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Jl-reflexoes

sábado, 26 de dezembro de 2009

Metamorfose... A morte das formas como meta para a vida!


Eu prefiro ser

Essa metamorfose ambulante

Eu prefiro ser

Essa metamorfose ambulante

Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo

Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo

Raul Seixas

Houve um tempo em que eu era critico feroz das músicas do Raul Seixas, e ainda continuo, mas agora vejo no conteúdo revelações sobre uma “antropologia existencial”. Acho que no processo de viver, também me reconheço como uma “metamorfose ambulante”, visto que a vida do ser humano consiste em constantes “mortes de formas” no caminhar da existência.

Se não fosse esse dinamismo de “morrer as formas”, extinguiria a raça, a beleza da humanidade está em que na “morte das formas”, preserva-se a vida. È nisso que persiste a existência humana, uma verdadeira “meta-morfose”, uma forma que está para além dele mesmo, está sempre em construção o que contraria praticamente o pensamento ocidental que tem sua gênese na filosofia “socrático-platonica-Aristotélica”.

O conteúdo da letra dessa música mostra que a cristalização do pensamento da chamada “verdade meta-física”, o “ideal” platônico, é arqui-“inimiga” da vida, pois essa, é uma “construção em movimento”, é a partir do trágico, que a vida ganha impulso, o desamparo do homem diante a imensidão do universo, empurra-o na busca de uma “segurança”.

Da insignificância nasce o desejo de “Transcendência” que imerge como uma necessidade de continuidade da existência! Esse desejo anseia por uma verdade “formada”, mas essa nas contingências da vida precisa perder a “forma”, é preciso então ter coragem para re-ver as opiniões que se tinha ontem, aceitar a contra-“adição”, o paradoxo da vida, afinal a lógica não vem da vida, mas da imposição da razão sobre o livre curso da natureza.

A razão não é natural, é uma imposição, uma forma de manter a existência dentro de limites, pois esses impedem do homem se diluir, mas essa razão que impões limites para preservação da vida, deve perceber que há tempo de “perder a razão”, a cristalização da razão congelada, elimina a riqueza do devir [1].

Dai Heráclito dizer:

“O mesmo homem não pode atravessar o mesmo rio, porque o homem de ontem não é o mesmo homem, nem o rio de ontem é o mesmo do hoje".

Acho que Nietsche tinha razão: “Toda vida se alimenta de outra vida”. Para se manter viva, a vida alimenta-se de outra vida, e dela própria, pois viver implica em constantemente morrer, a morte é o alimento da vida.

Interessante... “A ceia do cristão é alimentar-se do corpo de quem morreu”, pela morte do corpo, a vida torna-se alimento para os que vivem...
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[1] Devir é um conceito filosófico que qualifica a mudança constante, a perenidade de algo ou alguém.

2 comentários:

  1. "...é a partir do trágico, que a vida ganha impulso, o desamparo do homem diante a imensidão do universo, empurra-o na busca de uma “segurança”.

    Bela e significativa construção.

    Da solidão e do desamparo nasce o poder criativo do homem. Mas tudo isso é uma prova de que não estamos totalmente sós.
    Pablo Neruda já dizia: "Minha vida é uma vida feita de todas as vidas".

    O desamparo e a solidão nascidos das separações inevitáveis, estabelecem em nós o aguilhão da inventividade criativa.

    Parabéns pelo criativo e significativo ensaio.

    Um abraço fraterno

    Levi B. Santos

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  2. Amigo José Lima


    A nossa efêmera, mas emocionante existência é um constante caminhar de desconstruções construídas e construções desconstruídas das mortes e nascenças das multiformes ao longo da vida.


    Inicia-se no ventre materno, morre-se a forma de espermatozóide, para que nasce o bebê.


    Depois, aprendemos a andar e balbuciar as primeiras palavras, morre-se a forma de bebê para dar lugar a uma criança.


    Mais tarde, morre-se a forma de criança para dar lugar a de adolescente.


    Mas diariamente muitas outras e variadas formas vão morrendo, para que muitas outras ocupem o seu lugar, pois a nossa vida não é estática, ela é dinâmica e impulsionadora do existir.


    Até mesmo nas adversidades do dia mal, das mortes de formas não compreendidas e aceitas, estamos sendo transformados.


    Acho que diante disso tudo, o nosso grande medo, não deveria ser a morte-morte, mas a morte-das-formas, pois viver é tão mais complicado e assustador do que deixar essa vida.


    Hoje o meu eu é eu mesmo, mas já amanhã, serei eu mesmo outro, nesse dinamismo de mortes e nascimentos dos muitos eu, quem será eu, daqui a muitos anos?


    Não sei e nem quero saber, pois a graça da vida, esta em viver um dia após o outro, sendo eu mesmo em cada mudança do eu.


    Vou tentar ir mais além, a morte das formas, é que traz sentido existencial para nossas vidas, pois se eu fosse eu mesmo eternamente, o meu eu estaria condenado a ser eu mesmo por toda eternidade, girando, indo e voltando no sempre eterno repetitivo eu mesmo.


    Ao mesmo tempo em que luto para perpetuar o meu eu, quero matar o eu, para que eu mesmo seja eu mesmo outro.


    Se o paraíso for real, não quero ser eu mesmo eternamente, pois isto seria uma condenação, viver eu no eu mesmo sem fim.


    Portanto, se existe vida no porvir, quero que seja a continuação desta vida em uma vida continuada pela vida do ser eu mesmo eu, mas podendo ser eu mesmo outro, mudando, renovando, perdendo, alcançando, vivendo e morrendo as formas de ser eu.


    A razão da razão de existir é a razão da razão do não existir sempre no eu mesmo, de poder escolher, criar, inventar e renovar as muitas formas de ser eu.


    Ninguém nasce condenado a ser mesmo o mesmo ser.


    Não somos o mesmo, porque a vida não é a mesma, e a vida não é a mesma, pois nós não somos o mesmo.


    Daí sermos os mesmos condenados a sermos os não mesmos enquanto se é mesmo.


    Hoje sou eu mesmo sendo o mesmo eu, mas amanhã é outro dia....................


    Abraços do eu mesmo pra você mesmo. Rsrsrsrsrs

    Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém.

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