Top blog

Top blog
Jl-reflexoes

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Olhar o Mapa...Andar no caminho


Se há um legado que a filosofia grega deixou para a humanidade foi o “Principio da moderação”. Alguns têm entendido esse principio como “equilíbrio”, mas essa definição não esta de acordo com o pensamento grego, pois “equilíbrio”, pode denotar “estagnação”, já a moderação, não é “estabilidade”, e sim “contenção”, é a busca de um meio termo, e não ir nem a um extremo nem a outro, esse é o lema que norteia o pensamento filosófico grego.

O Cristianismo que veio depois, não desprezou esse principio Cristo, adotou essa modelo: “O pão nosso de cada dia dá hoje” (Mt 6.11) “Portanto não andeis ansiosos” (Mt 6.24), Paulo segue o mesmo raciocínio usando a palavra “contentamento” (Fp 4.10-13).

A razão ao longo dá história serviu de inibidora do homem de ir aos extremos, possibilitou o homem viver em sociedade. Nietsche chama de “vida em rebanho” o que exigiu o homem criar limites, para não ser extinto como os demais seres na existência.

O homem percebeu que precisava contrair os seus desejos, mesmo porque desejos na expansão atingiam a outros, principalmente os semelhantes a ele.

A necessidade de sobrevivência produz a redução como instinto preservador, daí surge a comunicação, tendo como mediador entre o homem e seus iguais a linguagem, a gramática. Essa vai nominar, vai limitar as ações, a comunicação possibilita a expressão dos desejos, ao mesmo tempo em que os limita.

A principio a linguagem não visava igualar os homens, mas apenas limitar a sua esfera de ação, como um freio, para que os seus desejos não os extinguissem; ou seja, a linguagem possibilita o homem se comunicar com os seus semelhantes, servindo de mapa para trilhar a existência, tendo limites para sua preservação, ao mesmo tempo em que vê na preservação do outro a sua própria.

A grande luta do homem na história é que a linguagem como expressão deveria apenas criar um mapa provisório, para se viver, isso porque a vida é devir (Mudança), o que “È” agora, já pode não ser daqui a alguns segundos.

O homem criou um mapa, mas teria que andar no caminho que é a vida, no entanto ao criar o mapa, ele optou por andar nele. O mapa serve como orientador, não é caminho. Ao tentar andar pelo mapa ele se perde no caminho, pois o mapa é estático o caminho tem relevos, buracos, imprevistos...

sábado, 18 de setembro de 2010

Mito ou Mentira?

Verdade ou Mito?” É muito comum ouvir essa frase.
Nessa pergunta, o mito é o oposto da verdade, por não poder ser comprovado, ou seja, algo que não está na esfera do concreto. O oposto do mito não é  verdade, é mentira!

Verdade é aquilo que faz o homem viver numa dimensão que não viveria se não acreditasse nela.

A cultura ocidental não é mais rica com a “verdade” objetiva. A verdade do mito é a verdade que nos faz transcender, é verdade corporificada na existência humana.

Fernando pessoa em seu poema Ulisses, descreve muito bem essa verdade paradoxal que é o mito, definida erroneamente como não verdade ou mentira:

O mito é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo –
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo.
Por não ter vindo foi vindo
E nos criou.
Assim a lenda se escorre
A entrar nas realidade,
E a fecundá-la decorre.
Em baixo, a vida, metade
De nada, morre.

Ele começa o poema com um paradoxo, afirma e nega o que afirma simultaneamente, quebrando o primeiro principio da lógica, “logos”, que é “uma coisa é igual a si mesma e não pode ser diferente ao mesmo tempo”.

Fernando pessoa estaria mentindo, ser tivesse falando do principio estabelecido pela filosofia de Aristóteles de que: “uma coisa que é não pode não ser”.

O conceito que o ocidente tem de “verdade” tem origem na busca dos gregos pelo “Arché” (principio) aquilo que existe antes de tudo e é a causa de tudo.

Esse ser que “é”, foi um conceito desenvolvido na filosofia de Parmênides.  O arché é imutável, todas as coisas mudam, mas esse permanece, pois é a causa de todas as coisas. Esse ser buscado na filosofia grega é a causa primaria das religiões monoteístas que chamam “Deus”!
Fernando pessoa não fala de uma verdade estática, pacifica a nossa mente em termos de lógica.  


Ele fala sobre a verdade da fé, uma verdade subjetiva para quem está fora como observador, mas concreta para aquele que a vivencia.
No primeiro verso do poema ele afirma que uma coisa é exatamente idêntica ao seu contrário “nada igual a tudo”.

O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo 

O sol que abre os céus ele chama de “mito”, seu brilho é perceptível, mas ele é mudo, o sol não se expressa com palavras, mas é verdade que brilha, ainda que não emita nenhuma expressão sonora, é brilhante, é verdade...

Corpo morto de Deus... Vivo e desnudo? Se é corpo morto como pode ser vivo? Morto para o que não crê, mas vivo desnudo, para o que crê!  Na dimensão de quem crê não há contradição, mas sim  afirmação da fé.

Por não ter vindo foi vindo
E nos criou.

O poema de Fernando pessoa aborda o paradoxo, a mais expressiva verdade: “Por não ter vindo foi vindo”.  Ele continua falando de Deus,  que tem o corpo morto, vivo e desnudo não afirma a sua existência, mas que passa a existir: “Por não ter vindo”, ou seja, não importa que Deus não veio, mas que por não vir, “foi vindo”.

O efeito da fé foi acreditar que o que "foi vindo", nos Criou. Não é uma questão de verdade cientifica, mas verdade de fé, ou seja, por não vir, veio, e por que cremos que veio, cremos que nos criou.


No poema de Ulisses, o que importa é que a lenda entra na realidade e a fecunda, ou seja, a vida ganha significado. O sujeito é fecundado pelo objeto da crença, e a partir daí, decorre. A vida está sempre embaixo, precisa de algo maior para transcender no seu significado.

Assim a lenda se escorre
A entrar na realidade,
E a fecundá-la decorre.

O mito não é nada para quem não crê, esse vai achar contradição, mas para quem crê encontra significado no mito! Mesmo que a razão contradiga: “A lógica da não contradição!”.


Metade
De nada, morre.

O mito é o tudo que é nada. Para quem crê, o mito é tudo, para quem não crê o mito é nada. No mito se crê como o tudo, ou se crê como nada. Não pode existir metade para quem crê que o mito é tudo, e não existe metade para quem crê que o mito é nada.

O mito é verdade para quem crê, é tudo. 
A verdade para quem não crê é metade de nada... é a aniquilação da existência, é morte.

sábado, 11 de setembro de 2010

Teo-logia ou...Teo-Fagia?

Já não quero mais fazer Teo-“logia”, quero Teo-“fagia”. Falar de Deus quase sempre é mostrar a distancia entre Deus e quem fala de Deus.

No encontro com o inefável, não há palavras a ser faladas, nos discursos escondem-se o vazio, à distância, mas no silêncio manifesta-se a presença.

Deus é “Paradoxo”. Digo “para” + “doxa”, pois não é “contra” + “Adição”, e sim “adição que não é contra”. Duas verdades que não se pacificam na “grama”+ atica! A verdadeira teologia tem sua gênese na Téo-fagia. Deus existe na subjetividade de cada um, não na lógica que cala o intelecto com pró-posições já inferidas da grama+atica.

O texto bíblico já é uma interpretação do escritor, é uma Téo+ logia, pois é tentar descrever Deus na lógica do seu entendimento. Logo, esse é um teólogo da Téo-ria, contudo antes de falar de Deus, quem vai falar ou escrever, experimente aquele de quem fala então ele “come” o objeto da sua fala...

E o que muda ao comer Deus antes de falar D’Ele? Ora quando falo do que entendo, falo de razões que meu intelecto internaliza. Mas quando falo do que experimento, falo de sentimentos, afetos... E quando vou falar do que sinto minha razão não encontra palavras, não consigo falar, sei que sinto, mas não consigo me expressar...

Quando se expressa o que se entende pela mente, a mente, mente! Mas quando se tenta falar do que sente, a mente não entende, logo ela não mente, porque não consegue falar, e a mentira habita nas palavras...

A verdade que se fala sobre Deus deve partir do “experimento”, e não numa Téo+oria. Somente uma verdade existencial é verdade para quem sente, e não para quem ouve. A verdade são afetos que afeta quem sente mesmo que não consiga falar.

Daí, minha Teo-ria de que a verdadeira Téo+”Logia” só existe na Téo-“Fagia”. Nessa dimensão do “fago” (comer) somente quem come é que pode saber o sabor.

No momento em que tento “descrever” o sabor do que experimento, faço desse uma teoria. Mas o sabor não é “Catafatico”, (catequese, ensino) sim “Apofático” (sentidos, sentimentos).

Não se “Estuda”, (catafático) se sente, e não dá para transformar em palavras sentimentos, (apofático), pois palavras mentem, sentimentos são verdades que quase sempre não podem ser expressos...

Tem razão Guilherme Arantes quando diz:
“Se o que vale é o sentimento e não palavras quase sempre traiçoeiras...”. (Musica Pedacinhos).

O poeta certamente entendia que se pode ensinar alguém a beijar (catafático), mas será que quem beija consegue descrever a sensação (apofático) do beijo?

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Transformando as Adversidades em Crescimento

Texto: 2 Timóteo 4.9-18
Continua... Parte II
Na Vida você Precisará Expressar os seus Sentimentos, seja Autêntico [2 Tm 4.14].

Como lidar com o sentimento de ser magoado, profundamente por pessoas que nos ferem? Quem pode dizer que não se sente atingido, quando ferido por pessoas que não tem sensibilidade? A fala do apóstolo demonstra que ele tinha uma ferida emocional muito profunda. O que fazer? Ocultar os sentimentos, dizer que tudo está bem, quando na realidade há uma luta interior entre: “o dever de perdoar, e o desejo de vingar-se”?

O apóstolo Paulo demonstra sua humanidade, não oculta a frustração quando diz: “Alexandre o latoeiro causou-me muitos males, o Senhor lhe dará a paga segundo as suas obras” [2 Tm 4.14].

Devemos ter sentimentos de misericórdia com as pessoas que nos ferem, no entanto normalmente falamos que essa, venha colher o que plantou. Achando que se quiséssemos isso, estaríamos sendo maldosos, ou até mesmo, justiceiros. No entanto, esquecemos que a fala, nem sempre revela o sentimento de quem fala. Descobre-se o sentimento através da fala, mas pela mesma fala, podemos camuflar os sentimentos!

A transparência é o antídoto para a hipocrisia. Paulo não esconde que o seu desejo era o cumprimento da lei da semeadura naqueles que lhe causaram muitos males. Não era um sentimento de vingança, mas um sentimento de Justiça. A vingança é um sentimento que visa somente satisfazer o desejo que o outro sofra retaliação; a justiça é o sentimento que através da colheita, aquele que feriu venha sentir a dor que fez o outro sentir, só assim ele poderá ter sensibilidade para interromper o ciclo de destruição que causa em outros.

Muitas vezes, queremos nos encher de misericórdia para com as pessoas que nos ofende, e esse é o real-ideal, mas, no nosso interior essa é a fantasia-irreal, pois o que queremos, no íntimo do nosso ser, é que a pessoa também sofra o que nos fizeram sofrer, sendo o sofrimento de outrem o objetivo final.

Isso é ruim, mas querer justiça não significa ausência de misericórdia, desde que essa justiça tenha como desejo, o fim último de: “Trazer a pessoa à consciência do mal que fez”. A justiça fornece a possibilidade da pessoa ver a realidade, a dimensão dos seus atos, e se redimir com quem ofendeu, além de encerrar o ciclo de maldade, que se estende por onde passa.

Qual o sentimento que dominava Paulo nesse momento? Justiça como retorno dos atos que ele sofreu? Pode ser, mas ele expressou os seus sentimentos, ao mesmo tempo em que isso serviu como terapia, pois há momentos que a realidade vem à tona, e nesses podemos transformar as adversidades em crescimento. Podemos escolher entre ocultar ou revelar os nossos sentimentos, mas somente ao revelar, é que nos tornaremos autênticos. Revelamos nossas fragilidades e encontramos a graça restauradora de Deus.

Na Vida você Poderá Ajudar muitas Pessoas, mas nem Sempre Poderá ser Ajudado por Elas [2 Tm 4.16].

Existe um princípio nas relações humanas denominada “retorno”. Nossas ações em prol de outrem consciente ou inconsciente têm sempre uma expectativa de retorno. E quando isso não acontece, entramos em crise.

O apóstolo Paulo ajudou muitas pessoas durante a sua vida, certamente não imaginava que ficaria sozinho. Ele expressa a sua frustração: “na minha primeira defesa ninguém foi a meu favor; antes, todos me abandonaram. Que isto não lhes seja posto em contas” [2 Tm 4.16].

A frase “ninguém foi a meu favor, antes todos me abandonaram”, revela que no íntimo, Paulo foi ferido no senso de “gratidão”. O abandono de pessoas que tinham o “dever” de auxiliá-lo, inclusive nos momentos que mais precisava , causou-lhe uma frustração, que para muitos se torna insuportável. Não são poucas as pessoas que entram em depressão profunda ao vivenciar fatos como esse relatado por Paulo. Há pessoas que criam um mundo paralelo, como meio de fuga, entram em “Crise” nas áreas das emoções como efeito dessas decepções.

Quanto maior a doação com que nos entregamos às pessoas, maior será a dor do abandono; quanto maior a fidelidade que devotamos, maior será a profundidade da ferida. A cicatriz deixada por quem age com in-fidelidade, é a “má” – temática da vida, quanto maior o envolvimento emocional, maior será a dimensão da dor da separação!

Dificilmente temos a capacidade de ter consciência de que ninguém será capaz de estar conosco, em todos os momentos das nossas vidas. Toda doação tem implícita o interesse de retorno. Quando gastamos tempo com as pessoas, inconscientemente quando precisarmos de companhia nos achamos no direito de: “Ter de volta o tempo que gastamos”. É o mínimo que esperamos, mas as pessoas nem sempre podem retribuir esse mínimo, então entramos em crise.

Mais uma vez Paulo mostra a fragilidade na sua humanidade, não esconde que esperava o mínimo de afeto como retribuição. Porém, ele aprende, que na vida ajudar as pessoas não é garantia que terá ajuda dessas no momento em que precisar!

Na Vida você Poderá contar com o Auxilio de Algumas pessoas por alguns Momentos, mas Poderá contar com o auxilio de Deus em Todos os Momentos [2 Tm 4.17-18]

A dimensão do ser humano é “Física-metafísica”, ou seja, não somos somente corpo, temos uma dimensão ulterior “consciência”. Podemos nos sentir sozinhos se tivermos ao nosso lado uma multidão de pessoas, se não tivermos a dimensão da causa primária, Deus que dá sentido a essa existência. Mas Deus só pode ser sentido e manifesta no “outro” para a realização do “eu”. Somente no outro há complemento para o “eu”, mas haverá momentos que por circunstâncias adversas, não poderemos ter a companhia do “outro”.

Nesse momento de extrema carência, experimentamos num grau muito maior a presença de Deus, uma sensação inexplicável. Às vezes, é quase imperceptível essa presença quando estamos acompanhados por outros, mas perceptível, quando nos sentimos abandonados.

O apóstolo Paulo experimentou essa realidade quando desabafou a sua frustração causada pela ausência das pessoas que foram beneficiadas pela sua vida, e agora no final deixaram-no sozinho: “Mas o Senhor me assistiu e me revestiu de forças... O Senhor me livrará também” [2 Tm 4.17-18].

A fé alcança dimensões altas quando as circunstâncias nos deixam totalmente limitados na nossa esfera de ação. Quando vemos os nossos limites se exaurem, voltamo-nos para a única dimensão que realmente vai nos confortar, somente depois de dizer: “Na minha primeira defesa ninguém foi a meu favor” [2 Tm 4.16]. A fé nos faz ter uma companhia que é inexistente para quem não crê, mas se materializa na dimensão de quem crê.

Paulo chegou ao seu limite, já não esperava mais companhia de alguém que viesse consolá-lo. Esse é o momento em que não temos opção, a não ser dependurar na fé, na firme convicção de que podemos contar com muitas pessoas em muitos momentos. Mas, somente com uma pessoa podemos contar em todos os momentos, é essa pessoa é Jesus. Ele esteve presente pelo Espírito na vida de Paulo, e estará na vida de todo aquele que crê.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Transformando as Adversidades em Crescimento

Texto: 2 Timóteo 4. 9-18
Logo no início da vida, quando a criança sai do útero, ela sofre um impacto, deixa o conforto, entra no in-conforto, enfrenta um mundo desconhecido. Passa a sentir todas as circunstâncias ao seu redor, é o que a psicanálise chama de “desamparo”, um processo que se instala no ser humano desde o seu nascimento, como se vivesse em constantes perdas.

As mudanças de fases expressam bem essa realidade, onde em cada etapa, o ser humano enfrenta adversidades. Nessas adversidades que surgem, uns as usam para se fortalecer; outros atrofiam, ficam enclausurados em seu mundo imaginário, por não ter coragem de enfrentar e extrair algo de positivo, que venha servir de alavanca para outra dimensão da vida. Quando se extrai lições, a adversidade é benéfica, é necessário fazer dela um aprendizado, não vê-la como uma inimiga, mas companheira que conduzirá ao crescimento.

Só podemos crescer, se nossa capacidade de resposta for maior que a adversidade apresentada. Caso contrário, o que deveria ser uma forma de transpor e nos levar a outra dimensão, poderá nos paralisar, sem que consigamos extrair algo de positivo.

Mas como poderemos transformar as adversidades em crescimento? O que de positivo poderemos extrair na vida do apóstolo Paulo? Olhando para a sua vida o que podemos extrair das adversidades que ele enfrentou? Como podemos transformar as adversidades em Crescimento? Estaremos extraindo algumas lições que ele apresenta no relato da sua segunda carta ao seu discípulo Timóteo.

Na vida Haverá muitas Perdas, aprenda a Conviver com Elas. [2 Tm 4. 9-10]

Somos possessivos por natureza, ao alienar-se de Deus o homem vive uma síndrome de “perda”. Uma sensação de que em algum lugar no tempo, algo escapou dos nossos domínios. E com isso não é difícil de nos apegarmos as pessoas, objetos, e transformá-los na imagem daquilo que perdemos. Lidar com as perdas é algo que nunca podemos nos jactar que estarmos preparados, essas são eventos a qual não há uma preparação prévia.

Sempre que perdemos, ficamos com uma sensação de desolação, até mesmo numa brincadeira em que determinamos que não tenha nada em jogo para perder. Brincamos com o dever de ganhar, pois inconscientemente, o ser humano não admite perder, parece uma sublimação de uma perda maior: “A realização no próprio Deus”.

O apóstolo Paulo experimenta essa realidade quando no fim da sua vida, ele escreve a Timóteo com uma grande urgência pedindo para que ele viesse depressa [2 Tm 4.9] fala das suas perdas: “Demas amou o presente século me abandonou”, outro amigo por circunstancias desconhecidas: “Crescente foi para a Gálacia” e “Tito foi para a Dalmácia” [2 Tm 4. 10]. Somente uma pessoa entre tantas estava com ele, e esse era Lucas [2 Tm 4 .11]

O apóstolo não finge que estava abalado, pois ao fim da sua vida, certamente ele esperava a presença de pessoas nas quais ele sempre esteve presente, mas teve de aprender a conviver com a ausência. Algumas pessoas nos deixam por circunstâncias que não nos magoam, outras por interesses próprios, por discordarem das nossas ideologias de vida. São perdas, com as quais precisamos aprender a conviver.

Na Vida você Precisará ser Flexível, aprenda a Voltar Atrás. [2 Tm 4.11]

Na nossa jornada existencial, podemos tomas duas atitudes diferentes no tocante ao aprendizado: “podemos fazer com que as experiências amargas de ontem, sejam usadas para nos tornar mais flexíveis”, ou “podemos fazer com que a idade, ao invés de nos amolecer, nos tornar duros, inflexíveis”.

As mesmas dificuldades podem produzir duas reações diametralmente opostas em nosso ser: “podemos nos tornar flexíveis e aprender a voltar atrás”, como exemplo de quem aprendeu que voltar atrás também é ir à frente, inclusive quando se está errado. Ou usar o argumento de que não volta atrás, pois a experiência ensinou o suficiente e agora está imune aos erros, Paulo fez a primeira opção: “Toma contigo Marcos e traze-o o, pois me é útil para o ministério” [2 Tm 4. 11].

No início do seu ministério, Paulo teve grandes dificuldades de relacionamento com Marcos, pois esse o deixou no meio de uma viagem e voltou para Jerusalém [At 13.13]. Essa foi à razão pela qual Paulo e Barnabé vieram a separar-se posteriormente. Paulo não achava justo que Marcos fosse com eles, em razão de que havia os deixado antes de chegar o fim da viagem que iniciara com eles [At 15.38].

Às vezes não queremos usar da mesma bondade com que os outros usaram conosco, no ímpeto de achar que somos justos, sempre usamos de rigor, inclusive quando se é jovem. Barnabé também estava junto, mas não ficou tão frustrado como Paulo. A experiência de Barnabé, certamente o influenciou para usar de bondade com Marcos; mas Paulo esqueceu-se de que no início do seu ministério foi a bondade de Barnabé com ele, que o ajudou a conviver em paz com os irmãos [At 9.26-27].

O tempo é pedagógico, o movimento da vida traz com ele a oportunidade de rever os conceitos, ser mais flexível, compreensivo, pois no calor das emoções, podemos agir por instinto, e nossa defesa acaba sendo um ataque.

Anos mais tarde, o apóstolo reconhece que naquele momento passado, ele tinha suas razões para fazer o que fez. Mas agora, as razões perderam o tempo de validade, o que ele fez ontem, não servia mais para hoje. Isso mostra crescimento, pois uma ação de rejeição no passado embora correta na dimensão da “justiça” cede espaço para um reconhecimento da utilidade no dia de hoje!

A circunstância de abandono que Paulo estava vivendo o fez repensar em toda a sua vida, e chegou a conclusão: “Nunca é tarde para voltar atrás”. O termômetro da maturidade do ser humano consiste na capacidade de reconhecer que: “O que ontem foi certo, pode não ser certo hoje”. “O que não foi útil ontem pode ser útil hoje”. Somente com a humildade, que é o reverso do orgulho, podemos ser capacitados a voltar atrás. Essa é uma atitude que, certamente, define alguém que consegue transformar adversidades em crescimento.

Na vida Você sempre Precisará aprender, nunca Ache que já sabe o Suficiente. [2 Tm 4.13]

É interessante notar como o apóstolo Paulo já praticava um método que hoje a ciência conclui como importante para se manter lúcido no decorrer dos anos: “manter a mente ocupada”. A leitura exercita a mente, esse é um principio básico para quem não quer atrofiar todo o corpo. “Traze meus livros, e especialmente meus pergaminhos”, Ele já havia dito que “o tempo da minha partida está próximo” [ 2 Tm 4.13]

Paulo sabia que a inatividade do seu corpo naquele cárcere, não poderia imobilizar a sua mente. A necessidade de aprender deve ser algo consciente na vida, isso impulsiona, faz descobrir novos horizontes. A mente não pode ter grades, não pode ser encarcerada. Uma pessoa saudável, começa por uma mente exercitada na meditação, na subjetividade da vida.

As ações concretas têm seu valor, mas contemplar o subjetivo, viajar no mundo da imaginação, dos bons livros, nos faz sair um pouco da dura realidade que vivemos em alguns momentos. Não podemos viver a vida somente numa dimensão unilateral. Quantas vezes há um sentimento de culpa por não estarmos fazendo nada, por gastar tempo com algo que não está na linha de produção?

O apóstolo Paulo queria crescer, e na adversidade de ter seu corpo limitado pelo espaço geográfico, queria romper as grades, numa dimensão que ninguém poderia lhe tirar: “a dimensão da mente”. Essa não pode ser limitada, pois uma pessoa limitada começa pela limitação da própria mente. A qualidade do que pensamos determinará a qualidade das nossas ações.

Certamente ele se lembrou no cárcere de quando esteve no areópago em Atenas, que por ter lido os escritos dos filósofos Aratus e Cleantes, pode dizer aos poetas que também criam na homogeneidade da raça humana tendo sua gênese em Deus, a partir de um homem [At 17.28].

Paulo queria gastar bem o tempo que lhe restava, já que só poderia ler, então usou da melhor forma possível. Certamente ainda deu tempo de aprender algumas coisas, entre elas que “nunca é tarde para aprender”! Transformou adversidade em oportunidade de crescimento.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

O Feminino na Teologia Judaico-cristã

Quanto mais estudo a religião em conexão com a psicologia, mais percebo a estrutura dos arquétipos que estão por trás de toda a construção da existência humana. A tradição judaica no Genesis tinha antes de Eva uma figura feminina por nome “Lilyth”. Essa foi à primeira “mulher” criada perfeita, mas se “rebelou” contra a autoridade masculina.

Na cabala Lilith é tida com a primeira mulher, antecede Eva no antigo testamento, também responsábilizada pela “desordem no universo masculino” (sempre elas não é?)

Ela abandonou o jardim do Èden por causa de uma disputa sobre igualdade dos sexos, chegando depois a ser descrita como um demônio, essa passagem está registrada no livro do profeta Isaias, segundo a interpretação Rabinica.

Algumas interpretções dizem que Lilyth se rebela quando percebe que é da mesma matéria prima que adão, essa percepção culminou na recusa: “Ficar sempre por baixo durante o ato sexual”.

Lilyth é a précursora que remonta o inconsciente revoltado contra o “dominio patriarcal, teve a audácia de questionar Deus sobre a razão dessa inferioridade ele reponde: “Essa era a ordem natural, o domínio do homem sobre a mulher”. Essa resposta a levou a abandonar o Éden.

Após os hebreus terem deixado a Babilônia Lilith perdeu aos poucos sua representatividade e foi eliminada do velho testamento. Eva é criada no sexto dia, e depois da solidão de Adão no gênesis.

Agora deixando o fundo histórico, o que percebo é que o homem ao longo da história criou mecanismos de defesa, sentiu-se ameaçado, seja qual for a forma que a mulher ganhou ao longa da história seja Astarte, Lilith, Rainha dos céus, Eva ou Maria.

Uma coisa percebe-se no fundo do inconsciente masculino: “O homem sente-se ameaçado”.

A divindade do Espírito Santo no novo testamento como uma “personalidade assexuada”, seria a síntese inconciente, para ficar num “meio termo”, nem o pai vetero testamentário, nem o filho néotestamentário, nem a mãe, maria mãe de Deus, que gerou um filho do pai, mas esse não era homem somente, “era Deus-homem”.

Filho de Mulher sem contato de homem! O Espírito Santo é a SINTESE da divindade, nem masculino nem femino, “neutro”, visto que a ausência da figura masculina ou feminina no arquétipo humano deixa-o deficiente.

Só o Pai do AT) , simbolizando a força, o poder da guerra, a manutenção da vida, deixa deficiente,da ausência do colo materno, geradora da vida, leite, cuidado no crescimento!

A figura feminina é responsavel por gerar a vida, a masculina por protegê-la.

A história da humanidade não conseguiu conciliar esse dois lados importantes da existencia humana. Um sempre exluiu o outro, no novo testamento, sugre uma terceira via, que ninguém via, a saber: Um “Deus” que os cristãos adota pela necessidde inconsciente de apaziguar esse conflito.

Nem o pai, nem a mãe, nem o filho, ou todos ao mesmo tempo e nenhum exclusivamente, que tal o “Espírito Santo”? Na teologia tem as mesmas glórias do pai e do filho, são eternos, mas diferentes individualmente!

Além do que, a teologia do Espírito pode ser uma expressão inconsciente da associação do pecado ao sexo, por isso a mulher fica “gravida do Espírito” não é um homem que a engravida, mas o proprio “Deus”.

Isso porque a “mulher” não teria pureza suficiente para gerar um “santo” com o homem, nem o homem a poderia “purificar” visto ser ele também impuro.

Não seria essa forma do Novo testametno incoscientemente valorizar a mulher? Ao mesmo tempo que a salvação vem por um homem, não é o homem o autor da salvação?

È um “homem” que redime, mas esse não é filho da “mulher”, nem “filho de homem”. Não é fecundado por homem, mas pelo “Espírito”. (Ruah: vento, sopro, ar em movimento). Com personalidade, mas “assexuado!

Seria incoscientemente uma repugna ao “sexo” ao mesmo tempo uma resignação contra o dominio “Masculino”? Uma tentativa de “equilibrirar”, visto que a mulher tem maior participação do que o homem na história da redenção cristã?

Não seria “filho do homem” o redentor, mas seria “semente da mulher”! Opa! Mas quem disse que mulher tem semen-te? Não importa estamos falando de fé...
____________________________________
Esse texto foi postado anteriormente com o tema
Deus: Masculino -Feminino...Sem Sexo! (Com pequenas mudanças)
http://cpfg.blogspot.com/2010/08/deus-masculino-femenino-sem-sexo.html

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Desamparo: O homem em Busca de Ser Aceito

Ler a Bíblia com olhar psicanalítico pode nos mostrar coisas que dificilmente perceberíamos numa leitura apenas teológica. Na leitura teológica, o leitor busca comprovar o que se crê, ou seja, ele vai para o texto com uma TESE inconsciente, na realidade ele parte de uma premissa afirmativa e vai ao texto comprovar a veracidade da premissa que crê.

O mito rejeição paterna de Deus no tocante a oferta de Caim... Como um Pai rejeita o presente de um filho e aceita o presente de outro. Não seria iniciar uma carência afetiva que produz um complexo de rejeição no outro...

Esse relato de Genesis mostra o processo mítico da guerra entre irmãos... o judaísmo reproduz o que outras culturas já haviam expressados em seu contos mitológico. No Genesis as guerras entre os irmãos começam a partir desse relato e é estendido a atualidade...

A partir desse relato de Genesis capitulo 4, prossegue a odisséia, o mito da rejeição paterna aplicado a Caim se estende....

Abraão por força das circunstancias rejeita Ismael, não lhe deu herança, mandou-o ao deserto abandonado a sorte. O anjo (Senhor) vai e resgata a mulher e seu filho...

Deus escolhe um dos filhos para ser o “herdeiro”, e esse é “Isaque”, veja automaticamente rejeita Ismael. Na seqüência da linhagem, Deus deixa claro que prefere Jacó rejeita Esaú. Paulo interpreta dizendo que Deus se aborreceu de Esaú, e ainda antes do nascimento! (Isso não é incrível!)

Veja que cada ato de Deus em favor de um, automaticamente desencadeia conflitos psicológicos no outro. E cada atitude de “Deus” é inconscientemente reproduzida nos seus filhos (Abraão, Isaque e Jacó).

O mito de que o filho  reproduz os erros dos pais....Cada escolha de Deus em preferência a um patriarca, é reproduzida no patriarca da mesma forma rejeitando um dos seus filhos...

Depois que Deus manifestou predileção para com Abel, rejeitando a CAIM E O QUE ELE OFERECEU. Toda a sua descendência de Caim é tida como do mal, os aceitos por Deus foram os “Bons”.
Caim entrou num processo de ira reprimida que culminou entrando para a história como o primeiro homicida, daí todos os seus descentes os “Filhos de Caim” passaram a representar a personificação do Mal. Nasce um filho substituto por nome SETE, para dar continuidade a interrupção na linhagem de Abel.

Os patriarcas deram continuidade aos erros dos seus precursores. Abraão cometeu o erro de dar predileção a Isaque, e isso com a “aprovação de Deus”. Isaque da continuidade ao erro do pai, ao escolher Esaú e rejeitar Jacó.

A partir daí incendiou o conflito entre os irmãos...
Jacó enganou o seu irmão e sumiu.... Mas não para ai... Cometeu o mesmo erro do seu avô (Abraão) e do seu Pai (Isaque), perpetuou o seu erro ao escolher José rejeitando os demais e despertando conflito entre eles.
José foi vendido pelos irmãos, jogado no poço... E segue: “A SAGA DOS ESCOLHIDOS DE DEUS QUE PRECISAM TER UM ADVERSARIO PARA COMBATER”.

Esses adversários nos relatos bíblicos normalmente são os irmãos.... Não seria uma busca de aceitação, onde somente excluindo o outro é que mostro o quanto sou importante?

Será que os relatos de Genesis não foram mal interpretados por Judeus-Cristãos -Mulçumanos...

Se Deus não faz acepção de pessoas, porque ele iria iniciar uma guerra de conflitos entre irmãos desde a rejeição de Caim... E olhe que o texto diz que: “E CAIM E SUA OFERTA REJEITOU O SENHOR”.

O escritor coloca primeiro a pessoa como objeto da rejeição, depois o objeto oferecido por ele...

Essa forma de registro fere no mais profundo a psique da pessoa, pois não foi uma rejeição ao erro, mas a pessoa!

O relato de Genesis é um Drama mitológico que enfrenta a humanidade com o maior de todos os problemas numa projeção do desamparo que sente o filho em relação ao Pai....

E esse desamparo encontra no ciúme do amor que o pai divide como os demais irmãos um combustível para as “Guerras entre irmãos”!

A rejeição paterna não é um registro único de Genesis, é comum na mitologia guerra entre irmãos... Na história bíblica dá a impressão que para “UM FILHO SER AMADO, O OUTRO TEM QUE SER REJEITADO”!

Os Filhos (árabes e Judeus) sentem o desejo de ser amado e inconscientemente disputam o amor do pai. O mesmo amor do Pai é disputado entre CATÓLICOS E PROTESTANTES...

Em ambos os casos os filhos admitem ter o mesmo pai, mas não aceitam ser irmãos, não podem amar-se pelo egoísmo de não querer dividir o seu amor do Pai...

Essa não é apenas a história de Judeus-Árabes e Católicos-Protestantes...Essa é a nossa história!