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quarta-feira, 27 de novembro de 2013

PAULO FREIRE: UMA REFLEXÃO SOBRE OS DESAFIOS ATUAIS DA PRÁTICA 
DOCENTE*

A pedagogia do oprimido na concepção de Paulo Freire tem como premissa básica: “o ser humano tem capacidade e potencialidade para ser o protagonista da sua história”.

Contudo, é necessário, que haja conscientização de que uma transformação realmente eficiente não vem de fora, como algo pré-dado, mas sim, uma consciência com base na reflexão através de todas as experiências de vida adquirida.

A partir do axioma da valorização da pessoa como indivíduo com potencial para a liberdade, a pedagogia do oprimido contesta a visão bancária de ensino, que tem seus postulados na historiografia positivista, de hierarquia.

Nessa visão, o ensino é visto como gradativo, pode ser classificado o grau de conhecimento de acordo com os cursos efetuados.

Nessa óptica o professor (mestre) detém o conhecimento, e o aluno é o receptáculo desses “conhecimentos intelectuais”, metafísico, desconectado da história.

Essa visão remonta ao conceito de “conhecer” da filosofia grega onde o mundo precisava ser interpretado, e o sujeito se ajusta a ele, em oposição à historiografia marxista, o mundo precisa ser transformado.

Não há passividade entre o sujeito e o objeto do estudo, ambos interagem numa dialética, e o conhecimento está sempre em movimento, em construção.

A pedagogia do oprimido apresenta uma visão diametralmente oposta ao sistema vigente da educação classificada por Paulo Freire com “bancária”, onde a violência dos opressores leva a desumanização dos oprimidos, a uma vocação do “ser menos” pelo fato de distorcer o significado de “ser mais”.

Nas palavras de Freire (1987, p.33):

a narração de conteúdos que por isso mesmo tendem a petrificar ou fazer-se algo quase morto, sejam valores ou dimensões concretas da realidade, narração ou dissertação que implica num sujeito – o narrador e em objetos pacientes, ouvintes-os educandos.

Paulo Freire adota sem duvida em sua pedagogia do oprimido a historiografia Marxista pelo fato de que para ele o “conhecimento” não é algo que vem pronto, não é patente do educador, mas, um movimento, um diálogo de experiências de quem transmite, e quem recebe a transmissão, de forma que não há passividade por parte de quem “aprende”.

Denunciando a falha e a precariedade do sistema educacional, Paulo Freire fala da finalidade desse sistema de ensino. 

Preservar a situação de que são beneficiários e que lhes possibilita a manutenção de sua falsa generosidade (...)  Por isto mesmo é que reagem, até instintivamente, contra qualquer tentativa de uma educação estimulante do pensar autêntico, que não se deixa emaranhar pelas voes parciais da realidade, buscando sempre os nexos que prendem um ponto a outro, ou um problema a outra. (FREIRE, 1987, p. 34).

Paulo Freire instiga o leitor a pensar numa alternativa para a educação, aonde ela venha proporcionar ao estudante uma oportunidade de libertação, e isso seria a melhor forma de humanizar as pessoas.

Sobre as condições do estudante no sistema bancário,

a sua domesticação é a da realidade a qual se lhes fala como algo estático pode desapertá-los como contradição de si mesmos e da realidade. De si mesmos e da realidade, de si mesmos ao se descobrirem, por experiência existencial em um modo de ser inconciliável com a sua vocação de humanizar-se. Da realidade, ao perceberem - na em suas realizações com ela como devenir constante. (FREIRE, 1987, p. 35).

Os oprimidos são destituídos do seu direito a autonomia, enquanto os opressores sempre lutam para legitimar e perpetuar o seu “direito” de opressão.

Opressores e oprimidos atuam em lados opostos, formando dois pólos onde os opressores lucram com a desumanização dos mais pobres, visto carregarem em si sentimentos egoístas de individualismo e desigualdade.

Nesse caso a solidariedade que muitas vezes são manifestadas pelos detentores são ilusórias e interesseiras, uma forma de manter a opressão mascaradas por atos de solidariedade.

O grande desafio está no fato de que o oprimido é o hospedeiro do opressor, a sociedade juntamente com a educação tradicional inserem modelos dentro das pessoas, o que acontece segundo Freire (1987, p.34):

ao receberem o mundo que neles entra, já são seres passivos, cabe a educação passivá-los mais ainda e adaptá-los ao mundo. Quanto mais adaptados para a concepção “bancária”, tanto mais “educados” , porque adequados ao mundo.

É preciso dar ênfase ao fato de que os homens são pessoas e como pessoas são livres e eximir-se de fazer com que essa afirmação seja uma realidade é uma farsa.

Pedagogia do oprimido leva a proposta de uma autonomia, uma reflexão que possa fazer uso da critica, assim possibilitará o homem ser o protagonista da sua história, é preciso uma interação dialógica e igualitária entre as pessoas para haver possibilidade de criar-se uma consciência coletiva na construção do novo.

Mas para isso é preciso desconstruir as estruturas fundamentada no modelo tradicional. É preciso uma educação oposta a qual o autor denomina de “problematizadora” em oposição a “bancária”.

 Nesse sentido a educação problematizadora, já não é o ato de depositar, ou de narrar ou de transferir “conhecimentos” e valores aos educandos, meros pacientes, à maneira da educação bancária, mas um ato cognoscente como situação gnosiológica, em que o objeto cognoscível em lugar do termino do ato cognoscente de um sujeito é o mediatizador de sujeitos cognoscentes.

Educador de um lado, educandos, de outro, a educação problematizadora coloca desde logo a existência da superação da contradição educador educandos.

Sem esta não é possível à relação dialógica indispensável à cognoscibilidade dos sujeitos cognoscentes, em torno do mesmo objeto “cognoscível”. (FREIRE, 1987, p.39).

Um dos fatores a ser revisto é o conteúdo programático da educação, como fruto de um diálogo, de uma inquietação acerca do conteúdo. Não como uma imposição, mas, uma doação.

Segundo o autor, não é um conjunto de informes a ser depositado nos educandos, mas uma devolução sistematizada e organizada de acordo com a visão de mundo e cultura que tenha o povo para que não se torne uma “invasão cultural” e isso ocorre mesmo sem que haja intenção.

O conteúdo programático é um dos maiores obstáculos, pois, muitas vezes não abordam a situação presente e existencial do homem, é preciso que o conteúdo seja concreto, que venha refletir as aspirações do povo, que possa desafiar e exigir uma resposta não só na dimensão intelectual, mas de ação.

Na pratica docente é preciso acima de tudo mudar o paradigma do educando como o que detém o conhecimento e o estudante como o que apenas é um receptáculo passivo.

Há uma necessidade de compreender o ser humano como um ser complexo, que seu aprendizado deve ser interativo, participativo.

Considerar que para o educando ter a capacidade de assimilar e levar para a dimensão prática os conteúdos é preciso levar em conta a sua história, sua complexidade, como anseios, desejos, e seu contexto na sociedade.

O Educador precisa assumir o seu papel como facilitador do processo de libertação do educando, levando a uma reflexão critica dos pressupostos já internalizados nele.

O educando precisa ser confrontado com o seu papel na história, ser despertado a assumir a posição de protagonista, ter uma participação critica, como forma de mudar a sua realidade.

Pensar só é certo quando o é feito criticamente, o ato de pensar não pode estar desconectado da ação.

Teoria e práxis são indissociáveis, de forma que a práxis legitima a veracidade da teoria, a desconexão transforma o ensino em metafísico, anacrônico, subjetivo e em última análise paralisante e legitimador do status quo predominante.

O educador na atualidade tem o desafio de ser democrático, no sentido que reconhecer os educandos como sujeitos, defender sua liberdade, e assim atuar como mediador oferecendo ao educando a oportunidade de ter uma consciência critica e transformadora.
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REFERÊNCIAS

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1987.

*Curso de Ciências Sociais. Universidade Metodista de São Paulo - UMESP

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