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Jl-reflexoes

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Desejo de ser aceito!

Parte III

O inconsciente religioso tem desejo de conquistar o amor do Pai, essa é a gênese da neurose produzida pela religião.

Levantar-me-ei, e irei ter com o meu pai, e lhe direi: Pai pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus trabalhadores.” (Lucas 15:17)

O filho não entendia que ser filho não é uma dignidade que se conquista e se perde, mas sim uma dignidade de herança: “já não sou digno de ser chamado teu filho”. O pai não chama o filho de filho por esse conquistar o direito de ser chamado filho, mas por que foi gerado!

Essa fala inconsciente do filho revela que na sua consciência ele perdeu o que havia conquistado, mas estava enganado, pois ele não havia conquistado depois ele não havia perdido, o problema está em que ele achava que “conquistou”, e depois “perdeu” a dignidade de ser chamado de “filho”, por conseqüência aceita ser chamado de “servo”.

O filho não conhecia o pai, achava que tudo o que ele tinha era por méritos seu, isso o levou a culpa que tem sua causa no fato de não “conseguir merecer” isso explica a sua frustração ao pedir: “dá me parte da minha herança”, quero administrar o que é “meu”, mas perdi o que era “meu”, não tenho direito de usufruir o que é “teu”, por isso: “trata-me como um dos teus trabalhadores”.

Essa fala mostra o pensamento de que o status de filho dependia dos seus acertos, e que o erro cometido iria o rebaixar a categoria de empregado; acontece, porém, que o Pai ama, e jamais trata o filho como “escravo”, mesmo que o filho mereça esse tratamento, o amor do pai não é volúvel, não diminui a proporção dos erros dos seus filhos!

Vinha ele ainda longe, quando seu pai o avistou, e, compadecido dele, correndo, o abraçou, e beijou.(Lucas 15:20)

O desejo de conquista do amor do pai é buscado através do desejo reprimido, que fica recalcado gerando ressentimento entre: "O sujeito do desejo e o objeto que se interpõe como oposição"! (Lucas 25-29)

Ora, o filho mais velho estivera no campo; e, quando voltava, ao aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças. Chamou um dos criados e perguntou-lhe que era aquilo. E ele informou: Veio teu irmão, e teu pai mandou matar o novilho cevado, porque o recuperou com saúde. (Lucas 27)

O filho mais velho estava no campo trabalhando, cumprindo o seu dever, obedecendo ao pai, essa era a sua gratificação, podia dizer que era “obediente”, ao se aproximar percebe um ambiente em que não estava acostumado, ao ouvir música e danças, perguntou o que estava acontecendo; a sua vida certamente era vazia de festas, não celebrava a vida, não gastava tempo com nada do que fosse “supérfluo” daí a razão para o espanto!

A religião vive na dimensão de enfatizar a “obediência” a Deus, para que assim, o homem tenha uma recompensa futura! Afinal “o nosso descanso não é aqui”! Isso tem produzido pessoas que não desfruta a vida, tudo o que faz gira em torno de uma “recompensa futura”.

Anula a capacidade de festejar o “hoje”, não vêem que o evangelho acima de tudo a mensagem de que o “pai aceita o filho”, não porque o filho esforça-se para ser aceito, obedecer por medo de transgredir, transforma o filho numa pessoa irrepreensível, mas amargo, obediente, porém escravo: “Há tantos anos que te sirvo sem jamais transgredir uma ordem tua”!

O filho mais velho era obediente, mas no fundo ele queria ser como o seu irmão, que ao fazer tudo o que fez, merecia “castigo”, mas recebe “festa”, era demais para ele, fugia da lógica, pois tudo que ele achava que fazia de certo não lhe deu dignidade para ser recompensado, e tudo o que o outro fez de errado, não o tornou indigno de ser recebido com festa!

O desejo de liberdade reprimido é recalcado para o inconsciente, e nessa dimensão a obediência camufla a revolta, pois a liberdade é sagrada, todo o poder que se interpõe contra o desejo de transcender pode sujeitar-se a obediência pela coerção ou medo, mas não consegue remover a ira recalcada, que vai crescendo e no tempo oportuno certamente será ventilada.

O filho que ficou obedecia o pai, mais o detestava, não sabia que "sua obediência perfeita era uma forma de revolta", pois ao perceber que todo o seu esforço não mudou nada em relação ao pai,ventilou a sua ira contida, mostrando que odiava o seu pai por há tanto tempo se esforçar e ver que tudo era vão, pois quem não se esforçou, tinha o mesmo o amor que ele, isso o levou a perceber que seu esforço foi inútil!

O evangelho não é uma religião de “causa e efeito”, pois o filho que “errou” não foi punido, o que pensava estar “certo” não foi recompensado! Não é uma questão de “errar” ou “acertar”, mas uma questão de “reconhecer”, que na presença do pai até o filho que erra é aceito com festa!

A festa anulou todo o sentido de retribuição do pai para com o erro do filho, que ainda recebeu de “Graça” manifestação de alegria pelo seu retorno, e não punição pela sua saída, isso desmontou a sua “patro-logia”. (4)

A religião trata da retribuição ao homem pelo que ele faz para a divindade, de forma que se agradar a Deus fazendo tudo o que ele gosta, terá as bênçãos desse “deus” sobre ele. O evangelho trata da aceitação de Deus pelo homem, pelo que Deus fez por ele, o homem é convidado a receber gratuitamente por aquilo que não fez, e não merecia receber.

Na retribuição quem domina é a lógica: “porém, esse teu filho, que desperdiçou os teus bens com meretrizes, tu mandaste matar para ele o novilho cevado”. No evangelho quem reina é a anti-lógica: “Meu filho, tu sempre estás comigo; tudo o que é meu é teu”, não é preciso fazer para merecer, tudo que é do pai pertence ao filho, ainda que o filho não tenha consciência de que possui tudo!

O amor do pai não tem acréscimo pelo filho que fica em casa e se esforça para nunca errar, nem diminui pelo filho que sai e faz tudo errado. O amor do pai esta na paternidade, Ele ama por que é amor, inclina-se par amar o filho que gerou!
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Nota
(4) Patrologia = Patros + logia, Esse termo na teologia é uma referencia sobre a vida e obra dos pais da igreja, mas nesse caso estou dando um outro significado a essa palavra, que seria o "conhecimento doutrina ou estudo, do filho sobre o  conceito  formado pelo filho  no aprendizado que adquiriu do pai".

2 comentários:

  1. Prezado J.Lima

    Tanto aqui como lá no "Ensaios & Prosas" estamos ventilando o mesmo tema. Que bom, hein?

    Essa poderosa e rica parábola fala de nós mesmos. Fala de nossa relação com o outro (nosso irmão)e de nossa indissolúvel comunhão com o Pai.

    E como você, meu amigo, soube muito bem se estender de forma minuciosa e surpreendente nessa área tão importante que é a Psicoteologia.

    O filho mais novo se sente culpado e RECONHECE que já não mais tem o direito de ser chamado filho, mas para surpresa sua é recebido GRACIOSAMENTE pelo Pai.

    O FIlho mais velho nada entendia da festa da Graça,da festa do Pai que apaga a culpa de quem se arrepende. O filho ressentido acha-se em sua pureza moral, um isento de culpa. Para ele quem está em questão é sempre o OUTRO.

    Parabéns pela profunda abordagem psicoteológica da Parábola do Filho Pródigo.


    Levi B. Santos

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  2. Professor J. Lima e Mestre levi


    Como vocês dois deram um banho de psicanalise, eu quero pegar um trecho do seu texto, puxando uma linha e tecer um comentário, dando efase para um outro lado:


    Sua frase: “A religião trata da retribuição ao homem pelo que ele faz para a divindade, de forma que se agradar a Deus fazendo tudo o que ele gosta, terá as bênçãos desse “deus” sobre ele. O evangelho trata da aceitação de Deus pelo homem, pelo que Deus fez por ele, o homem é convidado a receber gratuitamente por aquilo que não fez, e não merecia receber”.


    Qual a grande diferença do cristianismo (evangelho) para todas as religiões existentes no mundo?
    Qual a grande contribuição do cristianismo para o mundo da religião?
    Mais precisamente, o que o cristianismo tem, que nos oferece, que em nenhuma religião do mundo oferece ou tem?


    A GRACIOSA GRAÇA DO DEUS DA GRAÇA!!


    Toda e qualquer religião se fundamenta e se fortifica atraves da causa e do efeito, inclusive a judaica, basta olhar para o pentateuco. Lá, funciona na base da troca, do toma lá e da cá, do faz e terá, do não fazer e o que tem será tirado, da obediencia recebe bençãos, da desobediencia recebe maldições, ou seja, logica retribuitiva.


    As religiões consegue se perpetuar atraves desta maldita logica, que acaba por manipular as pessoas, prendendo-as.
    Inclusive os cristãos – incluindo evangelicos e catolicos – não entenderam e distorceram o evangelho da graça de Cristo. Basta ligar a televisão e radio para comprovar o que falo.


    Mas na religião de Jesus – isto é, se de fato eu posso chamar a religião de Jesus, de religião – é baseado na graça, ou seja, não tenho que fazer nada para ganhar alguma coisa de Deus.


    Nem mesmo ir a igreja, orar, ler a biblia, ou deixar de fazer qualquer coisa, pois não há nada do que podemos fazer para que Deus nos venha amar mais, e não há nada do que podemos deixar de fazer, que faça Deus nos amar menos, e isto é graça!!!!


    A parabola do filho pródigo, que prefiro chamar dos dois filhos, resume bem isto tudo, pois com Deus não debitos e nem creditos.


    O filho mais jovem que saiu e gastou tudo o que tinha, quando retorna para o pai, pensando em ser um servo, pois em sua mente ele estava em debito com o pai, mas o pai recusa, pois com Deus é assim, não importa o que façamos, nunca ficaremos com dividas com Ele, pois Ele nos conhece, sabe da nossa estrutura.


    Mas em contrapartida também, o filho mais velho, o que ficou, que achava que por trabalhar sempre para o seu pai, ele tinha creditos com o pai, ele se decepciona, pois com o pai não creditos a se ganhar. Deus é assim, não deve nada a ninguém, não temos que comprar as suas bençãos, elas são de graças!!!


    Mas então porque fazemos ou deixamos de fazer alguma coisa?
    Por causa da nossa consciencia!!!!


    Porque a graça é de graça!!!!


    Abraços

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