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Jl-reflexoes

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Enfrentando as angustias da vida

Parte III
A dor como efeito pela agressão sofrida, produz um sentimento de expectativa em ver o agressor sentir a dor que você sentiu.

“Lembra-te, SENHOR, dos filhos de Edom no dia de Jerusalém, que diziam: Descobri-a, descobri-a até aos seus alicerces. Ah! filha de babilônia, que vais ser assolada; feliz aquele que te retribuir o pago que tu nos pagaste a nós.Feliz aquele que pegar em teus filhos e der com eles nas pedras”.(Salmos 137:7-9)

O cântico do salmista tem uma progressão cada vez mais dramática e no auge da sua dor ele exprime a angustia, falando para o Senhor não esquecer a humilhação, visto que no momento da sua dor manifestou-se a alegria naqueles que o feriam, agora ele desejava que aquela dor que  havia sentido fosse experimentada por aqueles que o fizeram sofrer, essa condição vivida pelo salmista esconde realidades que estava no fundo da sua alma, mas que ele sequer tinha consciência dos efeitos causados por esse sentimento de vingança.

O desejo de retribuição de uma ofensa é sempre maior do que a ofensa sofrida.
Ninguém que foi ferido vai desejar apenas que quem o feriu tenha a mesma medida de sofrimento, esse é um principio destrutivo na lei da retaliação, todo o mal recebido é sempre desejado a retribuição, e quando oportunamente retribuído a proporção é sempre maior em destruição do que o recebido.

“Ah! Filha de babilônia, que vais ser assolada; feliz aquele que te retribuir o pago que tu nos pagaste a nós”. (137: 7).

O salmista cria numa lei universal chamada “retribuição”, ele afirma com certeza que a “filha de babilônia que vais ser assolada”, era como se ele percebesse que a prática do mal é uma ação que volta para o sujeito como uma lei inexorável, mesmo com essa certeza ele não se satisfaz, pois o desejo de vingança é sempre insaciável, sempre quer mais, é tão grave esse sentimento que quando o salmista percebe que não pode ser o agente da retribuição do mal recebido diz:

“Feliz aquele que te retribuir o pago que tu nos pagaste a nós”.
Essa frase significa: “visto que não posso retribuir o mal que recebi desejo que outro faça por min aquilo que não posso fazer”, esse sentimento mostra uma dura realidade para o salmista, pois ele deseja que quem lhe fez sofrer sofra infinitamente mais do que ele sofreu:

“Feliz aquele que pegar em teus filhos e der com eles nas pedras”.
Era como se ele dissesse: “Visto que você em fez sofrer, eu desejo que você veja os seus filhos serem destruído”, você nos destruiu, quero ter o prazer em ver lamentarem a destruição dos seus filhos, o que fizeste à min, quero que alguém faça a seus filhos, ou seja, eu sofri, mas vou me alegrar em ver você sofrer infinitamente mais do que eu, o salmista conhecia o sentimento paterno, e sabia que o sofrimento de um pai é imensurável quando  presencia a dor de um filho, e fica impotente, o desejo do pai é arrancar  a dor do filho, transferir para ele, para não ver o filho sofrer, isso mostra que o salmista desejava o maior dos sofrimentos para aqueles que lhe causaram dor.

A alegria pela dor do outro mostra uma alma adoecida. (137: 9)
Para que serve o sofrimento é uma pergunta de difícil resposta para a filosofia religião e psicologia, mas o efeito do sofrimento é explicado em todas as áreas do saber, a pedagogia do sofrimento tem a capacidade de ascese,  é uma via para a purificação , é no encontro com ele que o ser humano torna-se mais humano, portanto, não dá para justificar o sofrimento na teologia, filosofia ou psicologia em qualquer área do saber, mas dá para perceber que grandes gênios da humanidade usaram o sofrimento para transcender.

O processo de humanização tem o sofrimento como pedagogo, toda-via ao andar nessa via, é preciso ver o que sem ele não se via,  tirar o positivo no negativo é justamente sensibilizar-se com a dor do outro, quem sofre tem um índice de sensibilidade mais aguçado, e ao não desejar que o outro sofra o que sofremos, pois desejar que quem nos faz sofrer sofra o que sofremos, é mostrar que não conseguimos aprender a lição para a vida, temos empatia com a dor do outro, por vermos  nele as nossas dores, esse é o efeito asséptico das dores na existência.

Dedico essa série de mensagens.
Ao querido amigo Levi.(Uma pessoa que um dia desejo conhecer pessoalmente)
Pela contribuição que tem dado ao meu crescimento na área de psicologia  com seus exelentes textos.

2 comentários:

  1. Professor J. LIMA

    Esses seus textos psicológicos desnudam a minha alma, vejo neles uma constatação existencial.

    De fato é verdade, e fica mais difícil aceitar como normas e preceitos os ensinamentos de Jesus sobre amar o inimigo, pois tal atitude pode ser feita nas atitudes, mas jamais na essência do ser, sendo assim, o que vale não é a atitude em si, mas a essência por trás da ação, mesmo sendo uma re-ação da ação controladora do fazer, mas deixando de ser uma ação da essência do ser!!!!

    Abraços e mais uma vez show de bola o seu texto

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  2. Que ensaio altamente significativo meu caro J. Lima!!!

    Pincei entre muitas, essa pérola de trecho:


    "A dor como efeito pela agressão sofrida, produz um sentimento de expectativa em ver o agressor sentir a dor que você sentiu".

    Este teu sensacional texto sobre a vingança dos tempos bíblicos à luz da psicanálise, evocou em mim a visão de João no seu livro Apocalipse, onde ele ao que parece, conseguiu levar esse sentimento destrutivo para a esfera da outra vida, no além.

    Veja só o que diz Apoc.(6, 10):

    "[...] Até quando ó verdadeiro e santo Soberano não VINGAS o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?"

    O desejo do ressentido em retribuir a agressão recebida é muito mais destrutivo que o dano imposto pelo seu inimigo. Mesmo que a vingança retarde, a sede desse rancor é transformado em gozo prévio.

    Agradeço-lhe pela sua contribuição valiosa aos meu parcos conhecimentos em Psicanálise.

    Esse exuberante ensaio psicoteológico (em 3 partes) foi um dos maiores presentes que recebi aqui na blogosfera, e, ficará bem guardado em meu arquivo de "ensaios e textos favoritos".

    Talvez venhamos a nos conhecer pessoalmente. Quem sabe?

    Enquanto isso, vou me deliciando com seus abalizados ensaios, a cada semana.


    Um forte abraço,

    Levi B.Santos

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