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Jl-reflexoes

sexta-feira, 19 de março de 2010

A anti-ética da gen-ética

Ética é uma palavra do: “grego ηθική, ethiké) (...) ramo da filosofia (...) que estuda a natureza do que é considerado adequado e moralmente correto. Já genética, “do grego genno (fazer nascer), é a ciência dos genes, da hereditariedade e da variação dos organismos.


A genética estuda a origem da vida, dos genes,desenvolvimento da vida em suas complexidades, enquanto a ética estuda o juizo dos atos, determinando o que é moralmente certo ou errado.Uma acompanha o desenvolvimento do ser, outra julga as suas ações consciente deste.

O gênesis da existência não segue um código de ética, pois a genética, está envolta em mistérios, as substâncias que traz a existência o Ser, coloca-o num habitat, de forma que suas ações, não são moldadas pelo ambiente, mas o ambiente se ajusta sofrendo mudanças para acomodá-lo.

O sêmen é a semen-te que sozinha não produz vida, precisa ser introduzida no óvulo para juntos desenvolverem a maravilha que é o ser humano. È interessante notar que não há ética na gen-ética do “ser” que ainda não “é” ativo na transformação do seu ambiente, pois a sua ação é romper com qualquer resistência que venha se opor ao seu desenvolvimento.

O útero ma-terno é obrigado a tornar-se terno, aconchegante, pois, o ser vivo que está nele para se desenvolver, exige ser acomodado, mas esse “ser” fica in-comodado, quando o espaço, já não suporta mais o seu desenvolvimento. O tempo acaba sendo o responsável por tirá-lo do in-cômodo de não ser mais cômodo ficar onde está; [1], no entanto o mesmo tempo que o obriga a sair, causa-lhe outro incomodo, o de perder a proteção que tinha antes de Crescer.

O crescimento exige uma nova dimensão onde ele ganha espaço, mas perde o conforto. [2] Assim é na vida, crescer significa romper, sair do conforto das certezas, e entrar no mundo das incertezas, pois as certezas mais convictas hoje são incertezas amanhã! Assim como o feto fica protegido pelas limitações do útero, e não tem noção do que o espera do lado de fora, o homem fica  protegido pelas suas limitações, e se acomoda nas suas certezas até o momento em que as necessidades o empurram para fora do seu “habitat”. [3]

O feto experimenta momentos de mudanças drásticas, para crescer, é preciso sair da “redoma” do útero empurrado pela placenta, não por opção mais pela força da natureza bio-lógica, a lógica da vida mostra a lei da necessidade,  que para ganhar é necessário perder.

O feto ganha espaço, mas perde o conforto, perde o conforto, mas ganha uma nova visão do mundo além-utero. A placenta que acomoda é a mesma que “expulsa”, na lei da genética há uma ética, e essa é implacável: “o crescimento exige ruptura”.

Jesus mostrou essa lei ao confrontar os religiosos da sua época, a obediência externa da lei, servia como um “útero”, [4] que acomodava o legalismo, eles estavam como um feto, acomodado, e quando chegou o momento de ser “expulsos” do seu habitat, rejeitaram por medo do que ia perder, mas não sabiam que a única forma de ter uma revelação maior seria deixar a revelação anterior.

O feto perde o conforto, mas ganha uma nova visão da existência, semelhantemente, também corremos o risco de ficarmos “presos”, no “útero do comodismo”, das nossas convicções que nos protege, de encarar o mundo desconhecido dos que pensam diferentes de nós.

Afinal podemos perder tudo o que adquirimos! Para que correr riscos? Sair é correr o risco de perder o que foi ganho durante o período no “habitat fechado”, que nos acomodava!Para o ser humano o desconhecido é um adversário a ser temido, pois ele é implacável, não dá opção, uma vez conhecido, não há como voltar atrás.

A criança, ao sair do útero, expressa o seu descontentamento com o choro, mas depois fica encantado com as luzes, recebe o aconchego de quem esta do lado de fora ansioso para conhecê-lo. Não tem opção de voltar, ao lugar que estava, e ainda que tivesse certamente não iria mais trocar a visão que tem agora do lado de fora, pela visão que tinha do lado de dentro, mesmo que o preço dessa visão seja o desconforto.

Para receber agora o que recebia passivamente, precisará ativamente, se expressar, muda-se a comunicação, essa é a perda de sair do “útero”, mas o ganho de estar fora é experimentar o que nunca teria no lugar onde esteve.

Crescer é uma necessidade da genética humana, o homem está pré-determinado a se desenvolver... Haverá um momento em que as circunstâncias da vida, nos empurará para fora do nosso habitat, experimentaremos a força de não poder resistir as mudanças que nos cercam e nos obrigam a rever nossas certezas.

Quando isso acontecer certamente teremos des-conforto, mas o conforto vem ao experimentarmos que é melhor crescer, do que lutar contra a força da genética da vida.

Uma vez que fomos fecundados pelo “sêmen” vida, não há como permanecer sem crescimento, pois estaríamos indo contra a bio-gen-ética , que nos gerou para  viver.
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NOTAS                                     
[1] O Sábio do livro de Eclesiastes, fala da ação primordial do tempo na existência humana: “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. Há tempo de nascer, e tempo de morrer”. Isso nos mostra que a vida passa por ciclos, e as mudanças são necessárias.

[2] O apóstolo Paulo em 1corintios 13, fala da mudança que houve de acordo com a mudança de fase de criança para adulto, pois as atitudes mudaram.

[3] O apóstolo Paulo teve a revelação dessa realidade quando diz: “... gloriamos-nos nas tribulações, sabendo que a tribulação produz paciência. E a paciência a experiência, e a experiência a esperança”. Isso mostra a realidade de que para ganharmos algo que venha nos ajudar no crescimento, precisamos às vezes ser “expulsos”, da nossa comodidade através de circunstâncias adversas que trarão benefícios.

[4] Mateus 23:5 Jesus fala que a religião Farisaica se acomodava no engano de obras visíveis, que não eram reprovadas em si, por ser obras, mas na intenção: “a fim de serem vistos pelos homens”. Na ética de Jesus os fins não justificam os meios, as intenções do interior é o aferidor de medidas para a justificação das obras, e não as obras se justificarão por si mesmas.

9 comentários:

  1. Meu caro J. Lima


    Trouxeste de forma brilhante, os conceitos da genética para explicar o nascimento do sujeito.

    Pouco sabemos da vida intra-uterina, mas não temos dúvida de que tudo começou lá. A Ciência já comprovou que as emoções, como ira, prazer, tristeza, por parte da mãe, são transferidas ao feto a partir do sexto mês de vida, quando pequenas áreas do seu cérebro começam a funcionar através de padrões, que denominamos de “reflexos arcaicos”.

    O choro deve ter sido a primeira expressão, a primeira linguagem, nos primeiros minutos de nossa vida, decorrentes da primeira RUPTURA. Este seria o primeiro e impressionante retrato do nosso ser: músculos da face e da boca contraindo-se e se relaxando ante um forte sopro vindo dos pulmões a extrair das cordas vocais um estranho e fundo gemido. A nossa velha expressão de dor e desamparo nascera ali no mesmo leito daquela que nos abrigara por longos nove meses. Desamparo, pela expulsão violenta e bisonha, do “paraíso uterino”, onde tão felizes e bem acomodados estávamos.

    Se a palavra de Freud faz ainda algum sentido hoje, passados 100 anos de sua teorização sobre o inconsciente e a sexualidade do homem, se ela resiste apesar dos indiscutíveis achados neurocientíficos e dos progressos da neurofisiologia cerebral, é porque traz uma verdade. A verdade que no fundo somos humanos. Humanidade que se renova a cada nascimento e que se expressa de forma única cada vez que um de nós ultrapassa, potencializa ou mesmo perverte aquilo que de início nos é dado: a realidade biológica.


    Um forte abraço,

    Levi B. Santos

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  2. Prezado J. Lima

    O seu texto é perfeito, brilhante. Parece-me como um insight em que o racicínio flui desimpedidamente, as frases vão se alinhando da mais maneira correta e tudo vai fazendo sentido.

    Um abraço.

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  3. Levi.
    Grato pela sempre edificante contribuição com os seus comentários.
    È muito bom ter um comentárista que é médico para nos dar uma visão um pouco mais ampla recheada de principios da psicologia.
    Grato.

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  4. Isaias.
    È um prazer te você aqui no meu blog;
    Sinto me honrado em ter uma pessoa do seu nível comentando os meus artigos.
    E parabéns pela criação do blog CONFRARIA DOS PENSADORES FORA DA GAIOLA.
    Estou acompanhando os textos que são de alto nível.
    Sinto me honrado em ser participante desse blog.
    Abraço.

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  5. Professor J. Lima

    Brilhante ensaio onde você se utiliza da genética e a ética humana, fazendo uma ponte de ligação ao conhecimento humano, que na verdade é isto mesmo, uma ruptura, onde o sujeito que quer crescer e amadurecer, irá com toda certeza pisar no chão das incertezas, duvidas que vão gerar conflitos intermináveis.

    Na verdade o que faz o sujeito rever os seus pressupostos teológicos e filosóficos é justamente a necessidade, onde os antigos paradigmas já não são suficientes, ou não mais satisfatoriamente.

    Teoricamente ninguém abre mão de suas convicções por mero prazer, antes é uma questão de necessidade, que o empurra para o confronto no mundo das respostas não mais prontas e simplórias, antes é uma nova construção, não mais baseado no conforto de respostas engessadas, mas sim no chão da busca pela verdade, que sempre será subjetiva.

    Embora o conhecimento do desconhecido gere agonizantes conflitos ideológicos e de identidade, ainda sim é preferível a desilusão do não confortável e seguro conhecimento incerto da duvida, do que a doce e infantil ilusão.

    Abraços

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  6. José Lima nao sei porque eu apesar de ler seus textos eu nao tenho muita vontade de comentar!

    Seria porque eu nao me entereço pelos mesmos temas que você como a psicanálise, genética, física e biologia?

    Ou seria porque exactamente nao me enteresando enao sabendo eu nao me sinto a altura de desenvolver um dialogo com você.

    Ou seria porque seus textos são prontos bons que nao deixam espaço para acreximos ou critica.

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  7. Gresder
    Eu não posso lhe responder...
    Sinceramente não sei...

    Não posso fazer uma psicanálise da razão da sua indisposição, mas acho que você mesmo já falou as duas razões principais, a falta de interesse pelos temas fora da teologia, o que leva acontecer o que você disse, por não se interessar não se aprofunda nesses temas abordados.

    Quanto à pergunta se os meus textos são bons a ponto de não deixar espaço para contra-argumentos, não acho que seja o Levi tem feito acréscimos excelentes aos textos, e o Marcio tem feito criticas as vezes em oposição em um primeiro momento.

    Mas não se sinta constrangido a comentar Mas sinta-se a vontade ok? Mesmo porque embora goste dos comentários, não é minha prioridade desenvolver diálogos no meu blog visto que estou fazendo faculdade e o tempo está muito escasso.
    Só o fato de saber que você apenas lê já me sinto honrado.
    Quando o assunto for mais próximo a sua área de reflexão certamente você fará comentários.

    Abraço.

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  8. Como é difícil sair do útero, aquele lugar aconchegante, quentinho, protegido, seguro. Mas o útero é escuro, não tem cores, não tem para onde olhar além do que se vê.

    O grande drama é que quando se "resolve" sair do "útero", é impossível de novo, retornar para lá. Torna-se o éden, com sua entrada protegida por dois querubins...

    Lindo texto, JL. Suas reflexões são o supra-sumo da confraria.

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  9. Eduardo.
    Receber um elogio de alguém que escreveu aquele artigo sobre jó! (diga-se de passagem um dos mais profundos na área biblica que já li sobre a teologia no livro de jó!)

    È no minino gratificante para min.
    Sinto me honrado por suas palavras, mesmo porque com toda sinceridade essa confraria só tem elite da reflexão, é gente boa demais que realmente não caberia num sistema fechado dogmático!

    Esteja a vontade para comentar os meus textos!
    O que irei postar na confraria já está pronto!
    rsss

    Abraço.

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