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domingo, 1 de dezembro de 2013

contra a intolerância pelo respeito à diversidade: UMA REFLEXÃO SOBRE O PRECONCEITO RACIAL NO BRASIL*

A intolerância e o desrespeito pela diversidade, podem ser percebidos, há preconceito em relação a juventude pobre da periferia, que são associados  criminalidade. 

Jovens que mudavam totalmente a sua maneira de vestir e tinham que ensaiar um vocabulário onde harmonizasse ou ocultasse sua forma de viver no dia a dia, pois poderia ser interpretado que o fato de morar num bairro pobre, poderia atrapalhar no desempenho exigido pela função que fosse candidato a exercer.

A lei de cotas instituída pelo governo Lula que a priori tinha a intenção de corrigir uma injustiça histórica, em alguns casos fez ampliar ainda mais o preconceito para com as pessoas que na sua maioria não tinham condições de estudar em uma universidade pública, essa realidade é diagnosticada pela antropóloga Ruth Cardoso, ao observar o paradoxo existente, “pois a mesma sociedade que contribui para a ampliação dos direitos e da cidadania atua na multiplicação do preconceito”. (1997).

Essa situação de preconceito tem suas origens no que BERNARDINO (2002, p.254) chama de “mito da democracia racial ou do Senhor benevolente”, que segundo o autor, produziu algumas consequências práticas:
como não haver raças no Brasil por entender-se o conceito de raça como agrupamentos que compartilham certas características hereditárias, que não são compartilhadas como nenhum outro, como cor da pele, tipo de cabelo, formato do nariz e porte físico.  (p.254)

Segundo o autor, “assim a inexistência de raças no Brasil decorreria do processo de miscigenação que dilui supostas essências naturais originais das três raças que fundaram a população brasileira”. O jovem pobre e negro se manifesta contra esse preconceito através da música, eles se identificam, com músicas que protestam em suas letras contra toda a forma de discriminação, opressão e preconceito sofrido pela sociedade:

Nego drama, Cabelo crespo, E a pele escura, A ferida, a chaga, A procura da cura.  (Letra da música: Negro Drama Racionais Mc's). 

A letra dessa música faz uma critica ao conceito de raça, tendo como base a cor da pele, sendo uma “ferida” ou “chaga”, desde a colonização e narra à procura da “cura”, uma forma de sair dessa condição de subserviência como herança do negro escravizado. Mais uma vez, é um conceito deturpado do significado de “cor”, pois se toma a imagem ou figura de raça quando se tentar classificar a pessoa ao utilizar o termo “cor”, de acordo com Guimarães (apud Bernardino 1999, p.255), “ao se utilizar o termo cor para se classificar as pessoas reporta-se não a uma classificação objetiva da realidade, mas, uma hierarquia classificatória em que aqueles nomeados de branco são concebidos como melhores, enquanto aqueles nomeados de preto, são concebidos como piores”.

Negro drama, Eu sei quem trama, E quem tá comigo, O trauma que eu carrego, Pra não ser mais um preto fodido.  O drama da cadeia e favela, Túmulo,sangue, Sirene, choros e vela.  (Letra da música: Negro Drama Racionais Mc's).

Esse preconceito para o jovem negro tem abrangência psicológica, pois a vida torna-se um “drama”, desconfia que ha sempre uma “trama”, como efeito de carregar um “trauma” para não ser mais um “preto fodido”, mais um numero nas estatísticas, que nem sempre aparecem no ibope, como marginalizados, os que vivem as margens como efeito da injustiça social desde os tempos de Cabral. No desenrolar da musica que é uma critica contra o preconceito, o cantor associa duas coisas comuns na vida do negro marginalizado, ao vincular “cadeia e favela” como inseparáveis e “tumulo e sangue”, uma referencia a violência sofrida na sociedade.

A questão das identidades nacionais, culturais, religiosas, étnicas, linguísticas, baseadas no gênero ou em formas de consumo, adquire cada vez mais importância, segundo SODRÉ (2006, p.8), “pelo fato de que há um abismo entre o reconhecimento filosófico do outro, que é abstrato, é a prática ético-política de aceitar outras possibilidades humanas, de aceitar a diversidade, num espaço de convivência”.

O autor chama a atenção para o problema do “valor” entendido como uma orientação prática para a ação social, no valor há confrontos de equivalências, visto que nenhum valor é neutro, e todo valor é efeito das convicções e crenças de um sistema, ou seja, valor é uma significação pré-estabelecida.

Na concepção do autor pode se ver como exemplo um jovem da periferia, negro e um branco andando nas ruas a noite, uma blitz policial, certamente o negro irá ser revistado, pelo fato de ser “suspeito” a sua condição de preconceito de valores. Outro problema é a diferenciação feita pelo senso comum onde se usa a diferença para estabelecer o ponto de partida e o julgamento é a partir da “identidade da diferença”.

 Um exemplo está na roupa que identifica as pessoas relacionadas às suas crenças, e já cria uma indisposição para o respeito e o diálogo, de acordo com Sodré (2006, p.8), “o racismo apresenta-se geralmente como esse “saber automático” sobre o Outro. Os preconceitos funcionam assim na prática: valem para qualquer outra forma diversa”.

Os estereótipos culturais servem para marcar os limites entre grupos, comportam em si o risco de que o diálogo possa limitarse à diferença e que a diferença possa gerar a intolerância, as tensões do presente, entre a diferença e a igualdade, entre a exigência de reconhecimento da diferença e uma redistribuição que permita a realização da igualdade.

Quando uma pessoa tem uma atitude preconceituosa em relação a outra, está fazendo uma comparação a partir do seu padrão de referência, portanto, o preconceito racial ocorre quando uma pessoa ou um grupo sofre uma atitude de discriminação,  por parte de alguém que tem como padrão de referência o próprio grupo racial de consumo. Se alguém ousar quebrar essa lógica vai novamente sofrer do preconceito:

Me ver, Pobre, preso ou morto, Já é cultural (...) Você tá dirigindo um carro, O mundo todo tá de olho em você, morou? Sabe por quê? Pela sua origem, morou irmão?
 (Letra da música: Negro Drama Racionais MC's).

O preconceito introduz a desigualdade entre os seres humanos, podendo atingir toda a sociedade ou os membros de um povo determinado, nas palavras de  Lerner (1997, p.55):  

"em consequência dos preconceitos as pessoas diretamente ou indiretamente atingidas por eles são julgadas negativamente e colocadas em situação de inferioridade social. Desse modo deixa de prevalecer o reconhecimento moral da igualdade essencial de todos os seres humanos e fica prejudicado o direito à igualdade, que deveria ser assegurado a todas as pessoas".

Os preconceitos traficados pela sociedade de consumo traduzem uma visão de mundo que, se não for recebida criticamente, converte-se na visão de mundo dos próprios consumidores. Nessa dimensão adverte Lerner (1997, p.36),  “ai dos negros africanos, ai dos pobres, ai dos que não podem comprar: eles jamais serão vistos como cidadãos, jamais serão vistos como seres humanos iguais aos seres humanos que usufruem das delícias do consumo”.
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ReferÊncias
ALLPORT, G.W. (1979). The Nature of Prejudice. New York: Addison Wesley.
DEMAND, Peter. “direitos para os excluídos” in PINSKY, J. História da cidadania SP. contexto editora, 2003. 
SANTOS, Helio. “Discriminação Racial no Brasil”, Laboratório de Políticas publicas UERJ, Rio de Janeiro ão Paulo, Cia das Letras, 1998.
Bernardino, Joaze. “Ação Afirmativa e a Rediscussão do Mito da Democracia Racial no Brasil” in
http://www.scielo.br/pdf/eaa/v24n2/a02v24n2.pdf
Estudos Afro-Asiáticos, Ano 24, nº2, 2002, pp. 247-273. Ação Afirmativa e a Rediscussão do Mito da Democracia Racial no Brasil.

Lerner, Julio. O Preconceito/ editor - São Paulo. Imprensa Oficial do Estado, 1996/ 1997.

Disponível em

http://www.defendebrasil.org.br/novo/img/pdf/preconceito_.pdf (acesso em 25.08.2012)

UNESCO Relatório Mundial  “Investir na diversidade cultural e no diálogo intercultural” (2009).

Programa  Extra- classe 22  -  Boaventura de  Souza Santos  -  1 parte - Disponível em

http://www.youtube.com/watch?v=p7Jnm85ukow

Programa Extra- classe 22  -  Boaventura de  Souza Santos  -  2 parte- Disponível em:

http://www.youtube.com/watch?v=InZ916_1uBU&feature=endscreen 

Negro Drama - Racionais Mc'sDisponível em: http://letras.mus.br/racionais-mcs/63398/

Acessado em 12 de Setembro de 2013
* Trabalho realizado no Curso de Ciências Sociais pela Universidade Metodista de São Paulo – UMESP