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Jl-reflexoes

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

O fogo iluminou, os olhos se abriram...


Quero ser como criança
Te amar pelo que és
Voltar à inocência
Confiar só em ti
Mais às vezes sou levado
Pela vontade de crescer
Torno-me independente
E deixo simplesmente de crer
Não posso viver
Longe do seu amor
Senhor
Não posso viver
Longe do seu abraço
Senhor
Abraça-me
Abraça-me

Muitos definem a música como sacra ou secular, ou santa ou profana, mas na minha modesta definição, há três tipos de musica: Boa, ruim e péssima! Não importa se é sacra ou não sacra, aliais para min toda música que eu goste é sacra! Sempre cantei a música do David Quilan, “Abraça-me”, mas não havia notado a expressão mítica que ela traz, do que poderíamos chamar “inconsciente coletivo”. Na narrativa do gênesis o homem usurpa de Deus algo que ao tornar-se seu “abre-lhe os olhos”.

Na narrativa grega Prometeu que rompe o pacto com os deuses do olimpo, e dá o fogo sagrado, traz luz para os homens, que iria “iluminar”! Os dois recebem castigo por passar a ver o que antes não era possível! O gênesis foi uma re-escrição de um conto da antiga babilônia e mostra uma realidade comum na humanidade: “A experiência da passagem da inocência para o conhecimento”.

Na narrativa bíblica o estado do homem ao desobedecer é denominada na teologia uma “queda”, já numa leitura psicológica poderia denominar-se uma “subida”. A evolução do ser humano entre a idade de um e três anos quando se dá à emergência da auto-percepção, tanto a narrativa grega de prometeu quanto no gênesis em adão, tem em comum a ira da divindade.

Prometeu recebe como castigo um abutre que devora seu fígado, que cresce durante a noite para se devorado novamente no outro dia e assim eternamente. Mercúrio leva uma caixa com todas as doenças, que pandora, mulher de prometeu, por curiosidade abre e a humanidade passa a viver intermináveis doenças.

Da mesma forma a mulher de adão que também teve curiosidade de conhecer, cedeu a sugestão da serpente, como castigo adão passa a viver na angustia de produzir o seu sustento, o sofrimento se alastra na humanidade, tendo seu ápice na autoconsciência de que sua existência tem um fim!

A narrativa de Adão mostra o mito da autoconsciência e o de prometeu a capacidade de transcendência, abstração do tempo; prometeu significa “previsão”, invenção, futuro!

Nas narrativas, os deuses ficaram irados com a criatividade do homem, é como se a autoconsciência e a transcendência tirasse o homem do seu domínio, o maior crime do homem seria sair da inocência, deixar a infância, a segurança; para criar, transcender inventar. O Éden representa o estado de ausência de conflitos, onde não existe culpa nem remorso, esse é um estado que precede a autoconsciência, o desejo expresso na letra da música:

“Voltar à inocência”
“Confiar só em ti”

Essa letra mostra o inconsciente: “O crescimento trás conflitos”, mas visto que optou por crescer, sua punição será o desejo de voltar ao estado de inocência! E o caminho é entregar a outrem a responsabilidade pelo uso da sua liberdade! Voltar à inocência, não tomar decisão seria essa a proposta da religião que oferece ao homem “entregar a Deus sua vida”, confiar totalmente nele anular a sua liberdade!

Agora é viver para fazer a vontade de Deus, ou seja, anular os desejos, entregar a outrem os riscos, uma forma inconsciente de isentar-se da responsabilidade de encarar os conflitos da vida, a promessa de ter de volta esse estado perdido. Pergunto-me? Será que viver no Éden sem a ausência de conflitos, mas perpetuando o estado infantil seria o melhor para o homem?

O filosofo Hegel fez uma leitura, que mais tarde o rabino Harold Kushner adotou sobre a queda como: “Queda para cima”! “abriram os olhos”... Esse foi o momento a auto-percepção, esse ato implica conflito entre o “homem e deus” ou a “criança e o pai”, os dois falam de “poder que limita”, deuses com ciúme do homem, pai em conflito com o filho, que ao “abrir os olhos” entra em conflito com todo poder que ameaça o seu crescimento.

Adão e prometeu filhos dos “deuses”, arquétipo psicológico; em adão ansiedade em prometeu tortura, a verdade de que no homem existem conflitos, coragem ou submissão, conforto ou liberdade, a segurança ou crescimento.

“Mais às vezes sou levado,
Pela vontade de crescer,
Torno-me independente,
E deixo simplesmente de crer”.

Desejo de crescer, medo da angustia produzida pelo crescimento, tornar-se independente em oposição a crer, esses são conflitos, por um lado o natural é crescer, mas ao confrontar-se com o crescimento produz distância, e com as angustias percebe que crer implica em romper, sair da esfera da proteção, à distância trás a saudade de algo perdido em algum tempo, então o cantor inconscientemente confessa:


“Não posso viver,
Longe do seu amor,
Senhor”

O amor não ficou para trás, ficou a inocência de crer, os olhos que não se via, a angustia que não existia, a transcendência que tirou a magia do eterno presente, a caixa de pandora se abriu, o fogo não aqueceu, o éden ficou para traz, os olhos se abriu e o homem não gostou do que viu...

4 comentários:

  1. Olha, J., como comentei num artigo aí em baixo, o único crime do homem foi querer conhecer. E ainda bem que Eva comeu aquela bendita maçã!!!

    Porque deus queria o homem inocente? que graça tem isso para a relação deus-homem? Como posso escolher amar a deus se eu não conhecer o "outro lado"?

    Bem, com relação ao seu critério de classificação musical, eu diria que gôsto musical é bem subjetivo.

    Eu por exemplo, a muito tempo não compro música gospel. Prá mim, 99% é lixo. Salvo o grupo Logos, o Guilherme Keer, o Sérgio Pimenta, o Janires. Já viu que é só pessoal Jurássico né? e tirando o Logos, o resto já está passeando nas nebulosas e brincando com as estrelas, como o Janires gostava de cantar.

    Eu não suporto essa dependência patológica que o cristão tem por seu papai do céu. Medo de crescer. Medo de sair de casa. Medo da independência.

    Quero ser independente de deus no sentido de que ele não é o meu caixa eletrônico. Ganhar dinheiro, comprar casa própria e carro são coisas que eu tenho que fazer com o suor do meu trabalho.

    Mas não quero ser independente dele, se isso significar "matar o pai". Não quero cumprir esse desejo do inconsciente freudiano, porque o pai divino que Freud pensa ao falar de deus, não é o deus que habita em mim. O deus que habita na minha psique, deus-imagem, como me ensinou Jung, faz parte da minha própria constituição psiquíca e psicológica.

    Não preciso ficar independente dele, pois ele, sou eu e eu sou ele. "Eu e o pai somos um"

    Grande abraço

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  2. Valeu Eduardo!

    Grato pelos seus inteligentes comentários no meu blog.

    Tem sido muito gratificante ter novas amizades como esse grupo de blogueiros.

    È muito bom expressar o que está em nosso coração, tenho muitos alunos, que sempre lêem o que escrevo, e pretendo divulgar o máximo possivel!

    Acho que essa é a forma de pelo menos daqui a uma década termos significantes mudanças no cristianismo Brasileiro.

    Acho que a internet será o veicúlo para essa transformação!

    Abraço!

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  3. Prezado J.Lima


    Perfeito esse seu ensaio, do qual retirei esse pequeno trecho para embasar meu sucinto comentário:

    “Na narrativa bíblica o estado do homem ao desobedecer, é denominada na teologia uma ‘queda’, já numa leitura psicológica poderia denominar-se uma ‘subida’.” (J. Lima)


    O mito do Paraíso Edênico mostra, de modo muito esclarecedor, que a “queda” representa a saída do estado de inocência para o da autocontradição. Depois da queda, o homem reorganiza-se para enfrentar a ameaça do não ser, da morte, da culpa e da falta de sentido que permeia o seu ser.

    Contudo a imagem do Pai permanece incondicionalmente projetada em seu ser.

    O conceito da “Queda Universal” saindo da literalidade supérflua para a simbologia profunda, significa a passagem da inocência do homem para o estado de alienação existencial com todas as sua implicações, de que tratam a psicanálise e a religião.

    Sobre esse aspecto, a queda é realmente uma subida, pois abriu no homem o espaço para ele entender que a sua experiência existencial em face da finitude humana, tornou-se agora o centro de sua realidade.


    Abçs,
    Levi B. Santos

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  4. J. Lima este seu texto é fora de serie, tanto que não me contive em “comer” uma vez, tive que repetir o “prato”, estou ainda degustando o sabor............hum mais que delicia. Rsrsrsrs


    Muito bem colocado, pois de fato não existe musica sacra e musica que é profano, isto vem do dualismo agnostico.
    Existe musicas boas e musicas que são ruim, em e para diversos ambiente.
    Principalmente hoje, com o mercantilismo gospel, eu prefiro é musica do “mundo” mesmo.
    Musica evangelica, só se for as antigas, há as musicas antigas, principalmente os hinos da harpa.


    Hám os mitos, como são importantes, pois com eles, conseguimos entender o intendivel, perceber o imperceptivel, aquilo que as palavras são incapazes de descrever, os mitos e sua linguagem simbolica-mitica nos faz voa nas azas da imaginação.


    De fato, o rabi Harold Kusher com seu excelente livro “Quando coisas ruins acontecem a pessoas boas” nos trouxe uma luz sobre a queda, que segundo a sua visão seria uma queda ao contrario, ao inves de ser de “cima para baixo”, ela é “de baixo para cima”, ou seja, o homem ao comer do fruto, passou – evoluiu – de animal irracional movido por seus institos, a conhecimento do bem e do mal.


    Então – segundo a tese de Harold Kushener - o que nos separa de Deus, não é a queda como pecado original, mas o conhecimento do bem e do mal.


    Pois cada vez que o homem vai evoluindo em seus conhecimentos, mas este mesmo homem vai deixado de ser dependente de Deus – não no sentido de vir a existir ou transcender, mas no sentido da infantilidade e alienação para a vida.


    Conhecimento é igual a responsabilidade.


    Bem vou parar por aqui, outro dia continuo a ler os seus excelentes textos.


    Abraços

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