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quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

TEMPO: CRONOLÓGICO X BIOLÓGICO

"Se tá tão difícil agora.
Se um minuto a mais demora.
Nem olhando assim mais perto.
Consigo ver porque tá tudo tão incerto".
(Música problemas - Ana Carolina).

Ana Carolina consegue como poucos expressar conflitos nos relacionamentos. Ela dá o diagnóstico de um relacionamento em crise. Mostra que o corpo é o relógio do tempo.

Há uma percepção de maior duração no “tempo cronológico” em detrimento do “tempo biológico”.

Quando o relacionamento está bom, à relatividade do tempo funciona da seguinte forma: O tempo biológico (sensações) diminui percepção de durabilidade do tempo cronológico.

Mas o que significa essas duas dimensões de tempos?

CRONOLÓGICO (Relógio): Medido através do movimento da terra em torno do sol.
BIOLÓGICO (vida): É o tempo das sensações, desejo, prazer.

O relacionamento de duas pessoas que se desejam, relativista a duração do tempo. O tempo “Cronos” é imperceptível, o desejo, as sensações, o prazer, faz como que ele seja percebido como de curta durabilidade.

Nessa dimensão é o corpo que mede o tempo. Essa verdade atua em dimensão oposta quando o relacionamento entra em crise, surge uma sensação que não havia antes: "Se tá tão difícil agora”. Um minuto, tempo não perceptível na esfera do desejo, é prolongado a sua sensação de durabilidade com a ausência do desejo: “Um Minuto a mais demora”.

Os mesmos sessenta segundos que não existiam na contagem da relação, agora são prolongados nas sensações.

A música prossegue mostrando a relatividade do espaço. Ela tenta entender o que está acontecendo, se aproxima no sentido de reflexão. O que está acontecendo? O que aconteceu com o “minuto” que não existia, e agora passou a ser “incomodo”?

A aproximação entre o sujeito e o objeto do desejo, não aumenta a sua percepção. A cognição é afetada pelas emoções. Não é uma questão de “Oftalmo” (visão), mas uma questão de “Nous” (mente, entendimento). Ela exclama: “Nem olhando assim mais perto. Consigo ver porque tá tudo tão incerto".

Na certeza criamos o que não existe, na dúvida não conseguimos perceber o que está à frente dos olhos, não é questão de distância geográfica, mas da ausência do desejo. O olhar que dava segurança, agora não consegue ver a razão para a insegurança.

Numa crise as pessoas sempre procuram a “causa”, mas nem sempre é possível encontrar... Mas pode-se sentir o efeito....

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

O MITO DE SÍSIFO E O CAPITALISMO

O capitalismo com seu sistema chamado de “mercado” têm a capacidade de eliminar do ser humano o que lhe é mais peculiar: “A capacidade de criação”.

Na teologia essa capacidade é atribuída à herança da “imagem e semelhança do criador na humanidade”.

Mas como é que o mercado capitalista anula essa capacidade no homem? Ora o mercado atua num ciclo: Produção-repetição-acumulo, novamente, produção-repetição-acumulo e assim infinitamente...

Mas no que isso anula a capacidade de criação? Ora veja que nesse ciclo, não há espaço para o novo, para a criação, o homem não utiliza a imaginação, Ele é “robotizado” ao mesmo tempo em que é “desumanizado”.

Sísifo na mitologia grega recebeu uma punição de Zeus, e essa consistia em carregar uma pedra ao alto de uma montanha e quando chegasse ao topo, deveria soltar ela e descer novamente e subir a pedra sucessivamente infinitamente... Qual foi o maior castigo infligido pela divindade superior? Sem dúvida foi à repetição, tédio, ação sem criação, sem a imaginação.

O castigo de sísifo se assemelha ao castigo do capitalismo ao homem na sua configuração chamada de mercado. O homem produz utilizando a forma de repetição, sua mente está desconectada do seu corpo, não precisa pensar, não cria, apenas repete, dias após dias....

Se o trabalho virou mera repetição, não exige a inter-relação entre corpo e mente, já não é mais criação e sim repetição.... Na sabedoria da mitologia grega a punição pior para o homem seria a ausência de sentido no trabalho, essa seria a grande tortura para a existência humana: “Subir com a pedra e a soltar sabendo que vai rolar novamente e depois a buscar”, é uma ação sinônimo de Tédio!

Nessa experiência o tempo se torna supérfluo, pois embora exista o “Kronos”, o tempo “biológico” passa com a percepção de que nada ocorre, não acontece o novo, a surpresa, anula a experiência. O corpo torna-se máquina isso acontece pelo fato de que a experiência é a capacidade de assimilar acontecimentos, fatos, que nos confrontam com as dificuldades que nos transformam, que nos faz criar.

O mito de Sísifo continua atual.... Sísifo não tinha liberdade para rolar a pedra da montanha e não voltar a levá-la novamente para o alto. Zeus (deus) é o capital, o homem é Sísifo, seu castigo é “rolar a pedra” e a subir novamente.Essa é a sua sobrevivência ao mesmo tempo seu castigo...

Os deuses da mitologia tinham que cumprir seu destino, mas o homem pode soltar essa pedra do monte e não mais voltar a buscá-la?

sábado, 24 de dezembro de 2011

O que significa o nascimento de Cristo para o mundo?

O nascimento de Cristo para o mundo, significa um divisor de águas, fim de uma era, inicio de um novo calendário. 

No periodo em que Cristo nasceu havia duas culturas entrelaçadas (Grega e Romana) e uma na qual Cristo emerge (Judaica).

Os gregos tinham o lema de que a  sabedoria, o pensamento como forma de elevar uma classe social das demais, sendo assim, mulheres,crianças, escravos, eram sub-categorias. 

Os pensadores, eram a classe elevada ‘entender o kosmos’sofia (sabedoria) fazia separação entre os homens (1 Co 1.22).

Os romanos tinham nas suas leis o poder, a ordem era a forma para se manter a paz (Pax). A força, a pomposidade dos reis, a divisão de classes, a politica estruturada na conquista, no dominio. 

A filosofia romana era a ‘paz’ esse era o bem ‘maior’. Em busca de preservar a paz, pode-se oprimir o humano, o ideal de governo também deixava a humanidade dividida, estabelecia uma hierarquia onde o ‘império’ deveria ser mantido em detrimento do povo. 

A vida de cristo e não apenas o seu nascimento, sua filosofia e prática de vida, foi o primeiro a instituir os “direitos humanos“. Sua vida e mensagem carregava em seu bojo a inclusão social. As crianças que não eram valorizadas no judaixmo, tão pouco por gregos e romanos, eram modelos para o seu reino (Lc18.16).

Cristo fez a primeira revolução feminina da história, as mulheres não tinham voz na politica grega, tão pouco ocupava qualquer posição no império romano, no judaismo era interpretada como a responsável pela queda do homem. (Gn 3.6). 

Os pobres eram excluidos da religião judaica e tidos como sofredores da maldição divina. Jesus quebra esse estigma e os coloca como a classe que não precisava conquistar o reino, pois eram d'Eles antemão (Mt 5.3).

As pessoas que eram peso para o império, empecilho para o testemunho de  prosperidade da religião dominante,  foram acolhidas por aquele que veio como um verdadeiro revolucionário (Mt 5.3). Sem dúvida o maior  da história, veio para dividir, até o calendário ocidental foi partido em antes e depois do seu nascimento.

O nascimento de cristo é importante, mas a sua vida foi mais importante ainda. Ninguém viveu como ele,  defendeu o oprimido, libertou pessoas dos seus carceres emocionais e deu exemplo de como viver a vida.  
Viveu entre diversas culturas, mas nenhuma delas conseguir levar o ser humano onde Ele levou.

Na história do cristianismo interpretaram  Cristo de forma errada, transformaram a vida em códigos morais. Ele não defendeu a moral, mas sim  o direito do ser humano de existir e viver a vida em sua complexidade, sem juizos contra o outro, sem exclusão, respeitando crenças diferentes, amando as pessoas independente do que elas confessam crer. Cristo ensinou acima de tudo que as pessoas são mais importantes que sua religião.

Toda vez que alguém lutar pelos direitos dos pobres,  marginalizados, crianças,mulheres, doentes,  poderá até negar ser seguidor de cristo. Ser avesso ao  cristianismo dogmático intituido pela religião, mas estará defendendo o que Cristo defendeu, poderá até ser anti-cristo na teoria, mas será seu discipulo na prática.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

VERDADES DAS FERIDAS

Quando fui ferido.
Vi tudo mudar.
Das verdades que eu sabia.
Só sobraram restos que eu não esqueci.
Toda aquela paz que eu tinha.
Eu que tinha tudo hoje estou mudo estou mudado.
A meia noite a meia luz pensando.
Daria tudo por um modo de esquecer.
(Música: Meu mundo e nada mais Cantor - Guilherme Arantes)

O poeta diz que “a verdade” que “sabia” mudou quando “foi ferido”. Ou seja, as verdades que entendemos como “verdade de conceitos” ou “fora da ação” como são definidas no positivismo de Augusto Comte ou na Teologia ortodoxa, é a verdade da “Razão”. Logo o homem deve “sacrificar o corpo” para viver essa “verdade”. Uma verdade que vem de fora e se impõe.

O poeta percebe que “a verdade” está entranhada no corpo, nas emoções, sensações. Reconhece:  Vi tudo mudar das verdades que eu sabia”, ou seja, a verdade é “movimento”. Ele prossegue:  Só sobraram “restos” que não conseguia esquecer. A paz depende sim das circunstâncias, não como diz o hino idealista cristão: “Não importa as circunstâncias”, essa é uma idéia positivista, idealista, que advoga uma “realidade extra-histórica” que não está conectada aos conflitos, contradições, vida e dores.

O poeta diz: “Eu que tinha tudo hoje estou mudo estou mudado”. Ora, que relação há em “ter tudo e após o ferimento estar mudo e mudado”? Essa é uma realidade que o religioso extremista experimenta, quando acha que tem a “verdade” e essa é sistematizada pela mente, extra-física, Ele “fala e defende em alta voz”, contudo, quando a vida o confronta com as “feridas”, o primeiro sintoma é “a ausência de Paz”. "Toda aquela paz que tinha". Agora resta a oportunidade de reconstruir a partir dos “restos que sobraram”.

O estado de “mudez” substitui as palavras. No silêncio da reflexão produzida pela dor, as incertezas são os absolutos do sábio, em contraposição, as certezas são as fortalezas do tolo. Hoje estou “Mudo e mudado”, um trocadilho gramatical que expressa mudança, as “certezas” produzem feridas, mas as “incertezas” são sintomas de quem é ferido”.

“A meia noite” é um arquétipo de “crise” período de transição, hora de silêncio, reflexão de quem não está dormindo pela ausência de sono, “meia luz pensando” nostalgia, ansiando a luz completa que outrora tinha antes de “ver tudo mudar”.

O poeta daria "tudo para esquecer", não o que acreditava antes do ferimento, mas o ferimento que lhe fez lembrar das suas “verdades”. Verdades que eram seu porto seguro, agora ele "daria tudo para esquecer". Esquecer que o maior destruidor de “verdades” são as “feridas”. Não as feridas que causamos, mas a que outros causam em nós. Esse é o momento de mudar o tempo do verbo: As verdades que "sei" tornam-se as verdades que "sabia”.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

A VIDA EM DUAS DIMENSÕES

O que é a vida? Em termos psicológicos poderíamos definir a vida como “Pulsão”. A vida pulsa em duas dimensões:

(1) “Na expansão” e na
(2) “Contração”.

Na “expansão” é o pulsar, o viver sem as “regras da moral”, ou seja, o que deseja meu corpo me impulsiona para a realização.

Na parábola o filho que sai de casa, queria viver na “expansão”, obter o que desejava, mas para isso precisava romper com as regras do “pai” (religião, igreja, lar): “E O MAIS MOÇO DELES DISSE AO PAI: PAI, DÁ-ME A PARTE DOS BENS QUE ME PERTENCE”. (Lucas 15.12).

O filho mais velho escolheu viver na “Contração”. Significa que quando o desejo é reprimido o “corpo se enrijece", essa ação na psicanálise é denominada “Criar couraça”. Os músculos que se expandem quando executam o desejo, são os mesmos que se contraem quando esses desejos são “reprimidos” por qualquer lei.

A contração do filho mais velho pode ser vista no seu desabafo (catarse?): “E NUNCA ME DESTE UM CABRITO PARA ALEGRAR-ME COM OS MEUS AMIGOS” (Lucas 15.29).

A vida que pulsa na “expansão” busca a alegria da posse do objeto desejado, mas esse desejo uma vez em posse do sujeito, pode lhe dar novamente a sensação de insatisfação: “E, TORNANDO EM SI, DISSE: QUANTOS JORNALEIROS DE MEU PAI TÊM ABUNDÂNCIA DE PÃO, E EU AQUI PEREÇO DE FOME!” (Lucas 15.17).

Desejo é produto da ausência. A presença aniquila o desejo, relativiza o valor do objeto que outra era desejado.Viver na “expansão” leva o homem a diluição, não há forma de saciar totalmente o desejo.

Viver na “contração” também leva a “aniquilação”, visto que sempre haverá a grande pergunta: “E se eu tivesse ido em busca teria me alegrado?".

A diferença entre as duas dimensões de vida é que, quem arrisca “expandir” chegará a conclusão que é responsável pela sua insatisfação (Lucas 15.17), mas quem vive na “contração” sempre arrumará um bode expiatório para justificar sua covardia: “EIS QUE TE SIRVO HÁ TANTOS ANOS, SEM NUNCA TRANSGREDIR O TEU MANDAMENTO, E NUNCA ME DESTE UM CABRITO PARA ALEGRAR-ME COM OS MEUS AMIGOS” (Lucas 15.29).

Qual a solução? Não tenho! Mas fica um conselho: “Não viva na expansão a ponto de se tornar um irracional”, mas também não viva na contração a ponto de se tornar o mesmo irracional”. Procure um meio termo, não expanda de mais, nem se contraia de mais, ambos extremos aniquilam a vida. A contração petrifica, a expansão dilui. No primeiro o humano vira mineral, no segundo vira animal...

terça-feira, 30 de agosto de 2011

AS ASSOCIAÇÕES CRISTÃS E SEU PAPEL NA PERIFERIA URBANA: UMA ABORDAGEM SOCIOLÓGICA

O fator religioso é um dos principais agentes transformadores da sociedade. Hoje no Brasil não é possível fazer uma analise social sem levar em conta a participação da religião, principalmente as pentecostais históricas quanto as “neopentecostais” .

No entanto, para entendermos os aspectos positivos e negativos dessas ações e necessário avaliar os pressupostos axiomáticos que estão como forca motora dessas atividades. Os atos são efeitos de uma convicção, elaborada numa formulação teológica. A proposta dessa reflexão é fazer uma analise dos pressupostos como causa para as ações sociais efetivas da religião cristã na periferia urbana.

A valorização da pessoa como individuo

A contribuição da religião na periferia urbana tem sua gênese no axioma teológico da bíblia no Antigo Testamento. Já nos livros do Pentateuco havia uma preferência para com os pobres, desvalidos, as pessoas excluídas da sociedade. O oficio do messias era um ministério primariamente que se voltava para os pobres: “Levar boas noticias aos POBRES, anunciar LIBERDADE AOS CATIVOS” (Isaias 61.1).

O êxito da religião evangélica está no fato de que na sociedade, a condição financeira determina a aceitação das pessoas nas redes sociais. Ele só poderá se relacionar de acordo com sua estrutura sócio economica.
A religião cristã proclama uma mensagem sociológica inclusiva, visto que esta fundamentada toda ideologia na seguinte premissa: “Todos os homens são criaturas de Deus”, por isso, as diferenças sociais não são relevantes diante do criador que vê todos de forma igual.

A religião cristã oferece uma proposta que torna se irrecusável, após a consciência de criatura universal, prossegue: “Mas você pode ir mais longe, pode tornar-se filho de Deus ao “aceitar a Jesus como salvador”. Isso significa que a pessoa que estava excluída da sociedade, agora passa a ter uma “família”, onde “Deus” é o “Pai” e todos os participantes da comunidade se consideram “irmãos”.

Essa construção sem duvida torna-se o primeiro beneficio para a sociedade, pois o individuo, de excluído que muitas vezes não tem sequer uma família, ganha um senso de pertencer, ser amado, há uma mudança sintomática na sua vida. As ações efetivas na sociedade são reflexos do poder dos laços criados a partir da inserção da pessoa na comunidade de fé, visto que elas ganham senso de autoridade.

Essa realidade e descrita por BAUMAN, 2010, p. 76: "Assim os fatores unificadores são valorizados como mais fortes e importantes do que qualquer coisa que possa causar divisões, e as diferenças entre os integrantes, são secundarias em relação as similaridades”.

A religião cristã ressalta o valor da individualidade ao mesmo tempo em que a coletividade o imerge numa dimensão reflexiva de respeitar princípios que estão além de si, pertencem a um bem maior da comunidade.

A solidariedade social como o reflexo da valorização do individuo

As ações sociais governamentais buscam obras que venham abranger um bem coletivo, visam a comunidade numa forma geral, buscando na medida do possível atuar na esfera das necessidades básicas. Contudo muito pouco ou quase nada, fazem para outra dimensão do individuo na sociedade que é a necessidade de "pertencer", da "auto-imagem", de valores que transcendem ao ser humano.

Quando uma pessoa chega na igreja e se "converte" a fé cristã, logo os cooperadores da igreja anotam seu endereço e fazem constantes visitas, ao perceberem que ele precisa de alimentos, ou qualquer outra coisa básica para a sua subsistência logos dão um jeito de tirar ofertas entres os irmãos da comunidade para suprir as necessidade mais básicas da pessoa. 

Contudo a  ajuda maior está na mudança de cosmovisão, a pessoa passa a sacralizar o tempo e o espaço. Tempo porque ele passa a crer que agora há um propósito de “Deus” para sua vida, e o espaço também passa a ser sacro, pois "aquele momento" que está no templo, está fora do “dia normal”, o fiél entra nele e nesse "momento", ele resignifica todos os outros momentos, como se recebesse uma carga energética.

O cristão sente-se o protagonista da sua historia, não apenas um "ser" que vai passar, passa a ter  perspectivas que vão além, uma cosmovisão de continuidade e não de finitude. Essa realidade e bem expressa por Leonardo BOFF, 1980 p.65: “Essa fé cria uma mística que não foge nem teme a perseguição, a prisão a tortura e a morte, porque ela liga a pessoa a um absoluto. Mas insere dentro da normalidade da vida de fé na cruz de Jesus Cristo”.

          Status: "Ser" como primazia sobre o "Ter"

A sociedade capitalista tem como premissa básica o acumulo dos bens, automaticamente exclui os indivíduos de baixa ou sem renda. Todas as exigências para se obter um status na sociedade e irrelevante na comunidade cristã. A pessoa torna-se integrante de uma família, ter uma inumerável quantidade de “irmãos na Fé” eleva a sua estima pelo fato dos valores do capitalismo estar no “Ter”, enquanto na religião Cristã esta no “Ser”.

Há uma inversão epistemológica na maneira de refletir a vida, o “Ser” tem primazia sobre o “Ter”. O primeiro passa a ser o Status maior, o segundo torna-se efeito de como ele vai se relacionar com o seu “Deus”. A partir daí ele ganha condições para se ver diferente, ao mesmo tempo em que suas ações vão refletir na sociedade.

A vida religiosa com movimento em direção ao outro

A vida religiosa parte do principio que há necessidade de valorização do individuo, o insere numa “família” que forma uma comunidade de pessoas que agora tem um alvo, por em pratica a ética de Jesus relatada no evangelho, o que significa uma participação mais ativa na rede solidária com o outro. As ações legitimarão o direito dos fiéis entrarem no reino eterno. O julgamento final e descrito como uma reunião de todas as nações onde haverá uma separação entre “ovelhas” e “bodes” em lados opostos.

O cenário é descrito com o rei que dirá para os fiéis vir receber por herança o que foi preparado, isso em razão de terem sido solidários com os excluídos: “Pois eu tive fome; e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês me deram de beber; fui estrangeiro e vocês me acolheram; necessitei de roupas e vocês me vestiram; estive enfermo e vocês cuidaram de mim; estive preso e vocês me visitaram.” (Mateus 7.35,36). As pessoas são chamadas de justas e perguntarão quando foi que fizeram isso ao rei, visto que não fizeram pessoalmente a Ele? (Mateus 7. 37-39). A resposta é: “O que vocês fizeram a algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram” (Mateus 7. 40).

Essa e uma condição sine qua non para se alcançar o objetivo proposto pela fé cristã, ou seja, a ação solidária não é uma opção, mas um dever, visto que a isenção do cristão leva-o a exclusão do futuro reino, além de o descaracterizar como cristão, seria o mesmo que ignorar o próprio rei que se coloca no lugar dos marginalizados se identificando com eles: “O que vocês fizeram a algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram” (Mateus 7. 40).

O exclusivismo: O aspecto negativo

Se por um lado o fato de ter um absoluto, da sentido a vida na religião cristã, paradoxalmente esse fato que traz benesses, também e responsável por um dos mais graves problemas: O exclusivismo como gerador da intolerância; isso acontece devido aos axiomas teológicos que permeiam toda a reflexão cristã. Esse exclusivismo tem sua origem na definição do conceito de "verdade".

          A verdade metafísica, fora do corpo e da historia

O que e a verdade? Essa e a gênese de toda a intolerância religiosa, o cristão normalmente se envolve em conflitos quando responde a essa pergunta. A reflexão cristã tem seus postulados na filosofia grega, a verdade é a concordância entre “sujeito e objeto”, produto da “contemplação”. A verdade tem sua gênese na “teoria”, a “práxis” é apenas o efeito é legitimada pela teoria.

A verdade pronta, nasce na “razão” por isso é “eterna e imutável”. O cristão precisa conhecê-la através da interpretação bíblica, e viver de acordo com ela, o que é chamado de “revelação”. Essa “revelação” para o cristão e metafísica, não leva em conta o tempo, a historia e as situações contingências. Na cosmovisao grega o sujeito precisa interpretar o mundo, a verdade e estática, diferente da teoria marxista onde o homem precisa transformar o mundo, a verdade é dialética, e provisória.

A “verdade” é produto do conflito entre o homem e sua luta pela sobrevivência, portanto nasce no corpo. Na teologia cristã a verdade nasce do "espírito, alma, razão", fora do corpo. Essa forma de refletir é prejudicial por produzir dois tipos de reducionismo: O religioso e o Político.

                    Reducionismo religioso

Se a “verdade” esta circunscrita a esfera da hermenêutica com pressupostos nas doutrinas herdadas da tradição, logo, todos os que não pensarem dentro desse circulo, não estão com a “verdade”, assim as demais religiões que professam um credo diferente, são alvo de uma “conversão”, o que causa conflitos.

O que foi positivo para inserir o individuo na comunidade, torna-se a causa geradora de conflitos na comunidade, principalmente com os familiares, pelo fato que agora ele vai lidar com categorias de "sagrado" (tudo que se relaciona com a fé) e "Profano", (tudo o que não relaciona com a fé, chamando de "mundo"). Nessa óptica, a experiência só e legitimada a partir da aceitação da “fé crista”. Esse e um caso muito claro na relação entre católicos e cristãos evangélicos, na reforma protestante (1050 - 1500 d.C). Há certa animosidade quando a pessoa sai da "fé católica" e se "converte" a fé cristã, há rupturas e afastamento por parte do novo fiél da fé evangélica.

                    Reducionismo político

O reducionismo político e outro efeito da herança teológica neoplatônica inserida nas interpretações dos chamados pais da igreja primitiva, século IV d.C. Agostinho praticamente determina o curso da reflexão teológica da igreja, seu pensamento dicotômico herança da filosofia grega estabelece um pensamento dualista, de dois mundos em oposição.

A política foi interpretada como uma dimensão antitética, “secular” e, portanto, em oposição ao “sagrado”, isso fez com que a igreja Cristã de origem protestante, se relacionasse com a política de forma alienada, não e sem razão que Marx a nominou como “ópio do povo”.

A religião atuou com um anestésico frente ao poder da classe dominante. O catolicismo embora tenha uma postura política mais engajada, pode se dizer que foi omissa na maior parte da historia e ainda usou a teologia como meio de legitimar a dominação com uma hermenêutica tendenciosa a favor dos ricos.

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REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAUMANN, Zigmunt. Aprendendo a pensar Sociologicamente. Rio de Janeiro-RJ. Zahar 2010.

BOFF, Leonardo. Teologia do cativeiro e da Libertação. Rio de Janeiro-RJ. Ed. Vozes 3ª Ed. 1982.

ALVES, Rubem. O suspiro dos Oprimidos. Ed. Paulus. São Paulo - SP. 6ª Edição 2006.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

DIÁLOGO ENTRE ARISTÓTELES E UM CRISTÃO


Todo o conflito da religião está em que ela diz ter a “verdade”!Contudo a grande pergunta é: “O que é a verdade? Essa é a raiz de todo o problema.

As religiões monoteístas têm em comum o principio grego da razão! A resposta ao o que é a verdade é: “verdade é a concordância entre o intelecto e a gramática”; Ou seja, aquilo que cala a mente, que na sua construção produz uma lógica (logos).

Sendo assim a verdade do cristão, não pode ser a verdade do mulçumano.

Tudo é firmado na filosofia de Aristóteles, onde existe o axioma da chamada “lei da não contradição”.

Isso quer dizer aquilo que afirmo ser, não pode não ser! Se eu tenho a verdade logo você não pode ter a verdade, pois as duas afirmações ferem a lei da não contradição.

Logo a verdade exclui o oposto, se você tem a verdade, e o que eu tiver não concordar com a sua verdade, uma das duas é mentira. Sendo assim jamais o oposto pode ser verdade!

Acontece que as religiões monoteístas enfrentam em seu credo algo que é contraditório na própria gramática e na lei da não contradição de Aristóteles, veja:

Aristóteles inicia o diálogo:
ARISTÓTELES:
- O que é morte?

DISCÍPULO
- Morte é o fim da vida

ARISTÓTELES:
- Como é que se morre

DISCÍPULO
- Quando termina a vida.

ARISTÓTELES:
- A morte é o fim da vida!

DISCÍPULO:
Não é o começo da vida!

ARISTÓTELES:
 - Se irrita e diz: Como a morte pode ser o começo da vida se você diz que ela é o fim da vida? Você tem que optar, ou é o começo ou o fim! Umas das duas afirmações não é verdade!

DISCÍPULO
- È pela fé.

ARISTÓTELES:
Fé? O que é isso? Essa fé é irracional? Não! Uma verdade não pode afirmar e negar ao mesmo tempo a afirmação que havia afirmado!

DISCÍPULO
- Não sei se pode ou não, mas eu creio! E por isso afirmo.

ARISTOTELES
- Assim não dá, para conversar, você afirma uma coisa e depois contraria a primeira afirmação!

Ambos vão embora e nao entram num acordo...

As religiões têm sua base no paradoxo, isso quer dizer que são afirmações contraditórias que não são passiveis de paz na gramática nem no intelecto.

Mas o fato de se “contradizer” na gramática, não significa que não seja verdade! Pois a verdade como conceito grego, exige concordância através da razão!

Mas quem disse que a fé busca a razão?
Fé não nasce no desejo de entender, mas de viver. A fé é fecundada pelo “semém” do desejo...