Top blog

Top blog
Jl-reflexoes

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

PARA QUEM QUER VIVER FELIZ!

Parte II
A vida pode ser vivida, fazendo com que cada momento seja importante, pois eles não podem ser prolongados, mas você pode imortalizá-los.

“E disse-lhes: Tenho desejado ansiosamente comer convosco está Páscoa, antes do meu sofrimento, pois vos digo que nunca mais a comerei, até que ela se cumpra no reino de Deus”. [7]

E interessante como Jesus transformava em símbolos as ansiedades vivenciais, ele confessou que desejava antes, “comer com os discípulos”, a páscoa, que tinha um significado histórico, “pular por cima, ir além da marca, livramento”, transformou um acontecimento passado da nação judaica, num elemento pedagógico, ao mesmo tempo em que estava “imortalizando um momento”, deu um significado valorativo muito antes de acontecer!.

Qual o significado de uma refeição com os amigos, com a família? A resposta é “depende da importância que é dada a esses acontecimentos”, pois eles em si, não tem valor nenhum, a mesma refeição entre amigos que pode não ter nenhum significado especial, pode ser magnífico para outros! O valor não está no “momento”, mas na importância que se dá aos momentos!

Esse principio não só conhecido por Jesus, como posto em prática, pois ao dizer que aquele momento era ansiado por ele a muito tempo, estava afirmando que a adrenalina já fazia parte do seu organismo, dava uma conotação emocional ao ato antes de se tornar fato, vivenciava na mente um momento que ainda estava por existir!

Essa atitude de Jesus mostra que não é a grandiosidade do evento, nem a quantidade de pessoas que precisamos para ter grandes momentos, pois a definição extensiva, ou quantitativa é dada por quem vivencia, ou seja, os momentos são marcados por aqueles que valorizam estes.

Jesus transformou uma ceia, ato comum na comunidade de sua época em um ato memorável que até hoje é lembrado em todos os rituais ligados ao cristianismo. A ceia por si era comum, mas Jesus a transformou em algo inesquecível, isso porque valorizou o momento, deu significado a algo que muitos faziam, mas sem uma carga emocional que eternizasse o momento!

Quem quer experimentar a felicidade não deve buscar uma utopia de grandes eventos, mas transformar o cotidiano em momentos inesquecíveis, para isso é necessário ter sensibilidade, compreender que o valor dos momentos somos nós que damos a ele.

Um momento que poderia ser de lamurias na antevéspera da sua morte, foi marcante, mesmo que após seria causticante na cruz, nos ensinou a valorizar para aprendermos que momentos de trevas virão, mas ele deixou a lição, que a felicidade não é um estado permanente de êxtase, mas sim a somatória de pequenos momentos que lhe damos grandes significado.

A vida pode ser vivida, com a consciência de que o seu passado não está fossilizado, mas em aberto, dependendo de suas atitudes no futuro, Ele poderá ser re-significado. [8]

“E, tomando o pão, tendo dados graças, o partiu e lhes deu, dizendo: Isto é o meu corpo oferecido por vós; fazei isto em memória de mim” [9]

Os discípulos nunca entendiam quando Jesus falava da sua morte, o processo cognitivo. [10], não poderia decodificar a sua fala, o estado emocional que dominava as expectativas de uma liberdade imediata bloqueava a mente impedindo-os de compreender que o seu mestre fosse morrer afinal esse seria o fim de todas as suas aspirações.

A ceia é um momento sagrado na cultura judaica, Jesus usou símbolos, criou imagens concreta de alto teor emocional, para dar um significado marcante para eles, mesmo que eles não entendessem no momento, pudesse ser usada para desbloquear o entendimento, para isso usou a figura do pão representando o seu corpo e o vinho seu sangue.

Mas porque Jesus fez isso? Ele conhecia a importância da associação de símbolos para que ficasse marcada em suas mentes a sua mensagem, ao mesmo tempo seria um antídoto, para que ao serem feridos emocionalmente pelo espetáculo de horror que iriam presenciar, pudessem trocar de foco, e fazer uma substituição de uma realidade por outra mais significativa e escatológica.

Jesus queria preservá-los emocionalmente, diminuir o impacto da visão aterradora que teriam quando os seus olhos contemplassem o seu corpo desfigurado na cruz, a associação dos símbolos seria o recurso pedagógico para atenuar o impacto de horror, e ao mesmo tempo despertar a inteligência deles, para uma reflexão: “O que ele quis dizer com o pão ser o seu corpo e o vinho ser o seu sangue”?

Jesus quis mostrar com o uso de símbolos muito mais do que a aprovação do método pedagógico, e sim um principio de vida em relação ao tempo: “O passado sombrio de ontem, pode ter um novo significado amanhã”, não está petrificado no ontem, espera o “amanhã”, para ganhar a oportunidade de ser re-significado! O que acontece “hoje”, quando chegar amanhã, pode ter sido compreensível é até motivo de gratidão!

“Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem, para fazer, como vedes agora, que se conserve muita gente em vida. [11]

Como tinha conhecimento e sabia da projeção e ápice da história, Jesus quis mostrar para a humanidade representada em seus discípulos, que há esperança para aqueles que sofreram traumas, que no momento algo pode ser fatal, mas somente o “amanhã” pode dar significado ao que aconteceu.

O “ontem” ganha claridade como o raiar do dia que deixa para trás a noite de trevas. Esse é o antídoto para vivermos os traumas de hoje, esperar que eles se tornem passado, deixar com que o futuro mostre que os sofrimentos de ontem, foram parte de um percurso que nos levou a ver a vida pelo prisma da continuidade, pois nenhum passado pode ser passado no sentido de deixar de existir, não podemos extingui-lo, se o fizéssemos perderíamos a identidade, quem somos nós hoje sem os acontecimentos de ontem?

Os discípulos não entenderam a comparação que Jesus fez do pão com o seu corpo, nem do vinho com o seu sangue, mas depois da ressurreição, os escritores do evangelho, narram o significado e mostram que a morte de Jesus, não significou apenas um assassinato cruel e frio, mas o passaporte para que todo o homem tivesse livre acesso a Deus!

A aparente derrota de Jesus para quem olhava numa ótica imediatista, não refletia a realidade, no entanto o próprio Jesus sabia que era uma necessidade, e que esse acontecimento seria re-significado no futuro:

“Para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra” [12]

Esse momento era necessário, pois se transformaria no maior ato de Deus, numa vitória impar, onde a força encontrou maior, a “fraqueza”, quem ganhou não foi de quem matou, mas quem se deixou morrer para ressuscitar, pois Deus, carne se tornou, e na carne o pecado condenou! [13]

A vida pode ser vivida, com a consciência de que só ganha significado quando vivemos em doação, e descentralizando o “EU”, em prol do "TU". [14]

“Semelhantemente, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este é o cálice da nova aliança no meu sangue derramado em favor de vós.”

A psicologia admite a tese: “Quem vive em favor de outrem, dedica a dar de si tem, mas paz interior”, isso porque normalmente pessoas que tem uma causa, visam melhorar o mundo de outrem, dificilmente será uma pessoa depressiva, sempre tem motivação para ir a luta!

È interessante como Jesus já tinha em mente esse principio, pois tudo o que ele fez, foi em beneficio de outrem, veja que ele diz, sobre razão da sua encarnação, usando o sangue como símbolo “derramado em favor de vós”.

A filosofia da pós-modernidade tem como lema: “Expandir o potencial”, convoca o homem a libertar o “deus”, que todos têm dentro de si, convoca-o a romper limites, trazendo o homem na contramão dos ensinos de Cristo!

Isso resulta na busca da realização, onde a satisfação do “ego”, nunca acontece, o sábio de Eclesiastes experimentou essa realidade:

“Tudo quanto desejaram os meus olhos não lhes neguei, nem privei o coração de alegria alguma, pois eu me alegrava com todas as minhas fadigas, e isso era a recompensa de todas elas. Considerei todas as obras que fizeram as minhas mãos, como também o trabalho que eu, com fadigas, havia feito; e eis que tudo era vaidade e correr atrás do vento, e nenhum proveito havia debaixo do sol.” [15]

O sábio sentiu o vazio existencial que fica no homem quando o “eu”, é o centro que gravita em torno da vida, os momentos de “êxtase”, quando chega ao cume em qualquer momento de alegria, tem sempre a descida de forma que o filosofo tem razão ao dizer: “Aquilo que o homem não possui e fundamental para a sua felicidade”, e ainda outro acertadamente profetizou: “Há duas maneiras do homem ser frustrado, uma é não conseguir o que deseja, outra é conseguir”!

Jesus estava ensinado aos discípulos em todas as épocas, que a melhor maneira de “ser” feliz, é “fazer” outrem, quem vive para o outro, encontra satisfação em si, mas quem vive para si, nunca estará satisfeito consigo mesmo e com tudo o que vier a conquistar!
__________________________________
Notas
[7] Lucas 22:15-16.
[8] Lucas 22:19.
[9] Lucas 22: 19.
[10] É a realização das funções estruturais da representação (idéia ou imagem que concebemos do mundo ou de alguma coisa) ligadas a um saber referente a um dado objeto. Constitui na executação em conjunto das unidades do saber da consciência, que foram baseados nos reflexos sensoriais, representações, pensamentos e lembranças, com o processo mental que consiste em escolher ou isolar um aspecto determindado de um estado de coisas relativamente complexo, a fim de simplificar a sua avaliação, classificação ou para permitir a comunicação do mesmo através da abstração.
[11] Gênesis 50:20.
[12] Filipenses 2:6.
[13] Romanos 8:1-3.
[14] Lucas 22:20.
[15] Eclesiastes 2:10-11.

2 comentários:

  1. Professor J. LIMA

    Este seu texto é repleto de riquíssimos ensinamentos e constatações existenciais.
    É um dos melhores que li de seu blog.

    Inicia-se em como fazer dos momentos pequenos e passageiros, momentos profundos e imortalizados!

    Depois você entra no caminho da re-significação (não sei por que, mas eu conheço este argumento de algum lugar. Hahahahah) do passado-passado, mas ainda aberto para novas perspectivas no presente direcionada para o futuro.

    E finalmente fecha com chave de ouro, em fazer valer a nossa vida aqui, tendo valor para o outro, quando nos doamos e não nos limitamos egoisticamente em nós mesmos.

    Ou seja, é uma verdadeira aula de psicoteologia mesmo!!!

    Abraços

    ResponderExcluir
  2. Prezado J.Lima


    Mais um texto de profundo significado.

    Você conseguiu mostrar com maestria o verdadeiro sentido da "Ceia".

    O seu esplendoroso texto me fez sentir em torno da mesa junto aos discípulos de Cristo.

    Que ceia revestida de uma profunda intimidade fraternal, foi aquela!

    Tão grande, entre eles, era a união, intimidade e comunhão, que se sentiam como se estivessem se alimentando do corpo e do sangue do seu querido amigo e irmão maior -, numa espécie de refeição totêmica antecipada.

    A forma como você escreveu, meu amigo, me fez entender a sublimidade e o simbolismo da "ceia", em toda sua potencialidade.

    Enquanto lia vagarosamente o seu ensaio, eu tive a sensação de que ali, Cristo parecia estar harmonizando as vidas dos seus amigos com a realidade que estava próxima.

    Cear é celebrar o mistério da vida com os que estão ao nosso redor, sabendo de antemão que o lugar dos outros é indispensável para a nossa realização existencial.

    A ceia é o banquete íntimo em que a relação "Eu-Tu" é experenciada em sua totalidade ontológica.


    Parabéns, J. Lima


    Levi B. Santos

    ResponderExcluir