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quarta-feira, 23 de novembro de 2011

VERDADES DAS FERIDAS

Quando fui ferido.
Vi tudo mudar.
Das verdades que eu sabia.
Só sobraram restos que eu não esqueci.
Toda aquela paz que eu tinha.
Eu que tinha tudo hoje estou mudo estou mudado.
A meia noite a meia luz pensando.
Daria tudo por um modo de esquecer.
(Música: Meu mundo e nada mais Cantor - Guilherme Arantes)

O poeta diz que “a verdade” que “sabia” mudou quando “foi ferido”. Ou seja, as verdades que entendemos como “verdade de conceitos” ou “fora da ação” como são definidas no positivismo de Augusto Comte ou na Teologia ortodoxa, é a verdade da “Razão”. Logo o homem deve “sacrificar o corpo” para viver essa “verdade”. Uma verdade que vem de fora e se impõe.

O poeta percebe que “a verdade” está entranhada no corpo, nas emoções, sensações. Reconhece:  Vi tudo mudar das verdades que eu sabia”, ou seja, a verdade é “movimento”. Ele prossegue:  Só sobraram “restos” que não conseguia esquecer. A paz depende sim das circunstâncias, não como diz o hino idealista cristão: “Não importa as circunstâncias”, essa é uma idéia positivista, idealista, que advoga uma “realidade extra-histórica” que não está conectada aos conflitos, contradições, vida e dores.

O poeta diz: “Eu que tinha tudo hoje estou mudo estou mudado”. Ora, que relação há em “ter tudo e após o ferimento estar mudo e mudado”? Essa é uma realidade que o religioso extremista experimenta, quando acha que tem a “verdade” e essa é sistematizada pela mente, extra-física, Ele “fala e defende em alta voz”, contudo, quando a vida o confronta com as “feridas”, o primeiro sintoma é “a ausência de Paz”. "Toda aquela paz que tinha". Agora resta a oportunidade de reconstruir a partir dos “restos que sobraram”.

O estado de “mudez” substitui as palavras. No silêncio da reflexão produzida pela dor, as incertezas são os absolutos do sábio, em contraposição, as certezas são as fortalezas do tolo. Hoje estou “Mudo e mudado”, um trocadilho gramatical que expressa mudança, as “certezas” produzem feridas, mas as “incertezas” são sintomas de quem é ferido”.

“A meia noite” é um arquétipo de “crise” período de transição, hora de silêncio, reflexão de quem não está dormindo pela ausência de sono, “meia luz pensando” nostalgia, ansiando a luz completa que outrora tinha antes de “ver tudo mudar”.

O poeta daria "tudo para esquecer", não o que acreditava antes do ferimento, mas o ferimento que lhe fez lembrar das suas “verdades”. Verdades que eram seu porto seguro, agora ele "daria tudo para esquecer". Esquecer que o maior destruidor de “verdades” são as “feridas”. Não as feridas que causamos, mas a que outros causam em nós. Esse é o momento de mudar o tempo do verbo: As verdades que "sei" tornam-se as verdades que "sabia”.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

A VIDA EM DUAS DIMENSÕES

O que é a vida? Em termos psicológicos poderíamos definir a vida como “Pulsão”. A vida pulsa em duas dimensões:

(1) “Na expansão” e na
(2) “Contração”.

Na “expansão” é o pulsar, o viver sem as “regras da moral”, ou seja, o que deseja meu corpo me impulsiona para a realização.

Na parábola o filho que sai de casa, queria viver na “expansão”, obter o que desejava, mas para isso precisava romper com as regras do “pai” (religião, igreja, lar): “E O MAIS MOÇO DELES DISSE AO PAI: PAI, DÁ-ME A PARTE DOS BENS QUE ME PERTENCE”. (Lucas 15.12).

O filho mais velho escolheu viver na “Contração”. Significa que quando o desejo é reprimido o “corpo se enrijece", essa ação na psicanálise é denominada “Criar couraça”. Os músculos que se expandem quando executam o desejo, são os mesmos que se contraem quando esses desejos são “reprimidos” por qualquer lei.

A contração do filho mais velho pode ser vista no seu desabafo (catarse?): “E NUNCA ME DESTE UM CABRITO PARA ALEGRAR-ME COM OS MEUS AMIGOS” (Lucas 15.29).

A vida que pulsa na “expansão” busca a alegria da posse do objeto desejado, mas esse desejo uma vez em posse do sujeito, pode lhe dar novamente a sensação de insatisfação: “E, TORNANDO EM SI, DISSE: QUANTOS JORNALEIROS DE MEU PAI TÊM ABUNDÂNCIA DE PÃO, E EU AQUI PEREÇO DE FOME!” (Lucas 15.17).

Desejo é produto da ausência. A presença aniquila o desejo, relativiza o valor do objeto que outra era desejado.Viver na “expansão” leva o homem a diluição, não há forma de saciar totalmente o desejo.

Viver na “contração” também leva a “aniquilação”, visto que sempre haverá a grande pergunta: “E se eu tivesse ido em busca teria me alegrado?".

A diferença entre as duas dimensões de vida é que, quem arrisca “expandir” chegará a conclusão que é responsável pela sua insatisfação (Lucas 15.17), mas quem vive na “contração” sempre arrumará um bode expiatório para justificar sua covardia: “EIS QUE TE SIRVO HÁ TANTOS ANOS, SEM NUNCA TRANSGREDIR O TEU MANDAMENTO, E NUNCA ME DESTE UM CABRITO PARA ALEGRAR-ME COM OS MEUS AMIGOS” (Lucas 15.29).

Qual a solução? Não tenho! Mas fica um conselho: “Não viva na expansão a ponto de se tornar um irracional”, mas também não viva na contração a ponto de se tornar o mesmo irracional”. Procure um meio termo, não expanda de mais, nem se contraia de mais, ambos extremos aniquilam a vida. A contração petrifica, a expansão dilui. No primeiro o humano vira mineral, no segundo vira animal...