uma mudança de mentalidade (Romanos 8.5), seria possível
não cumprir com os “desejos” que conspiram contra a Lei do Espírito e de vida.
Como então o homem poderia vencer o pecado que atua
através da lei? Lutando contra Ele? A resposta está no inicio do capitulo 7, Paulo
diz que a morte rompe com a lei: “vocês também
morreram para a lei, por meio do corpo de Cristo”. (Romanos 7.4).
Morrer
relativamente e não totalmente, ou seja, embora os desejos sempre irão existir,
não deverão mais ser alimentados através da lei, o apóstolo descobriu que: “o
próprio mandamento, destinado a produzir vida, na verdade produziu morte” (Romanos
7.10)..
O pecado não poderá ser vencido criando uma
leis, a lei ao invés de enfraquecer o
pecado, o fortalece.
Tomemos um
exemplo quando alguém se propõe a fazer um regime, a pessoa diz:
Não vou
comer mais o tanto que comia, ao fazer isso, a pessoa inconscientemente cria
uma lei e automaticamente o desejo de comer será maior que antes.
Jesus e a lei: A letra da lei
justifica o homem diante dos homens
- o espírito da lei iguala todos
os homens diante de deus.
Se a lei
condenava o pecado “Não adulterarás” a
penalidade seria a morte por apedrejamento (Levítico 20.10), como
entender Jesus dizer:
“Vocês
ouviram o que foi dito: ‘Não adulterarás’. Mas eu lhes digo: qualquer que olhar para uma mulher para
desejá-la, já cometeu adultério com ela no seu coração. (Mateus 5.27,28).
Se na lei o pecado é condenado na prática, Jesus
traz o pecado para a esfera do desejo. Jesus trouxe uma lei mais severa que a lei do pecado? Já
que o pecado só era creditado quando efetivado e agora, seria concretizado no
desejo e não no ato.
Para entendermos esse texto é preciso analisar o
seu contexto, Jesus não estava trazendo um evangelho mais rígido que a lei, mas
sim queria confrontar os moralistas que
achavam que poderiam ser justificados diante de Deus através das obras da lei,
por isso, Jesus advertiu os discípulos:
“Pois eu lhes
digo que se a justiça de vocês não for muito superior à dos fariseus e mestres
da lei, de modo nenhum entrarão no Reino dos céus" (Mateus 5.20).
Jesus
reconhece que havia justiça nas obras dos fariseus e mestres da lei, contudo,
essa justiça era parcial, visto que o cumprimento da lei exigia harmonia entre
o desejar e o praticar, assim, “não adulterar” não era suficiente, era preciso
“não desejar adulterar”!
Jesus estava
confrontando os fariseus que não adulteravam, eram admirados pelos homens, mas
diante de Deus, caiam na condenação ao “desejar no coração” o que não concretizavam
nos atos.
O ato não é
justificado pelo ato em si, mas pelo desejo que está por trás do ato. A justiça
da lei exige que haja harmonia entre ação e o desejo:
“Ame
o Senhor, o seu Deus de todo o seu CORAÇÃO, de toda a sua ALMA e de todo o seu
ENTENDIMENTO’ (Mateus
22.37).
No Evangelho segundo João capitulo 8, vemos um
exemplo prático, uma mulher flagrada em
adultério, estava para ser apedrejada, Jesus perguntou aos que estavam com as
pedras nas mãos:
Quem NÃO TEM PECADO atire a primeira pedra. Se
algum de vocês estiver SEM PECADO, seja o primeiro a atirar pedra nela (João 8.7).
Jesus cita “pecado” (singular) não estava falando
de “pecados” mas de pecado no sentido de
desejar. Quais deles que queriam apedrejar a mulher que não estaria desejando secretamente no seu
coração ter aquela mulher que queriam
apedrejar?
O pecado na raça humana pode entendido usando a
teoria de Aristóteles na relação: “potência” e “Ato”, todos carrega em si a potencialidade (potência) para a atualização (ato), o que separava os
apedrejadores era a “atualização”
(consumação) do pecado que não se
concretizava por medo de quebrar a lei.
No entanto ao obedecer a letra da lei: “não adulterarás”, quebravam o “Espírito da
lei”, o amor a Deus era apenas na exterioridade, pois na interioridade, “coração,
alma, entendimento”(Mateus 22.37) estavam em oposição as suas ações.
Jesus mostra que as dimensões: “Letra e Espírito”
devem estar unificadas, portanto, quem ousar tentar cumprir a lei através da
obras, não basta se abster da prática do
mal, mas no coração não desejar o mal do
qual se abstém.
Jesus iguala
fariseus, publicanos, pecadores e prostitutas e concorda com Paulo quando diz:
“Sabemos que tudo o que a lei diz, o diz
àqueles que estão debaixo dela, para que toda boca se cale e todo o mundo
esteja sob o juízo de Deus. Portanto, ninguém será declarado justo diante dele
baseando-se na obediência à lei, pois é mediante a lei que nos tornamos
plenamente conscientes do pecado. (Romanos 3:19,20).