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Jl-reflexoes

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Jesus nos lábios... Mamom no coração!


A teologia sempre traz pré-supostos inconscientes por trás de muitas teorias afirmada ao longo da história, uma dessas é a afirmação “bênçãos materiais” x “bênçãos espirituais”, mostram uma hermenêutica falha dentro do contexto da vida de Jesus.

Jesus advertiu os discípulos sobre essa dimensão de se relacionar com os desejos, não dividiu benção em duas dimensões "Materiais x Espirituais", mas falou do coração como fator legitimador para determinar o curso do coração humano.


Como é que se define uma benção espiritual ou material? Isso não existe, essa dicotomia é a razão do flagelo do cristianismo atual, porque ao fragmentar “material x espiritual”, o cristianismo se iguala a qualquer outra filosofia religiosa.

È daí que surgem os méritos como justificativa para ser bem sucedido, tudo isso se originou no conceito grego agostiniano, onde se dividia a vida natural e a noumenal, ou seja, a vida dos sentidos em oposição à matéria, sendo que a matéria era oposição ao mundo ideal, não físico, por isso as bênçãos que se deve almejar é a da “alma”, não física, pois a matéria essa está em oposição ao espiritual! (Matéria x Espírito).

A minha tese é: “O espiritual não está na dimensão do material nem do não material”, mas sim nos “sentimentos” que transformam o material em espiritual, ou seja, a natureza do objeto não tem significado em sí, mas o significado vem dos sentimentos de quem o possui em relação ao objeto de posse!

Jesus disse:
“Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam, porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração, a candeia do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz; se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso. se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas! ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. não podeis servir a deus e a mamom”. (Mateus 6.19-24)

A ortodoxia cristã interpretou esse texto que o tesouro no céu onde a traça e a ferrugem não corroem e os ladrões não roubam (v20), como sendo os exercícios espirituais, tais como: “Oração, jejum, Louvor, adoração etc....

Na sequência Jesus fala do coração como vitima do tesouro, do domínio próprio, e dos cuidados com o desejo exagerado de posse (v21), e culmina se antecipando a psicologia falando da somatização como efeito dos desejos, atingindo o corpo, o que era estranho para a teologia da época, e ainda hoje para alguns que estão descontextualizados...

Jesus continua falando sobre os dois senhores em constante conflito, usa metáforas antitéticas como “luz x trevas”, “olhos bons e maus”, “Deus e mamom”.

Não quero entrar na dimensão psicológica do texto, mas ele está dando um show de conhecimento  da psique humana, antes da psicologia profunda, sobre as instancias antagônicas (ego x superego), que chama de “dois senhores”.

Jesus conclui mostrando que na realidade não existe “material ou espiritual”, e sim que os sentimentos iriam determinar a espiritualidade. Para ele as bênçãos espirituais são aquelas que nos dá sabedoria em “ADMINISTRAR OS BENS SEM DEIXAR CORAÇÃO SEJA DOMINADO POR ELES”.

Quem faz isso “ajunta tesouro nos céus”, pois ao invés de ficar ajudando os irmãos em “oração e jejum”, rogando para Deus abençoa-lo, vai ao banco tira um pouco do “tesouro que está ajuntando” e ajuda com as bênçãos que tem adquirido, mas isso só será possível se sua confiança não estiver no tesouro que está no “Banco da terra”, pois o banco do céu é investir naquele que necessita!

Jesus prossegue:
“Por isso vos digo: Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o vestuário?” (Mateus 6.24).

Qualquer pregação que leve a pessoa a “ansiedade”, quanto a sua subsistência, é anticristã, seja “bênçãos espirituais” (que não acredito) ou das “bênçãos materiais” (que também não acredito). Todo esse discurso são geradores de neurose em busca de segurança, o que contraria justamente a “fé”, que é a segurança na própria insegurança, ou seja, uma certeza que habita o coração de quem crê mesmo que não encontre razão para essa crença!

A única benção que acredito existir é aquela que não tira a minha paz, nem a sua conquista, tão pouco a sua ausência, na minha percepção o material e o espiritual se fundem numa só dimensão.

O material é espiritualizado e deixa de ser “material”, quando os meus sentimentos são de dependência para com esse objeto, estando ele em minha posse ou no meu desejo.

O sagrado só existe na dimensão do coração de quem crê, por isso para mim não existem “bênçãos materiais” ou “bênçãos espirituais’.

Deus e mamom tornam-se Senhores no coração de quem lhe entregar os seus desejos, seja o objeto de natureza física (material) ou abstrato (não material), por isso Jesus adverte: “os olhos são as lâmpadas do corpo”, são através deles que nossos desejos se intensificação e vão determinar em qual esfera viveremos a nossa vida, quem a dominará.


Ter tesouro no céu, não significa receber recompensa em outra vida, mas viver aqui uma vida superior, não sendo escravo de nada que venha possuir, afinal não são poucos os que pensam que possuem tesouros, quando na realidade são os tesouros que o possui!


Jesus coloca em questão a grande resposta que daremos a nossa existência: 


“Seremos Senhores das nossas conquistas ou escravos delas...”

4 comentários:

  1. Belo texto, melhor, texto profundo com um assunto tão comum em nossos dias a prosperidade como promessa de Deus para seus seguidores...
    Conteudo profundo que só me incentiva ainda mais questionar certos discursos que se ouve nos pulpitos de nossas igrejas...
    Ah se todos que tivessem olhos lessem!!!

    Abraço

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  2. Olá Vanessa?

    Que bom ter você aqui na minha sala.
    Pois é o texto está escrito há quase dois mil anos não é?

    Mas a leitura feita já está condicionada com pressupostos da filosofia grega que é dualista, separa o material do espiritual, o físico do metafísico, etc...

    Jesus não tinha essa cosmovisão, para ela havia unidade no universo, e toda a criação é interdependente, ou seja, a ecologia e a teologia não são duas dimensões distintas, mas todas elas têm a ver com a antropologia.

    E quando se lê o evangelho de uma forma Holística, certamente percebemos que as nossas interpretações de heranças da tradição fragmentam o evangelho e o reduz a uma filosofia descontextualizada.

    Grato pela sua visita.
    Volte sempre, é sempre bem vinda.
    Abraço.

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  3. JL, gostei muito do teu texto! Você conseguiu abordar o tema por um viés novo e muito significativo.

    " na minha percepção o material e o espiritual se fundem numa só dimensão."

    também penso assim. A separação é apenas uma ilusão dos nossos olhos. Toda matéria é energia e toda energia é matéria.

    abraços

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  4. Interessante Eduardo...
    confesso que embora tenha escrito isso, não pensei nessa teoria moderna da física que você citou...
    heehhehe
    Mas analizando nessa óptica dá mais força para o argumento que desenvolvi no texto não é?
    Bem interessante o seu comentário.
    Abraço.

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