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domingo, 14 de novembro de 2010

Hermenêutica existêncial... Para além do abstrato

A hermenêutica Cristã fundamentalista tem uma convicção extremista no tocante a interpretação literal do texto bíblico.

Não fazem uma leitura buscando o sentido existencial. Sua premissa estão nas verdades ontológicas, ou como diria Charles Finney: "Verdades que não precisam de provas

Provas essas usadas como base para fazerem a guerra da exclusão, ou seja, excluir todos aqueles que não pensam dentro da suas lógicas de interpretação. Os fundamentalistas têm sua apologética nas "Doutrinas” com base na razão! 

O interessante é que a própria razão é justamente o fator de contradição!

Uma das doutrinas fundamentais do fundamentalismo é a "corrupção da natureza humana como herança em Adão".

“Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito.Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte. Porquanto o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando o seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne; Para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito”. (Rm 8.1-4).

Se o pecado estava na carne, e o filho foi enviado em semelhança da carne do pecado, e não com a carne enferma pela lei... Então surge a pergunta: Cristo veio em totais condições de igualdade com o homem?

Se no homem a carne estava enferma pela lei, já em cristo não, visto que ele veio em semelhança de carne. Logo, para os fundamentalistas que tentam igualar totalmente Cristo aos homens, através da razão das “doutrinas”, precisam de humildade para reconhecer que isso não é possível! Pois para igualá-lo aos homens Ele teria que vir na carne do pecado e não em semelhança da carne do pecado!

A sua carne deveria estar tão enferma quanto à do homem ao qual veio resgatar! Veja onde leva a lógica , que na realidade exclui a fé, isso porque a lógica elimina o paradoxo, trabalha somente com concordância gramatical, a afirmação, e o objeto correspondente, não pode o afirmar e ao mesmo tempo negar aquilo que se afirma!

Uma das teorias canonizadas dos fundamentalistas é que na encarnação, Deus que se fez carne, venceu o pecado sem usar os atributos da divindade!

Que lógica contradita! Jesus tinha o atributo de onisciência? Então porque ele não o usaria para não sentir a força da tentação do pecado? Como se pode afirmar que ele foi tentado em tudo? Se a lei não teve êxito para justificar o homem, visto que ao confrontar-se com a carne ficou “enferma”, Deus enviou Cristo, em “semelhança da carne do pecado”, mas se foi apenas em “semelhança”, logo não foi na “carne do pecado, sendo assim, teve  força  a tentação?

Se é justamente através da carne que a lei ganha poder? “Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne” (Rm 8.3). Se a resposta é "pela fé", então tudo bem! Se não... Ora se a totalidade da divindade estava n’Ele, assim como a totalidade da humanidade, logo não se pode admitir que em algum momento ele use algum dos atributos da divindade. Caso se faça isso, o que impede admitir que ele tenha usado esses atributos em outras situações?

Onde Jesus fala sobre ele a sua impecabilidade? Existe algum texto? Que eu saiba foram os escritores que interpretaram, Jesus mesmo nunca falou que era impecável! Ele sequer usou termo santidade quando se referia a ele, mas sim usou termos como: servir, amar, perdoar, sofrer etc...

Mas teve em vida a capacidade para saber de algo que não viu, não pode perfeitamente ter capacidade para usar esse atributo de onisciência? Diga-se de passagem, esse é mais um termo emprestado da filosofia Platônica-Aristotélica !

A lógica grega foi o cavalo de tróia no cristianismo, uma espécie de vírus que nem o avast, nod, avira, e os modernos antivírus hoje conseguiriam eliminar!

Se ele usou atributos para saber, o que um homem normalmente não sabia, não poderia usar os mesmos para fazer com que a tentação não tivesse força contra ele?

Se ele sabia, ele usou um atributo que não devia, visto que a sua expiação teria que ser modelo para os pecadores, ele não poderia ter nenhuma vantagem, sobre o homem ao qual veio salvar! Onde Jesus sugeriu tal hipótese? Mas a ortodoxia fundamentalista, não consegue perceber isso, afinal sua psique já está condicionada!

A doutrina do pecado original deveria se repensada em termos existênciais. A maldade do ser humano desde o nascimento tem origem no conceito agostiniano da depravação, que ganhou força na reforma com Lutero, Calvino e os pietistas.

Nos evangelhos não vemos doutrina do pecado original, Jesus nunca falou de queda, e os apóstolos que escreveram os evangelhos não fizeram nenhuma interpretação semelhante. Somente em Paulo, que era conhecedor da filosofia grega (At 17.28),  tentou explicar narrativas existênciais em conceitos abstratos.

O "Deus" dos fundamentalistas precisa dos apologistas, que contradição! Um Deus que veio dos judeus, precisa do "Apólo grego"! Afinal Apolo é advogado e tem como promotor o “logos"  assim, todo paradoxo será condenado, e a fé perde o sentido de ser o que é...

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