(Cantares 3.1-11)
O capitulo 3 do livro de cantares, relata o sonho conturbado de uma mulher que à noite busca o seu amado e não o encontra. Nesse sonho da jovem sulamita há uma ambivalência, o desejo de se entregar ao seu amado, ao mesmo tempo em que sombras de medo a acompanha: "de noite busquei o meu amado e não encontrei”. (Ct 3.1).
Sulamita expressa o temor da solidão. O casamento além de ser benéfico é o antídoto contra o maior mal que um ser humano pode fazer a si mesmo: “viver só”. Sulamita temia, a solidão, no seu subconsciente, se dispôs a procurar o seu amado, sai à sua procura, mas ao não o encontrar, fica angustiada (Ct 3.2).
Na sequencia sua psique é apaziguada, ela o encontra, e o agarra, não o deixa ir, leva-o à casa da sua mãe. O que indica que ela era solteira (Ct 3.4). Apesar dos desejos expressos em seus sonhos, ela tem no seu inconsciente a convicção de que ainda não estava preparada, pois, mesmo no sonho, manifesta a sua preocupação “despertar o amor sem que esse o queira” (Ct 3.5).
Não é que o amor tenha volição, os desejos não querem ou deixam de querer, eles apenas existem, mas o medo o reprime. Ela queria ter certeza que ele seria a pessoa que refletia todo o seu anseio de proteção.
Ela vivia o conflito entre o desejo de se entregar e a consciência dominada pelo medo. Poderia ceder aos seus desejos, sem ter convição do que realmente queria. Nesse caso a “raposinha” poderia destruir a vinha ainda em flores (Ct 2.15). Para ela a “vinha” só estaria pronta quando tivesse certeza.
No sonho, Sulamita mosta a ambivalência da sua estrutura psicológica. Seu pesadelo dá lugar a uma alegre fantasia. O casamento reflete o desejo da mulher por proteção, na figura dos valentes de Salomão (Ct 3.8). O casamento expressa o “ideal”, a alegria do sonho realizado por Sulamita ao casar-se com salomão (Ct 3.11).
O amor não é uma via de mão única, mas uma cumplicidade. Sulamita amava, mas sómente se entregaria ao objeto do seu amor, quando tivesse certeza de que receberia em outras formas, o amor entregue. Essa é a ambivalência do amor e o medo na psique feminina:
“lhe entrego os meus desejos, e desejo me entregar...mas preciso ter certeza que receberei de volta o que entrego, mesmo que seja em outras formas de afeto”. Medo e desejo, duas faces estruturais da psique feminina...".
“lhe entrego os meus desejos, e desejo me entregar...mas preciso ter certeza que receberei de volta o que entrego, mesmo que seja em outras formas de afeto”. Medo e desejo, duas faces estruturais da psique feminina...".
"de noite busquei o meu amado e não encontrei”. (Ct 3.1).
ResponderExcluirA lacuna deixada por aquilo que perdemos ou nos foi tomado em nosso “éden”, é que nos impulsiona a sonhar e desejar que o outro forneça o amálgama que restaure a nossa completude original.
Em outras palavras: a Sulamita “de noite buscava no amado aquilo que poderia (ou não) encontrar para se sentir completa e realizada.”
A ambivalência está representada pelo DESEJO de buscar e o MEDO de não poder encontrar.
P.S.: São só divagações, que o teu ensaio provocou em mim.(rsrs)
Abçs
Levi B. Santos