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quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Transformando as Adversidades em Crescimento

Texto: 2 Timóteo 4. 9-18
Logo no início da vida, quando a criança sai do útero, ela sofre um impacto, deixa o conforto, entra no in-conforto, enfrenta um mundo desconhecido. Passa a sentir todas as circunstâncias ao seu redor, é o que a psicanálise chama de “desamparo”, um processo que se instala no ser humano desde o seu nascimento, como se vivesse em constantes perdas.

As mudanças de fases expressam bem essa realidade, onde em cada etapa, o ser humano enfrenta adversidades. Nessas adversidades que surgem, uns as usam para se fortalecer; outros atrofiam, ficam enclausurados em seu mundo imaginário, por não ter coragem de enfrentar e extrair algo de positivo, que venha servir de alavanca para outra dimensão da vida. Quando se extrai lições, a adversidade é benéfica, é necessário fazer dela um aprendizado, não vê-la como uma inimiga, mas companheira que conduzirá ao crescimento.

Só podemos crescer, se nossa capacidade de resposta for maior que a adversidade apresentada. Caso contrário, o que deveria ser uma forma de transpor e nos levar a outra dimensão, poderá nos paralisar, sem que consigamos extrair algo de positivo.

Mas como poderemos transformar as adversidades em crescimento? O que de positivo poderemos extrair na vida do apóstolo Paulo? Olhando para a sua vida o que podemos extrair das adversidades que ele enfrentou? Como podemos transformar as adversidades em Crescimento? Estaremos extraindo algumas lições que ele apresenta no relato da sua segunda carta ao seu discípulo Timóteo.

Na vida Haverá muitas Perdas, aprenda a Conviver com Elas. [2 Tm 4. 9-10]

Somos possessivos por natureza, ao alienar-se de Deus o homem vive uma síndrome de “perda”. Uma sensação de que em algum lugar no tempo, algo escapou dos nossos domínios. E com isso não é difícil de nos apegarmos as pessoas, objetos, e transformá-los na imagem daquilo que perdemos. Lidar com as perdas é algo que nunca podemos nos jactar que estarmos preparados, essas são eventos a qual não há uma preparação prévia.

Sempre que perdemos, ficamos com uma sensação de desolação, até mesmo numa brincadeira em que determinamos que não tenha nada em jogo para perder. Brincamos com o dever de ganhar, pois inconscientemente, o ser humano não admite perder, parece uma sublimação de uma perda maior: “A realização no próprio Deus”.

O apóstolo Paulo experimenta essa realidade quando no fim da sua vida, ele escreve a Timóteo com uma grande urgência pedindo para que ele viesse depressa [2 Tm 4.9] fala das suas perdas: “Demas amou o presente século me abandonou”, outro amigo por circunstancias desconhecidas: “Crescente foi para a Gálacia” e “Tito foi para a Dalmácia” [2 Tm 4. 10]. Somente uma pessoa entre tantas estava com ele, e esse era Lucas [2 Tm 4 .11]

O apóstolo não finge que estava abalado, pois ao fim da sua vida, certamente ele esperava a presença de pessoas nas quais ele sempre esteve presente, mas teve de aprender a conviver com a ausência. Algumas pessoas nos deixam por circunstâncias que não nos magoam, outras por interesses próprios, por discordarem das nossas ideologias de vida. São perdas, com as quais precisamos aprender a conviver.

Na Vida você Precisará ser Flexível, aprenda a Voltar Atrás. [2 Tm 4.11]

Na nossa jornada existencial, podemos tomas duas atitudes diferentes no tocante ao aprendizado: “podemos fazer com que as experiências amargas de ontem, sejam usadas para nos tornar mais flexíveis”, ou “podemos fazer com que a idade, ao invés de nos amolecer, nos tornar duros, inflexíveis”.

As mesmas dificuldades podem produzir duas reações diametralmente opostas em nosso ser: “podemos nos tornar flexíveis e aprender a voltar atrás”, como exemplo de quem aprendeu que voltar atrás também é ir à frente, inclusive quando se está errado. Ou usar o argumento de que não volta atrás, pois a experiência ensinou o suficiente e agora está imune aos erros, Paulo fez a primeira opção: “Toma contigo Marcos e traze-o o, pois me é útil para o ministério” [2 Tm 4. 11].

No início do seu ministério, Paulo teve grandes dificuldades de relacionamento com Marcos, pois esse o deixou no meio de uma viagem e voltou para Jerusalém [At 13.13]. Essa foi à razão pela qual Paulo e Barnabé vieram a separar-se posteriormente. Paulo não achava justo que Marcos fosse com eles, em razão de que havia os deixado antes de chegar o fim da viagem que iniciara com eles [At 15.38].

Às vezes não queremos usar da mesma bondade com que os outros usaram conosco, no ímpeto de achar que somos justos, sempre usamos de rigor, inclusive quando se é jovem. Barnabé também estava junto, mas não ficou tão frustrado como Paulo. A experiência de Barnabé, certamente o influenciou para usar de bondade com Marcos; mas Paulo esqueceu-se de que no início do seu ministério foi a bondade de Barnabé com ele, que o ajudou a conviver em paz com os irmãos [At 9.26-27].

O tempo é pedagógico, o movimento da vida traz com ele a oportunidade de rever os conceitos, ser mais flexível, compreensivo, pois no calor das emoções, podemos agir por instinto, e nossa defesa acaba sendo um ataque.

Anos mais tarde, o apóstolo reconhece que naquele momento passado, ele tinha suas razões para fazer o que fez. Mas agora, as razões perderam o tempo de validade, o que ele fez ontem, não servia mais para hoje. Isso mostra crescimento, pois uma ação de rejeição no passado embora correta na dimensão da “justiça” cede espaço para um reconhecimento da utilidade no dia de hoje!

A circunstância de abandono que Paulo estava vivendo o fez repensar em toda a sua vida, e chegou a conclusão: “Nunca é tarde para voltar atrás”. O termômetro da maturidade do ser humano consiste na capacidade de reconhecer que: “O que ontem foi certo, pode não ser certo hoje”. “O que não foi útil ontem pode ser útil hoje”. Somente com a humildade, que é o reverso do orgulho, podemos ser capacitados a voltar atrás. Essa é uma atitude que, certamente, define alguém que consegue transformar adversidades em crescimento.

Na vida Você sempre Precisará aprender, nunca Ache que já sabe o Suficiente. [2 Tm 4.13]

É interessante notar como o apóstolo Paulo já praticava um método que hoje a ciência conclui como importante para se manter lúcido no decorrer dos anos: “manter a mente ocupada”. A leitura exercita a mente, esse é um principio básico para quem não quer atrofiar todo o corpo. “Traze meus livros, e especialmente meus pergaminhos”, Ele já havia dito que “o tempo da minha partida está próximo” [ 2 Tm 4.13]

Paulo sabia que a inatividade do seu corpo naquele cárcere, não poderia imobilizar a sua mente. A necessidade de aprender deve ser algo consciente na vida, isso impulsiona, faz descobrir novos horizontes. A mente não pode ter grades, não pode ser encarcerada. Uma pessoa saudável, começa por uma mente exercitada na meditação, na subjetividade da vida.

As ações concretas têm seu valor, mas contemplar o subjetivo, viajar no mundo da imaginação, dos bons livros, nos faz sair um pouco da dura realidade que vivemos em alguns momentos. Não podemos viver a vida somente numa dimensão unilateral. Quantas vezes há um sentimento de culpa por não estarmos fazendo nada, por gastar tempo com algo que não está na linha de produção?

O apóstolo Paulo queria crescer, e na adversidade de ter seu corpo limitado pelo espaço geográfico, queria romper as grades, numa dimensão que ninguém poderia lhe tirar: “a dimensão da mente”. Essa não pode ser limitada, pois uma pessoa limitada começa pela limitação da própria mente. A qualidade do que pensamos determinará a qualidade das nossas ações.

Certamente ele se lembrou no cárcere de quando esteve no areópago em Atenas, que por ter lido os escritos dos filósofos Aratus e Cleantes, pode dizer aos poetas que também criam na homogeneidade da raça humana tendo sua gênese em Deus, a partir de um homem [At 17.28].

Paulo queria gastar bem o tempo que lhe restava, já que só poderia ler, então usou da melhor forma possível. Certamente ainda deu tempo de aprender algumas coisas, entre elas que “nunca é tarde para aprender”! Transformou adversidade em oportunidade de crescimento.

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