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sábado, 24 de julho de 2010

A Influência de Platão na Teologia de Paulo

O desejo do homem ao olhar para um corpo que se sofre com a temporalidade, produz na psique um desejo de imortalidade. O olhar do homem para o finito cria desejo do infinito.

Cristo nunca falou de corpo glorificado, mas sim Paulo. Qual a razão para a expressão de Paulo? No que  está firmada a sua reflexão  e consequentemente sua teologia? 



“CRISTO VIVEU A CONDENAÇÃO DO PECADO NO CORPO, PAULO TEORIZOU SOBRE O CORPO DO PECADO”


Isso significa que uma coisa é quando o VERBO FALA, experimentando na corpo o que fala, e o que fala fica sem nexo: “DEUS MEU, DEUS MEU PORQUE ME DESAMPARASTE? Outra diferente é quando o que fala quer colocar na escrita o que o corpo sente, nesse caso o que fica sem nexo é a fala.

O primeiro (Cristo) fala a partir da vida e das dores, é “Deus” se encontrando nos limites do homem. O segundo e a fala do homem a partir da interpretação da vida, e ai a vida do homem limita a fala.

No primeiro não há dogmas, pois o que o corpo experimenta não é possível racionalizar. No segundo, há uma tentativa através da filosofia expressar o que o corpo sente, a razão se perde, pois o corpo primeiro sente, e sensação não pode ser decodificada por palavras.

Cristo não fala da carne, esse termo lhe é estranho, Paulo empresta do gnosticismo essa dicotomia. Na realidade Paulo sendo discípulo de cristo, é na verdade o melhor aluno de Platão!

Paulo escreveu as suas cartas primeiro, os evangelista que andaram com Jesus escreveram depois... Porque não deram ênfase a sua teologia? A hipótese seria:

“Os evangelistas nos Evangelhos, narram os atos, deram interpretação tendo por base a vida no corpo que culminou na morte e ressurreição”.

Paulo o apóstolos dos gentios, tentou levar o evangelho na linguagem da filosofia grega, onde o axioma universalizado era: “O corpo é mortal a alma é imortal”.

Ele tentou fazer com que o cristianismo fosse acessível aos gentios, e os gregos não poderiam ficar de fora, então usou terminologia da filosofia platônica. Mesmo que  em alguns textos ele mostra a diferença entre fé cristã e a filosofia grega ao falar da ressurreição como ápice final na sua teologia (1 Coríntios 15).

Platão tinha a seguinte cosmologia:


- O MUNDO NOUMENAL - O mundo metafísico (mundo das idéias, do intelecto, mundo ideal a ser conquistado).

- O MUNDO FENOMENAL - O mundo físico (Mundo dos sentidos, sentimentos, sensações, que se opõe ao mundo ideal)

Platão entendia que esses dois mundos estão em antagonismo, em guerra constante, para se alcançar a dimensão do “MUNDO NOUMENAL”, (Metafísco- fora do corpo) o homem teria que travar uma guerra contra o outro mundo o “MUNDO FENOMENAL”, (Físico no  corpo) esse que era o ilusório, enganoso e mal!

É nesse pressuposto que Paulo tenta dialogar com a filosofia grega, explicar a complexidade do embate da PSIQUE (Noumenal – Metafísico – idéias, intelecto) e SOMA (natural-corpo, sensações, desejos). 

Essa conspiração tem outra terminologia na psicanálise Freudiana. A luta do SUPEREGO (equivalente ao noumenal em Platão que é o ideal) X o EGO (Desejo - atua na dimensão dos sentimentos que buscam satisfazer o ID ou necessidade, equivalente ao fenomenal (Platão).


A satisfação dessas necessidades seria ir contra o NOUMENAL, o mundo ideal. (Qualquer semelhança com a luta da carne (sentimentos-desejo) x Espírito (não físico, ideal) não terá sido mera coincidência, mas sim mistura de Paulo com Platão.

Qual a solução encontrada para atingir o mundo noumenal na filosofia grega? Sacrificar o corpo, aniquilar os sentimentos, visto que o corpo é “A prisão da alma imortal”. 

Em nenhum momento se fala de ressurreição na filosofia grega. Nenhuma divindade havia descido ao Hades (Inferno) para vencer Thanatos (Morte). Na mitologia não havia idéia de Ressurreição! 



Está explicado porque o sermão de Paulo em Atos 17 foi bem aceito até o momento em que ele disse: “E ESSE DEUS O RESSUSCITOU DOS MORTOS”! Se referindo a ressurreição de Cristo. Paulo tenta unir a filosofia platônica com o cristianismo e diz em outras palavras o que Platão havia recomendado: 

“A CARNE LUTA CONTRA O ESPÍRITO”. É coincidência?

O que é carne para Paulo? 


“É o equivalente em Platão o que ele chama de mundo “fenomenal”. A carne se opõe ao Mundo Noumenal".


Na teologia Paulina “Espiritual = ideal que está para além dos sentidos! Ou seja, NOUMENAL, a conquista se dá por meio da ASCESE. Mais uma vez coincidentemente o que ensinava PLATÃO.

O mundo noumenal de Platão e conquistado com o sacrifício do corpo, anulando os desejos, traduzindo para a Linguagem Paulina: 

“O CÉU (NOUMENAL) É CONQUISTADO ATRAVÉS DA NEGAÇÃO DOS DESEJOS DA CARNE  (FENOMENAL)!

Essa dicotomia expressa os paradigmas científicos de sua época, o que era compreensível aceitar em seu tempo, o mundo era dicotômico, é compreensivo que Paulo acompanhasse essa tendência.


Numa retrospectiva na história do pensamento, percebe-se que a  TEOLOGIA, e todas as demais áreas do saber,  sempre se inclinaram a acompanhar as teorias cientificas aceitas como verdade, contudo as teorias que eram absolutas naquele momento histórico, foram re-significadas, ou seja, não eram descartadas mas ajustadas a nova verdade que se descobria.


No entanto alguns teólogos preferiram canonizar as suas certezas, e ficar no  ostracismo, fadados a um teologia arcaica e irrelevante.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Culpa: A maior de todas as Potestades!

Acredito que Jesus tinha muitas dimensões tanto Téo-lógica quanto psico-lógica ao usar o termo “Satanás”, no texto bíblico, Ele usou a palavra “satanás” naquele contexto de Lucas, na minha interpretação, como a “culpa recalcada”, que foi à causadora do mal naquela mulher. A culpa entrou em sua psique e a “encurvou”! O que a medicina moderna chama de doenças psico-somáticas.

Alguém duvida que a culpa possa encurvar uma pessoa?... Ainda mais uma mulher na tradição judaica que já nascia culpada do “pecado de Eva”!

Jesus usou nomes como “castas", “demônios”, "satanás” em concordância com a crença da época, satanás era o agente, uma “pessoa com personalidade”, em antítese ao pai, na qual Jesus orava usando um pronome pessoal.

Não tenho dúvidas de que esses termos eram usados para falar do maior de todos os “diabos”, a “Culpa”, essa é a irmã gêmea de Satanás que foi gerada pela busca desenfreada da perfeição para "Agradar uma divindade", seja qual for à religião!

Uma mulher estava na sinagoga, contextualizando com os nossos dias, podemos dizer que era um dos lugares que esta relacionado com a religião (igreja). A religião muitas vezes aumenta a sensibilidade da consciência através da Regras, sobrecarregam o superego (consciência?) e essa sobrecarga aumenta o desejo de transgressão e quando a pessoa transgride, não consegue viver no nível exigido, é dominada por um estado de culpa tão alucinado que vai parar em centros de internações psiquiátricas.

Quem duvida disso é só ir aos hospitais psiquiátricos e verão que a maioria dos pacientes são evangélicos, e quanto mais radical é a igreja mais doentes mentais ela produz.

Jesus já tinha mapeado o DNA da maior de todas as potestades da religião:

“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito; e, depois de o terdes feito, o fazeis filho do inferno duas vezes mais do que vós” (Mateus 23.15)

Um filho do inferno tem poder de fazer seu discípulo duas vezes pior do que ele, justamente aqueles que têm “Doutrinas certas” e querem levar outros ao “céu”, na realidade os conduzem ao “inferno”, esse é o único “mestre” que consegue contrariar a fala de Jesus: “O discípulo não é superior a seu mestre, mas todo o que for perfeito será como o seu mestre”. (Mateus 6.40)

Para Jesus o discípulo que o seguisse não ia superá-lo, mas poderia se tornar igual ao mestre, mas os discípulos dos religiosos quebrariam essa lógica, na dimensão dos religiosos eles sempre vão além, conseguem transcender: “Faziam dos seus discípulos duas vezes piores que eles”!


O apóstolo Paulo mostrou que uma das formas de poderes demoníacos era justamente o que mais existe nas religiões:

“Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz. E, despojando os principados e potestades, os expôs publicamente e deles triunfou em si mesmo”. (Colossenses 2: 14-15)

Ele não fala de um demônio com personalidade, mas sim de “principados” e “potestades”, que sobrecarregam a psique com a culpa por não atingirem nunca a “perfeição idealizada”.

Essa é um demônio antigo, revelado na religião, a maior criadora de “espíritos malignos”, como queiram chamar os ortodoxos, ou uma grande potestade e o maior diabo que é a Culpa!

A culpa é importante como preservadora da vida, ela se faz necessária, mas a falsa culpa despertada nas tradições religiosas, essa sim causa um mal irremediável ao ser humano.

Vejamos o exemplo daquela mulher aprisionada por “Satanás”:

“E veio ali uma mulher possessa de um espírito de enfermidade, havia já dezoito anos; andava ela encurvada, sem de modo algum poder endireitar-se". “Vendo-a Jesus, chamou-a e disse-lhe: Mulher, estás livre da tua enfermidade”. (Lucas 13.10-11)

A cura se deu no momento em que ao ouvir um homem falando com ela, e ainda no templo, sua estima foi ao alto, e ao subir a estima o seu corpo subiu juntamente com ela. A valorização da pessoa através do amor fez uma simbiose entre psique-corpo, e, veja o que aconteceu: “e, impondo-lhe as mãos, ela imediatamente se endireitou e dava glória a Deus”. (Lucas 13.13)

Em Impondo as mãos “sobre ela”, percebemos o efeito psicológico causado naquela mulher ao sentir a aceitação de Jesus? E a ação de impor as mãos sobre uma mulher que no mínimo estava debaixo de maldição para a sua sociedade? Afinal, carregava o estigma de ser a responsável pela entrada do pecado na humanidade!

A cura aconteceu na sua psique, o “Espírito” que aprisionava, não é uma questão se o “espírito” era ou não era uma entidade com personalidade, mas com certeza pode-se afirmar que esse espírito atuava num “sentimento de desvalorização”, ou o fatal “complexo de inferioridade”, e essa diluição do ser levava a mulher a encurvar-se.

Quantos hoje  estão aprisionados por Satanás a mais tempo do que essa mulher, através da religião onde há tanta culpa que os faz encurvarem...

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Jesus nos lábios... Mamom no coração!


A teologia sempre traz pré-supostos inconscientes por trás de muitas teorias afirmada ao longo da história, uma dessas é a afirmação “bênçãos materiais” x “bênçãos espirituais”, mostram uma hermenêutica falha dentro do contexto da vida de Jesus.

Jesus advertiu os discípulos sobre essa dimensão de se relacionar com os desejos, não dividiu benção em duas dimensões "Materiais x Espirituais", mas falou do coração como fator legitimador para determinar o curso do coração humano.


Como é que se define uma benção espiritual ou material? Isso não existe, essa dicotomia é a razão do flagelo do cristianismo atual, porque ao fragmentar “material x espiritual”, o cristianismo se iguala a qualquer outra filosofia religiosa.

È daí que surgem os méritos como justificativa para ser bem sucedido, tudo isso se originou no conceito grego agostiniano, onde se dividia a vida natural e a noumenal, ou seja, a vida dos sentidos em oposição à matéria, sendo que a matéria era oposição ao mundo ideal, não físico, por isso as bênçãos que se deve almejar é a da “alma”, não física, pois a matéria essa está em oposição ao espiritual! (Matéria x Espírito).

A minha tese é: “O espiritual não está na dimensão do material nem do não material”, mas sim nos “sentimentos” que transformam o material em espiritual, ou seja, a natureza do objeto não tem significado em sí, mas o significado vem dos sentimentos de quem o possui em relação ao objeto de posse!

Jesus disse:
“Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam, porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração, a candeia do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz; se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso. se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas! ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. não podeis servir a deus e a mamom”. (Mateus 6.19-24)

A ortodoxia cristã interpretou esse texto que o tesouro no céu onde a traça e a ferrugem não corroem e os ladrões não roubam (v20), como sendo os exercícios espirituais, tais como: “Oração, jejum, Louvor, adoração etc....

Na sequência Jesus fala do coração como vitima do tesouro, do domínio próprio, e dos cuidados com o desejo exagerado de posse (v21), e culmina se antecipando a psicologia falando da somatização como efeito dos desejos, atingindo o corpo, o que era estranho para a teologia da época, e ainda hoje para alguns que estão descontextualizados...

Jesus continua falando sobre os dois senhores em constante conflito, usa metáforas antitéticas como “luz x trevas”, “olhos bons e maus”, “Deus e mamom”.

Não quero entrar na dimensão psicológica do texto, mas ele está dando um show de conhecimento  da psique humana, antes da psicologia profunda, sobre as instancias antagônicas (ego x superego), que chama de “dois senhores”.

Jesus conclui mostrando que na realidade não existe “material ou espiritual”, e sim que os sentimentos iriam determinar a espiritualidade. Para ele as bênçãos espirituais são aquelas que nos dá sabedoria em “ADMINISTRAR OS BENS SEM DEIXAR CORAÇÃO SEJA DOMINADO POR ELES”.

Quem faz isso “ajunta tesouro nos céus”, pois ao invés de ficar ajudando os irmãos em “oração e jejum”, rogando para Deus abençoa-lo, vai ao banco tira um pouco do “tesouro que está ajuntando” e ajuda com as bênçãos que tem adquirido, mas isso só será possível se sua confiança não estiver no tesouro que está no “Banco da terra”, pois o banco do céu é investir naquele que necessita!

Jesus prossegue:
“Por isso vos digo: Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o vestuário?” (Mateus 6.24).

Qualquer pregação que leve a pessoa a “ansiedade”, quanto a sua subsistência, é anticristã, seja “bênçãos espirituais” (que não acredito) ou das “bênçãos materiais” (que também não acredito). Todo esse discurso são geradores de neurose em busca de segurança, o que contraria justamente a “fé”, que é a segurança na própria insegurança, ou seja, uma certeza que habita o coração de quem crê mesmo que não encontre razão para essa crença!

A única benção que acredito existir é aquela que não tira a minha paz, nem a sua conquista, tão pouco a sua ausência, na minha percepção o material e o espiritual se fundem numa só dimensão.

O material é espiritualizado e deixa de ser “material”, quando os meus sentimentos são de dependência para com esse objeto, estando ele em minha posse ou no meu desejo.

O sagrado só existe na dimensão do coração de quem crê, por isso para mim não existem “bênçãos materiais” ou “bênçãos espirituais’.

Deus e mamom tornam-se Senhores no coração de quem lhe entregar os seus desejos, seja o objeto de natureza física (material) ou abstrato (não material), por isso Jesus adverte: “os olhos são as lâmpadas do corpo”, são através deles que nossos desejos se intensificação e vão determinar em qual esfera viveremos a nossa vida, quem a dominará.


Ter tesouro no céu, não significa receber recompensa em outra vida, mas viver aqui uma vida superior, não sendo escravo de nada que venha possuir, afinal não são poucos os que pensam que possuem tesouros, quando na realidade são os tesouros que o possui!


Jesus coloca em questão a grande resposta que daremos a nossa existência: 


“Seremos Senhores das nossas conquistas ou escravos delas...”

terça-feira, 29 de junho de 2010

No que estou crendo...

Minha confissão de fé tem sua base no Cristo ressurreto do Evangelho, mas a minha interpretação do Evangelho de Cristo, sofre alterações, pois num universo em movimento não posso me dar o luxo de ficar estagnado.

O meu credo expressa não uma filosofia, mas a minha dialética com a vida, a partir desses “pré”-supostos, esse credo está em aberto, passível de re-interpretação. Istó é, quando a práxis da vida, for confrontada com as contingências, faço ré-visão, dou "ré", e tento ver o que deixei de ver, pois é isso na minha existência que me faz decifrar os mistérios que são revelados nas ambivalências da vida! Não sou mais teó-logo, mas teó-fago, meu discurso não tem mais a pré-missa na lógica do Logos, mas na i-lógica dos dis-sabores da vida! ...Sendo assim quero deixar registrado algumas bases da minha fé.

1 – Creio que a “verdade” é que toda a “verdade” é cristo, somente cristo tem o absoluto da verdade, no demais o único absoluto é o relativo.

2 – Creio que a todo ponto de vista é à vista de um ponto, nos sempre vemos de um ponto, somente Deus tem todos os pontos de vista e tem a vista de todos os pontos.

3 – Creio que a nenhuma teologia pode responder as questões de fé, e se apresentar como resposta aos paradoxos da vida.

4 – Creio que a própria palavra “teologia”, já é um paradoxo, pois não se estuda Deus, ele não é um objeto estático que se observa e se descreve, Deus se experimenta, e quem o experimenta não consegue descrever.

5- Creio que a palavra “Teólogo” é um termo que descreve aquele que estuda Deus, mas visto que Deus não se estuda, mas se experimenta, prefiro então o termo “Teofago”, por isso Jesus disse: “aquele que comer da minha carne e beber do meu sangue”.

6. Creio que se tivesse mais “Teó-fago”, do que “Teó-logo”, teríamos menos discurso, e mais bondade, pois quem discursa sobre Deus, tem argumento até para genocídio, encontra razão para matar, mas quem experimenta Deus compreende que a razão se fez carne e preferiu morrer!

7 – Creio que o amor de Deus rege o universo e não o poder, pois o amor relativiza o poder, e admite ser contestado, o poder se impõe. Deus admite abrir mão do poder de impor, aceitando o homem se opor, a onipotência de Deus está em que ele pode não poder!

8 – Creio que a vida é o bem maior que temos, devemos reciclar tudo em nossa existência e descartar o que não tiver conexão com a vida, o verbo se fez carne e não discurso, por isso a teologia piedosa e verdadeira tem como lente “cristo em carne”, e não “cristo em discurso”.

9 – Creio que a as pessoas estão acima das instituições, por isso toda instituição existe em função das pessoas e não o inverso, quando inverte-se esse principio, a confissão de fé tiraniza torna-se exploradora e opressora, sendo meio de destruição daquilo que se propõe re-construir: "Aimagem de Deus no homem".

10- Creio que a noticia alvissareira do evangelho é que “Deus se tornou carne”, Ele não apresentou teses do de seu poder com verdades eternas, mas simplesmente enfrentou na carne os paradoxos da vida.

11 - Creio que Deus não se busca, pois ele não está “Lá” onde preciso me esforçar para encontrá-lo, embora Ele seja transcendente, “Há um só Deus e Pai de todos, que está acima de tudo”, Ele é transparente “por tudo”, também é imanente “e em tudo”. (Ef 4:6).Sendo assim todos esforços para “buscar Deus” é desnecessário, pois ele está em tudo, embora não seja tudo!

12 – Creio que em Cristo a teologia tem sua gênese “de baixo para cima”, e não de “cima para baixo”, afinal ele desceu, para depois subir, quem deseja subir, deve andar na poeira das suas sandálias, não se encontra Deus no “Espírito”, pois Deus se encontrou com o homem “em-carne”.

13 – Creio que a adoração deve começar na horizontal, e não na vertical, pois a recomendação de Cristo é que ao ofertar a Deus “vertical”, e lembrar-se que teu irmão tem algo contra ti “horizontal”, deixa a tua oferta e vai reconciliar com o teu irmão. Ou seja, o caminho para a dimensão vertical (Deus) tem sua genética na horizontal (homem).

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Hierarquia ou Hierodoulia?

Quem criou “hierarquia na igreja?” O modelo de relacionamento perfeito na Bíblia é a Trindade e entre nesse relacionamento não tem hierarquia, onde está a superioridade do Pai para o filho, ou do filho para Espírito Santo?

A palavra “Hierarquia” o “hieros”, sagrado + arché (comando, autoridade), já exprime uma filosofia de domínio, poder, que normalmente leva a opressão dos que não tem nenhum poder!

Já hierodoulia, também tem o “hieros”, o sagrado, mas “doulos” = servo, o sagrado está no servir, e não no poder, visto que o poder que é a essência do reino é despir de todo poder em prol de servir o outro!

O relacionamento descrito por Jesus entre Ele e o Pai em João 17: “Glorifica a teu filho para que ele glorifique a ti (...) assim como lhe conferiste autoridade sobre toda a carne a fim de que ele conceda a vida eterna a todos que lhe deste. (...) Eu glorifiquei a ti e agora glorifica-me (...) com a glória que tive junto de ti, antes que houvesse mundo” [1]. A fim de que todos sejam um; como és tu, o pai, em min e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste. (...) para que sejam um com nós o somos [2].

Interessante que na dimensão humana de relacionamentos o pai está no topo da hierarquia, mas na divindade, a soma de duas unidades é UM, e ainda mais, ele deseja que essa equação seja uniforme em relação à Igreja, só lembrando que ele estava dizendo isso para os discipulos, que viria a ser a “liderança”, que ele estava inciando!

Não digo que deve se excluir a “hierarquia”, no sentido de ninguém liderar, mas que essa é mais uma função, daqueles que sendo aperfeiçoados, ao mesmo tempo recebe a tarefa de ajudar outros a se aperfeiçoarem através dos dons concedidos por aquele que é o cabeça de todo o corpo.

Aqueles que ao exercerem uma função no corpo, não estão acima, não deixam de ser corpo [3]. A “hierarquia”, não deve existir no sentido de “poder para mandar”, mas poder para fazer antes, aquilo que deseja que outros façam!
Quando Jesus se autodenominou o pastor que da a vida pelas ovelhas [4], ele realmente fez aquilo ao qual falou, por isso tinha autoridade para estar no topo da “hierarquia”, mas quando com os discípulos pegou a toalha e lavou-lhes os pés, [5] mostrou que o poder da hierarquia está em não ter poder, pois “poder”, não é um poder de “oprimir os subordinados”, mas um poder de “se subordinar” deixando a prerrogativa de ter poder.

Se houver um líder com essas atitudes, ele não precisará poder para exercer uma hierarquia, pois todos o reconhecerão como alguém que está “acima” dos outros, justamente por se “colocar abaixo”, nesse caso seja bem vindo o “hieros” = (sagrado) + “arché” = (comando, autoridade), pois será autoridade sagrada, pois nesse reino sacro, quem quiser ter autoridade, terá que se despir de toda a força, e se vestir de humildade, os bem aventurados não são os que não tem poder para se impor, mas o que tem o poder de não ter poder, esses são os fortes do reino, pois tem como protótipo aquele que não venceu os principados e potestades, com a sua “divindade”, mas na sua humanidade derrotou-os na Cruz [6].
____________________________________
Notas
[1] João 17:1-5
[2] João 17:21-22
[3] Efésios 4:11-13
[4] João 10:11
[5] João 13:15
[6] Colossenses 2:14-15

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Evolucionismo & Criacionismo: Um diálogo

A Teologia deve ter como ontogênese [1] a ecologia, e não a imago dei, [2] não a imagem daquele que criou, mas de onde o criado imerge, não é negar a transcendência [3] do criador na criatura, mas re-conhecer a natureza como suporte sine qua non [4] para a existência da criatura. É um convite a andar numa linha tênue: “afirmar a natureza imanente [5] no homem tanto em sua composição química, quanto na influência bio-psico-lógica [6], que molda a dimensão psico-soma da existência humana”.

A ecologia afirma o entranhamento da natureza no homem, na imago dei eleva-se o homem acima dessa. O ser criado na antropologia teista [7] precisa reconhecer que o homem como o último na cronologia é dependente em comparação aos outros seres que habitam o planeta antes dele. A antropologia criacionista [8] tanto quanto a evolucionista concordam com sua peculiaridade, a capacidade de transcender o eleva acima dos demais seres.

Claude Lévi-Strauss diz: “A cultura surgiu no momento em que o homem convencionou a primeira regra, a primeira norma (LARAIA 2009)”.

O teísmo [9] crê que o homem desde a sua origem é superior a natureza, mas também tem na regra, a origem do des-vinculo com ela. Pré-supõe no teísmo a semelhança do evolucionismo, num determinado momento o homem vivia em harmonia sendo uma unidade com a natureza. O conflito surge em ambas às teorias através da norma ou regra, essa é a gênese da transcendência no teísmo: “O conhecimento do bem e do mal”.

A antropologia Darwinista tem na regra a evolução, a criacionista, não na regra, mas a quebra dessa, a regressão. Na primeira o homem é elevado a um estado superior, na segunda o inverso, ele sai de um estado “superior”, que seria a “ausência de conflitos”, para a “imperfeição”, que é atitude de criar, decidir por si mesmo, o certo e o errado. Na primeira a regra eleva, na segunda somente submetendo-se a ela o homem é elevado, manteria a ausência de conflitos!

A antropologia teista ou evolucionista são unânimes, em afirmar que houve um momento de transcendência:

“Todo comportamento humano se origina no uso de símbolos. Foi o símbolo que transformou os nossos ancestrais antropóides em homem e fê-los humanos. Todas as culturas se espalharam e perpetuaram através de símbolos” (LARAIA 2009; p55 op.cit. Leslie White). [10]

O comportamento humano, a faculdade de criar símbolos trouxe a des-harmonia, entre o homem e a natureza, houve um tempo em que às instancias da vida tinham duas dimensões: O Id [11] (Eu quero) com o Ego [12] (Eu posso), não existia Superego [13] (Eu devo)! A vida era afirmação dos desejos sem oposição da realidade, o símbolo deu significado, trouxe a cultura, homem e natureza deixaram de ser unidade.

A cultura eleva o homem acima dos animais, e transporta-o a dimensão dos conflitos geradores de neurose pela quebra das regras. Mas se a cultura é a gênese dos conflitos, entre as três instâncias da vida: Eu Quero X Eu Posso X Eu Devo? De onde surgiu esse ponto de interrogação (?), seria ele filho da cultura, nomeado pela psicanálise de “superego”!

Antes do superego a vontade de potência (Nietsche) era afirmativa “eu Devo”! Mas a afirmação cede lugar à interrogação “Eu Devo?” Alguma coisa aconteceu, a afirmação precisa da negação para ter sentido, a moral eleva o homem acima dos demais, mas toda ação produz re-ação, a eleva-ação gerou conflitos, ganhou transcendência, mas também a capacidade de se tornar neuro-òptico!

A origem da cultura para a antropologia Darwinista é o equivalente à lei da “arvore do conhecimento”, eleva o homem a uma nova dimensão. O estágio que antecede a norma mantém o homem num estado de igualdade com a natureza colocando-o na dimensão dos animais, essa dimensão que antecede as normas e a incapacidade de simbolizar tornava o homem igual aos demais seres. O surgimento desses símbolos eleva-o acima dos outros seres.

No teísmo, a norma não eleva, ela adverte em manter a harmonia. O homem sempre é considerado superior à natureza, a questão é: “Como ser superior aos animais sem a presença dos conflitos”? Não é o conflito com a natureza que diferencia o homem dos demais habitantes do planeta?Na antropologia teista, a narrativa do Gênesis infere que a “evolução” dar-se-ia justamente em “não ir além da norma”, de forma que a “norma” existe para ser mantida.

Nas duas teorias, a norma é fator sine qua non para a “evolução”, ou “degradação”! O teísmo traz implícito que o homem desde a sua origem é superior, e que a quebra da norma lhe colocou em conflito com a natureza causando a sua finitude (morte). O homem estaria em evolução com a ausência do conhecimento, ou seja, estaria evoluindo preservando-se de conflitos, pois o conhecimento deu origem à morte. No teísmo, a norma não deve ser quebrada, sua “transgressão” leva à “re-gressão”, pois nasce o conflito, a consciência, a subjetividade! No evolucionismo, a norma leva à “evolução”.

Os antropólogos elevam o homem a uma categoria suprema ao constatar que de todos os seres vivos é o único que tem noção de tempo, vive o hoje com o olhar no ontem e projeta-se para o amanhã. No entanto, reconhecem que esse mesmo homem é um dos mais frágeis na cadeia evolucionista, necessita de anos para ter um pouco de autonomia, e como os demais seres que já existiram antes dele, pode ter o final do seu ciclo no planeta.

O pré-suposto do teísmo inverte essa concepção ao afirmar que a teoria da superioridade do homem, criado a imago dei dá sentido à existência no tocante à finitude da vida. Em contrapartida, faz com que o homem abuse do “poder” que lhe foi outorgado, pois a transcendência deu-lhe a ilusão de que pode viver não só além da natureza, mas a submeter aos seus desejos!

A Antropologia Darwinista e a Teísta tem um ponto em comum: “Houve um momento que o homem se distanciou da natureza”! A discordância vem na seguinte indagação: “Foi uma Queda (teísmo) ou um Salto (evolucionismo)?”.

Na evolução: “O homem pró-gride”, vai para a dimensão da se-“para-ação”, ter consciência da finitude é evolução, dar-se-ia origem aos ritos.

O teísmo vai à contramão, ele re-gride, essa se-“para-ação” positiva na evolução é vista como negativa, a auto-nomia na antropologia Darwinista é vista como pró-gressão, já no teísmo é re-gressão, no evolucionismo o homem é auto-nomo, a regra vem de dentro, no teismo o homem é Teo-nomos vem “de fora”, abre mão da lei em si (dentro) para a lei além de si (fora)!

Na auto-nomia evolucionista ao terminar o ciclo da vida, o homem volta ao ventre da mãe natureza, no teísmo o homem cria símbolos, projeta seus anseios sabe que irá para o ventre da mãe, mas crê que voltará para os braços do pai! Religião é símbolo é desejo que palavras não podem expressar!

A filosofia teísta nem sempre concordou com a “queda”, Hegel interpreta a quebra da regra, (lei) como “Queda para cima”, nesse caso, o “fogo” roubado dos deuses trouxe luz aos homens (prometeu), o “abrir os olhos” trouxe o “conhecimento do bem e do mal” (judaísmo-cristão), a criação de regra-símbolo, deu a capacidade do homem transcender (Darwinismo).

A “auto-percepção”, implica conflito entre o “homem x deus (es)” (teísmo) ou a “criança x pai” (psicanálise), homem x natureza (Darwinismo). O Theos [14] adverte o antropos [15] que a quebra da norma marcaria o inicio do conflito, “abrir os olhos” enfrentar a “de-grada-ação” (Teísmo) ou a “e-voluir-ação” (Darwinismo).

No teísmo houve pré-juizo, trocar o não saber pelo saber, no primeiro há ausência de conflitos, mas haveria crescimento sem esses? No segundo (Darwinismo) a vontade de potência (Nietsche) nem sempre teria potência para executar sua vontade, o movimento do corpo na expansão iria encontrar na regra (lei) o seu reverso a contração!

A finitude e o desejo de pró-“longar” a vida, nisso concordam as duas antropologias, mas a evolucionista aceita a bio-lógica, na lógica da bio. O homem vai passar como passou os que passaram antes dele, contudo ninguém nega a necessidade da religião que nos símbolos empresta sentido à existência, ao menos faz o homem crer que é especial, afinal ele é diferente, ou pelo menos é o único que crê assim acerca de si mesmo.
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NOTAS
[1] Série de transformações por que passa o indivíduo, desde a fecundação do ovo até o ser perfeito; ontogenia.
[2] É a doutrina de que o Homem foi criado à Imagem Divina. É a resposta bíblica a como surgiu o Homem, Criatura singular entre as existentes.
[3] s.f.1. Qualidade do que é transcendente; excelência; superioridade. 2. Sublimidade. 3. Grande importância.
[4] (locução latina sine qua non, sem o qual não)adj. 2 gén. 2 núm. Indispensável essencial (ex.: condição sine qua non).
[5] adj. 2 gén.1. Que não desaparece ou não se vai. 2. Permanente. 3. Inseparável do sujeito.
[6] Bio: pref.1. Exprime a noção de vida (ex.: biografia). 2. Exprime a noção de biologia ou biológico (ex.: biodiversidade). Psicológico adj.1. Pertencente ou relativo à psicologia.
[7] (antropo- + -logia)s. f.1. Estudo do homem considerado na série animal. 2. História natural do homem. teísta adj. 2 gén. s. 2 gén. Que ou pessoa que crê na existência de Deus.
[8] Antropologia idem 7, mas estuda o homem a partir da crença de o homem foi criado a imagem e semelhança do seu criador.
[9] O teísmo (grego theós, - oú, deus + - ismo) s.m. Crença na existência de Deus.
[10] LARAIA, Barros roque de. Cultura. Um conceito antropológico. 24ª edição. Editora Zahar. Rio de Janeiro – RJ. 2009.
[11] Id: conjunto de energias psíquicas que determina os desejos do sujeito
[12] Ego: estrutura onde está todo conhecimento que o indivíduo possui de si e sobre o meio
[13] Superego: estrutura que se desenvolve a partir do conhecimento mora e valores do indivíduo. Representa a mora dentro do indivíduo.
[14] Theos: Palavra grega para designar: “Deus”.
[15] Antropos: Palavra grega para designar “Homem”.
Fonte de consulta: http://www.priberam.pt/

Esse artigo foi postado originalmente no blog: CPFG (Confraria dos pensadores fora da gaiola)

sábado, 22 de maio de 2010

Ruptura na Reflexão Teológica

A década de 70 foi marcada por uma ruptura epistemológica da teologia. Nasce a TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO, gerada nas entranhas de uma reflexão “arbitraria” do ponto de vista ortodoxo-católico, alguns chegam a dizer que foi uma “resposta”, a ORTODOXIA, essa teve nos seus principais propagadores LEONARDO BOFF, RUBEM ALVES, MIGUEZ BONINO, JOSE COMBLIN, JUAN LUIZ SEGUNDO, CLODOVIS BOFF, FREI BETO, entre outros.

Da impressão que houve uma conspiração do pensamento contra toda ORTODOXIA, essa ruptura aconteceu também na ORTODOXIA-EVANGÉLICA, com o PACTO DE LAUSANE, uma resposta a ORTODOXIA PROTESTANTE (Evangélica).

JOHN STOOT, teólogo britânico, e o Equatoriano RENÉ PADILHA, inauguraram uma virada hermenêutica BATIZADA pelo nome de MISSÃO INTEGRAL. As duas vertentes mais expressivas do cristianismo, se “REBELARAM”, tinham em comum a quebra com o pensamento tradicional.

A nova “TEOLOGIA CONTEXTUAL” foi à mudança paradigmática no pensamento teológico; 1976 foi o que podemos chamar de “A SAIDA DA GAIOLA TRADICIONAL DO PENSAMENTO TEOLÓGICO”, tanto católico como protestante!

A história do pensamento mostra um movimento cíclico, e a fundamentação dessa teologia não foi EX-NIHILO, pois séculos antes, FRIEDERICH SCHLEIERMACHER (1768-1834) antecedeu a tese primária dessa ruptura quando concluiu:

“Toda reflexão teológica era influenciada, e até determinada, pelo contexto na qual evoluíra, impossibilitando de haver uma “pura”, supra-cultural, e a - histórica; era impossível penetrar até um resíduo da fé cristã que já não fosse num certo sentido interpretação”.

Desde a ocidentalização do cristianismo em Constantino, a reflexão teológica fazia um movimento da elite “alto”, para os laicos “baixo”, a ESPOSA era a ESCRITURA, o SÊMEN era a DIALÉTICA com a TRADIÇÃO, e a FILOSOFIA o ÓVULO, que fecundava no encontro com o seu interlocutor, o HOMEM ELITIZADO.

Sair da gaiola foi à inversão dessa epistemologia, agora seria a partir de baixo “LAICO” aquele que está às margens, a escritura permanecia como ESPOSA, o SÊMEN continuava sendo a DIALÉTICA, a FILOSOFIA e a TRADIÇÃO, sempre férteis, mas a CIÊNCIA entra no relacionamento “EXTRA-CONJUGAL” e GEROU uma filha chamada SOCIOLOGIA.

Essa com vigor começa a disputar o lugar de sua genitora, e o seu interlocutor não seria mais a elite “DOUTA”, mas, sim o pobre, “BAIXO”, o in-douto culturalmente marginalizado.

As epistemologias TRADICIONAL (ortodoxa) e CONTEXTUAL (terceiro mundo) é exposta da seguinte maneira por Sérgio Torres:

“TRADICIONAL: A verdade é conhecida de conformidade com a mente a um determinado objeto, esse conceito se confirma ao mundo existente e o legitima. OCIDENTAL: A verdade não é conhecida de conformidade da mente ao objeto (dialética), é oposto, o mundo é um projeto não concluído e em construção, um processo em transformação”.

O CLERO tinha a BIBLIA e a TRADIÇÃO como objeto da reflexão, o mesmo ocorre com a ala chamada PROTESTANTE, que tem como interlocutor a BIBLIA, não descarta a TRADIÇÃO, mas a VERDADE não é mais PRÉ-FIXA, ponto em comum na ortodoxia católica e na evangélica:

“Lançar fora o filho bastardo batizado por nome LOGOS (lógica) “INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL” tendo por pai o Deus grego”.

A nova epistemologia não descarta a “TEORIA NA REFLEXÃO”, mas sua ênfase recai na “PRÁXIS” essa é a julgadora que determina a “VERDADE” na teologia; a “Reflexão crítica sobre a práxis cristã à luz da palavra de Deus.” (Gutierrez).

A ASCESE geradora da salvação META-FÍSICA perdeu a META, pois na física, o céu não tem local fixo, o DOGMATISMO, sinônimo de INCAPACIDADE DE DIÁLOGAR COM O DIFERENTE, fechou-se para a ciência, essa foi CONTEXTUALIZANDO a sua COSMO-VISÃO de acordo com o CIENTIFICISMO que deixava duas opções:

“Dialogar com as ciências, principalmente as humanas, ou ficar fossilizadas, descontextualizadas e irrelevantes para a sociedade”.

Surge a neo-ortodoxia, a bíblia deixa de SER para con-TER a palavra de Deus, a subjetividade, de-termina, já não é mais a vertical a nascente da leitura, mas a horizontal, a teologia deixa de ser o solucionador da CRISE, e passa a ser a teologia da CRISE, até o mito foi intimado a se explicar, caso se explique, deixe de ser mito, se não, cale-se, deixe a razão falar!

A HISTÓRIA faria a CRITICA, teria a liberdade para RELATIVIZAR TODO O ABSOLUTO, que venha contra a VIDA, afinal o epítome da fé cristã é a RESSUREIÇÃO DO CORPO e não a IMORTALIDADE DA ALMA, por isso, tanto a TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO (católica), quanto a MISSÃO INTEGRAL (protestante), tem a seguinte epistemologia em comum:

“A VERDADE não é mais metafísica, mas sim é uma construção histórico-cultural & contextual”, o CORPO é o objeto da reflexão, não mais a “ALMA IMORTAL”, a teologia deixou de ter uma VERDADE ABSOLUTA, para ter uma VERDADE HISTÓRICA, afinal o verbo se tornou CARNE, toda reflexão começa nas dores do CORPO e não nos anseios da ALMA”.

O CORPO tornou-se o principal interlocutor, e o diálogo não é mais a VERDADE PRÉ-EXISTENTE, firmada no IDEAL do SER que “É”; o mundo não precisa ser INTERPRETADO para que o SUJEITO se ajuste a ELE, agora, ele precisa ser TRANSFORMADO, a relação entre SUJEITO e OBJETO não é mais de PASSIVIDADE, contemplação “olhar para”, não é admirar a beleza do COSMOS, mas sim de ATIVIDADE, “entrar em, participar, mudar”, transformar a desordem do caos em cosmos!

A reflexão não é sobre o LOGOS que se fez DISCURO COERENTE, mas sobre o LOGOS que entrou num corpo e através dele não sistematizou a vida, o ONI-POTENTE torna-se IN-POTÊNTE e grita: ELOI ELOI LAMA SABACTANI, o Deus que está em todos os lugares, encontra um lugar em que está “SÓ”, o corpo de “CARNE”. O eterno experimenta o fim, a vida se encontra com a morte, e faz uma aliança de sentido!

Nenhuma construção poderia tentar esgotar o falar de Deus, pois o que se fala D’Ele hoje, não pode ser absoluto, a mesma fala que absolutiza o poder do “DEUS QUE FAZ”, encontra o PARADOXO, quando “O DEUS QUE FEZ” , não “FAZ”!

O MOMENTO HISTÓRICO é outro, a vida é movimento, o tempo passa a ser o RELATIVIZADOR DAS CERTEZAS, assim como nas outras dimensões do saber, afinal de contas se a teologia tem alguma posição não é de RAINHA DAS CIÊNCIAS, mas de SERVA dos homens que pensam, e OPRESSORA DOS IGNORANTES!

Não é relativizar o PODER DE DEUS, mas sim, não absolutizar o SABER DE DEUS, essa ruptura dá uma nova vida a chamada TEOLOGIA DA MISSÃO INTEGRAL, onde a antropologia, não dicotomiza, mas torna-se HOLÍSTICA, não se fragmenta em TESE e ANTI-TESE, mas interage numa SIM-BIO-SE com a filosofia HEGELIANA de que toda TESE, tem sua ANTI-TESE, que forma uma SIN-TESE, e que novamente volta formar uma TESE e tudo sempre volta ao ponto de onde partiu!

Mas surge a pergunta: “Fracassou a teologia da libertação e a missão integral”? No meu ponto de vista não! O que houve foi uma expectativa muito acima da realidade na época em que emergiu. No entanto a semente foi plantada, e já podemos colher frutos hoje, cada um que foi impactado mudou a sua reflexão, sua vida e atingem outros.

Meus tributos a esses que  são os pré-cursores da reflexão que não aceitaram viver enclausurados nas suas certezas, fizeram da dúvida instrumento pedagógico para o desenvolvimento da reflexão!

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