DOCENTE*
A pedagogia do oprimido na concepção de Paulo Freire tem como premissa básica: “o ser humano tem capacidade e potencialidade para ser o protagonista da sua história”.
Contudo,
é necessário, que haja conscientização de que uma transformação realmente
eficiente não vem de fora, como algo pré-dado, mas sim, uma consciência com
base na reflexão através de todas as experiências de vida adquirida.
A
partir do axioma da valorização da pessoa como indivíduo com potencial para a
liberdade, a pedagogia do oprimido contesta a visão bancária de ensino, que tem
seus postulados na historiografia positivista, de hierarquia.
Nessa
visão, o ensino é visto como gradativo, pode ser classificado o grau de conhecimento
de acordo com os cursos efetuados.
Nessa
óptica o professor (mestre) detém o conhecimento, e o aluno é o receptáculo desses
“conhecimentos intelectuais”, metafísico, desconectado da história.
Essa
visão remonta ao conceito de “conhecer” da filosofia grega onde o mundo
precisava ser interpretado, e o sujeito se ajusta a ele, em oposição à historiografia
marxista, o mundo precisa ser transformado.
Não
há passividade entre o sujeito e o objeto do estudo, ambos interagem numa
dialética, e o conhecimento está sempre em movimento, em construção.
A
pedagogia do oprimido apresenta uma visão diametralmente oposta ao sistema
vigente da educação classificada por Paulo Freire com “bancária”, onde a
violência dos opressores leva a desumanização dos oprimidos, a uma vocação do
“ser menos” pelo fato de distorcer o significado de “ser mais”.
Nas
palavras de Freire (1987, p.33):
a narração de
conteúdos que por isso mesmo tendem a petrificar ou fazer-se algo quase morto,
sejam valores ou dimensões concretas da realidade, narração ou dissertação que
implica num sujeito – o narrador e em objetos pacientes, ouvintes-os educandos.
Paulo
Freire adota sem duvida em sua pedagogia do oprimido a historiografia Marxista
pelo fato de que para ele o “conhecimento” não é algo que vem pronto, não é
patente do educador, mas, um movimento, um diálogo de experiências de quem
transmite, e quem recebe a transmissão, de forma que não há passividade por
parte de quem “aprende”.
Denunciando
a falha e a precariedade do sistema educacional, Paulo Freire fala da
finalidade desse sistema de ensino.
Preservar
a situação de que são beneficiários e que lhes possibilita a manutenção de sua
falsa generosidade (...) Por isto mesmo
é que reagem, até instintivamente, contra qualquer tentativa de uma educação
estimulante do pensar autêntico, que não se deixa emaranhar pelas voes parciais
da realidade, buscando sempre os nexos que prendem um ponto a outro, ou um
problema a outra. (FREIRE, 1987,
p. 34).
Paulo
Freire instiga o leitor a pensar numa alternativa para a educação, aonde ela
venha proporcionar ao estudante uma oportunidade de libertação, e isso seria a
melhor forma de humanizar as pessoas.
Sobre
as condições do estudante no sistema bancário,
a sua
domesticação é a da realidade a qual se lhes fala como algo estático pode
desapertá-los como contradição de si mesmos e da realidade. De si mesmos e da
realidade, de si mesmos ao se descobrirem, por experiência existencial em um
modo de ser inconciliável com a sua vocação de humanizar-se. Da realidade, ao perceberem
- na em suas realizações com ela como devenir constante. (FREIRE, 1987, p. 35).
Os
oprimidos são destituídos do seu direito a autonomia, enquanto os opressores
sempre lutam para legitimar e perpetuar o seu “direito” de opressão.
Opressores
e oprimidos atuam em lados opostos, formando dois pólos onde os opressores
lucram com a desumanização dos mais pobres, visto carregarem em si sentimentos
egoístas de individualismo e desigualdade.
Nesse
caso a solidariedade que muitas vezes são manifestadas pelos detentores são ilusórias
e interesseiras, uma forma de manter a opressão mascaradas por atos de
solidariedade.
O
grande desafio está no fato de que o oprimido é o hospedeiro do opressor, a
sociedade juntamente com a educação tradicional inserem modelos dentro das
pessoas, o que acontece segundo Freire (1987, p.34):
ao receberem o
mundo que neles entra, já são seres passivos, cabe a educação passivá-los mais
ainda e adaptá-los ao mundo. Quanto mais adaptados para a concepção “bancária”,
tanto mais “educados” , porque adequados ao mundo.
É
preciso dar ênfase ao fato de que os homens são pessoas e como pessoas são
livres e eximir-se de fazer com que essa afirmação seja uma realidade é uma
farsa.
Pedagogia
do oprimido leva a proposta de uma autonomia, uma reflexão que possa fazer uso
da critica, assim possibilitará o homem ser o protagonista da sua história, é
preciso uma interação dialógica e igualitária entre as pessoas para haver
possibilidade de criar-se uma consciência coletiva na construção do novo.
Mas
para isso é preciso desconstruir as estruturas fundamentada no modelo
tradicional. É preciso uma educação oposta a qual o autor denomina de
“problematizadora” em oposição a “bancária”.
Nesse sentido a educação problematizadora, já
não é o ato de depositar, ou de narrar ou de transferir “conhecimentos” e
valores aos educandos, meros pacientes, à maneira da educação bancária, mas um
ato cognoscente como situação gnosiológica, em que o objeto cognoscível em
lugar do termino do ato cognoscente de um sujeito é o mediatizador de sujeitos
cognoscentes.
Educador
de um lado, educandos, de outro, a educação problematizadora coloca desde logo
a existência da superação da contradição educador educandos.
Sem
esta não é possível à relação dialógica indispensável à cognoscibilidade dos
sujeitos cognoscentes, em torno do mesmo objeto “cognoscível”. (FREIRE, 1987,
p.39).
Um dos fatores a ser revisto é o
conteúdo programático da educação, como fruto de um diálogo, de uma inquietação
acerca do conteúdo. Não como uma imposição, mas, uma doação.
Segundo o autor, não é um
conjunto de informes a ser depositado nos educandos, mas uma devolução
sistematizada e organizada de acordo com a visão de mundo e cultura que tenha o
povo para que não se torne uma “invasão cultural” e isso ocorre mesmo sem que
haja intenção.
O conteúdo programático é um dos
maiores obstáculos, pois, muitas vezes não abordam a situação presente e
existencial do homem, é preciso que o conteúdo seja concreto, que venha
refletir as aspirações do povo, que possa desafiar e exigir uma resposta não só
na dimensão intelectual, mas de ação.
Na pratica docente é preciso
acima de tudo mudar o paradigma do educando como o que detém o conhecimento e o
estudante como o que apenas é um receptáculo passivo.
Há uma necessidade de compreender
o ser humano como um ser complexo, que seu aprendizado deve ser interativo,
participativo.
Considerar que para o educando
ter a capacidade de assimilar e levar para a dimensão prática os conteúdos é
preciso levar em conta a sua história, sua complexidade, como anseios, desejos,
e seu contexto na sociedade.
O Educador precisa assumir o seu
papel como facilitador do processo de libertação do educando, levando a uma
reflexão critica dos pressupostos já internalizados nele.
O educando precisa ser
confrontado com o seu papel na história, ser despertado a assumir a posição de
protagonista, ter uma participação critica, como forma de mudar a sua
realidade.
Pensar só é certo quando o é
feito criticamente, o ato de pensar não pode estar desconectado da ação.
Teoria e práxis são indissociáveis,
de forma que a práxis legitima a veracidade da teoria, a desconexão transforma
o ensino em metafísico, anacrônico, subjetivo e em última análise paralisante e
legitimador do status quo predominante.
O educador na atualidade tem o
desafio de ser democrático, no sentido que reconhecer os educandos como
sujeitos, defender sua liberdade, e assim atuar como mediador oferecendo ao
educando a oportunidade de ter uma consciência critica e transformadora.
___________________________
REFERÊNCIAS
FREIRE,
Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1987.
*Curso de Ciências Sociais. Universidade Metodista
de São Paulo - UMESP
Nenhum comentário:
Postar um comentário