contra a
intolerância pelo respeito à diversidade: UMA REFLEXÃO SOBRE O PRECONCEITO
RACIAL NO BRASIL*
A intolerância e o desrespeito pela
diversidade, podem ser percebidos, há preconceito em relação a juventude pobre
da periferia, que são associados criminalidade.
Jovens que mudavam totalmente a sua maneira de vestir e tinham que ensaiar um vocabulário onde harmonizasse ou ocultasse sua forma de viver no dia a dia, pois poderia ser interpretado que o fato de morar num bairro pobre, poderia atrapalhar no desempenho exigido pela função que fosse candidato a exercer.
Jovens que mudavam totalmente a sua maneira de vestir e tinham que ensaiar um vocabulário onde harmonizasse ou ocultasse sua forma de viver no dia a dia, pois poderia ser interpretado que o fato de morar num bairro pobre, poderia atrapalhar no desempenho exigido pela função que fosse candidato a exercer.
A lei de cotas instituída pelo governo
Lula que a priori tinha a intenção de corrigir uma injustiça histórica, em
alguns casos fez ampliar ainda mais o preconceito para com as pessoas que na sua
maioria não tinham condições de estudar em uma universidade pública, essa
realidade é diagnosticada pela antropóloga Ruth Cardoso, ao observar o paradoxo
existente, “pois a mesma sociedade que contribui para a ampliação dos direitos e
da cidadania atua na multiplicação do preconceito”. (1997).
Essa situação de
preconceito tem suas origens no que BERNARDINO (2002, p.254) chama de “mito da
democracia racial ou do Senhor benevolente”, que segundo o autor, produziu
algumas consequências práticas:
como não
haver raças no Brasil por entender-se o conceito de raça como agrupamentos que
compartilham certas características hereditárias, que não são compartilhadas
como nenhum outro, como cor da pele, tipo de cabelo, formato do nariz e porte
físico. (p.254)
Segundo o autor, “assim a inexistência de
raças no Brasil decorreria do processo de miscigenação que dilui supostas
essências naturais originais das três raças que fundaram a população
brasileira”. O jovem pobre e negro se manifesta contra esse preconceito através
da música, eles se identificam, com músicas que protestam em suas letras contra
toda a forma de discriminação, opressão e preconceito sofrido pela sociedade:
Nego drama, Cabelo crespo, E a pele escura, A ferida, a chaga, A procura da cura. (Letra da música: Negro Drama Racionais Mc's).
A letra dessa música faz uma critica ao conceito de raça, tendo como base
a cor da pele, sendo uma “ferida” ou “chaga”, desde a colonização e narra à
procura da “cura”, uma forma de sair dessa condição de subserviência como
herança do negro escravizado. Mais uma vez, é um
conceito deturpado do significado de “cor”, pois se toma a imagem ou figura de
raça quando se tentar classificar a pessoa ao utilizar o termo “cor”, de acordo
com Guimarães (apud Bernardino 1999,
p.255), “ao se utilizar o termo cor para se classificar as pessoas reporta-se
não a uma classificação objetiva da realidade, mas, uma hierarquia
classificatória em que aqueles nomeados de branco são concebidos como melhores,
enquanto aqueles nomeados de preto, são concebidos como piores”.
Negro drama, Eu sei quem trama, E quem
tá comigo, O trauma que eu carrego, Pra não ser mais um preto fodido. O drama da cadeia e favela, Túmulo,sangue,
Sirene, choros e vela. (Letra da música: Negro Drama Racionais Mc's).
Esse preconceito para o jovem negro tem
abrangência psicológica, pois a vida torna-se um “drama”, desconfia que ha
sempre uma “trama”, como efeito de carregar um “trauma” para não ser mais um
“preto fodido”, mais um numero nas estatísticas, que nem sempre aparecem no ibope,
como marginalizados, os que vivem as margens como efeito da injustiça social
desde os tempos de Cabral. No desenrolar da musica que é uma critica contra o preconceito,
o cantor associa duas coisas comuns na vida do negro marginalizado, ao vincular
“cadeia e favela” como inseparáveis e “tumulo e sangue”, uma referencia a
violência sofrida na sociedade.
A questão das identidades nacionais, culturais, religiosas, étnicas,
linguísticas, baseadas no gênero ou em formas de consumo, adquire cada vez mais
importância, segundo SODRÉ (2006, p.8), “pelo
fato de que há um abismo entre o reconhecimento filosófico do outro, que é abstrato,
é a prática ético-política de aceitar outras possibilidades humanas, de aceitar
a diversidade, num espaço de convivência”.
O autor chama a atenção para o problema do
“valor” entendido como uma orientação prática para a ação social, no valor há
confrontos de equivalências, visto que nenhum valor é neutro, e todo valor é
efeito das convicções e crenças de um sistema, ou seja, valor é uma
significação pré-estabelecida.
Na concepção do autor pode se ver como
exemplo um jovem da periferia, negro e um branco andando nas ruas a noite, uma
blitz policial, certamente o negro irá ser revistado, pelo fato de ser
“suspeito” a sua condição de preconceito de valores. Outro problema é a
diferenciação feita pelo senso comum
onde se usa a diferença para estabelecer o ponto de partida e o julgamento é a
partir da “identidade da diferença”.
Um
exemplo está na roupa que identifica as pessoas relacionadas às suas crenças, e
já cria uma indisposição para o respeito e o diálogo, de acordo com Sodré (2006,
p.8), “o racismo apresenta-se geralmente como
esse “saber automático” sobre o Outro. Os preconceitos funcionam assim na
prática: valem para qualquer outra forma diversa”.
Os estereótipos culturais servem para marcar
os limites entre grupos, comportam em si o risco de que o diálogo possa limitar‐se à diferença e que a
diferença possa gerar a intolerância, as tensões do presente, entre a diferença
e a igualdade, entre a exigência de reconhecimento da diferença e uma redistribuição
que permita a realização da igualdade.
Quando uma pessoa tem uma atitude
preconceituosa em relação a outra, está fazendo uma comparação a partir do seu
padrão de referência, portanto, o preconceito racial ocorre quando uma pessoa
ou um grupo sofre uma atitude de discriminação, por parte de alguém que tem como padrão de referência
o próprio grupo racial de consumo. Se alguém ousar quebrar essa lógica vai novamente
sofrer do preconceito:
Me
ver, Pobre, preso ou morto, Já é cultural (...) Você tá dirigindo um carro, O
mundo todo tá de olho em você, morou? Sabe por quê? Pela sua origem, morou
irmão?
(Letra da
música: Negro Drama Racionais MC's).
O preconceito introduz a desigualdade entre
os seres humanos, podendo atingir toda a sociedade ou os membros de um povo
determinado, nas palavras de Lerner (1997,
p.55):
"em consequência dos preconceitos as pessoas diretamente ou indiretamente atingidas por eles são julgadas negativamente e colocadas em situação de inferioridade social. Desse modo deixa de prevalecer o reconhecimento moral da igualdade essencial de todos os seres humanos e fica prejudicado o direito à igualdade, que deveria ser assegurado a todas as pessoas".
"em consequência dos preconceitos as pessoas diretamente ou indiretamente atingidas por eles são julgadas negativamente e colocadas em situação de inferioridade social. Desse modo deixa de prevalecer o reconhecimento moral da igualdade essencial de todos os seres humanos e fica prejudicado o direito à igualdade, que deveria ser assegurado a todas as pessoas".
Os
preconceitos traficados pela sociedade de consumo traduzem uma visão de mundo que,
se não for recebida criticamente, converte-se na visão de mundo dos próprios
consumidores. Nessa dimensão adverte Lerner (1997, p.36), “ai dos negros africanos, ai dos pobres, ai
dos que não podem comprar: eles jamais serão vistos como cidadãos, jamais serão
vistos como seres humanos iguais aos seres humanos que usufruem das delícias do
consumo”.
_________________________________________
ReferÊncias
ALLPORT, G.W. (1979). The Nature of Prejudice. New York: Addison Wesley.
DEMAND, Peter. “direitos para os excluídos” in PINSKY, J. História da cidadania
SP. contexto editora, 2003.
SANTOS, Helio. “Discriminação Racial no Brasil”, Laboratório de Políticas publicas UERJ, Rio de Janeiro ão Paulo, Cia das Letras, 1998.
Bernardino,
Joaze. “Ação Afirmativa e a Rediscussão do Mito da Democracia Racial no Brasil”
in
http://www.scielo.br/pdf/eaa/v24n2/a02v24n2.pdf
Estudos Afro-Asiáticos, Ano 24, nº2, 2002, pp. 247-273. Ação Afirmativa
e a Rediscussão do Mito da Democracia Racial no Brasil.
Lerner, Julio. O
Preconceito/ editor - São Paulo. Imprensa Oficial do Estado, 1996/ 1997.
Disponível em
http://www.defendebrasil.org.br/novo/img/pdf/preconceito_.pdf (acesso em 25.08.2012)
UNESCO Relatório Mundial “Investir na diversidade cultural e no diálogo intercultural” (2009).
Programa Extra- classe 22 -
Boaventura de Souza Santos - 1
parte - Disponível em
http://www.youtube.com/watch?v=p7Jnm85ukow
Programa Extra- classe 22 -
Boaventura de Souza Santos - 2
parte- Disponível em:
http://www.youtube.com/watch?v=InZ916_1uBU&feature=endscreen
Negro Drama - Racionais Mc'sDisponível em: http://letras.mus.br/racionais-mcs/63398/
Acessado
em 12 de Setembro de 2013
* Trabalho realizado no Curso de Ciências
Sociais pela Universidade Metodista de São Paulo – UMESP
Blog interessante! Gostaria de sugerir um tema para reflexão.
ResponderExcluirA covardia.