Parte I
E Jesus disse ainda:– Um homem tinha dois filhos. (Lucas 15:11)
A universalidade no homem detecta um problema crônico: aceitação! Ser aceito é uma busca desenfreada na jornada existencial, tudo o que fazemos gira em busca da aceitação, as narrativas mitológicas mostram a face dessa trajetória, Abel e caim, aceitação e rejeição, aceitação de um, ressentimento do outro.
Disputa, e inveja, tudo por causa do amor do pai, Jesus na parábola inverte a concepção do gênesis onde o filho (Abel) é aceito e o outro (Caim) rejeitado, na parábola os dois foram aceitos, enquanto Abel foi aceito por ser o melhor, o filho da parábola é aceito mesmo sendo o pior! Algo sem precedente ausente na história e na mitologia, mostrando que esse desejo de aceitação pode ser saciado quando os filhos não precisarem fazer ou ser para conquistar.
Os dois filhos da parábola tinham o DNA do pai, mas não conhecia o pai que os havia gerado, não viviam como filhos, se identificavam como escravos presos na consciência de que a presença do pai, os impedia de “desfrutar” o que queria, por ser contrario ao desejo do pai, e contrariar o desejo do pai seria perder o direito de ser filho.
O filho mais novo tomou a decisão de sair, porque se sentia preso, o mais velho optou por ficar, o mais novo manifestou a sua insatisfação saindo, o mais velho ocultou a sua insatisfação ficando; mas tanto o que saiu quanto o que ficou viviam sem desfrutar a casa e a presença do pai.
O problema estava na “presença do Pai” que por não ser conhecido, era julgado como empecilho, um filho inconscientemente culpava-o por não ter o que desejava devido a sua presença, o outro, por na sua presença não conseguir festejar.
O mais novo pediu a sua parte porque sentia que não tinha nada, o mais velho, também sentia o mesmo, pois disse “Há tantos anos que te sirvo sem jamais transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito sequer para alegrar-me com os meus amigos” (Lucas 15:29)
Essa parábola fala de dois filhos insatisfeitos, um manifestou a sua insatisfação ao sair, o outro ao ficar. O que ficou escondeu a insatisfação no silêncio, só revelou ao ver que, o que saiu conseguiu sem nenhum esforço; tudo o que ele achava que com muito esforço poderia conseguir.
O sentimento que estava no coração do “filho que saiu” podemos classificar: “insatisfação ativa”, tem o ponto positivo de que o filho foi sincero consigo e com os outros, expressou a realidade do seu interior, externou o que estava no seu coração, foi julgado pelos que o viram tomar a decisão de sair, não teve a pretensão em fazer da vida um teatro, um personagem fictício, não se importou dos outros ver nele a imagem real do seu Ser.
O sentimento que estava no coração do “filho que ficou” podemos denominar: “insatisfação passiva”, tem o lado positivo de não deixar transparecer, ninguém fica sabendo o que está se passando dentro da alma, finge estar tudo bem e recebe a aprovação de outros. Mas no silêncio, geme, deseja ter a coragem do irmão que saiu, mas o preço que tem a pagar é muito alto, perder a re “puta”-ação! Além do que acha que o Pai (Deus), não sabe das suas reais condições!
Quando o “filho que saiu” estava em casa, tinha roupas novas, símbolo de limpeza, ao voltar o pai lhe providenciou vestes limpas, símbolo da sujeira que adquiriu fora da sua presença. Perdeu o anel, sinal de filiação e passou a viver como escravo achava que era filho porque estava em casa, mas não era estar em casa que o tornava filho, pois ele tinha mente de escravo, desejava ser livre, mas transformou a “liberdade” em escravidão! Perdeu tudo ao sair, estava em casa e tinha tudo, mas não tinha consciência de que tudo tinha; achava que não tinha nada! Prova disso é que pediu a sua parte!
O filho que saiu, perdeu a sua parte, achou que perdeu tudo, estava enganado por achar que não tinha tudo, e ainda que ter “tudo” depende de estar na “casa”, mas tem tudo quem esta na “presença”! Não é espaço o diferencial, mas o “sentimento” estar na casa só é realidade se estiver na “presença”. Quem “sai” da casa pode sair da presença, mas na ausência, percebe o quanto perdeu por estar em casa e não estar na presença, mas o que está em “casa”, pode acostumar-se, ter o seu espaço, mas não dar espaço para ter a presença!
O que sai sente falta da casa e da presença, mas o que fica não sabe o real valor do espaço, não sente a falta da casa nem a saudade da presença!O filho que saiu teve tudo de volta, com a diferença que agora iria valorizar o que já tinha, mas não tinha noção do valor de filho, pois não conhecia o pai, por isso disse: “não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus trabalhadores”. (Lucas 15:19).
Antes achava que a estar na casa do pai era a razão das suas frustrações, queria ser “livre”, agora depois de experimentar a liberdade, o seu desejo é voltar, e como punição pelo seu erro aceita ser rebaixado para a “classe de escravo”.
A consciência punitiva do filho que aceita voltar à casa do pai para ser escravo, mostra a mentalidade escravocrata, não sabia que para o pai, filho sempre será filho, na sua casa ou longe da sua presença, filho não é filho porque acerta ou erra, mas porque foi “gerado”, pelo Pai.
O filho nada faz para ser filho, e nada pode fazer para deixar de ser, não é uma questão de “fazer para ser”, mas de “ser” independente de fazer! O filho que ficou tinha o anel símbolo de vocação, mas não vivia a vocação de filho, e sim como escravo!
Continua ...
* Aviso aos amigos da blogosfera:
Essa mensagem foi escrita tendo por base uma série de 12 pregações de aproximadamente 25 minutos cada.
Devido ser muito longa fiz a divisão em três partes, para que os textos não fiquem longo e cansativos para você leitor. Estarei postando 1 em cada semana.