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Jl-reflexoes

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Eu Caçador de Min... Ego x Super-Ego

“Por tanto amor
Por tanta emoção
A vida me fez assim
Doce ou atroz
Manso ou feroz
Eu caçador de mim”.

O amor, as emoções que nos afeta e nos transforma. Alterna docilidade e perversidade, mansidão e ferocidade.

O movimento é instável.
O "Eu" animal, e o "Eu moral". O primeiro original, o segundo imposto pela necessidade de preservação... Só resta o conflito dos "Eu's".

O "Eu" que caça e o "Mim" que é caçado!

A memória auditiva é marcada pela intensidade dos sentimentos. Esses nos prendem. As paixões não têm fim, não obedecem leis da física, ignoram espaço e tempo...

“Vou me encontrar
Longe do meu lugar
Eu, caçador de mim”.

O passado não é passado, quando está presente no agora...
As canções eternizam as paixões, nos levam a “outro lugar” outra dimensão, onde habitam os desejos. Conflitos sem fim. O Eu consciente deseja o “proibido” ao mesmo tempo em que outro "Eu" dentro de min o reprime! Não há tréguas. É o Eu caçando a min...

“Nada a temer senão o correr da luta
Nada a fazer senão esquecer o medo
Abrir o peito a força, numa procura
Fugir às armadilhas da mata escura”

Porque temer essa ambivalência? O único medo é correr do conflito.

O “Eu” que caça e o “Mim” que é caçado, coexistem num antagonismo perpétuo. A única coisa a fazer é esquecer o medo. Conviver com ele, o tornar intimo. Assim haverá coragem de se expor “abrir o peito”, ir à procura, onde a única fuga deve ser das armadilhas do desconhecido, “mata escura”!

O jardim deixado para trás, agora é o desconhecido, “a mata” é fora do éden, nela existe fuga!

“Longe se vai
Sonhando demais
Mas onde se chega assim”.

Sonhar é necessário, mas qual o limite dos sonhos?
Aonde se chega quem vive no mundo do faz de contas?

È nele que ventilamos nossas frustrações, transpomos o intransponível... Nele voamos... Mas aonde chegamos vivendo neles? Sempre voltamos à realidade.

“Vou descobrir
O que me faz sentir
Eu, caçador de mim”.

Minha vinda é interrogação (?) quero descobrir o que me faz sentir esse conflito. Não sei por que, a razão desconhece o que acontece entre o Ego x Superego, Carne x Espírito, Prazer x realidade, Animal x Racional. Caçador x Caça, Eu x min.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Uma Psicoteologia da Oração do Pai Nosso


Jesus é o filho que traz a revelação do Pai “PAI” (Mt 6).  

O PAI NOSSO, fala da coletividade, unidade da humanidade, fala da IRMANDADE. O termo “NOSSO” na oração de Jesus, fala do conforto da aceitação em contraposição ao SENSO DE DESAMPARO que vive toda humanidade, ao mesmo tempo em que conclama todos aqueles que aceitarem a revelação de DEUS COMO PAI, viverem em HARMONIA, (razão?). Afinal, o PAI é NOSSO, é de todos. Toda a humanidade compartilha da “angustia” do desamparo! Na metafísica de Jesus, o amor do PAI nivela todos os homens como irmãos.

QUE ESTÁS NOS CÉUS, (necessidade da transcendência?), mas é “NOSSO” na terra; ou seja, sem o outro (irmão?) na terra, não há PAI NOS CÉUS! Se o Pai é nosso, implica que o filho  tem irmãos, sem esses o filho torna-se ÚNICO, mas o Pai não aceita filho único, o único que teve ofereceu para ter em troca MUITOS. (redenção?).

“SANTIFICADO SEJA O VOSSO NOME”, lembre se que a palavra SANTIFICADO, não pode ser desconectada do NOME, ou seja, se no Antigo testamento ele chama um povo para representar o seu NOME, no novo o NOME dele ganha rosto: “O FILHO NA ENCARNAÇÃO!”.  Ao falar para santificar o nome do PAI, Ele traz o seu nome para a TERRA, para o meio dos homens.


O PÃO NOSSO DE CADA DIA, é a sociologia do Deus que se fez carne. O pão é diário, abaixo o capitalismo tirano! Afinal na existência o que temos é “cada dia”... Ninguém pode viver o dia de amanhã, hoje!  A não ser o neurótico, que na sua neura, perde toda a óptica, constrói um castelo de areia, e sonha em viver nele. Esse é irmão do psicótico, que na sua psique, não se contenta em sonhar, mora no castelo construído pelo neurótico... E para legitimar o imóvel paga aluguel ao  psiquiatra...

PERDOA AS NOSSAS DIVIDAS, assim como perdoamos aos nossos devedores. Esse senso de incompletude, essa sensação de falta que cobramos do outro, simplesmente por não conseguir vislumbrar que a ausência está em nós. O perdão para o outro é necessário, pois na realidade a falta do outro, não é a falta dele, mas a nossa falta refletida nele... Sendo assim O PAI QUE ESTÁ NOS CÉUS, perdoa as nossas dividas, pois há um dever de perdoar o outro para o meu próprio bem. Afinal ao perdoar estou me perdoando!

NÃO NOS DEIXES CAIR EM TENTAÇÃO... Como? Segurando na minha mão? Não! O PAI precisa soltar a mão do filho para que esse possa andar sozinho. È preciso ruptura, o filho foi levado ao deserto PARA SER TENTADO, então CAIR EM TENTAÇÃO é descrito a seguir: “PORQUE SE PERDOAR SERÁ PERDOADO”! Agora sim, se a falta que está no outro é a minha falta refletida como no espelho (Lacan?), então, ao não perdoar o outro eu CAIO EM TENTAÇÃO. A tentação é não perdoar o outro, pois estaria condenando a mim mesmo, afinal o outro é a única forma de ver nele minhas faltas!

LIVRA-NOS DO MAL não é pedir ao pai, para impedir que a tentação venha ao FILHO, mas impedir que o ao se confrontar com a falta do outro (Tentação?) não venhamos querer que o outro sofra pela falta, pois assim estaríamos dando a nossa própria sentença: “Condenando-nos no outro”! Fazendo isso estaria transformando a tentação em mal. Jesus como filho foi tentado a odiar seus inimigos, mas ao perdoar ele eliminou a possibilidade de transformar a tentação num mal.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Desejo e Medo: Ambivalência na Psique Feminina

(Cantares 3.1-11)


O capitulo 3 do livro de cantares,  relata o sonho conturbado  de uma mulher que à noite busca o seu amado e não o encontra. Nesse sonho da jovem sulamita há uma ambivalência, o desejo de se entregar ao   seu amado, ao mesmo tempo em que  sombras de medo a acompanha: "de noite busquei o meu amado e não encontrei”. (Ct 3.1).

Sulamita expressa o temor da solidão. O casamento além de ser benéfico é o antídoto contra o maior mal que um ser humano pode fazer a si mesmo: viver só. Sulamita temia, a solidão, no seu subconsciente, se dispôs a procurar o seu amado, sai à sua procura, mas ao não o encontrar, fica angustiada (Ct 3.2).

Na sequencia sua psique é apaziguada, ela o encontra, e o  agarra,  não o deixa ir, leva-o à casa da sua mãe. O que indica que ela era solteira (Ct 3.4). Apesar dos desejos expressos em seus sonhos, ela tem no seu inconsciente a convicção de que ainda não estava preparada, pois, mesmo no sonho, manifesta a sua preocupação despertar o amor sem que esse o queira(Ct 3.5).

Não é que o amor tenha volição, os desejos não querem ou deixam de querer, eles apenas existem, mas o medo o reprime. Ela queria ter certeza que ele seria a pessoa que refletia todo o seu anseio de proteção.

Ela vivia o conflito entre o desejo de se entregar e a consciência dominada pelo medo.   Poderia ceder aos seus desejos, sem ter convição do que realmente queria. Nesse caso a raposinha poderia destruir a vinha ainda em flores (Ct 2.15). Para ela a vinhasó estaria pronta quando tivesse certeza.

No sonho, Sulamita mosta a ambivalência da sua estrutura psicológica. Seu pesadelo dá lugar a uma alegre fantasia.  O casamento reflete o desejo da mulher por proteção, na figura dos valentes de Salomão (Ct 3.8). O casamento expressa o ideal, a alegria do sonho realizado por Sulamita ao casar-se com salomão (Ct 3.11).

O amor não é uma via de mão única, mas uma cumplicidade. Sulamita amava, mas sómente se entregaria ao objeto do seu amor, quando tivesse certeza de que receberia em outras formas, o amor entregue. Essa é a ambivalência do amor e o medo na psique feminina: 


lhe entrego os meus desejos, e desejo me entregar...mas preciso ter certeza que receberei de volta  o que entrego, mesmo que seja em outras formas de afeto. Medo e desejo, duas faces estruturais da psique feminina...".

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Cristo ensinou a negação do Ser?

PARTE II

CONTINUA...

Se Jesus não queria tornar as coisas piores do que já estavam, será que ele estava dizendo:

"Até agora vocês oprimiram o povo com os mandamentos com base na letra da lei de causa e efeito, mas julgam os outros pelos atos, quero lhes mostrar a gênese de todos os atos”. Caso contrario: “Não julgueis, para que não sejais julgados. Pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também”. (Mt 7.1-2).

A partir de agora é preciso negar a si mesmo para me seguir, ou seja:

“Quem quiser vir após min, terá que deixar todo juízo de valores a partir de ações concretas, para mergulhar no mundo do inconsciente. A boa noticia que trago, é que as ações são efeitos, as motivações, desejos e repressões são as causas. O juízo de vocês tem base no efeito, julgam os atos, eu, porém proponho uma desconstrução do sistema: “todo juízo deve partir da subjetividade, do abstrato, das intenções e desejos, que estão oculto a uma análise superficial”.

Jesus vivia em conflito com os religiosos, denunciava a mascara social com base no estereótipo, ignorando a interioridade: “limpa primeiro e interior para que o exterior fique limpo“.(Mt 23. 25-26). (Seria essa epistemologia uma introdução à psicanálise?). Freud concorda com Jesus, essa interpretação tem como base a subjetividade! Não seria o fato de ignorar o subconsciente a razão de Freud ser antagônico a religião?

O negar a si mesmo da interpretação tradicional, é a expressão niilista (fuga) de negar o presente (vida) em busca de outra (céu, porvir). Sua nascente na está filosofia platônica, de que: “o mundo dos sentidos estão em oposição ao mundo ideal (metafísico)”, contudo esse ensino não tem paralelo no evangelho de Cristo.

A fuga do homem está que ele não entende o seu psiquismo inconsciente, por isso ignora que seus atos conscientes são impulsos do inconscientes. Jesus fez uma leitura Freudiana antes de Freud no tocante aos fariseus:

"Por que você repara no cisco que está no olho do seu irmão, e não se dá conta da viga que está em seu próprio olho? Como você pode dizer ao seu irmão: ‘Deixe-me tirar o cisco do seu olho’, quando há uma viga no seu? Hipócrita, tire primeiro a viga do seu olho, e então você verá claramente para tirar o cisco do olho do seu irmão. (Mt 7. 3-5).

Não estaria Jesus dizendo que o “cisco” que vemos no olho do outro, na realidade é uma projeção do que está em nós? E que para nos vermos, precisamos do outro como um espelho que reflete a nossa imagem? Mais uma vez não está de acordo com a psicanálise? Porque conseguimos ver no outro algo menor e não conseguimos ver em nós algo maior? Não seria pelo fato de que: “o que nós é próximo nos é desconhecido, como podemos conhecer aquilo que nos é familiar? (Nietsche).

Jesus em seu tempo já denunciava a religiosidade opressora com base em juízos que ignoravam os mecanismo do inconsciente humano. Um amigo psicanalista (Jung) faz a seguinte definição do negar a si mesmo:

“Esse “Negar a si mesmo“ diz respeito ao reconhecimento do nosso lado SOMBRA que, inconscientemente, projetamos no outro? Nesse caso, o “não negar a si mesmo“, seria o mesmo que não admitir o fato de que o comportamento “estranho” do outro, reflete o nosso eu interior coberto pela máscara social?“. (http://levibronze.blogspot.com/2010/11/negar-si-mesmo-o-que-e.html).

Negar a si mesmo é olhar para o que incomoda no outro e saber que são reflexos do nosso olhar no espelho. Só conseguimos nos ver através do reflexo no outro. Todo juízo pré-estabelecido pela sociedade, com normas absolutas, estabelece uma máscara modelo, onde todos são forçados a se encaixar nela. Ignorando a realidade de que cada rosto tem formato diferente, são marcados pelos traços, rugas, sombras existenciais que moldam o rosto de cada um!

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Cristo ensinou a negação do ser?

“Então, disse Jesus a seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me”. (Mateus 16.24).

Esse mandamento sempre me deixou inquieto, me levava à seguinte questão: “Estaria Jesus querendo que a humanidade vivesse uma vida de fuga e de negação? Seria o evangelho uma forma de alienação da vida? Aceitando a leitura tradicional comum, não há o que discutir. Se a interpretação for literal, Freud tem razão quando afirma: “Nossa civilização repousa sobre a supressão das pulsões, sobre a renúncia ao sentimento de onipotência, inclinações vingativas e agressivas”. (1908/1976).

No entanto, Freud também não advoga uma vida sem limites, então como explicar “negar a si mesmo”? Estaria Jesus querendo produzir uma comunidade de neuróticos?

Jesus não era moralista nem legalista, isso é óbvio e fica patente no contraste em diversas passagens principalmente em Mateus em que ele confronta a religião opressora dos fariseus.

A hermenêutica em todo o seu contexto, não só do escrito, mas também sociológico, mostra que a comunidade dos tempos de Jesus era formada por judeus que enfrentavam o antagonismo dos fariseus. A “seita” do nazareno tinha na sua principal mensagem o confronto entre: “Ouviste o que foi dito?” x “Eu, porém vos digo”. (Mt 5. 21ss)

Quem eram os maiores opositores de Jesus? Não eram os componentes da religião dominante, judaismo-farisáico? Ora, negar a sí mesmo seria uma ruptura dos pré-conceitos infligidos pela interpretação literal da lei. Imagine o mandamento: “Não Matarás”. O homicídio era condenado, bastava não matar para jactar-se de cumprir o mandamento da lei.

Jesus, porém, relativiza o termo “matar”, elevando-o a uma dimensão subjetiva, uma ética superior, agora não cometer homicídio, não era suficiente, precisava ir além: “não irar-se contra o irmão”. Enquanto no sistema da religião farisaica quem cometesse homicídio ia a julgamento e pagava com a própria vida, Jesus transpõe o mandamento e diz que para ir a julgamento basta irar-se contra o outro! (Mt 5.20-21).

Se o sermão do monte são ordenanças para o cristão cumprir, logo Jesus piorou o que já não era bom! A justiça do evangelho no reino teria que ir além da ética dos escribas e fariseus: “Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus”. (Mt 5.20).

A religião farisaica tinha camuflada uma ética utilitarista: “Os fins justifica os meios”. O altar santificava a oferta, mas no caminho entre o altar e a oferta está o “outro”. Jesus horizontaliza a transcendência, “no percurso entre o altar e a oferta, a dimensão vertical subjuga-se em prol da horizontal, de forma que a importância da oferta (meio), não é justificada pelo fim (altar).

O ofertante deve voltar e reconciliar-se com o “outro”, mais importante do que o “transcedente” (Altar) é o “imanente” (irmão). Dessa forma “Deus” sai do símbolo e se concretiza no outro. (Mt 5.23-24).

Nesse contexto Jesus relativiza todo absoluto: “Não adulterarás” visava normas de convivência, contudo os religiosos jactavam-se de não cometer o ato. Logo, apedrejar o adúltero não somente alimentaria o senso de justiça (hipocrisia social) de um mandamento absoluto, como colocava o executor: “a serviço da justiça divina”. (Jo 8).

Jesus entra em cena, e desarticula todos os pressupostos da religião dominante: “Ouvistes o que foi dito”, “Eu, porém voz digo”. Aquele que desejar no seu coração o ato, já cometeu adultério”! (Mt 5.28).

Ora o que Jesus estava fazendo afinal? Tornando pior o que já não era fácil? Qual seria melhor cumprir o mandamento da lei ou do evangelho? Pense: “Porque ele tornou ainda pior, transformando o delito de um ato concreto, para um “delito” na abstração do desejo?

CONTINUA... PARTE II

domingo, 14 de novembro de 2010

Hermenêutica existêncial... Para além do abstrato

A hermenêutica Cristã fundamentalista tem uma convicção extremista no tocante a interpretação literal do texto bíblico.

Não fazem uma leitura buscando o sentido existencial. Sua premissa estão nas verdades ontológicas, ou como diria Charles Finney: "Verdades que não precisam de provas

Provas essas usadas como base para fazerem a guerra da exclusão, ou seja, excluir todos aqueles que não pensam dentro da suas lógicas de interpretação. Os fundamentalistas têm sua apologética nas "Doutrinas” com base na razão! 

O interessante é que a própria razão é justamente o fator de contradição!

Uma das doutrinas fundamentais do fundamentalismo é a "corrupção da natureza humana como herança em Adão".

“Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito.Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte. Porquanto o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando o seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne; Para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito”. (Rm 8.1-4).

Se o pecado estava na carne, e o filho foi enviado em semelhança da carne do pecado, e não com a carne enferma pela lei... Então surge a pergunta: Cristo veio em totais condições de igualdade com o homem?

Se no homem a carne estava enferma pela lei, já em cristo não, visto que ele veio em semelhança de carne. Logo, para os fundamentalistas que tentam igualar totalmente Cristo aos homens, através da razão das “doutrinas”, precisam de humildade para reconhecer que isso não é possível! Pois para igualá-lo aos homens Ele teria que vir na carne do pecado e não em semelhança da carne do pecado!

A sua carne deveria estar tão enferma quanto à do homem ao qual veio resgatar! Veja onde leva a lógica , que na realidade exclui a fé, isso porque a lógica elimina o paradoxo, trabalha somente com concordância gramatical, a afirmação, e o objeto correspondente, não pode o afirmar e ao mesmo tempo negar aquilo que se afirma!

Uma das teorias canonizadas dos fundamentalistas é que na encarnação, Deus que se fez carne, venceu o pecado sem usar os atributos da divindade!

Que lógica contradita! Jesus tinha o atributo de onisciência? Então porque ele não o usaria para não sentir a força da tentação do pecado? Como se pode afirmar que ele foi tentado em tudo? Se a lei não teve êxito para justificar o homem, visto que ao confrontar-se com a carne ficou “enferma”, Deus enviou Cristo, em “semelhança da carne do pecado”, mas se foi apenas em “semelhança”, logo não foi na “carne do pecado, sendo assim, teve  força  a tentação?

Se é justamente através da carne que a lei ganha poder? “Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne” (Rm 8.3). Se a resposta é "pela fé", então tudo bem! Se não... Ora se a totalidade da divindade estava n’Ele, assim como a totalidade da humanidade, logo não se pode admitir que em algum momento ele use algum dos atributos da divindade. Caso se faça isso, o que impede admitir que ele tenha usado esses atributos em outras situações?

Onde Jesus fala sobre ele a sua impecabilidade? Existe algum texto? Que eu saiba foram os escritores que interpretaram, Jesus mesmo nunca falou que era impecável! Ele sequer usou termo santidade quando se referia a ele, mas sim usou termos como: servir, amar, perdoar, sofrer etc...

Mas teve em vida a capacidade para saber de algo que não viu, não pode perfeitamente ter capacidade para usar esse atributo de onisciência? Diga-se de passagem, esse é mais um termo emprestado da filosofia Platônica-Aristotélica !

A lógica grega foi o cavalo de tróia no cristianismo, uma espécie de vírus que nem o avast, nod, avira, e os modernos antivírus hoje conseguiriam eliminar!

Se ele usou atributos para saber, o que um homem normalmente não sabia, não poderia usar os mesmos para fazer com que a tentação não tivesse força contra ele?

Se ele sabia, ele usou um atributo que não devia, visto que a sua expiação teria que ser modelo para os pecadores, ele não poderia ter nenhuma vantagem, sobre o homem ao qual veio salvar! Onde Jesus sugeriu tal hipótese? Mas a ortodoxia fundamentalista, não consegue perceber isso, afinal sua psique já está condicionada!

A doutrina do pecado original deveria se repensada em termos existênciais. A maldade do ser humano desde o nascimento tem origem no conceito agostiniano da depravação, que ganhou força na reforma com Lutero, Calvino e os pietistas.

Nos evangelhos não vemos doutrina do pecado original, Jesus nunca falou de queda, e os apóstolos que escreveram os evangelhos não fizeram nenhuma interpretação semelhante. Somente em Paulo, que era conhecedor da filosofia grega (At 17.28),  tentou explicar narrativas existênciais em conceitos abstratos.

O "Deus" dos fundamentalistas precisa dos apologistas, que contradição! Um Deus que veio dos judeus, precisa do "Apólo grego"! Afinal Apolo é advogado e tem como promotor o “logos"  assim, todo paradoxo será condenado, e a fé perde o sentido de ser o que é...

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Céu: Onde o homem vai...Ou onde Deus vem?

No discurso do cenáculo, Jesus começa a se despedir dos discípulos e dizendo:

“Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também” (v 14.3).

Jesus disse que os discípulos sabiam o caminho (v. 4), mas Tomé discordou da opinião de Jesus então Jesus explica (vs.6-15), e diz que rogaria ao Pai para enviar outro “consolador” (parakleto) (vs 14.16).

Jesus chama o Espírito Santo de espírito da verdade que o mundo não pode receber porque não vê, não o conhece, mas os discípulos conheciam tinham conhecimento: “porque ele habita convosco e estará em vós” (vs 14.17).

O verbo habitar está no tempo presente, “agora”, mas na sequência, ele fala que “estará” com os discípulos (vs14.17), e completa: “Não vos deixarei órfãos, voltarei para vós outros” (vs 14.18).

A partir daí, Ele ainda fala: vós conhecereis que eu estou em meu Pai, e vós, em mim, e eu, em vós (vs14.20), o Pai o amará, e viremos para Ele e faremos nele morada (vs 14.23), ouvistes que eu vos disse: vou e volto para junto de vós. (14. 28).

Se a interpretação é que Ele voltará, por ocasião da segunda vinda, então fica difícil aceitar que Ele não está, se for entendido que Ele está, então como explicar as “muitas moradas” que há na casa do Pai?

Alguns interpretam que a hermenêutica coerente com o texto seria que as muitas moradas, seria os discípulos em que o Espírito Santo habita, essa é uma realidade experimentada pela fé: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada” (Jo 14.23). Nesse caso, essas seriam as muitas moradas que há na casa do pai, não onde os discípulos irão, mas moradas onde Deus resolveu habitar.

Mas porque o desejo de querer ir... se Ele resolveu vir, céu não é um lugar, é um estado desejado pela  alma humana, esse lugar não existe localizado no espaço-tempo, mas no desejo-falta, aquela sensação de que um dia tivemos esse lugar e o perdemos. Freud chama de desamparo, desejo de retorno ao útero deixado, o cristão de paraiso, um lugar onde habita o desejo, saudade, o paraiso perdido...

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Olhar o Mapa...Andar no caminho


Se há um legado que a filosofia grega deixou para a humanidade foi o “Principio da moderação”. Alguns têm entendido esse principio como “equilíbrio”, mas essa definição não esta de acordo com o pensamento grego, pois “equilíbrio”, pode denotar “estagnação”, já a moderação, não é “estabilidade”, e sim “contenção”, é a busca de um meio termo, e não ir nem a um extremo nem a outro, esse é o lema que norteia o pensamento filosófico grego.

O Cristianismo que veio depois, não desprezou esse principio Cristo, adotou essa modelo: “O pão nosso de cada dia dá hoje” (Mt 6.11) “Portanto não andeis ansiosos” (Mt 6.24), Paulo segue o mesmo raciocínio usando a palavra “contentamento” (Fp 4.10-13).

A razão ao longo dá história serviu de inibidora do homem de ir aos extremos, possibilitou o homem viver em sociedade. Nietsche chama de “vida em rebanho” o que exigiu o homem criar limites, para não ser extinto como os demais seres na existência.

O homem percebeu que precisava contrair os seus desejos, mesmo porque desejos na expansão atingiam a outros, principalmente os semelhantes a ele.

A necessidade de sobrevivência produz a redução como instinto preservador, daí surge a comunicação, tendo como mediador entre o homem e seus iguais a linguagem, a gramática. Essa vai nominar, vai limitar as ações, a comunicação possibilita a expressão dos desejos, ao mesmo tempo em que os limita.

A principio a linguagem não visava igualar os homens, mas apenas limitar a sua esfera de ação, como um freio, para que os seus desejos não os extinguissem; ou seja, a linguagem possibilita o homem se comunicar com os seus semelhantes, servindo de mapa para trilhar a existência, tendo limites para sua preservação, ao mesmo tempo em que vê na preservação do outro a sua própria.

A grande luta do homem na história é que a linguagem como expressão deveria apenas criar um mapa provisório, para se viver, isso porque a vida é devir (Mudança), o que “È” agora, já pode não ser daqui a alguns segundos.

O homem criou um mapa, mas teria que andar no caminho que é a vida, no entanto ao criar o mapa, ele optou por andar nele. O mapa serve como orientador, não é caminho. Ao tentar andar pelo mapa ele se perde no caminho, pois o mapa é estático o caminho tem relevos, buracos, imprevistos...

sábado, 18 de setembro de 2010

Mito ou Mentira?

Verdade ou Mito?” É muito comum ouvir essa frase.
Nessa pergunta, o mito é o oposto da verdade, por não poder ser comprovado, ou seja, algo que não está na esfera do concreto. O oposto do mito não é  verdade, é mentira!

Verdade é aquilo que faz o homem viver numa dimensão que não viveria se não acreditasse nela.

A cultura ocidental não é mais rica com a “verdade” objetiva. A verdade do mito é a verdade que nos faz transcender, é verdade corporificada na existência humana.

Fernando pessoa em seu poema Ulisses, descreve muito bem essa verdade paradoxal que é o mito, definida erroneamente como não verdade ou mentira:

O mito é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo –
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo.
Por não ter vindo foi vindo
E nos criou.
Assim a lenda se escorre
A entrar nas realidade,
E a fecundá-la decorre.
Em baixo, a vida, metade
De nada, morre.

Ele começa o poema com um paradoxo, afirma e nega o que afirma simultaneamente, quebrando o primeiro principio da lógica, “logos”, que é “uma coisa é igual a si mesma e não pode ser diferente ao mesmo tempo”.

Fernando pessoa estaria mentindo, ser tivesse falando do principio estabelecido pela filosofia de Aristóteles de que: “uma coisa que é não pode não ser”.

O conceito que o ocidente tem de “verdade” tem origem na busca dos gregos pelo “Arché” (principio) aquilo que existe antes de tudo e é a causa de tudo.

Esse ser que “é”, foi um conceito desenvolvido na filosofia de Parmênides.  O arché é imutável, todas as coisas mudam, mas esse permanece, pois é a causa de todas as coisas. Esse ser buscado na filosofia grega é a causa primaria das religiões monoteístas que chamam “Deus”!
Fernando pessoa não fala de uma verdade estática, pacifica a nossa mente em termos de lógica.  


Ele fala sobre a verdade da fé, uma verdade subjetiva para quem está fora como observador, mas concreta para aquele que a vivencia.
No primeiro verso do poema ele afirma que uma coisa é exatamente idêntica ao seu contrário “nada igual a tudo”.

O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo 

O sol que abre os céus ele chama de “mito”, seu brilho é perceptível, mas ele é mudo, o sol não se expressa com palavras, mas é verdade que brilha, ainda que não emita nenhuma expressão sonora, é brilhante, é verdade...

Corpo morto de Deus... Vivo e desnudo? Se é corpo morto como pode ser vivo? Morto para o que não crê, mas vivo desnudo, para o que crê!  Na dimensão de quem crê não há contradição, mas sim  afirmação da fé.

Por não ter vindo foi vindo
E nos criou.

O poema de Fernando pessoa aborda o paradoxo, a mais expressiva verdade: “Por não ter vindo foi vindo”.  Ele continua falando de Deus,  que tem o corpo morto, vivo e desnudo não afirma a sua existência, mas que passa a existir: “Por não ter vindo”, ou seja, não importa que Deus não veio, mas que por não vir, “foi vindo”.

O efeito da fé foi acreditar que o que "foi vindo", nos Criou. Não é uma questão de verdade cientifica, mas verdade de fé, ou seja, por não vir, veio, e por que cremos que veio, cremos que nos criou.


No poema de Ulisses, o que importa é que a lenda entra na realidade e a fecunda, ou seja, a vida ganha significado. O sujeito é fecundado pelo objeto da crença, e a partir daí, decorre. A vida está sempre embaixo, precisa de algo maior para transcender no seu significado.

Assim a lenda se escorre
A entrar na realidade,
E a fecundá-la decorre.

O mito não é nada para quem não crê, esse vai achar contradição, mas para quem crê encontra significado no mito! Mesmo que a razão contradiga: “A lógica da não contradição!”.


Metade
De nada, morre.

O mito é o tudo que é nada. Para quem crê, o mito é tudo, para quem não crê o mito é nada. No mito se crê como o tudo, ou se crê como nada. Não pode existir metade para quem crê que o mito é tudo, e não existe metade para quem crê que o mito é nada.

O mito é verdade para quem crê, é tudo. 
A verdade para quem não crê é metade de nada... é a aniquilação da existência, é morte.

sábado, 11 de setembro de 2010

Teo-logia ou...Teo-Fagia?

Já não quero mais fazer Teo-“logia”, quero Teo-“fagia”. Falar de Deus quase sempre é mostrar a distancia entre Deus e quem fala de Deus.

No encontro com o inefável, não há palavras a ser faladas, nos discursos escondem-se o vazio, à distância, mas no silêncio manifesta-se a presença.

Deus é “Paradoxo”. Digo “para” + “doxa”, pois não é “contra” + “Adição”, e sim “adição que não é contra”. Duas verdades que não se pacificam na “grama”+ atica! A verdadeira teologia tem sua gênese na Téo-fagia. Deus existe na subjetividade de cada um, não na lógica que cala o intelecto com pró-posições já inferidas da grama+atica.

O texto bíblico já é uma interpretação do escritor, é uma Téo+ logia, pois é tentar descrever Deus na lógica do seu entendimento. Logo, esse é um teólogo da Téo-ria, contudo antes de falar de Deus, quem vai falar ou escrever, experimente aquele de quem fala então ele “come” o objeto da sua fala...

E o que muda ao comer Deus antes de falar D’Ele? Ora quando falo do que entendo, falo de razões que meu intelecto internaliza. Mas quando falo do que experimento, falo de sentimentos, afetos... E quando vou falar do que sinto minha razão não encontra palavras, não consigo falar, sei que sinto, mas não consigo me expressar...

Quando se expressa o que se entende pela mente, a mente, mente! Mas quando se tenta falar do que sente, a mente não entende, logo ela não mente, porque não consegue falar, e a mentira habita nas palavras...

A verdade que se fala sobre Deus deve partir do “experimento”, e não numa Téo+oria. Somente uma verdade existencial é verdade para quem sente, e não para quem ouve. A verdade são afetos que afeta quem sente mesmo que não consiga falar.

Daí, minha Teo-ria de que a verdadeira Téo+”Logia” só existe na Téo-“Fagia”. Nessa dimensão do “fago” (comer) somente quem come é que pode saber o sabor.

No momento em que tento “descrever” o sabor do que experimento, faço desse uma teoria. Mas o sabor não é “Catafatico”, (catequese, ensino) sim “Apofático” (sentidos, sentimentos).

Não se “Estuda”, (catafático) se sente, e não dá para transformar em palavras sentimentos, (apofático), pois palavras mentem, sentimentos são verdades que quase sempre não podem ser expressos...

Tem razão Guilherme Arantes quando diz:
“Se o que vale é o sentimento e não palavras quase sempre traiçoeiras...”. (Musica Pedacinhos).

O poeta certamente entendia que se pode ensinar alguém a beijar (catafático), mas será que quem beija consegue descrever a sensação (apofático) do beijo?

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Transformando as Adversidades em Crescimento

Texto: 2 Timóteo 4.9-18
Continua... Parte II
Na Vida você Precisará Expressar os seus Sentimentos, seja Autêntico [2 Tm 4.14].

Como lidar com o sentimento de ser magoado, profundamente por pessoas que nos ferem? Quem pode dizer que não se sente atingido, quando ferido por pessoas que não tem sensibilidade? A fala do apóstolo demonstra que ele tinha uma ferida emocional muito profunda. O que fazer? Ocultar os sentimentos, dizer que tudo está bem, quando na realidade há uma luta interior entre: “o dever de perdoar, e o desejo de vingar-se”?

O apóstolo Paulo demonstra sua humanidade, não oculta a frustração quando diz: “Alexandre o latoeiro causou-me muitos males, o Senhor lhe dará a paga segundo as suas obras” [2 Tm 4.14].

Devemos ter sentimentos de misericórdia com as pessoas que nos ferem, no entanto normalmente falamos que essa, venha colher o que plantou. Achando que se quiséssemos isso, estaríamos sendo maldosos, ou até mesmo, justiceiros. No entanto, esquecemos que a fala, nem sempre revela o sentimento de quem fala. Descobre-se o sentimento através da fala, mas pela mesma fala, podemos camuflar os sentimentos!

A transparência é o antídoto para a hipocrisia. Paulo não esconde que o seu desejo era o cumprimento da lei da semeadura naqueles que lhe causaram muitos males. Não era um sentimento de vingança, mas um sentimento de Justiça. A vingança é um sentimento que visa somente satisfazer o desejo que o outro sofra retaliação; a justiça é o sentimento que através da colheita, aquele que feriu venha sentir a dor que fez o outro sentir, só assim ele poderá ter sensibilidade para interromper o ciclo de destruição que causa em outros.

Muitas vezes, queremos nos encher de misericórdia para com as pessoas que nos ofende, e esse é o real-ideal, mas, no nosso interior essa é a fantasia-irreal, pois o que queremos, no íntimo do nosso ser, é que a pessoa também sofra o que nos fizeram sofrer, sendo o sofrimento de outrem o objetivo final.

Isso é ruim, mas querer justiça não significa ausência de misericórdia, desde que essa justiça tenha como desejo, o fim último de: “Trazer a pessoa à consciência do mal que fez”. A justiça fornece a possibilidade da pessoa ver a realidade, a dimensão dos seus atos, e se redimir com quem ofendeu, além de encerrar o ciclo de maldade, que se estende por onde passa.

Qual o sentimento que dominava Paulo nesse momento? Justiça como retorno dos atos que ele sofreu? Pode ser, mas ele expressou os seus sentimentos, ao mesmo tempo em que isso serviu como terapia, pois há momentos que a realidade vem à tona, e nesses podemos transformar as adversidades em crescimento. Podemos escolher entre ocultar ou revelar os nossos sentimentos, mas somente ao revelar, é que nos tornaremos autênticos. Revelamos nossas fragilidades e encontramos a graça restauradora de Deus.

Na Vida você Poderá Ajudar muitas Pessoas, mas nem Sempre Poderá ser Ajudado por Elas [2 Tm 4.16].

Existe um princípio nas relações humanas denominada “retorno”. Nossas ações em prol de outrem consciente ou inconsciente têm sempre uma expectativa de retorno. E quando isso não acontece, entramos em crise.

O apóstolo Paulo ajudou muitas pessoas durante a sua vida, certamente não imaginava que ficaria sozinho. Ele expressa a sua frustração: “na minha primeira defesa ninguém foi a meu favor; antes, todos me abandonaram. Que isto não lhes seja posto em contas” [2 Tm 4.16].

A frase “ninguém foi a meu favor, antes todos me abandonaram”, revela que no íntimo, Paulo foi ferido no senso de “gratidão”. O abandono de pessoas que tinham o “dever” de auxiliá-lo, inclusive nos momentos que mais precisava , causou-lhe uma frustração, que para muitos se torna insuportável. Não são poucas as pessoas que entram em depressão profunda ao vivenciar fatos como esse relatado por Paulo. Há pessoas que criam um mundo paralelo, como meio de fuga, entram em “Crise” nas áreas das emoções como efeito dessas decepções.

Quanto maior a doação com que nos entregamos às pessoas, maior será a dor do abandono; quanto maior a fidelidade que devotamos, maior será a profundidade da ferida. A cicatriz deixada por quem age com in-fidelidade, é a “má” – temática da vida, quanto maior o envolvimento emocional, maior será a dimensão da dor da separação!

Dificilmente temos a capacidade de ter consciência de que ninguém será capaz de estar conosco, em todos os momentos das nossas vidas. Toda doação tem implícita o interesse de retorno. Quando gastamos tempo com as pessoas, inconscientemente quando precisarmos de companhia nos achamos no direito de: “Ter de volta o tempo que gastamos”. É o mínimo que esperamos, mas as pessoas nem sempre podem retribuir esse mínimo, então entramos em crise.

Mais uma vez Paulo mostra a fragilidade na sua humanidade, não esconde que esperava o mínimo de afeto como retribuição. Porém, ele aprende, que na vida ajudar as pessoas não é garantia que terá ajuda dessas no momento em que precisar!

Na Vida você Poderá contar com o Auxilio de Algumas pessoas por alguns Momentos, mas Poderá contar com o auxilio de Deus em Todos os Momentos [2 Tm 4.17-18]

A dimensão do ser humano é “Física-metafísica”, ou seja, não somos somente corpo, temos uma dimensão ulterior “consciência”. Podemos nos sentir sozinhos se tivermos ao nosso lado uma multidão de pessoas, se não tivermos a dimensão da causa primária, Deus que dá sentido a essa existência. Mas Deus só pode ser sentido e manifesta no “outro” para a realização do “eu”. Somente no outro há complemento para o “eu”, mas haverá momentos que por circunstâncias adversas, não poderemos ter a companhia do “outro”.

Nesse momento de extrema carência, experimentamos num grau muito maior a presença de Deus, uma sensação inexplicável. Às vezes, é quase imperceptível essa presença quando estamos acompanhados por outros, mas perceptível, quando nos sentimos abandonados.

O apóstolo Paulo experimentou essa realidade quando desabafou a sua frustração causada pela ausência das pessoas que foram beneficiadas pela sua vida, e agora no final deixaram-no sozinho: “Mas o Senhor me assistiu e me revestiu de forças... O Senhor me livrará também” [2 Tm 4.17-18].

A fé alcança dimensões altas quando as circunstâncias nos deixam totalmente limitados na nossa esfera de ação. Quando vemos os nossos limites se exaurem, voltamo-nos para a única dimensão que realmente vai nos confortar, somente depois de dizer: “Na minha primeira defesa ninguém foi a meu favor” [2 Tm 4.16]. A fé nos faz ter uma companhia que é inexistente para quem não crê, mas se materializa na dimensão de quem crê.

Paulo chegou ao seu limite, já não esperava mais companhia de alguém que viesse consolá-lo. Esse é o momento em que não temos opção, a não ser dependurar na fé, na firme convicção de que podemos contar com muitas pessoas em muitos momentos. Mas, somente com uma pessoa podemos contar em todos os momentos, é essa pessoa é Jesus. Ele esteve presente pelo Espírito na vida de Paulo, e estará na vida de todo aquele que crê.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Transformando as Adversidades em Crescimento

Texto: 2 Timóteo 4. 9-18
Logo no início da vida, quando a criança sai do útero, ela sofre um impacto, deixa o conforto, entra no in-conforto, enfrenta um mundo desconhecido. Passa a sentir todas as circunstâncias ao seu redor, é o que a psicanálise chama de “desamparo”, um processo que se instala no ser humano desde o seu nascimento, como se vivesse em constantes perdas.

As mudanças de fases expressam bem essa realidade, onde em cada etapa, o ser humano enfrenta adversidades. Nessas adversidades que surgem, uns as usam para se fortalecer; outros atrofiam, ficam enclausurados em seu mundo imaginário, por não ter coragem de enfrentar e extrair algo de positivo, que venha servir de alavanca para outra dimensão da vida. Quando se extrai lições, a adversidade é benéfica, é necessário fazer dela um aprendizado, não vê-la como uma inimiga, mas companheira que conduzirá ao crescimento.

Só podemos crescer, se nossa capacidade de resposta for maior que a adversidade apresentada. Caso contrário, o que deveria ser uma forma de transpor e nos levar a outra dimensão, poderá nos paralisar, sem que consigamos extrair algo de positivo.

Mas como poderemos transformar as adversidades em crescimento? O que de positivo poderemos extrair na vida do apóstolo Paulo? Olhando para a sua vida o que podemos extrair das adversidades que ele enfrentou? Como podemos transformar as adversidades em Crescimento? Estaremos extraindo algumas lições que ele apresenta no relato da sua segunda carta ao seu discípulo Timóteo.

Na vida Haverá muitas Perdas, aprenda a Conviver com Elas. [2 Tm 4. 9-10]

Somos possessivos por natureza, ao alienar-se de Deus o homem vive uma síndrome de “perda”. Uma sensação de que em algum lugar no tempo, algo escapou dos nossos domínios. E com isso não é difícil de nos apegarmos as pessoas, objetos, e transformá-los na imagem daquilo que perdemos. Lidar com as perdas é algo que nunca podemos nos jactar que estarmos preparados, essas são eventos a qual não há uma preparação prévia.

Sempre que perdemos, ficamos com uma sensação de desolação, até mesmo numa brincadeira em que determinamos que não tenha nada em jogo para perder. Brincamos com o dever de ganhar, pois inconscientemente, o ser humano não admite perder, parece uma sublimação de uma perda maior: “A realização no próprio Deus”.

O apóstolo Paulo experimenta essa realidade quando no fim da sua vida, ele escreve a Timóteo com uma grande urgência pedindo para que ele viesse depressa [2 Tm 4.9] fala das suas perdas: “Demas amou o presente século me abandonou”, outro amigo por circunstancias desconhecidas: “Crescente foi para a Gálacia” e “Tito foi para a Dalmácia” [2 Tm 4. 10]. Somente uma pessoa entre tantas estava com ele, e esse era Lucas [2 Tm 4 .11]

O apóstolo não finge que estava abalado, pois ao fim da sua vida, certamente ele esperava a presença de pessoas nas quais ele sempre esteve presente, mas teve de aprender a conviver com a ausência. Algumas pessoas nos deixam por circunstâncias que não nos magoam, outras por interesses próprios, por discordarem das nossas ideologias de vida. São perdas, com as quais precisamos aprender a conviver.

Na Vida você Precisará ser Flexível, aprenda a Voltar Atrás. [2 Tm 4.11]

Na nossa jornada existencial, podemos tomas duas atitudes diferentes no tocante ao aprendizado: “podemos fazer com que as experiências amargas de ontem, sejam usadas para nos tornar mais flexíveis”, ou “podemos fazer com que a idade, ao invés de nos amolecer, nos tornar duros, inflexíveis”.

As mesmas dificuldades podem produzir duas reações diametralmente opostas em nosso ser: “podemos nos tornar flexíveis e aprender a voltar atrás”, como exemplo de quem aprendeu que voltar atrás também é ir à frente, inclusive quando se está errado. Ou usar o argumento de que não volta atrás, pois a experiência ensinou o suficiente e agora está imune aos erros, Paulo fez a primeira opção: “Toma contigo Marcos e traze-o o, pois me é útil para o ministério” [2 Tm 4. 11].

No início do seu ministério, Paulo teve grandes dificuldades de relacionamento com Marcos, pois esse o deixou no meio de uma viagem e voltou para Jerusalém [At 13.13]. Essa foi à razão pela qual Paulo e Barnabé vieram a separar-se posteriormente. Paulo não achava justo que Marcos fosse com eles, em razão de que havia os deixado antes de chegar o fim da viagem que iniciara com eles [At 15.38].

Às vezes não queremos usar da mesma bondade com que os outros usaram conosco, no ímpeto de achar que somos justos, sempre usamos de rigor, inclusive quando se é jovem. Barnabé também estava junto, mas não ficou tão frustrado como Paulo. A experiência de Barnabé, certamente o influenciou para usar de bondade com Marcos; mas Paulo esqueceu-se de que no início do seu ministério foi a bondade de Barnabé com ele, que o ajudou a conviver em paz com os irmãos [At 9.26-27].

O tempo é pedagógico, o movimento da vida traz com ele a oportunidade de rever os conceitos, ser mais flexível, compreensivo, pois no calor das emoções, podemos agir por instinto, e nossa defesa acaba sendo um ataque.

Anos mais tarde, o apóstolo reconhece que naquele momento passado, ele tinha suas razões para fazer o que fez. Mas agora, as razões perderam o tempo de validade, o que ele fez ontem, não servia mais para hoje. Isso mostra crescimento, pois uma ação de rejeição no passado embora correta na dimensão da “justiça” cede espaço para um reconhecimento da utilidade no dia de hoje!

A circunstância de abandono que Paulo estava vivendo o fez repensar em toda a sua vida, e chegou a conclusão: “Nunca é tarde para voltar atrás”. O termômetro da maturidade do ser humano consiste na capacidade de reconhecer que: “O que ontem foi certo, pode não ser certo hoje”. “O que não foi útil ontem pode ser útil hoje”. Somente com a humildade, que é o reverso do orgulho, podemos ser capacitados a voltar atrás. Essa é uma atitude que, certamente, define alguém que consegue transformar adversidades em crescimento.

Na vida Você sempre Precisará aprender, nunca Ache que já sabe o Suficiente. [2 Tm 4.13]

É interessante notar como o apóstolo Paulo já praticava um método que hoje a ciência conclui como importante para se manter lúcido no decorrer dos anos: “manter a mente ocupada”. A leitura exercita a mente, esse é um principio básico para quem não quer atrofiar todo o corpo. “Traze meus livros, e especialmente meus pergaminhos”, Ele já havia dito que “o tempo da minha partida está próximo” [ 2 Tm 4.13]

Paulo sabia que a inatividade do seu corpo naquele cárcere, não poderia imobilizar a sua mente. A necessidade de aprender deve ser algo consciente na vida, isso impulsiona, faz descobrir novos horizontes. A mente não pode ter grades, não pode ser encarcerada. Uma pessoa saudável, começa por uma mente exercitada na meditação, na subjetividade da vida.

As ações concretas têm seu valor, mas contemplar o subjetivo, viajar no mundo da imaginação, dos bons livros, nos faz sair um pouco da dura realidade que vivemos em alguns momentos. Não podemos viver a vida somente numa dimensão unilateral. Quantas vezes há um sentimento de culpa por não estarmos fazendo nada, por gastar tempo com algo que não está na linha de produção?

O apóstolo Paulo queria crescer, e na adversidade de ter seu corpo limitado pelo espaço geográfico, queria romper as grades, numa dimensão que ninguém poderia lhe tirar: “a dimensão da mente”. Essa não pode ser limitada, pois uma pessoa limitada começa pela limitação da própria mente. A qualidade do que pensamos determinará a qualidade das nossas ações.

Certamente ele se lembrou no cárcere de quando esteve no areópago em Atenas, que por ter lido os escritos dos filósofos Aratus e Cleantes, pode dizer aos poetas que também criam na homogeneidade da raça humana tendo sua gênese em Deus, a partir de um homem [At 17.28].

Paulo queria gastar bem o tempo que lhe restava, já que só poderia ler, então usou da melhor forma possível. Certamente ainda deu tempo de aprender algumas coisas, entre elas que “nunca é tarde para aprender”! Transformou adversidade em oportunidade de crescimento.