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segunda-feira, 6 de maio de 2013

Agostinho-Calvino & Thomas Hobbes – Armínio & John Locke: Uma reflexão sobre Deus/Estado Homem/Liberdade.

A antropologia teológica tem os mesmos pressupostos da sociologia na relação: Deus/Estado Homem/Liberdade.

No Agostinianismo-Calvinismo, a liberdade do homem está em: "escolher o que Deus no eterno passado já escolheu para o homem escolher".

Nessa forma de relação entre Deus e o homem, a liberdade está em:

Fazer o que já está determinado, ao homem, só resta fazer o que Deus quer que o homem faça.

Na antropologia Calvinista-Agostiniana, o homem é totalmente depravado.

Na antropologia de Thomas Hobbes o homem totalmente mal e incapaz de manter o mínimo de ordem na convivência social.

Na teologia Agostiniana-Calvinista, e na concepção Hobbesiana, o homem necessita:

Renunciar sua liberdade para ser governado por um poder externo.

Deus na teologia, o Estado na política.

Na teologia Arminiana, e na sociologia de John Locke, a antropologia é menos pessimista.

Jacobus Armínius defendia que o homem é mal, mas a corrupção sofrida após a queda (pecado) não afetou totalmente a sua natureza, dessa forma o homem não perdeu a capacidade para responder à mensagem do evangelho e ser salvo.

Nessa óptica a semelhança de John Locke, o homem tem o “livre arbítrio”, ou seja, é parcialmente depravado ou mal.

Armínio defende que através do livre arbítrio o homem pode aceitar a vida de Deus em Cristo, trabalhar de forma sinérgica (juntos) e o capacitar a responder aos apelos do Evangelho.

John Locke e Jacobus Arminius têm em comum na antropologia que o homem não é totalmente mal.

O poder externo na teologia que vai ajudar o homem é Deus.

Na teoria sociológica-política de John Locke é o Estado, só que esse (estado) servirá apenas como “regulador” das relações do homem na sociedade.

Armínio & Locke, Agostinho-Calvino & Thomas Hobbes, tem em comum a seguinte tese implícita:

“O homem precisa de um poder externo para regular a vida do homem”.

Agostinho-Calvino defende o principio do Totalitarismo Teocrático, nessa teoria teológica, Deus deve ter o poder absoluto.

O homem só tem liberdade para fazer a “vontade do Rei-governo”.

Thomas Hobbes defende o Totalitarismo do Estado, o poder absoluto do governo sobre o homem.

Na teologia Agostiniana-Calvinista os pressupostos são semelhantes ao Estado defendido por Hobbes, ideologia seria: Um governo de esquerda.

Na teologia Arminiana, os pressupostos seria o estado defendido por John Locke, e a forma de governo seria o “Liberalismo”.

O homem tem liberdade, mas é uma “liberdade parcial”, não é totalmente mal, mas não é bom o suficiente para viver livre de um poder externo.

Deus e o Estado são poderes reguladores da vida humana.

Total ou Parcial?

Na teologia e na sociologia no século XX surge uma nova forma de governo:

Neoliberalismo...

Nessa nova forma de relação tanto Deus quanto o Estado não intervém.

O homem é totalmente “livre”, Deus de Sí mesmo.

Dois poderes externos...

Sem a intervenção de Deus, na teologia, o homem está sob o poder do Diabo...

Sem a intervenção do Estado, na sociologia, o homem está sob o poder do Mercado...

Salve-se quem puder...

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

MÍDIA: INSTRUMENTO DE PODER, SEDUÇÃO E ALIENAÇÃO 

O tema da mídia brasileira do momento é a visita da blogueira cubana Yoani Sánchez ao Brasil. 

Há uma movimentação da mídia para mostrar o quão maravilhosa é a “democracia” em nosso país. 

Claro que o tão famoso “direito de expressão” é algo maravilhoso, afinal, o nosso país tem menos de três décadas que sai dos domínios do militarismo.

Até Constituição de 1988 as concessões eram de responsabilidade do poder executivo, após 1988, a submissão passou ao Congresso Nacional.

Para se ter uma ideia de como a mídia é manipulada, a verba do governo Dilma com publicidade foi feita da seguinte forma:

- 10 veículos: 70% do dinheiro gasto com publicidade do governo.

- Dos R$161 milhões, 50 milhões direcionados à TV Globo.

- Globo Comunicação e Participações LTDA: 833,8 mil reais.

- Globosat Programadora, 810,3 mil, Rádio Globo 730 mil, Infoglobo, que edita O Globo e o Extra, 927,4 mil, Globo Participações, que cuida das operações na internet, 952,9 mil

- O jornal Valor Econômico, do qual o grupo detém 50%, R$164 mil. Editora Globo: responsável pela revista Época, 479 mil.

Família Marinho detém : 1/3 de toda a verba publicitária do governo federal.

Carta Capital, 23/01/2013
(http://www.cartacapital.com.br/politica/globo-concentra-verba-publicitaria-federal/)

O objetivo da mídia é fazer o telespectador ou leitor, se mover em um mundo que de fato não existe, a imprensa tem o oficio de legitimar as estratégias de mercado, construir consensos e doutrinar as percepções, ludibriando a realidade com noticiários parciais tendo como efeito a produção de uma epidemia de “amnésia coletiva”!

A mídia distorce, valoriza a versão em detrimento dos fatos, a opinião ganha primazia sobre a informação além de substituir a realidade pela interpretação tendenciosa sobre a realidade.

Essa forma maquiavélica faz com que o cidadão tenha uma percepção distorcida do mundo, ou seja, a opinião sobre a realidade é vista de acordo com a imagem criada pela mídia, a propaganda é a força da distorção, contudo, há momentos que a realidade suplanta a máscara.

O JORNAL A FOLHA DE SÃO PAULO que faz parte de um grupo de domínio da comunicação no Brasil, reprodutora do jornal THE NEW YORK TIMES, editou a seguinte matéria:

“PEDIMOS DESCULPAS PELO ERRO DE SADAN”
(Folha de São Paulo, 17/07/2004, A 14, Mundo).

Sadan possuía uma arma muito terrível: Petróleo.

A mídia reproduzia os noticiários protótipos do cinema Hollywoodiano da eterna luta entre “o bem e o mal” onde o mocinho precisava exterminar a “ameaça” mundial.

A Yoani tem direito de falar, afinal hipoteticamente estamos num pais democrático, mas numa democracia que desde a sua transição foi pacifica, isso porque desde sua base privilegiou a classe que dominadora com conchavos com os grandes latifundiários que sempre detiveram o poder.

Haja vista o PMDB nunca sai do poder, sempre tem os presidentes da Câmara e do Senado!

Mas a pergunta é:

Porque a liderança do PSDB, Aécio, Neves, Álvaro Dias e CIA estão tão interessados em ouvir a Yoani falar?

Seria pelo fato de que são promotores do sistema neoliberal onde já no governo FHC venderam por ninharias estatais para o capital estrangeiro querem desacreditar o socialismo?

Porque a mídia que agora faz questão de emprestar os microfones e as câmeras para a Yoani não emprestaram para os partidos de esquerda que gritaram contra as privatizações do governo FHC?

Uma coisa é certa:

Se algo beneficia os ricos...

Com certeza vai espoliar os pobres...

Essa é a lógica do sistema neoliberal base dos governos do PSDB.
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José Lima de Jesus
Cursando o 3º ano em Ciências Sociais pela Universidade Metodista de São Paulo – UMESP.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Dilma Rouseff e Joaquim Barbosa: Uma reflexão Sociológica na Teoria de Pierre Bourdieu

Bourdieu entende que há uma concorrência no interior de cada campo social de forma dinâmica, que tem sua origem nos agentes sociais (pessoas) através de estratégias diferentes que visam à transformação ou conservação das estruturas sociais.

O ministro Joaquim Barbosa em sua trajetória de vida confirma a teoria de Bourdieu que não há fatalismo de “classes” ou de “estrutura”.

Embora a desigualdade da distribuição do capital seja a gênese das lutas que produzem um conflito permanente, essas são configuradas na defesa dos grupos dominantes, que querem defender seus privilégios em oposição aos grupos e indivíduos que lutam por poder e reconhecimento, que se situam na hierarquia social na posição de inferioridade.

A forma com que essa luta se realiza são diversas, tais como: “acumulação de capital econômico ou social, cultural e simbólico”.

As lutas são formas de tentar modificar as estruturas dos campos sociais, ao mesmo tempo, uma maneira de alterar as hierarquias manifestadas nas diversas formas, como: “econômica, cultural ou simbólica”.

Mas as hierarquias podem ser alteradas, modificadas, pois a cultura também é um capital.

 O ministro Joaquim Barbosa e a presidenta Dilma Rouseff adquiriram esse capital, quebrando assim o fatalismo da estrutura do “poder dominante”.

Os “processos antecedentes” que são “estruturas estruturantes” produzem e reproduzem o poder simbólico, tem o objetivo de através da luta simbólica quebrar a lógica social da classe dominante.

Essa classe dominante é legitima para os agentes do campo social e considerado por eles como normal.

Dilma e Joaquim Barbosa são exemplos da sociologia de Bourdieu, em que o agente social transforma a “estrutura social”.

A violência simbólica, doce e mascarada, se exerce com a cumplicidade daquele que a sofre, das suas vítimas.

Segundo Bourdieu 1996, p.275, “Essa violência está presente no discurso do mestre, na autoridade do burocrata, na atitude do intelectual (...) constituem uma violência simbólica, pela qual ninguém é verdadeiramente responsável, que oprime e rege as linhas políticas nas democracias contemporâneas.

Dois paradigmas fatalistas quebrados:

O negro escravizado na colonização do País, marginalizado e vítima do preconceito na história sempre as margens da sociedade.

A mulher vitima da violência de gênero, na cultura religiosa judaico-cristã, a responsável pela inserção do “pecado” no mundo.

Agora representa o poder legitimo, quebrando toda a lógica da “estrutura  estruturante” estratificada pelos “processos antecedentes”.

Na sociologia de Bourdieu não há determinismo, predestinação ou destino, o agente social transforma as estruturas sociais.
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BIBLIOGRAFIA
BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. São Paulo – SP Perspectiva, 7ª Ed., 2011.

________________. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 14ª ed., 2010.

CORTES, Verónica. Pierre Bourdieu, notas acerca de uma sociologia dos campos. In: Guia de Estudos Relações mundializadas, neoliberalismo e sociabilidade humana. São Bernardo do Campo: Editora da Universidade Metodista de São Paulo, 2009.

THIRY-CHERQUES, Hermano Roberto. Pierre Bourdieu: a teoria na prática. Revista de Administração Pública Rio de Janeiro 40(1): 27-55, Jan./Fev. 2006.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

RELIGIÃO, FÉ E NEUROSE


A teologia ortodoxa, na sistematização teológica define que a "Verdade" pertence a uma confissão de Fé. Mas e a verdade é a PESSOA de CRISTO (Jo 14.6) logo, não há necessidade de "DOGMAS", pois cristo não foi dogmático, cristo estabeleceu uma PRÁXIS de VIDA.

A adoração em ESPIRITO E EM VERDADE (Jo 4.24), não tem a ver com CONFISSÃO DE FÉ, mas com a mudança de conceitos sobre a existência, a mulher achava que “Ser” Samaritana e “Ser” Judeu, era fatalismo do destino. (Jo 4.9).

Jesus mostrou que Judeus e samaritanos, não “São” estão “Sendo”. Na vida, nada é “fixo”, e Ele como judeu valoriza o Samaritano que não é, mas Sendo. O verbo “Ser” é estático, o gerúndio “Sendo” é mutável.

A adoração em Espírito e em verdade tem a ver com coragem de enfrentar os traumas e desafios da vida esse era o conteúdo do diálogo de Jesus com a mulher samaritana. Quando Jesus fala da água que tinha para oferecer, a mulher pede: “dá-me dessa água, para que não mais tenha sede, e não venha aqui tirá-la”. (Jo 4.15).

A pessoa que é cristã, mas é dogmática, firmada em doutrinas, quer resolver tudo de forma fácil, quer saciar o desejo da existência com métodos mágicos, ou, com penitências que mereçam o favor divino.

Jesus quer oferecer capacidade para a pessoa enfrentar a vida com todos os traumas e desamparo que ela oferece. Jesus vai a cerne do diálogo: “Vai, chama o teu marido, e vem cá”. (Jo 4.16).

A mulher responde que não tinha marido (Jo 4.17), mas não fala que já tivera cinco, escondia os fracassos de relacionamento, mas estava bem informada sobre teologia histórica e dos conflitos étnicos da sua nação (Jo 4.9), e da tradição judaica (Jo 4.12).

Ela não sabia lidar com as frustrações dos seus relacionamentos. Jesus confronta sua situação e fala de seus fracassos do desamparo existencial que ela vivia, pois: “tivera cinco maridos e o que tinha agora não era d’ela”. (Jo 4.18,19).

A mulher vivia com o sentimento de que não possuía nada, nada lhe pertencia, era insegura, complexada, uma imagem negativa de si mesma, ventilava na religião toda a sua sede existencial, todo o seu desejo de pertencer a alguém e de ter alguém para chamar de “seu”.

Na vida ninguém é de ninguém, mas para se viver é preciso ter o sentimento de que pertence a alguém, e de que tem alguém para se pertencido.

A adoração em Espírito e em verdade não é o levantar as mãos no templo, nem estar no templo certo, tão pouco ter a doutrina correta, mas, tem a ver com encarar a verdade, a sua verdade, a verdade que temos medo, confrontar as nossas dores, rever a nossa maneira de viver.

Jesus pede para a mulher chamar o seu marido: “Vai, chama o teu marido, e vem cá”. (Jo 4.16), a mulher responde que não tinha marido (Jo 4.17). A mulher foge do assunto doloroso e volta-se para a discussão teológica: “Vejo que tu és profeta” (Jo 4.19).  O religioso extremo é neurótico, constrói uma “vida paralela”, foge da realidade da vida, para uma vida imaginária, por não suportar a realidade.

Que conexão tinha os relacionamentos frustrados d’ela, com o fato de reconhecer que Jesus era profeta? Para não enfrentar assuntos que lhe causaram dores e sofrimentos, ela usa a religião como fuga, sai da dimensão física (vida) para a metafísica (fé).

A mulher introduz um novo tema que não tinha relação com o que Jesus havia falado anteriormente. Jesus estava falando de “relacionamentos” a mulher foge para fala de “local de adoração” dos patriarcas (Jo 4.20).

Jesus chama a mulher para encarar a vida, enfrentar seus relacionamentos frustrados. Jesus queria lhe ensinar a mulher, se valorizar, como alguém digna de ser respeitada, apesar do preconceito por ter nascido em Samaria, e pela rejeição por não viver o padrão imposto pela sociedade.

Jesus fala que não existe dogmas certos, locais certos (Jo 4.21-23), depois conclui: “Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.
(Jo 4.24).

Qual é a “verdade” na adoração em Espírito? A verdade de que em Cristo, não deve existir formulas mágicas para resolver os problemas da vida: “dá-me dessa água, para que não mais tenha sede, e não venha aqui tirá-la”. (Jo 4.15).

Problemas de relacionamentos não se resolve com campanhas de 7 dias, correntes, Jejum de Daniel etc... Não se deve usar doutrinas para encobrir os traumas, nem o nome de Jesus  para fugir da maravilhosa vida que Ele veio oferecer.

sábado, 28 de julho de 2012

ESCOLA COMO MEIO DE INSTAURAÇÃO E MANUTENÇÃO DO PROJETO MODERNO

Michel Focault aborda a educação do corpo como o objeto de poder.


O corpo pode ser manipulado, modelado e treinado, pode obedecer, responder e tornar-se hábil. Focault  fala do corpo como objeto preso ao interior por poderes muito apertados que lhe impõe limitações, proibições ou obrigações.


Na escola esse corpo é tolhido, a coação se faz sobre as forças que no momento histórico das disciplinas é o momento em que nasce uma arte do corpo humano, que visa não unicamente o aumento de suas habilidades, nem tampouco aprofundar sua sujeição, mas a formação de uma relação que no mesmo mecanismo o torna tanto mais obediente quanto é mais útil, e inversamente.


Forma-se uma política de coerção uma manipulação calculada de seus elementos e gestos de seus comportamentos. Uma anatomia política que é uma “mecânica de poder” que se define como o domínio sobre o corpo dos outros, não para submeter ao que se quer, mas para operar como se quer, utilizando-se de técnicas, de acordo com a rapidez e a eficácia que é determinada, segundo Focault, “A disciplina fabrica assim corpos submissos e exercitados, corpos dóceis”.

Não é um conceito novo o chamado “corpo dócil”, desde a época clássica esse conceito já existia, o corpo pode ser submetido, utilizado, transformado e aperfeiçoado. Contudo na modernidade a submissão do corpo é cada vez mais preso, utilizado por poderes mais impõe mais limitações, obrigações e proibições. 

Segundo Focault: “A escala dessa técnica de submissão também está cada vez maior: trabalha-se o corpo detalhadamente, o controle é constante e sem folga, aproximando seu movimento ao nível da mecânica”.

corpo é objeto de controle e sua eficácia de movimentos é utilizado numa coerção sem interrupção, olhando sempre os processos da atividade e exercendo uma codificação que esmiúça o máximo o temo, o espaço e os movimentos executados por ele.

Os processos disciplinares na modernidade se tornaram fórmulas de dominação que difere das outras fórmulas desenvolvidas que segundo Focault, “O momento histórico das disciplinas e o momento em que nasce uma arte do corpo humano, que visa não unicamente o aumento de suas habilidades, nem tampouco aprofundar sua sujeição, mas a formação de uma relação que no mesmo mecanismo o torna tanto mais obediente quanto e mais útil, e inversamente”.

Dessa prática forma-se uma política de coerção infligida sobre o corpo, uma manipulação calculada sobre o comportamento, uma "anatomia política", que e também igualmente uma "mecânica do poder", esta nascendo; ela define como se pode ter domínio sobre o corpo dos outros, não simplesmente para que façam o que se quer, mas para que operem como se quer, com as técnicas, segundo a rapidez e a eficácia que se determina. A disciplina fabrica assim corpos submissos e exercitados, corpos "dóceis".

A disciplina aumenta a força do corpo, paradoxalmente ao mesmo tempo diminui a força deste, em síntese a disciplina tem a função de dissociar o poder do corpo, enquanto a coerção disciplinar estabelece no corpo o elo coercitivo entre uma aptidão que pode ser aumentada a exploração econômica, separa a força e o produto do trabalho.

A educação formal desempenha um importante papel na disciplina do corpo na modernidade. Pode-se confirmar isso, pois a escola se organiza exatamente da mesma forma que os demais processos disciplinares, pois o espaço físico da escola é fechado, semelhante a um quartel Focault descreve: “O conjunto fechado e cercado por uma muralha de dez pés de altura que rodeara os ditos pavilhões, a trinta pés de distancia de todos os lados - e isto para manter as tropas em ordem e em disciplina e que o oficial esteja em condições de responder por ela”.

As escolas da mesma forma são organizadas com muros altos que objetivam manter a “ordem” dos estudantes. Além dessa estrutura externa, o espaço interno também é organizado de forma a “disciplinar” por meio dos princípios de localização imediata e quadriculamento, que de acordo com Focault, “cada individuo no seu lugar; e em cada lugar, um individuo”.

Esse modelo organizacional tem o objetivo de estabelecer controle de presença e ausência de forma rápida caso precise encontrar alguma pessoa, além de facilitar a comunicação e corrigir comportamentos, tendo por premissa o procedimento par conhecer, dominar e utilizar. Toda a arquitetura escolar é projetada para facilitar as localizações criando um espaço que facilite controlar e vigiar as pessoas e seus comportamentos.

Nesse sistema de disciplina as pessoas são definidas pela posição na classificação que é feita. Segundo Focault, “Ela (disciplina) individualiza os corpos por uma localização que não os implanta, mas os distribui e os faz circular numa rede de relações”. Prossegue Foucault: 

A ordenação por fileiras, no século XVIII, começa a definir a grande forma de repartição dos indivíduos na ordem escolar: filas de alunos na sala, nos corredores, nos pátios; colocação atribuída a cada um em relação a cada tarefa e cada prova; colocação que ele obtém de semana em semana, de mês em mês, de ano em ano; alinhamento das classes de idade umas depois das outras; sucessão dos assuntos ensinados, das questões tratadas segundo uma ordem de dificuldade crescente. E nesse conjunto de alinhamentos obrigatórios, cada aluno segundo sua idade, seus desempenhos, seu comportamento, ocupa ora uma fila, ora outra; ele se desloca o tempo todo numa serie de casas; umas ideais, que marcam uma hierarquia do saber ou das capacidades, outras devendo traduzir materialmente no espaço da classe ou do colégio essa repartição de valores ou dos méritos. Movimento perpetuo onde os indivíduos substituem uns aos outros, num espaço escondido por intervalos alinhados.

O ensino formal foi modificado pela técnica de determinar lugares individuais, fazendo assim tornou-se possível o controle de cada um ao mesmo tempo o trabalho de todos simultaneamente, com isso há economia de tempo de aprendizagem e a capacidade de vigilância tornou-se hierarquizada pelo professor. Juntamente com a organização do espaço e a divisão de séries, a disciplina tem ainda o auxilio do controle de atividade, além do horário que é inserido como uma forma de garantir a qualidade do tempo usado com o objetivo de fazer um tempo sempre útil através do controle sem interrupção.

Se a ginástica condiciona o corpo para o desenvolvimento há ainda a articulação do corpo, segundo Focault, “cada uma das relações que o corpo deve manter com o objeto que manipula para aquela atividade deve ser claramente definida pela disciplina, de forma mecânica, como se fosse uma engrenagem”.

Foucault nomina essa ação de “codificação instrumental do corpo”, isso porque, “há a decomposição do gesto global em séries que serão definidas tanto quanto aos elementos do corpo usados quanto aos elementos do objeto manipulado, correlacionando-os posteriormente em gestos simples em uma ordem fixa”.

O controle através das técnicas tem a premissa básica no principio do “não desperdício de tempo”, para que assim possa ser extraído dele cada vez mais instantes e sempre mais e mais forças úteis. Através da classificação serial e da disposição espacial os alunos poderão ser mantidos em atividades, sujeitando-os a ordens que visam os acostumá-los a os tornar mais rápidos nas execuções das tarefas.

Essa forma de organização segundo Focault acontece da seguinte forma: 

1°) Dividir a duração em segmentos, sucessivos ou paralelos, dos quais cada um deve chegar a um termo especifico; 

2°) Organizar essas sequências segundo um esquema analítico - sucessão de elementos tão simples quanto possível, combinando-se segundo uma complexidade crescente;

3°) Finalizar esses segmentos temporais, fixar-lhes um termo marcado por uma prova, que tem a tríplice função de indicar se o individuo atingiu o nível estatutário, de garantir que sua aprendizagem esta em conformidade com a dos outros, e diferenciar as capacidades de cada individuo.

A instituição escolar serve ao projeto da modernidade de docilização o corpo, suas técnicas descritas por Focault mostram que o comportamento é uma intervenção para a dominação e subjugação do homem na sociedade.

O controle do corpo, espaço e tempo, é uma forma de poder intensa que desarticula o corpo e recompõe de acordo com os interesses alheio ao individuo, roubando dele a capacidade de ser protagonista de suas ações.

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BIBLIOGRAFIA

FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. Disponível em:  https://files.me.com/josemarruda/8uqw7u Acesso em 19/06/2012.
Trabalho como requisito parcial para a graduação em Ciências Sociais na
Universidade Metodista de São PAULO (UMESP).
Faculdade de Humanidades e Direito (FAHUD)

quarta-feira, 4 de julho de 2012

VIDA: JURISPRUDÊNCIA SOBRE A LEI.

Não matarás. (Êx 20. 13).

Aquele que matar deveria ser morto da mesma forma que matou.

No desenvolver da história, o mesmo Deus dá a Moisés a seguinte instrução:

“Olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé”. (Êx 21.24).

A verdade absoluta é que todo homicida deveria pagar com a própria vida.

Mais a frente (na história e no tempo) o mandamento Deus deu o seguinte mandamento a Moisés:

“Serão por refúgio estas seis cidades para os filhos de Israel, e para o estrangeiro, e para o que se hospedar no meio deles, para que ali se acolha aquele que MATAR A ALGUÉM POR ENGANO". (Nm 35.15).

Deus relativizou o absoluto anterior?
Ele havia dito que o homicida deveria ser punido pelo homicídio. Essa afirmação parte do pressuposto de que:
“O preço de algo só pode ser pago com algo equivalente”, daí, a regra áurea da lei: “Olho por olho dente por dente”? (Êx 21.24).

Sendo assim: O preço de uma vida só poderá se pago com outra vida!

Mas porque a intenção que é subjetiva relativiza um ato concreto e objetivo, o homicídio?

Ora se a subjetividade do ato tem jurisprudência sobre o ato, logo, a lei não é absoluta, mas sim o ser humano...

A penalidade da lei: “Morte”, deixa de ser absoluta e passa a ser “relativa”, porque isso acontece?

A intenção não descaracteriza o ato do homicida, e o homicida continua sendo homicida, mas, não tem poder para aplicar a penalidade prevista na regra áurea da lei!

A conclusão que se chega é que se a lei não é legislada em favor da vida, ela perde o sentido de existir.

A vida é o sumo bem, a lei deve estar submetida ao bem maior que é a vida!

Não matarás é uma verdade absoluta em todos os tempos, contudo, sua penalidade não pode ser aplicada em todas as situações...

Quer dizer então que a verdade depende da “história e do tempo”, para ser caracterizada como absoluta?

Se a resposta é não...

Pergunta?

Então porque Deus mandou não aplicar a penalidade no caso de o homicida não ter intenção de matar?

Se a resposta for sim...

Então a verdade pode ser interpretada fora da história e do tempo?

segunda-feira, 21 de maio de 2012

AMÉRICA LATINA: TENSÕES, ENCONTRO-DESENCONTRO CULTURAL

A Espanha no século XV havia expulsado os mouros da península ibérica e se encontrava num período relativamente de paz, sem guerras, por isso passou a buscar realizar o processo de expansão comercial.

Os espanhóis ao chegarem à América tiveram uma visão etnocêntrica e olhou as sociedades nativas como inferiores à sua, sem qualquer humanidade e assim passíveis de serem escravizadas.

Essa visão é descrita da seguinte forma nas palavras do frei dominicano Tomaz Ortiz dirigidas ao Conselho das Índias (in Todorov, 1991, p. 148):

“Comem carne humana na terra firme. São sodomitas mais do qualquer outra nação. Não há justiça entre eles. Andam completamente nus. Não respeitam o amor nem a virgindade; são inconstantes. Não fazem idéia do que seja a providência. São muito ingratos e amantes das novidades (...) São brutais. Não há entre eles nenhuma obediência. São incapazes de receber lições. Os castigos de nada adiantam (...) Quando se lhes ensinam os mistérios da religião, dizem que essas coisas convêm aos castelhanos, mas não valem nada para eles e que não querem mudar seus costumes. (...) Os índios são mais idiotas do que os asnos e não querem fazer esforço no que quer que seja.”

A partir deste grande “encontro” cultural, houve dois efeitos:

(1) O estranhamento, por parte de ambas as culturas, que viam a outra como algo extraordinário e incompreensível. Os espanhóis encararam a cultura indígena como algo bárbaro e não-humano, enquanto os nativos confundem os espanhóis com as lendas que contam sobre os fins dos tempos ou de deuses da destruição que desceriam à terra. Desse primeiro contato se seguiu o domínio espanhol, com muitas mortes de nativos, seja por batalhas, seja por doenças.

(2) O tempo original do mundo nativo desapareceu para sempre, seus ídolos foram destruídos e os tesouros esquecidos, soterrados sob os escombros de igrejas cristãs e palácios coloniais. Todas as sociedades indígenas das Américas eram civilizações jovens e criativas, a conquista espanhola deteve este crescimento e as deixou com um legado de tristeza.

América Latina no século XIX, após as independências e século XX.

Aníbal Quijano aborda a discussão sobre a identidade latino-americana fala sobre a relação entre colonialismo e modernidade. Usando o personagem de Don Quixote para falar dos momentos que antecede a conquista da América com a expulsão dos Arabes e Judeus. O autor mostra que desde o inicio há uma relação de poder no projeto colonial que é a imposição da cultura dominante e um sistema de exploração como tributação exarcebada mantida pela violência mantida pelos colonizadores.

A ideia de raça foi usada para legitimar toda a produção histórica da América latina, a partir daí a identidade latino americana passou a ser um território de conflitos que foi se aprofundando até criar uma cisão entre o europeu e o não-europeu. O continente latino americano continua prisioneiro da colonização, isso ocorre também pelo fato de não querer se arriscar a aproveitar a configuração do novo mundo como efeito da crise global do periodo da colonização até a modernidade.

Eduardo Galeano no livro Veias abertas da américa Latina faz um diagnóstico da situação da América Latina:

“É a América Latina, a região das veias abertas. Desde o descobrimento até nossos dias, tudo se transformou em capital europeu ou, mais tarde, norte-americano, e como tal tem-se acumulado e se acumula até hoje nos distantes centros de poder. Tudo: a terra, seus frutos e suas profundezas, ricas em minerais, os homens e sua capacidade de trabalho e de consumo, os recursos naturais e os recursos humanos. O modo de produção e a estrutura de classes de cada lugar têm sido sucessivamente determinados, de fora, por sua incorporação à engrenagem universal do capitalismo. (p.5).

No século XXI é preciso entender os desafios do continente, Otávio Ianni tenta compreender recuperando as questões presentes nas raizes da cultura latino America ao longo dos cinco séculos de sua história. Nesse caminho, o autor faz uma sintese passando pelas diferentes dicussões sobre a identidade latino-americana desde sua genese no periodo colonial, passando pelo imperialismom até o momento da globalização na atualidade.
Otavio Ianni ressalta que o continente Latino americano se configura numa realidade geo-histórica, politico-economica e socio-cultural complexa, marcada pela heterogenidade e paradoxal, ao mesmo tempo em que recebeu inumeras denominaçções para ele ainda subsiste a impressão de que o pensamento em suas diferentes modalidades não aprende o que realmente está ocorrendo, sobre os dilemas cruciais da América latina.

Segundo o autor a América latina mais parece um laboratório, visto como modo de produção e processo civilizatório; sempre em nome da “evolução”, “progresso”, “desenvolvimento”, “crescimento”, “emergência”, “racionalização”, “modernização”, “europeização”, “americanização”.

A metafora do espelho

A figura do espelho é uma metafora usada para mostrar a posição do latino americano frente aos paises colonizadores, a visão que o povo tem de si mesmo que é vista como “reflexo” no espelho, não tem uma criação própria, uma identidade criada a partir das reflexões com a sua realidade, somente consegue ver-se no reflexo do espelho dos outros, ibéricos, franceses, ingleses, norte-americanos.

A metáfora “espelho de Próspero” de José Enrique Rodo no início do século 20 faz uma alusão à “Próspero, conquistador e colonizador, europeu ou norte-americano, no contraponto com Caliban, transfiguração de canibal, nativo, conquistado, colonizado”.

Na literatura há reflexo como no livro “A Guerra do Fim do Mundo” de Mário Vargas Llosa, que escreve na perspectiva do fazendeiro, uma abordagem anacrônica e abstrata, alheia ao universo social humano. O livro “Os sertões” de Euclides da cunha, em contraposição é escrito na perspectiva dos que vivem e sonham com uma utopia um mundo com uma realidade que gostariam de viver.

Visão trágica da vida, da sociedade e da história

Segundo Aníbal Pinto e Osvaldo Sunkel 1966, pp. 107-20:

“Desde os tempos do colonialismo, atravessando o imperialismo e entrando pelo globalismo, são muitos os que se dedicam às sombras do poder, explicando, racionalizando, ideologizando, ou seja, contribuindo para que se modifiquem algumas diretrizes e práticas, de modo que nada se transforme. São figurações do arielismo, trabalhando sempre no espelho do europeísmo ou do americanismo, esquecendo ou menosprezando as condições e as potencialidades que se criam e recriam em cada uma e todas as sociedades nacionais latino-americanas”.

Há na América latina e caribe um sentimento de inquietação, incerteza e ilusão, na observação de Ianni:

“De vez em quando, no cotidiano deindivíduos e coletividades, irrompe a aflição, algo imponderável, inquietante. Quando tudo parece caminhar normal, ainda que precariamente, de repente abala-se, desaba, deslocandolugares, raízes, ilusões”. Para Ianni isso é mais ou menos periódico, como se acontecessem num movimento ciclico, as pessoas e ideias parecem mover-se deslocando, soltando as raizes e uma sensação de ser atingido por um terremoto.

Isso pode ser visto nas produções cientificas, intelectuais e artísticas que revelam esse estado de espirito e inquietação produzida pela incerteza:  “Algo estranho e inquietante, impregnando relações e modos de ser, a realidade e o imaginário de uns e outros, em diferentes nações, no continente, ilhas e arquipélagos”.

Essse sentimento da vida individual e coletiva tem sido ventilado por pensadores e artistas de destaque em seus respectivos paises da américa latina, e há tendências que evidenciam essas inquietações de três formas:

(1) A busca por alternativas, como uma notavel mobilização dos latinos americanos e caribenhos que se manifestam ativos e até mesmo combativos contra o anti-globalismo.

(2) Sobressaem-se tendências comunitaristas como mobilizações que se empenham em recriar as bases socio-culturais, tanto politicas e econômicas quanto ideológicas, além do sentimento nostálgico produzido pelo desejo de um mundo mais transparente, produto de uma mescla entre utopia e nostalgia.

(3) Há uma perceptiva e crescente mobilização no sentido de conscientização para promover uma globalização desde baixo.

À medida que cresce a percepção tanto na América latina como no caribe que as relações e os processos da globalização são responsaveis pela dominação e apropriação, há uma consciência cada vez mais critica e desejo de mudança em transformar as condições politico-economica, socioculturais e morais instituidas na história pela ideologia neoliberal.

Há uma fecundação de um neo-socialismo com suas raizes e perspectivas metodologicas da historiografia marxista.

Exemplo de um produto cultural que tenha estas visões

Um exemplo cultural da visão pessimista é o fato de que devido a herança colonizadora, o latino americano não se vê como o protagonista da sua história, pode-se perceber essa auto avaliação pelo fato de que a grande realização da maioria dos brasileiros é ter um emprego com carteira assinada, legitimar a sua dependência, a busca por uma “segurança” onde essa significa a subserviência aos seus patrões.

A mentalidade Européia (colonizadora) é justamente oposta, os imigrantes que chegam à América latina buscam ter o seu próprio negócio, nunca ficar subjugado ao domino de outro, como é o caso do latino americano (o brasileiro principalmente) que se contenta em ter uma carteira assinada e trabalhar como empregado tendo estabilidade no emprego. Essa estabilidade é o preço de não correr o risco de ter sua autonomia é o “espírito escravo” que não tem sua liberdade, mas também está isento de usar sua liberdade.

Essa postura é herança da colonização, a aniquilação de se ver com capacidade para assumir a liderança em seu próprio País.

Ser protagonista da sua história, essa é sem dúvida uma forma fossilizada que está na matriz do pensamento de um povo que desde a sua origem conheceu a dominação espoliadora e opressiva. Aprendeu a ser explorado, por isso em sua maioria ainda é conformado com a situação de dominio imposto pelo sistema da globalização.

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*Trabalho parcial como pré-requisito para a graduação em  Ciências Sociais pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP).
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Referências Bibliográficas

GALEANO, Eduardo. As Veias Abertas da América Latina: Tradução de Galeano de Freitas, Rio de Janeiro, Paz e Terra, (estudos latino-americano, v.12) Do original em espanhol: Las venas abiertas da America Latina.
__________________. Programa Sangue Latino, do Canal Brasil, gravado em 2009.

http://www.youtube.com/watch?v=w8rOUoc_xKc
(acesso em 14/02/2012)
PINTO, Anibal. SUNKEL, Osvaldo. “Economistas Latino-Americanos nos Países Desenvolvidos”, Revista Civilização Brasileira, n° 8, Rio de Janeiro, 1966.

QUIJANO, Aníbal. Dom Quixote e os moinhos de vento na América Latina. Rev. Estud.av. vol.19 no.55 São Paulo Sept./Dec. 2005