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Jl-reflexoes

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Desamparo: O homem em Busca de Ser Aceito

Ler a Bíblia com olhar psicanalítico pode nos mostrar coisas que dificilmente perceberíamos numa leitura apenas teológica. Na leitura teológica, o leitor busca comprovar o que se crê, ou seja, ele vai para o texto com uma TESE inconsciente, na realidade ele parte de uma premissa afirmativa e vai ao texto comprovar a veracidade da premissa que crê.

O mito rejeição paterna de Deus no tocante a oferta de Caim... Como um Pai rejeita o presente de um filho e aceita o presente de outro. Não seria iniciar uma carência afetiva que produz um complexo de rejeição no outro...

Esse relato de Genesis mostra o processo mítico da guerra entre irmãos... o judaísmo reproduz o que outras culturas já haviam expressados em seu contos mitológico. No Genesis as guerras entre os irmãos começam a partir desse relato e é estendido a atualidade...

A partir desse relato de Genesis capitulo 4, prossegue a odisséia, o mito da rejeição paterna aplicado a Caim se estende....

Abraão por força das circunstancias rejeita Ismael, não lhe deu herança, mandou-o ao deserto abandonado a sorte. O anjo (Senhor) vai e resgata a mulher e seu filho...

Deus escolhe um dos filhos para ser o “herdeiro”, e esse é “Isaque”, veja automaticamente rejeita Ismael. Na seqüência da linhagem, Deus deixa claro que prefere Jacó rejeita Esaú. Paulo interpreta dizendo que Deus se aborreceu de Esaú, e ainda antes do nascimento! (Isso não é incrível!)

Veja que cada ato de Deus em favor de um, automaticamente desencadeia conflitos psicológicos no outro. E cada atitude de “Deus” é inconscientemente reproduzida nos seus filhos (Abraão, Isaque e Jacó).

O mito de que o filho  reproduz os erros dos pais....Cada escolha de Deus em preferência a um patriarca, é reproduzida no patriarca da mesma forma rejeitando um dos seus filhos...

Depois que Deus manifestou predileção para com Abel, rejeitando a CAIM E O QUE ELE OFERECEU. Toda a sua descendência de Caim é tida como do mal, os aceitos por Deus foram os “Bons”.
Caim entrou num processo de ira reprimida que culminou entrando para a história como o primeiro homicida, daí todos os seus descentes os “Filhos de Caim” passaram a representar a personificação do Mal. Nasce um filho substituto por nome SETE, para dar continuidade a interrupção na linhagem de Abel.

Os patriarcas deram continuidade aos erros dos seus precursores. Abraão cometeu o erro de dar predileção a Isaque, e isso com a “aprovação de Deus”. Isaque da continuidade ao erro do pai, ao escolher Esaú e rejeitar Jacó.

A partir daí incendiou o conflito entre os irmãos...
Jacó enganou o seu irmão e sumiu.... Mas não para ai... Cometeu o mesmo erro do seu avô (Abraão) e do seu Pai (Isaque), perpetuou o seu erro ao escolher José rejeitando os demais e despertando conflito entre eles.
José foi vendido pelos irmãos, jogado no poço... E segue: “A SAGA DOS ESCOLHIDOS DE DEUS QUE PRECISAM TER UM ADVERSARIO PARA COMBATER”.

Esses adversários nos relatos bíblicos normalmente são os irmãos.... Não seria uma busca de aceitação, onde somente excluindo o outro é que mostro o quanto sou importante?

Será que os relatos de Genesis não foram mal interpretados por Judeus-Cristãos -Mulçumanos...

Se Deus não faz acepção de pessoas, porque ele iria iniciar uma guerra de conflitos entre irmãos desde a rejeição de Caim... E olhe que o texto diz que: “E CAIM E SUA OFERTA REJEITOU O SENHOR”.

O escritor coloca primeiro a pessoa como objeto da rejeição, depois o objeto oferecido por ele...

Essa forma de registro fere no mais profundo a psique da pessoa, pois não foi uma rejeição ao erro, mas a pessoa!

O relato de Genesis é um Drama mitológico que enfrenta a humanidade com o maior de todos os problemas numa projeção do desamparo que sente o filho em relação ao Pai....

E esse desamparo encontra no ciúme do amor que o pai divide como os demais irmãos um combustível para as “Guerras entre irmãos”!

A rejeição paterna não é um registro único de Genesis, é comum na mitologia guerra entre irmãos... Na história bíblica dá a impressão que para “UM FILHO SER AMADO, O OUTRO TEM QUE SER REJEITADO”!

Os Filhos (árabes e Judeus) sentem o desejo de ser amado e inconscientemente disputam o amor do pai. O mesmo amor do Pai é disputado entre CATÓLICOS E PROTESTANTES...

Em ambos os casos os filhos admitem ter o mesmo pai, mas não aceitam ser irmãos, não podem amar-se pelo egoísmo de não querer dividir o seu amor do Pai...

Essa não é apenas a história de Judeus-Árabes e Católicos-Protestantes...Essa é a nossa história!

2 comentários:

  1. Mais uma vez penso nos critérios pra se interpretar a biblia... Muito bom!!! Li e já indiquei pra outros lerem e pensarem, pensarem e pensarem...

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  2. Bravo J. Lima!!!

    Eu já sabia que o teu maravilhoso e inspirado comentário lá na C.P.F.G., merecia um post.

    Promoveste um extraordinário passeio pela história judaica, e fizeste uma aproximação de sua saga com a psicanálise.

    Freud para investir na história psíquica do sujeito teve como bússola a velha Bíblia que o pai lhe presenteara na infância, e, como judeu que era aproveitou-se da memória do seu povo para analisá-la a fundo.

    O “herege” inventor do método analítico foi extremamente fiel à sua judeidade. A desconstrução dos textos bíblicos realizada por ele, teve sempre um viés ético, como o de impedir que a letra da lei servisse de arma para dominar o outro. Ser judeu para Freud era estar sempre fadado à dispersão e à vocação do exílio.

    Ele via no próprio exílio uma coisa muito positiva, pois, ser um ser de passagem, que migra, evitava que o indivíduo se arruinasse com a relação fixa e doentia pelo poder. Foi por esse motivo, que muitos compreenderam que a psicanálise só poderia vir de um judeu, sem deus,isto é, neutro para a política dos “deuses”.

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