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sábado, 22 de maio de 2010

Ruptura na Reflexão Teológica

A década de 70 foi marcada por uma ruptura epistemológica da teologia. Nasce a TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO, gerada nas entranhas de uma reflexão “arbitraria” do ponto de vista ortodoxo-católico, alguns chegam a dizer que foi uma “resposta”, a ORTODOXIA, essa teve nos seus principais propagadores LEONARDO BOFF, RUBEM ALVES, MIGUEZ BONINO, JOSE COMBLIN, JUAN LUIZ SEGUNDO, CLODOVIS BOFF, FREI BETO, entre outros.

Da impressão que houve uma conspiração do pensamento contra toda ORTODOXIA, essa ruptura aconteceu também na ORTODOXIA-EVANGÉLICA, com o PACTO DE LAUSANE, uma resposta a ORTODOXIA PROTESTANTE (Evangélica).

JOHN STOOT, teólogo britânico, e o Equatoriano RENÉ PADILHA, inauguraram uma virada hermenêutica BATIZADA pelo nome de MISSÃO INTEGRAL. As duas vertentes mais expressivas do cristianismo, se “REBELARAM”, tinham em comum a quebra com o pensamento tradicional.

A nova “TEOLOGIA CONTEXTUAL” foi à mudança paradigmática no pensamento teológico; 1976 foi o que podemos chamar de “A SAIDA DA GAIOLA TRADICIONAL DO PENSAMENTO TEOLÓGICO”, tanto católico como protestante!

A história do pensamento mostra um movimento cíclico, e a fundamentação dessa teologia não foi EX-NIHILO, pois séculos antes, FRIEDERICH SCHLEIERMACHER (1768-1834) antecedeu a tese primária dessa ruptura quando concluiu:

“Toda reflexão teológica era influenciada, e até determinada, pelo contexto na qual evoluíra, impossibilitando de haver uma “pura”, supra-cultural, e a - histórica; era impossível penetrar até um resíduo da fé cristã que já não fosse num certo sentido interpretação”.

Desde a ocidentalização do cristianismo em Constantino, a reflexão teológica fazia um movimento da elite “alto”, para os laicos “baixo”, a ESPOSA era a ESCRITURA, o SÊMEN era a DIALÉTICA com a TRADIÇÃO, e a FILOSOFIA o ÓVULO, que fecundava no encontro com o seu interlocutor, o HOMEM ELITIZADO.

Sair da gaiola foi à inversão dessa epistemologia, agora seria a partir de baixo “LAICO” aquele que está às margens, a escritura permanecia como ESPOSA, o SÊMEN continuava sendo a DIALÉTICA, a FILOSOFIA e a TRADIÇÃO, sempre férteis, mas a CIÊNCIA entra no relacionamento “EXTRA-CONJUGAL” e GEROU uma filha chamada SOCIOLOGIA.

Essa com vigor começa a disputar o lugar de sua genitora, e o seu interlocutor não seria mais a elite “DOUTA”, mas, sim o pobre, “BAIXO”, o in-douto culturalmente marginalizado.

As epistemologias TRADICIONAL (ortodoxa) e CONTEXTUAL (terceiro mundo) é exposta da seguinte maneira por Sérgio Torres:

“TRADICIONAL: A verdade é conhecida de conformidade com a mente a um determinado objeto, esse conceito se confirma ao mundo existente e o legitima. OCIDENTAL: A verdade não é conhecida de conformidade da mente ao objeto (dialética), é oposto, o mundo é um projeto não concluído e em construção, um processo em transformação”.

O CLERO tinha a BIBLIA e a TRADIÇÃO como objeto da reflexão, o mesmo ocorre com a ala chamada PROTESTANTE, que tem como interlocutor a BIBLIA, não descarta a TRADIÇÃO, mas a VERDADE não é mais PRÉ-FIXA, ponto em comum na ortodoxia católica e na evangélica:

“Lançar fora o filho bastardo batizado por nome LOGOS (lógica) “INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL” tendo por pai o Deus grego”.

A nova epistemologia não descarta a “TEORIA NA REFLEXÃO”, mas sua ênfase recai na “PRÁXIS” essa é a julgadora que determina a “VERDADE” na teologia; a “Reflexão crítica sobre a práxis cristã à luz da palavra de Deus.” (Gutierrez).

A ASCESE geradora da salvação META-FÍSICA perdeu a META, pois na física, o céu não tem local fixo, o DOGMATISMO, sinônimo de INCAPACIDADE DE DIÁLOGAR COM O DIFERENTE, fechou-se para a ciência, essa foi CONTEXTUALIZANDO a sua COSMO-VISÃO de acordo com o CIENTIFICISMO que deixava duas opções:

“Dialogar com as ciências, principalmente as humanas, ou ficar fossilizadas, descontextualizadas e irrelevantes para a sociedade”.

Surge a neo-ortodoxia, a bíblia deixa de SER para con-TER a palavra de Deus, a subjetividade, de-termina, já não é mais a vertical a nascente da leitura, mas a horizontal, a teologia deixa de ser o solucionador da CRISE, e passa a ser a teologia da CRISE, até o mito foi intimado a se explicar, caso se explique, deixe de ser mito, se não, cale-se, deixe a razão falar!

A HISTÓRIA faria a CRITICA, teria a liberdade para RELATIVIZAR TODO O ABSOLUTO, que venha contra a VIDA, afinal o epítome da fé cristã é a RESSUREIÇÃO DO CORPO e não a IMORTALIDADE DA ALMA, por isso, tanto a TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO (católica), quanto a MISSÃO INTEGRAL (protestante), tem a seguinte epistemologia em comum:

“A VERDADE não é mais metafísica, mas sim é uma construção histórico-cultural & contextual”, o CORPO é o objeto da reflexão, não mais a “ALMA IMORTAL”, a teologia deixou de ter uma VERDADE ABSOLUTA, para ter uma VERDADE HISTÓRICA, afinal o verbo se tornou CARNE, toda reflexão começa nas dores do CORPO e não nos anseios da ALMA”.

O CORPO tornou-se o principal interlocutor, e o diálogo não é mais a VERDADE PRÉ-EXISTENTE, firmada no IDEAL do SER que “É”; o mundo não precisa ser INTERPRETADO para que o SUJEITO se ajuste a ELE, agora, ele precisa ser TRANSFORMADO, a relação entre SUJEITO e OBJETO não é mais de PASSIVIDADE, contemplação “olhar para”, não é admirar a beleza do COSMOS, mas sim de ATIVIDADE, “entrar em, participar, mudar”, transformar a desordem do caos em cosmos!

A reflexão não é sobre o LOGOS que se fez DISCURO COERENTE, mas sobre o LOGOS que entrou num corpo e através dele não sistematizou a vida, o ONI-POTENTE torna-se IN-POTÊNTE e grita: ELOI ELOI LAMA SABACTANI, o Deus que está em todos os lugares, encontra um lugar em que está “SÓ”, o corpo de “CARNE”. O eterno experimenta o fim, a vida se encontra com a morte, e faz uma aliança de sentido!

Nenhuma construção poderia tentar esgotar o falar de Deus, pois o que se fala D’Ele hoje, não pode ser absoluto, a mesma fala que absolutiza o poder do “DEUS QUE FAZ”, encontra o PARADOXO, quando “O DEUS QUE FEZ” , não “FAZ”!

O MOMENTO HISTÓRICO é outro, a vida é movimento, o tempo passa a ser o RELATIVIZADOR DAS CERTEZAS, assim como nas outras dimensões do saber, afinal de contas se a teologia tem alguma posição não é de RAINHA DAS CIÊNCIAS, mas de SERVA dos homens que pensam, e OPRESSORA DOS IGNORANTES!

Não é relativizar o PODER DE DEUS, mas sim, não absolutizar o SABER DE DEUS, essa ruptura dá uma nova vida a chamada TEOLOGIA DA MISSÃO INTEGRAL, onde a antropologia, não dicotomiza, mas torna-se HOLÍSTICA, não se fragmenta em TESE e ANTI-TESE, mas interage numa SIM-BIO-SE com a filosofia HEGELIANA de que toda TESE, tem sua ANTI-TESE, que forma uma SIN-TESE, e que novamente volta formar uma TESE e tudo sempre volta ao ponto de onde partiu!

Mas surge a pergunta: “Fracassou a teologia da libertação e a missão integral”? No meu ponto de vista não! O que houve foi uma expectativa muito acima da realidade na época em que emergiu. No entanto a semente foi plantada, e já podemos colher frutos hoje, cada um que foi impactado mudou a sua reflexão, sua vida e atingem outros.

Meus tributos a esses que  são os pré-cursores da reflexão que não aceitaram viver enclausurados nas suas certezas, fizeram da dúvida instrumento pedagógico para o desenvolvimento da reflexão!

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Esse artigo foi postado anteriormente no blog: http://cpfg.blogspot.com/
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segunda-feira, 17 de maio de 2010

Zeus, Yavé ou Jesus?

As definições teológicas que fazemos a respeito da pessoa de Deus são realmente conceitos veterotestamentário, Neotestamentário, ou uma mistura de tudo, não será uma definição mais perto do deus Zeus, que o Yavé dos hebreus? E muito menos ainda do Jesus encarnado? Essa teologia é firmada numa revelação dialética, ou um processo estático?

 Enquanto Zeus fica numa redoma intocável, observando o mundo de forma indiferente, o Deus Yavé, sempre se revelou numa esfera existencial, relacional, não numa forma de silogismo filosófico, onde a transcendência deixava o “deus” totalmente ausente da vida humana, onde o homem vivia apavorado, sempre buscando aplacar a ira do seu “deus”, diga-se de passagem, que esse Deus grego sempre esteve irado!

 Se voltarmos às origens da teologia determinista, veremos que os judeus já tinham esse pensamento exclusivista de “Eleição incondicional”, ou “Predestinação”, no entanto vemos o Deus Yavé sempre os exortando, ao arrependimento, diga-se que não foram poucos os cativeiros que o povo passou.

 Basta ver que mesmo em cativeiro o povo achava que Deus os tinha abandonado, essa era a consciência que eles tinham, pois responsabilizavam Deus por suas decisões, como se suas decisões fossem responsabilidade de Deus. Ignorando que esse Deus que eles achavam que era responsável por seus infortúnios, sempre mandava profetas para adverti-los de seus maus caminhos [1]

 O apóstolo Paulo faz uma severa advertência para com a segurança excessiva de Israel, dizendo que os “ramos” foram cortados quanto mais seriam os que foram “enxertados”, também terão o mesmo destino se não perseverarem. [2]

 Vemos a mesma advertência de Jesus [3], embora seja inegável a contribuição de Agostinho para a teologia, não podemos negar que o conceito grego determinou sua definição sobre a natureza de Deus, foi a helenização do contexto de sua época que sem dúvida moldou a sua mentalidade de forma que Deus sempre foi definido como alguém que sempre está na esfera da meta-física!

 Será que o deus da filosofia é o Deus que se revelou a Abraão, Moisés, e os profetas, que sempre mandava uma mensagem dentro de um arcabouço histórico? Colocando nomes da sua pessoa de acordo com a circunstância do momento, pois se o homem estava enfermo, logo ele se revelava como o Deus que cura numa guerra ele se identificava como o Deus dos exércitos, tanto de forma coletiva quanto de forma individual.

Ele se revelava de forma relacional, alcançando seu ápice na encarnação “o logos transcendente, agora torna imanente”, pois esse logos que era atemporal decidiu agora ter um início de existência, sujeitando-se às leis que ele mesmo criou, subjugando-se aos limites que com certeza o “deus grego”, não se submeteria!

 O Deus transcendente dos gregos era intocável, inacessível, o “Logos”, que eles conheciam imutável, não tinha uma existência relacional, dialética, não interagia com a criatura.

Se partirmos do pressuposto vetero-testamentário que a revelação de Deus é progressiva e obteve seu auge no filho [4]. Então devemos rever nossos conceitos de que uma premissa verdadeira sobre Deus deve ser esgotada com afirmações e possibilidades de um Deus que a própria reforma defende ser “Onipotente”. Os conceitos teológicos formais são tentativas de assegurar as premissas ocultas por trás do conteúdo bíblico [5]

 Deus não é apenas metafísico, “anacrônico”, mas um Deus que “age”, decidiu voluntariamente ser temporal, experimentando uma curta existência terrena, como é comum aos seres humanos. Ele “interage” na história, quando Deus se revelou a Moisés ele não elaborou proposições acerca de seu caráter, mas mostrou o seu poder com “ação”.

Ou seja, ele não disse que era onipotente, mas agiu na história; manifestou-se ao próprio Moisés a quem Ele mesmo se revelou [6]. O que nos salva não são verdades formuladas em frases, mas Deus mesmo se dá como salvação.

A Epistemologia helenista vê a verdade como algo estático, como um pensamento, o “conhecer” independe do “fazer”, dessa forma o mundo não pode ser transformado pela participação humana, pois ele foi criado por Deus que decretou tudo (Até mesmo o mal?!).

Contempla tudo ocorrendo como planejou conseqüentemente as orações são subjetivas, e porque agir, se tudo vai acontecer independente da ação humana? Na cosmo-visão grega de Deus, a “teoria” é o que importa, a “práxis” é somente um efeito, da causa primária que é Deus.

Essa epistemologia é contraditória a teologia cristã, pois a verdade não é somente “teórica”, tampouco “abstrata”, mas sim “histórica”, a verdade “Veio" [7] e somos instruídos a praticá-la [8]. Os religiosos dos tempos de Jesus conheciam a lei e suas ordenanças, no entanto Jesus os advertiu que o conhecimento da verdade incluía uma atitude prática [9]. “Na Bíblia, porém, há um conceito de verdade diferente e fundamental: A verdade é o que acontece, aquilo que Deus faz [10]”.

 Não é de se estranhar que Marx chamou o cristianismo que ficava alienado dos eventos históricos de “Ópio do povo”, do ponto de vista dicotômico em que os reformadores viam a matéria, onde o “Espírito” era bom e a “Matéria”, era impura, (diga-se de passagem, que esse também era o conceito de origem gnóstica oriunda dos gregos, visto que na teologia reformada o pecado é herança determinada [11], é lógico que a igreja não deveria se envolver com obras de cunho social (por ex: como política), visto que a Igreja deveria viver uma espécie de “Ultra-mundanismo”.

O alvo era somente manter o espírito puro, o que fez com que a Igreja ganhasse muitos antagônicos à sua teologia. (Os mosteiros foi o efeito de uma teologia Utópica de ultra-mundanismo). C. René Padilla faz uma observação sobre esse pensamento:

“A salvação futura da alma, na qual o sentido da vida temporal se esgotava numa preparação para o “ultramundo”, a história é assimilada por uma escatologia futurista e a religião se converte num meio de escape da realidade presente. O resultado é o total desconhecimento dos problemas sociais, em nome da “superação do mundo”.[12]

Esse conceito de “conhecer” é antitético ao conceito vetero-testamentário, haja vista que “conhecer”, para o judeu não é pensar de forma abstrata e filosófica, mas a uma ocorrência pessoal, como por ex; expressa o termo “Yada”, usado como forma de conhecimento numa relação conjugal. [13]

 “O conhecimento no AT, não fica na esfera da meta-física, mas é algo recíproco, Deus se dá a conhecer revelando ao homem a sua vontade e reagindo quando este não corresponde com as suas expectativas”. [14] Rudolf Bultman fez a seguinte observação quanto à epistemologia do A T:

 “O conceito do conhecimento no AT, não é determinado pelo pensamento de que a realidade daquilo que é conhecido é mais puramente percebida se o relacionamento, pessoal entre aquele que conhece e o objeto do conhecimento é eliminados, e o conhecimento reduzido a um olhar à distância. O oposto é verdadeiro; o conhecimento ocorre se o significado e a afirmação do objeto do conhecimento são percebidos e efetivados" [15]

 Essa definição de Bultman está de acordo com a teologia Bíblica, pois a salvação não consiste em acreditar que é eleito, calando sua “segurança” numa série de proposições estáticas, mas na firme convicção de que o Deus que não exclui a filosofia como um meio de revelação, vai além da lógica de qualquer premissa por mais verdadeira que seja.

 Se Deus é tão poderoso como acreditamos que Ele é, então temos que conviver com paradoxos que a nossa mente não conseguira conciliar.

A fé em seu sentido primário consiste na adesão total ao Deus vivo e não simplesmente na aceitação de um credo de proposições, no depósito da fé, estão contidas as verdades necessárias a nossa salvação, a teologia possui uma função de explicitação das verdades deste deposito sagrado procurando o novo entre os vários mistérios e sua articulação com a razão humana”. [16]

A Teologia deve ser dialética e não estática, universalizar um dogma pode levar à paralisia denominacional, onde o “orgulho”, de se denominar “ortodoxo”, muitas vezes faz com que Deus levante outros para dar continuidade onde o “ufanismo”. Estagnou!

 Somente Deus pode falar D’Ele mesmo, e dizer que tem a “patente” da Teologia, pois sem dúvida ele tem a verdade absoluta daquilo que fala; o que nós falamos D’Ele são “verdades”, (mas não absolutas no sentido de esgotar todo o conhecimento daquilo que falamos!), pois poderão tornar-se até contraditórias se não olharmos essas “verdades” com outras verdades que são até mesmo paradoxais no falar de Deus.

Deus é o Deus, que está “ativo na história”, realizando conjuntamente com o homem a restauração de todas as coisas.
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Notas
[1] Jeremias 17:7-10
[2] Romanos 11:11-24
[3] João 15:1-6
[4] Hebreus 1:1-3
[5] Bruner: 1984 p.154
[6] Êxodo 4:1-7[7] João 1.17 Veja que o texto diz que a lei foi dada por Moisés, isso não que dizer que não havia verdade na lei, mas sem a graça de Jesus essa verdade não poderia ser experimentada no âmago da experiência prática.
[8] A verdade como teoria, não foi excluída por Jesus, no entanto, Ele mostrou que a verdade pode também ser conhecida quando alguém praticar os seus mandamentos, ou seja, as práticas dos seus mandamentos é uma forma de se “Conhecer a verdade”. Cf João 3.21.
[9] João 8.34
[10] Shuarz, op.cit. Bruner. p.59.
[11] Creio que houve uma perda da retidão original, uma inclinação natural para o egoísmo, a satisfação própria, no entanto, não creio que esse pecado depravou o homem totalmente, como ensinava Agostinho, e em continuidade da sua teologia a reforma aderiu a essa concepção. Embora compreenda a que os reformadores quiseram defender o sinergismo na salvação no contexto da Igreja Ocidental.
[12] Padilla: 1992.p.33
[13] Gênesis 4:1
[14] Gênesis 6:6, 1 Samuel 15:11, Salmos 50:16-21, Amós 7:3
[15] Bultman: 1953.p.697
[16] Boff: 1981.pp. 80-81

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Arquétipos que estruturam a religião

Jesus percebeu estrutura opressiva da religião, viu o mal que ela causava, e agiu em oposição a ela, o vicio sempre foi o “PODER”, uma estrutura arquetípica [1] construída através da lei, desde os tempos do "fruto do conhecimento do bem e do mal”Ele lutou contra essa estrutura psicológica, relativizou todo o poder que domina, mostrou a FORÇA da NÃO FORÇA, não só como o amor supera a lei, mas que o amor é maior lei, e que há um PODER maior do que o PODER é o PODER DE NÃO TER PODER!

Lucas registra uma série de acontecimentos a partir do capitulo 17: 11, falando da oposição entre a HUMILDADE do estrangeiro que ao ser curado da lepra volta para AGRADECER, esse não era judeu, “E prostou-se com o rosto em terra aos pés de Jesus, agradecendo-lhe; e este era Samaritano”. (Lucas 17: 16). Nessa narrativa, o rejeitado, é aceito a GRATIDÃO, é ANTÍ-TESE da AUTO-SUFICIÊNCIA!

Creio que essa narrativa foi registrada pelo INCONSCIENTE de Lucas ele estava des-construindo a epistemologia do PODER QUE OPRIME, para a SUAVIDADE DO AMOR, ainda na seqüência, Lucas registra que Jesus quebra a apocalíptica judaica de PODER, interrogado sobre a vinda do reino, ele desconstrói mais um ARQUÉTIPO ao dizer que: “Esse REINO não vem com APARENCIA EXTERIOR”, não era algo que viria “DE FORA”, mas algo implantado “DE DENTRO”, e refletiria “PARA FORA!” (Lucas 17:20-21).

O raciocínio seqüencial dessas narrativas segue no capitulo 18; des-construindo o poder DOMINANTE, da religião e IMPÉRIO ROMANO, na parábola ele amplia e coloca um JUIZ, uma figura romana conhecida também na história da nação judaica e mostra a FORÇA dos FRACOS.

A viúva conseguiu não pelo PODER DE DOMINIO, mas sim por um poder maior, o da HUMILDADE (Lucas 18: 5). Essa é mais uma des-construção do arquétipo instituído no inconsciente coletivo da nação DOMINADA (Israel) e dominante (Roma).

Jesus segue demolindo os paradigmas [2] certamente para mostrar a dimensão do que havia falado anteriormente, sobre o êxito da viúva frente ao Juiz, “LEPROSO E VIÚVA”, eram duas classes de pessoas totalmente rejeitadas no contexto social da época!

Ele prossegue dizendo que o orgulho do PODER manifesta através da oração do FARISEU que revelava arrogância, e a insuficiência do NÃO PODER na oração do publicano revelava a essência da justificação no reino, pois não é o poder para FAZER, esse foi DES-CONSTRUÍDO, mas sim a HUMILDADE foi exaltada. A arrogância sempre foi patente da religião! (Lucas 18:9-14), o publicano [3] é mais uma classe des-classificada, que foi classificada para o reino!

O evangelista Lucas na seqüência narra a atitude dos discípulos em impedir as crianças de ir até Jesus, mas ele diz: “Deixai vir a min as criancinhas, pois das tais é o reino dos céus”! (Lucas 18:16). A atuação da religião farisaica com sua estrutura psicológica de DOMINIO, não conseguia ver nas CRIANÇAS um modelo de força.

Um príncipe pessoa de alta patente na sociedade presencia o acontecimento e não suporta ver Jesus dizer que o reino vem com gratuidade, e pergunta:  “Bom mestre o que farei para herdar a via eterna?” (Lucas 18:18)

“O QUE FAREI PARA HERDAR”? Ora Jesus havia acabado de dizer que o arquétipo que estrutura a mente dele na encarnação não é o PODER PARA FAZER, mas o poder de NÃO FAZER! Ao dizer que a FORÇA do reino tinha nas crianças o seu modelo, e que os adultos tinham na simplicidade delas o protótipo ideal.

“O que se poderia fazer para herdar a vida eterna?” Ora, herança não se conquista, não é uma ação do sujeito, mas algo que ele recebe! Só há uma coisa a fazer: “È não fazer”! Aceitar passivamente a graça de Deus em Cristo!

Jesus estabelece um reino que é antitético à estrutura dominante, nesse, ficariam de fora os “fortes”, “justos” “auto-suficientes”, as “obras” como justificadora do SER, e seriam inclusos, os “humildes”, “insuficientes”, e a “fé”, como base da nova ordem.

A Alteridade [4] em Cristo não só despolariza o poder dominante, como dilui todo espírito de AUTOSUFICIÊNCIA que é o orgulho de toda religião.
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Notas
[1] Na psicologia analítica, significa a forma imaterial à qual os fenômenos psíquicos tendem a se moldar. C. G. Jung usou o termo para se referir aos modelos inatos que servem de matriz para o desenvolvimento da psique.

[2] Paradigma (do grego parádeigma) literalmente modelo, é a representação de um padrão a ser seguido. É um pressuposto filosófico, matriz, ou seja, uma teoria, um conhecimento que origina o estudo de um campo cientifico uma realização científica com métodos e valores que são concebidos como modelo; uma referência inicial como base de modelo para estudos e pesquisas.

[3] Publicano é o nome dado aos coletores de impostos nas províncias do Império Romano.Buckland afirma que havia duas espécies de publicanos: os publicanos gerais que eram responsáveis pela renda do império, frente ao Imperador e os publicanos delegados por estes em cada província.

[4] A palavra alteridade, que possui o prefixo alter do latim possui o significado de se colocar no lugar do outro na relação interpessoal, com consideração, valorização, identificação e dialogar com o outro. A pratica alteridade se conecta aos relacionamentos tanto entre indivíduos como entre grupos culturais religiosos, científicos, étnicos, etc.