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Jl-reflexoes

sábado, 18 de setembro de 2010

Mito ou Mentira?

Verdade ou Mito?” É muito comum ouvir essa frase.
Nessa pergunta, o mito é o oposto da verdade, por não poder ser comprovado, ou seja, algo que não está na esfera do concreto. O oposto do mito não é  verdade, é mentira!

Verdade é aquilo que faz o homem viver numa dimensão que não viveria se não acreditasse nela.

A cultura ocidental não é mais rica com a “verdade” objetiva. A verdade do mito é a verdade que nos faz transcender, é verdade corporificada na existência humana.

Fernando pessoa em seu poema Ulisses, descreve muito bem essa verdade paradoxal que é o mito, definida erroneamente como não verdade ou mentira:

O mito é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo –
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo.
Por não ter vindo foi vindo
E nos criou.
Assim a lenda se escorre
A entrar nas realidade,
E a fecundá-la decorre.
Em baixo, a vida, metade
De nada, morre.

Ele começa o poema com um paradoxo, afirma e nega o que afirma simultaneamente, quebrando o primeiro principio da lógica, “logos”, que é “uma coisa é igual a si mesma e não pode ser diferente ao mesmo tempo”.

Fernando pessoa estaria mentindo, ser tivesse falando do principio estabelecido pela filosofia de Aristóteles de que: “uma coisa que é não pode não ser”.

O conceito que o ocidente tem de “verdade” tem origem na busca dos gregos pelo “Arché” (principio) aquilo que existe antes de tudo e é a causa de tudo.

Esse ser que “é”, foi um conceito desenvolvido na filosofia de Parmênides.  O arché é imutável, todas as coisas mudam, mas esse permanece, pois é a causa de todas as coisas. Esse ser buscado na filosofia grega é a causa primaria das religiões monoteístas que chamam “Deus”!
Fernando pessoa não fala de uma verdade estática, pacifica a nossa mente em termos de lógica.  


Ele fala sobre a verdade da fé, uma verdade subjetiva para quem está fora como observador, mas concreta para aquele que a vivencia.
No primeiro verso do poema ele afirma que uma coisa é exatamente idêntica ao seu contrário “nada igual a tudo”.

O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo 

O sol que abre os céus ele chama de “mito”, seu brilho é perceptível, mas ele é mudo, o sol não se expressa com palavras, mas é verdade que brilha, ainda que não emita nenhuma expressão sonora, é brilhante, é verdade...

Corpo morto de Deus... Vivo e desnudo? Se é corpo morto como pode ser vivo? Morto para o que não crê, mas vivo desnudo, para o que crê!  Na dimensão de quem crê não há contradição, mas sim  afirmação da fé.

Por não ter vindo foi vindo
E nos criou.

O poema de Fernando pessoa aborda o paradoxo, a mais expressiva verdade: “Por não ter vindo foi vindo”.  Ele continua falando de Deus,  que tem o corpo morto, vivo e desnudo não afirma a sua existência, mas que passa a existir: “Por não ter vindo”, ou seja, não importa que Deus não veio, mas que por não vir, “foi vindo”.

O efeito da fé foi acreditar que o que "foi vindo", nos Criou. Não é uma questão de verdade cientifica, mas verdade de fé, ou seja, por não vir, veio, e por que cremos que veio, cremos que nos criou.


No poema de Ulisses, o que importa é que a lenda entra na realidade e a fecunda, ou seja, a vida ganha significado. O sujeito é fecundado pelo objeto da crença, e a partir daí, decorre. A vida está sempre embaixo, precisa de algo maior para transcender no seu significado.

Assim a lenda se escorre
A entrar na realidade,
E a fecundá-la decorre.

O mito não é nada para quem não crê, esse vai achar contradição, mas para quem crê encontra significado no mito! Mesmo que a razão contradiga: “A lógica da não contradição!”.


Metade
De nada, morre.

O mito é o tudo que é nada. Para quem crê, o mito é tudo, para quem não crê o mito é nada. No mito se crê como o tudo, ou se crê como nada. Não pode existir metade para quem crê que o mito é tudo, e não existe metade para quem crê que o mito é nada.

O mito é verdade para quem crê, é tudo. 
A verdade para quem não crê é metade de nada... é a aniquilação da existência, é morte.

5 comentários:

  1. Jl, seus comentários e textos estão fazendo muito falata lá na confraria...como está o corre-corre? Dá tempo pelo menos de dar beijo na boca?????? kkkkkkkkkk

    este texto é excelente. A frase "Verdade é aquilo que faz o homem viver numa dimensão que não viveria se não acreditasse nela." é perfeita!! vou até arquivá-la nos meus alfarrábios textuais rsssss

    abração e volte logo

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  2. Eduardo.
    Que bom ter você aqui.
    Pois é estou numa correia tremenda!
    A escola está editando 3 livros por mês.
    Estou trabalhando na diagramação, revisão e escrevendo também.
    Até o fim de novembro estarei com 5 livros editados de minha autoria!
    Ufa!
    Sempre dou uma passada na CPFG
    Mas não comento, pois se começar vou querer postar um texto no comentário! kkkkkkkkk
    Abraço.

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  3. Rapaz, asssim você vai entrar no Guines...rssss

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  4. Vim Lima. Deveria ter vindo antes e mais vezes. Mas as vezes a gente não desperta na hora e perde o mais lindo, a aurora. Ainda bem que sempre tem auroras, embora cada uma com o seu deslumbramento.
    Poetizei rsrs
    Obrigada.

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