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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Cordeiro e Lobo... Duas faces da natureza humana!

Lucas 10:3 “Ide eis que vos mando como cordeiros ao meio de lobos”.

Ao falar para os discípulos ir “como” cordeiros, ele não diz que mando “cordeiros” pois cordeiro não pode subsistir no meio de lobos, ele faz uma associação, uma símile , ele diz: “eis que vos mando como cordeiros”, mas na seqüência ele não usa figura de linguagem, afirma: “no meio de lobos”.

Sua advertência é uma psicologia de sobrevivência, pois estava dizendo o seguinte: “entenda que a mensagem do reino é uma mensagem de transformação” como cordeiro é um processo não é cordeiro, somente ele viveu em toda dimensão humana na sua essência, ele não é “como” cordeiro, ele “é” cordeiro.

Ser como cordeiro é diferente de ser cordeiro significa que os discípulos de Jesus estão passando por um processo, o evangelho não oferece uma transformação instantânea, mas sim progressiva. Havia um longo percurso para que a natureza de cordeiro existente nos discípulos subjugasse  o poder da natureza do lobo que coexistia em sua personalidade.

Os discípulos recebem missão de agir “como cordeiro”. Lobo e cordeiro são duas faces da natureza humana, cordeiro é a dimensão da natureza que recebe a influência de Deus através do espírito, mas lobo é a outra dimensão da natureza do homem.


Jesus estava não só fazendo uma advertência, mas estava falando das duas dimensões que são antagônicas, que lutam no mesmo centro de consciência e o ambiente facilita, mas não pode determinar. O lobo precisa esforço para agir como cordeiro, mas “como cordeiro” pode facilmente agir “como lobo”, pois quem tem um pouco de lobo não precisa de muito esforço para agir como lobo!


Ter consciência de que a transformação não é instantânea, mas sim progressiva, é saber que o evangelho não atua como num passe de mágica, há necessidade de lutar para que o cordeiro que há na natureza não seja silenciado pelo lobo, isso acontece quando se faz o que deseja, mesmo sabendo que não devia fazer!


Quando se faz algo que sabe que não devia fazer é frustrante ver a luta entre e lobo e cordeiro, fazer o que deseja é fácil basta deixar os instintos levar, mas não fazer o que deseja, é preciso lutar, agir “como” cordeiro é ser manso, quando deseja atacar, suportar, quando quer revidar, essa consciência tem o cordeiro, mas não o lobo, por isso ele vai lutar para que o cordeiro venha agir como ele: “revidar, destruir, atacar!

Quando o lobo ataca faz o que lhe é peculiar por natureza, mas o cordeiro não tem estratégia de ataque, sua natureza não tem essa propensão, Jesus está mostrando que o evangelho oferece a consciência de que devemos ter cuidado, para que nesse conflito entre cordeiro e lobo não deixemos que o lobo venha dominar o cordeiro.


Cordeiro no habitat do lobo é presa facial, por isso ele não diz: “eu mando cordeiro no meio de lobo”, mas “como” cordeiro no meio de “lobo”, porque dentro de nós tem a mansidão do cordeiro que é a herança de cristo, mas tem a astúcia e a sagacidade do lobo, que é o ser humano dentro do seu egoísmo.


Jesus esta dizendo aqui: “Vocês vão como cordeiros no meio de lobo, prestem atenção quando vocês forem confrontados, no meio da matilha tome cuidado para que o lobo que há em você, na sua natureza, ao ser confrontado não queira fazer uma guerra, usando uma astúcia, que  lhe é natural”.


O evangelho é o convite ao homem a tomar a natureza do "cordeiro", e viver no mundo de "lobos", a essência da natureza do lobo é astúcia, sagacidade, é predador, a sua subsistência depende da morte de outro, diferente do cordeiro que precisa ser conduzido, alimentado, cuidado, é dependente, não sabe se defender, já o lobo sua defesa é o ataque!Só recua quando encontra alguém que tem maior poder que ele, somente um poder maior o faz retroceder!


A advertência de Jesus aos discípulos era que eles iriam viver num um sistema predatório, pessoas que vão usar a sagacidade para ludibriar, enganar. Sua alerta: “não quero que vocês usem os mesmos instintos, porque esse é para predador!”


Eu envio vocês com uma natureza oposta, sua arma é a sujeição, bondade, mansidão que se encontra no cordeiro, lute contara a força esmagadora, opressora, coerciva, predatória que há em vocês, não usem as mesmas armas, os mesmos instintos, eu não estou enviando lobos, mas "como cordeiro" para lutar no meio de lobos, embora tenham intimidade com as armas dos lobos, suas armas são as do cordeiro!


A força que lhes dou é uma força oposta, não é a força de subjugar, dominar, oprimir, mas de sujeitar-se, não a força da guerra, mas da paz, não é a força que obtém vitória pelo método predatório que elimina o outro, mas a força da confiança de que você recebe a natureza de cordeiro, embora antes já tenha a natureza do lobo.

Você precisa viver num mundo de lobos, transitar entre lobos e não deixar com que a natureza de lobo que está em você venha dominar a natureza do cordeiro. Ele estava advertindo que haveria o perigo de que os seus discípulos ao entrarem  no meio dos lobos, esquecessem de que eles iriam lutar de forma diferente, se isso acontecesse haveria uma “guerra de lobos”, e a mensagem do reino não será sinônimo de paz,  sim uma guerra.

 Ele estava dizendo: “não estou enviando vocês para fazer uma guerra de poder, eu não quero que vocês mostrem que são mais fortes do que os outros, não usem a estratégia do lobo, usem a simplicidade do cordeiro”. È assim que vocês irão atraí-los a experimentarem viver como cordeiros!


Jesus queria deixar claro que no seu reino os fortes não são os predadores, não é força da imposição, coerção, ditadura, mas sim a força do cordeiro mudo que se deixa levar, não é a força daquele que tem poder para esmagar o seu adversário, mas a força daquele que tendo poder não esmaga a cana quebrada.

A força do reino não é a astúcia do lobo, mas a simplicidade do cordeiro, não auto-suficiência predatória do lobo, mas a dependência e humildade do cordeiro, a mensagem do evangelho não é que você pode tudo, se torna imbatível, mas que a força que domina é a mansidão, paz, benignidade, não é medir forças, um poder que vai fazer frente a outro poder, no homem habita duas faces da natureza, a do cordeiro e a do lobo.


A natureza do cordeiro é um arquétipo do “homem perfeito”, mas há a natureza do lobo, que é o "ególatra", que busca satisfazer-se em detrimento do outro, a luta, não deve ser com a força e a astúcia do lobo, mas com a mansidão do cordeiro, não é uma luta para você dominar com suas forças, mas para deixar-se dominar, a natureza humana tem duas faces a do cordeiro e a do lobo!

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

PARA QUEM QUER VIVER FELIZ!

Parte II
A vida pode ser vivida, fazendo com que cada momento seja importante, pois eles não podem ser prolongados, mas você pode imortalizá-los.

“E disse-lhes: Tenho desejado ansiosamente comer convosco está Páscoa, antes do meu sofrimento, pois vos digo que nunca mais a comerei, até que ela se cumpra no reino de Deus”. [7]

E interessante como Jesus transformava em símbolos as ansiedades vivenciais, ele confessou que desejava antes, “comer com os discípulos”, a páscoa, que tinha um significado histórico, “pular por cima, ir além da marca, livramento”, transformou um acontecimento passado da nação judaica, num elemento pedagógico, ao mesmo tempo em que estava “imortalizando um momento”, deu um significado valorativo muito antes de acontecer!.

Qual o significado de uma refeição com os amigos, com a família? A resposta é “depende da importância que é dada a esses acontecimentos”, pois eles em si, não tem valor nenhum, a mesma refeição entre amigos que pode não ter nenhum significado especial, pode ser magnífico para outros! O valor não está no “momento”, mas na importância que se dá aos momentos!

Esse principio não só conhecido por Jesus, como posto em prática, pois ao dizer que aquele momento era ansiado por ele a muito tempo, estava afirmando que a adrenalina já fazia parte do seu organismo, dava uma conotação emocional ao ato antes de se tornar fato, vivenciava na mente um momento que ainda estava por existir!

Essa atitude de Jesus mostra que não é a grandiosidade do evento, nem a quantidade de pessoas que precisamos para ter grandes momentos, pois a definição extensiva, ou quantitativa é dada por quem vivencia, ou seja, os momentos são marcados por aqueles que valorizam estes.

Jesus transformou uma ceia, ato comum na comunidade de sua época em um ato memorável que até hoje é lembrado em todos os rituais ligados ao cristianismo. A ceia por si era comum, mas Jesus a transformou em algo inesquecível, isso porque valorizou o momento, deu significado a algo que muitos faziam, mas sem uma carga emocional que eternizasse o momento!

Quem quer experimentar a felicidade não deve buscar uma utopia de grandes eventos, mas transformar o cotidiano em momentos inesquecíveis, para isso é necessário ter sensibilidade, compreender que o valor dos momentos somos nós que damos a ele.

Um momento que poderia ser de lamurias na antevéspera da sua morte, foi marcante, mesmo que após seria causticante na cruz, nos ensinou a valorizar para aprendermos que momentos de trevas virão, mas ele deixou a lição, que a felicidade não é um estado permanente de êxtase, mas sim a somatória de pequenos momentos que lhe damos grandes significado.

A vida pode ser vivida, com a consciência de que o seu passado não está fossilizado, mas em aberto, dependendo de suas atitudes no futuro, Ele poderá ser re-significado. [8]

“E, tomando o pão, tendo dados graças, o partiu e lhes deu, dizendo: Isto é o meu corpo oferecido por vós; fazei isto em memória de mim” [9]

Os discípulos nunca entendiam quando Jesus falava da sua morte, o processo cognitivo. [10], não poderia decodificar a sua fala, o estado emocional que dominava as expectativas de uma liberdade imediata bloqueava a mente impedindo-os de compreender que o seu mestre fosse morrer afinal esse seria o fim de todas as suas aspirações.

A ceia é um momento sagrado na cultura judaica, Jesus usou símbolos, criou imagens concreta de alto teor emocional, para dar um significado marcante para eles, mesmo que eles não entendessem no momento, pudesse ser usada para desbloquear o entendimento, para isso usou a figura do pão representando o seu corpo e o vinho seu sangue.

Mas porque Jesus fez isso? Ele conhecia a importância da associação de símbolos para que ficasse marcada em suas mentes a sua mensagem, ao mesmo tempo seria um antídoto, para que ao serem feridos emocionalmente pelo espetáculo de horror que iriam presenciar, pudessem trocar de foco, e fazer uma substituição de uma realidade por outra mais significativa e escatológica.

Jesus queria preservá-los emocionalmente, diminuir o impacto da visão aterradora que teriam quando os seus olhos contemplassem o seu corpo desfigurado na cruz, a associação dos símbolos seria o recurso pedagógico para atenuar o impacto de horror, e ao mesmo tempo despertar a inteligência deles, para uma reflexão: “O que ele quis dizer com o pão ser o seu corpo e o vinho ser o seu sangue”?

Jesus quis mostrar com o uso de símbolos muito mais do que a aprovação do método pedagógico, e sim um principio de vida em relação ao tempo: “O passado sombrio de ontem, pode ter um novo significado amanhã”, não está petrificado no ontem, espera o “amanhã”, para ganhar a oportunidade de ser re-significado! O que acontece “hoje”, quando chegar amanhã, pode ter sido compreensível é até motivo de gratidão!

“Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem, para fazer, como vedes agora, que se conserve muita gente em vida. [11]

Como tinha conhecimento e sabia da projeção e ápice da história, Jesus quis mostrar para a humanidade representada em seus discípulos, que há esperança para aqueles que sofreram traumas, que no momento algo pode ser fatal, mas somente o “amanhã” pode dar significado ao que aconteceu.

O “ontem” ganha claridade como o raiar do dia que deixa para trás a noite de trevas. Esse é o antídoto para vivermos os traumas de hoje, esperar que eles se tornem passado, deixar com que o futuro mostre que os sofrimentos de ontem, foram parte de um percurso que nos levou a ver a vida pelo prisma da continuidade, pois nenhum passado pode ser passado no sentido de deixar de existir, não podemos extingui-lo, se o fizéssemos perderíamos a identidade, quem somos nós hoje sem os acontecimentos de ontem?

Os discípulos não entenderam a comparação que Jesus fez do pão com o seu corpo, nem do vinho com o seu sangue, mas depois da ressurreição, os escritores do evangelho, narram o significado e mostram que a morte de Jesus, não significou apenas um assassinato cruel e frio, mas o passaporte para que todo o homem tivesse livre acesso a Deus!

A aparente derrota de Jesus para quem olhava numa ótica imediatista, não refletia a realidade, no entanto o próprio Jesus sabia que era uma necessidade, e que esse acontecimento seria re-significado no futuro:

“Para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra” [12]

Esse momento era necessário, pois se transformaria no maior ato de Deus, numa vitória impar, onde a força encontrou maior, a “fraqueza”, quem ganhou não foi de quem matou, mas quem se deixou morrer para ressuscitar, pois Deus, carne se tornou, e na carne o pecado condenou! [13]

A vida pode ser vivida, com a consciência de que só ganha significado quando vivemos em doação, e descentralizando o “EU”, em prol do "TU". [14]

“Semelhantemente, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este é o cálice da nova aliança no meu sangue derramado em favor de vós.”

A psicologia admite a tese: “Quem vive em favor de outrem, dedica a dar de si tem, mas paz interior”, isso porque normalmente pessoas que tem uma causa, visam melhorar o mundo de outrem, dificilmente será uma pessoa depressiva, sempre tem motivação para ir a luta!

È interessante como Jesus já tinha em mente esse principio, pois tudo o que ele fez, foi em beneficio de outrem, veja que ele diz, sobre razão da sua encarnação, usando o sangue como símbolo “derramado em favor de vós”.

A filosofia da pós-modernidade tem como lema: “Expandir o potencial”, convoca o homem a libertar o “deus”, que todos têm dentro de si, convoca-o a romper limites, trazendo o homem na contramão dos ensinos de Cristo!

Isso resulta na busca da realização, onde a satisfação do “ego”, nunca acontece, o sábio de Eclesiastes experimentou essa realidade:

“Tudo quanto desejaram os meus olhos não lhes neguei, nem privei o coração de alegria alguma, pois eu me alegrava com todas as minhas fadigas, e isso era a recompensa de todas elas. Considerei todas as obras que fizeram as minhas mãos, como também o trabalho que eu, com fadigas, havia feito; e eis que tudo era vaidade e correr atrás do vento, e nenhum proveito havia debaixo do sol.” [15]

O sábio sentiu o vazio existencial que fica no homem quando o “eu”, é o centro que gravita em torno da vida, os momentos de “êxtase”, quando chega ao cume em qualquer momento de alegria, tem sempre a descida de forma que o filosofo tem razão ao dizer: “Aquilo que o homem não possui e fundamental para a sua felicidade”, e ainda outro acertadamente profetizou: “Há duas maneiras do homem ser frustrado, uma é não conseguir o que deseja, outra é conseguir”!

Jesus estava ensinado aos discípulos em todas as épocas, que a melhor maneira de “ser” feliz, é “fazer” outrem, quem vive para o outro, encontra satisfação em si, mas quem vive para si, nunca estará satisfeito consigo mesmo e com tudo o que vier a conquistar!
__________________________________
Notas
[7] Lucas 22:15-16.
[8] Lucas 22:19.
[9] Lucas 22: 19.
[10] É a realização das funções estruturais da representação (idéia ou imagem que concebemos do mundo ou de alguma coisa) ligadas a um saber referente a um dado objeto. Constitui na executação em conjunto das unidades do saber da consciência, que foram baseados nos reflexos sensoriais, representações, pensamentos e lembranças, com o processo mental que consiste em escolher ou isolar um aspecto determindado de um estado de coisas relativamente complexo, a fim de simplificar a sua avaliação, classificação ou para permitir a comunicação do mesmo através da abstração.
[11] Gênesis 50:20.
[12] Filipenses 2:6.
[13] Romanos 8:1-3.
[14] Lucas 22:20.
[15] Eclesiastes 2:10-11.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

PARA QUEM QUER VIVER FELIZ!


“Quero ser feliz”! “Será que essa frase não é contraditória”?  O desejo não é errado em si, mas a ontologia [1] de que “ser feliz", expressa um estado, uma cristalização de êxtase, uma vida de euforia constante! Por outro lado muitos colocam sua expectativa de “ser” feliz quando alcançar uma realização, conseguir um bem, realizar algo definido como um sonho!

Essa busca coloca a felicidade como algo estático, um lugar, objeto de conquista, e nessa odisséia, voluptuosa, o ser que ainda não é, constata a cada realização, bem conquistado, sonho realizado, que não será feliz, pois felicidade não é um lugar que se chega, mas um caminho que se vai, não é um objeto que se conquista sonho que se realiza, pois a realização diminui o êxtase, o que era já não é, perde o sentido, tiveram maior sabor antes, alcançaram o ápice, e declinaram depois.

Por não entender essa dinâmica da vida, o ser humano se ilude em “ser” feliz, e de plano em planos, de conquistas em conquistas, sempre volta ao ponto de partida, êxtase, auge e declínio, nessa redoma que doma a ilusão prevalece a frustração! Se o homem não pode “ser” feliz, por não conseguir prolongar o êxtase de uma alegria, ele pode “viver” feliz, para isso ele precisa viver em outra dimensão, não meta-física, mas na física-meta, pois como ser físico e metafísico o homem precisa muito mais que circunstâncias para viver feliz!

A felicidade de acordo com Jesus está mais perto da consciência de que a “A vida não consiste em poucos grandes momentos, mas sim em milhares de pequenos momentos aos quais emprestamos significado”. [2] Jesus não apresenta códigos para uma vida feliz, tão pouco um manual com passos prefixados, mas a sua vida reflete princípios pela qual podemos nos orientar:

“E chegada a hora, pôs-se Jesus a mesa, e com ele os apóstolos. E disse-lhes: Tenho desejado ardentemente comer convosco esta páscoa, antes da minha paixão. Pois vos digo que não a comerei mais até que ela se cumpra no reino de Deus“ [3]

A vida deve ser firmada em amizades, pois muito mais do que Servos, Jesus se relaciona conosco como amigo!

O momento histórico vivido por Jesus estava chegando ao seu ápice, os discípulos já haviam preparado tudo para a última refeição “foram, pois, e acharam tudo como lhes dissera e prepararam a páscoa”. [4] Esse era um dos últimos instantes de Jesus na terra antes de ser crucificado, e o que ele faz? Convida discípulos e realizar uma ceia, os participantes dos seus últimos momentos foram aqueles que andaram com ele durante os três anos de ministério.

A vida para Jesus era fundamentada em amizades, ele conhecia a importância de valorizar as pessoas e não os seus talentos, não o que elas tinham capacidade de fazer, mas a sua companhia, nos últimos momentos de sua vida ele não deu nenhuma recomendação para os seus discípulos, não estava preocupado com a produção de cada um, com o desempenho que teriam, se iriam dar continuidade a mensagem do reino, para Jesus as pessoas tinha prioridades sobre o que elas podem produzir daí vemos que não houve nenhuma recomendação, mas a ação de desfrutar os momentos apesar das circunstâncias não ser das melhores.

Com essa ação, Jesus absolutiza o paradigma de que o mais importante entre ele e o homem, não é um código de leis, com regras a serem cumpridas e sim que o Deus em-carne, desce do seu nível, iguala-se aos homens nos relacionamentos.

A cultura religiosa usa muito o termo “Servo”, mas pouco o termo “amigo”, no tocante ao relacionamento do homem com Jesus, o termo servo implica a nossa condição de submissão ao seu Senhorio, não na perspectiva feudal, e sim um “escravo”, com condições de não aceitar a subserviência, tendo a liberdade para não servir, mas opta servir seu SENHOR, por esse, ser amigo, e não déspota, submete não por coerção, mas por voluntariedade. Jesus nos elevou a condição de amigo:

“Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos. Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando. Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas chamei-vos amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos dei a conhecer” [5]

O relacionamento com os discípulos mostra que num dos momentos mais críticos, ele não passa um código de leis para a obediência, tão pouco os coage a segui-lo, mas senta a mesa com eles, e fala do seu desejo por aquele momento. Essa é a perspectiva de Jesus no tocante a ser feliz, valoriza pessoas, faz com que a companhia daqueles com quem Ele se relaciona seja de amizade.

Se o homem quiser experimentar a felicidade, precisa conscientizar-se de que O SENHOR se relaciona como amigo semelhantemente o homem também precisa se relacionar com ELE como amigo, pois o desejo de Deus é voltar aos “velhos tempos” do Éden onde face a face se encontrava para passear na virada de cada dia. [6]

Jesus o Deus que se fez carne, veio resgatar, a fonte primária do relacionamento do homem com Deus, a psicanálise diz que o homem desde o seu nascimento sofreu um “desamparo”, de forma que sempre busca resgatar essa perda.

O cerne da filosofia cristã é dar novamente ao homem o original, pois a ruptura deixou no homem um vazio existencial que somente a restituição do estado perdido, colocar novamente o homem na sua posição em cristo, essa restauração pode ser feita, pois “o verbo se fez carne e habitou entre nós”, prossigamos nessa odisséia humana, para contemplarmos como o mestre da vida, viveu e quer que vivamos para o nosso próprio bem...

Continua...
Quero dedicar essa serie de mensagens ao Pr. Ricardo Gondim.
Pela sua influência no meu pensamento que muito me ajudou na reflexão Teológica.
Que Deus o abençoe , lhe dando longevidade para continuar a influenciar essa geração!
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Notas

[1] do Gr. ón, óntos, ser + lógos, tratados. f., ciência que estuda os seres em geral; teoria ou ciência do ser;metafísica
[2] Kivitz, Ed René. Vivendo com propósitos. A resposta Cristã para o sentido da Vida. Editora mundo Cristão. 2003. São Paulo - SP.
[3] Lucas 22:14-15.
[4] João 15-13-15.
[5] Idem 22:13.
[6] Gênesis 3:8, fala que Adão e Eva na virada do dia: “Ouviram a voz do Senhor”, que andava no jardim do Éden, nesse período, a comunicação do Ser criado com o Criador, era direto, sem nenhuma ruptura, mas logo na seqüência diz: “esconderam-se da presença do Senhor Deus, o homens sua mulher, por entre as árvores do jardim”.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Enfrentando as angustias da vida

Parte III
A dor como efeito pela agressão sofrida, produz um sentimento de expectativa em ver o agressor sentir a dor que você sentiu.

“Lembra-te, SENHOR, dos filhos de Edom no dia de Jerusalém, que diziam: Descobri-a, descobri-a até aos seus alicerces. Ah! filha de babilônia, que vais ser assolada; feliz aquele que te retribuir o pago que tu nos pagaste a nós.Feliz aquele que pegar em teus filhos e der com eles nas pedras”.(Salmos 137:7-9)

O cântico do salmista tem uma progressão cada vez mais dramática e no auge da sua dor ele exprime a angustia, falando para o Senhor não esquecer a humilhação, visto que no momento da sua dor manifestou-se a alegria naqueles que o feriam, agora ele desejava que aquela dor que  havia sentido fosse experimentada por aqueles que o fizeram sofrer, essa condição vivida pelo salmista esconde realidades que estava no fundo da sua alma, mas que ele sequer tinha consciência dos efeitos causados por esse sentimento de vingança.

O desejo de retribuição de uma ofensa é sempre maior do que a ofensa sofrida.
Ninguém que foi ferido vai desejar apenas que quem o feriu tenha a mesma medida de sofrimento, esse é um principio destrutivo na lei da retaliação, todo o mal recebido é sempre desejado a retribuição, e quando oportunamente retribuído a proporção é sempre maior em destruição do que o recebido.

“Ah! Filha de babilônia, que vais ser assolada; feliz aquele que te retribuir o pago que tu nos pagaste a nós”. (137: 7).

O salmista cria numa lei universal chamada “retribuição”, ele afirma com certeza que a “filha de babilônia que vais ser assolada”, era como se ele percebesse que a prática do mal é uma ação que volta para o sujeito como uma lei inexorável, mesmo com essa certeza ele não se satisfaz, pois o desejo de vingança é sempre insaciável, sempre quer mais, é tão grave esse sentimento que quando o salmista percebe que não pode ser o agente da retribuição do mal recebido diz:

“Feliz aquele que te retribuir o pago que tu nos pagaste a nós”.
Essa frase significa: “visto que não posso retribuir o mal que recebi desejo que outro faça por min aquilo que não posso fazer”, esse sentimento mostra uma dura realidade para o salmista, pois ele deseja que quem lhe fez sofrer sofra infinitamente mais do que ele sofreu:

“Feliz aquele que pegar em teus filhos e der com eles nas pedras”.
Era como se ele dissesse: “Visto que você em fez sofrer, eu desejo que você veja os seus filhos serem destruído”, você nos destruiu, quero ter o prazer em ver lamentarem a destruição dos seus filhos, o que fizeste à min, quero que alguém faça a seus filhos, ou seja, eu sofri, mas vou me alegrar em ver você sofrer infinitamente mais do que eu, o salmista conhecia o sentimento paterno, e sabia que o sofrimento de um pai é imensurável quando  presencia a dor de um filho, e fica impotente, o desejo do pai é arrancar  a dor do filho, transferir para ele, para não ver o filho sofrer, isso mostra que o salmista desejava o maior dos sofrimentos para aqueles que lhe causaram dor.

A alegria pela dor do outro mostra uma alma adoecida. (137: 9)
Para que serve o sofrimento é uma pergunta de difícil resposta para a filosofia religião e psicologia, mas o efeito do sofrimento é explicado em todas as áreas do saber, a pedagogia do sofrimento tem a capacidade de ascese,  é uma via para a purificação , é no encontro com ele que o ser humano torna-se mais humano, portanto, não dá para justificar o sofrimento na teologia, filosofia ou psicologia em qualquer área do saber, mas dá para perceber que grandes gênios da humanidade usaram o sofrimento para transcender.

O processo de humanização tem o sofrimento como pedagogo, toda-via ao andar nessa via, é preciso ver o que sem ele não se via,  tirar o positivo no negativo é justamente sensibilizar-se com a dor do outro, quem sofre tem um índice de sensibilidade mais aguçado, e ao não desejar que o outro sofra o que sofremos, pois desejar que quem nos faz sofrer sofra o que sofremos, é mostrar que não conseguimos aprender a lição para a vida, temos empatia com a dor do outro, por vermos  nele as nossas dores, esse é o efeito asséptico das dores na existência.

Dedico essa série de mensagens.
Ao querido amigo Levi.(Uma pessoa que um dia desejo conhecer pessoalmente)
Pela contribuição que tem dado ao meu crescimento na área de psicologia  com seus exelentes textos.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Enfrentando as angustias da vida

 
Parte II
A beleza do que vemos nem sempre está no que vemos, pois a beleza é vista como projeção dos olhos da alma!   "Junto aos rios de babilônia”.
O cântico pode fluir diante do rio Jordão, mas fica mudo diante dos rios de babilônia, a beleza não estava nos rios de babilônia tão pouco no Jordão, a beleza estava nos olhos de quem olha, pois projeta a sua felicidade na direção do que se olha.
Um coração feliz encontra beleza no que normalmente não é considerado belo, mas na amargura não consegue ver a beleza no belo, pois a beleza é projetada pelo interior de nosso coração, de forma que se pode olhar para o belo e não ver beleza, e olhar para o não belo e ver beleza, “junto aos rios de babilônia”, eram rios de beleza superior ao rio Jordão, mas ao “sentar nos rios de babilônia”, o salmista não cantou, e sim chorou.

Uma pessoa feliz é aquela que está onde está o seu coração, não é o lugar que faz a sua alma ficar em paz, mas amar o lugar que se em que se está, não é o lugar belo em si, mas sim o amor daquele que ama, é nos olhos de quem olha que está à beleza e essa é projetada pela alegria de quem olha.

Os rios de babilônia só tinham beleza para quem tinha o seu coração em babilônia, mas para o judeu o rio mais lindo do mundo era o Jordão, não importa que seja um rio barrento, que não tenha a exuberância dos rios de babilônia, pois o coração do salmista tinha ficado muito distante, e longe do seu coração não há espaço para beleza.

O valor daquilo que amamos, só é percebido com a distância, a proximidade entre o sujeito e o objeto do amor, obscurece valor do objeto amado.
“Quando nos lembramos de Sião. Sobre os salgueiros que há no meio dela, penduramos as nossas harpas”. (137:1-2)
A palavra saudade é fruto de uma equação: “A distancia entre quem ama e o objeto amado”, somente através da ausência se percebe o valor da presença, tem razão Nietsche ao dizer: “aquilo que é próximo não é conhecido, pois como conheceríamos aquilo que nos é comum”, as lagrimas do salmista só foram exprimidas em razão da distância, só agora percebeu o valor daquilo que ele tinha tão próximo, mas não tinha a dimensão da sua importância.

O exílio foi conseqüência de não valorizar a conquista, de não perceber que o que tinha tão próximo era tão importante, precisou as circunstancias da vida o afastar daquilo que tanto amava, para então “chorar lembrando”, outrora as harpas não estavam penduradas, mas sim entoando cânticos, agora o instrumento da  alegria estava silencioso, pois faltava o ar para aquele que seria responsável em produzir a sinfonia
Angustia saudade e desânimo tomou conta do ser que cantava, agora contemplava as harpas, como testemunha da angustia vivida, esse sentimento de não perceber o valor, está na capacidade de psico-adaptação, onde aquilo que é comum está tão próximo, passa a não ser percebido, anulando a sensibilidade.
Jesus falou desse acontecimento a respeito de Jerusalém “Chegará o dia em que dirá bendito aquele que vem em nome do Senhor” (Lucas 13: 34) , naquele momento ele estava em Jerusalém, e não conseguiram ver que ele era o messias, somente na ausência seria percebido o seu valor, por isso a advertência de Jesus sobre o lamento que iriam ter ao perceber que Ele esteve tão próximo, mas não conseguiram ver, esse fenômeno é comum, somente a distância pode revelar a quem ama o valor do que se ama.
Continua...

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Enfrentando as angustias da vida.


Salmos 137:1-9.
Ninguém se prepara para as adversidades da vida, somos sempre pegos de surpresa, os acontecimentos que nos causam dor, não são planejados, chegam e invadem a nossa vida,  muitas vezes estaremos onde não estará o nosso coração, e não temos força para fazer nada a impotência tira-nos a capacidade de reagir, até mesmo as alegrias de ontem, servem para aumentar a tristeza hoje, e o valor do que amamos se revela na perda, pois a proximidade obscurece a realidade da importância do objeto do nosso amor.

As nossas dores poderão ser ignoradas e a insensibilidade do outro será um risco de que os padrões impostos por aqueles que não experimentaram na sua existência as aflições, queiram que camuflemos os nossos sentimentos, então corremos o rico de nos tornarmos psicopatas, onde os sentimentos estão desconectados da realidade, de tanto esconder a realidade e mostrar a ilusão do que os outros querem que mostremos podemos perder a sensibilidade e ocultar uma expressão de dor com gestos de alegria, eliminando qualquer possibilidade de usar as dores da existência como pedagoga para nos tornar pessoas mais sensíveis.

Conviver com a insensibilidade do outro, trás o risco de nos tornarmos insensíveis, pois no momento de expressar a dor que sentimos, a ocultarmos para adequar-se aos padrões da sociedade, substituímos o momento de lágrima por um sorriso pálido, e ainda entoaremos um cântico, quando há gemidos nos recônditos da alma.

Esquecemos que o ser humano saudável é aquele que expressa a verdade dos seus sentimentos, pois aprendeu que há momentos para todas as coisas, e que se é momento de chorar, não se deve cantar, pois se cantarmos no momento de chorar, corremos o risco de gravar no cortéx cerebral , a pseudo mensagem de que para a tristeza a resposta é o sorriso, e quem é o psicopata? Se não o que perdeu a coordenação dos sentimentos, que não sente dor quando o momento é de sentir? Ou ainda mostra uma expressão totalmente contrária a que deveria mostrar?

Porque existe o sofrimento esse é um dilema da filosofia e da teologia, as religiões tentam dar um sentido nem sempre convincente, mas uma coisa é certa, o sofrimento tem função de assepsia, purifica, deixa o homem mais humano, faz ele aumentar a sensibilidade para com a dor do outro, isso porque ao sofrer, aguça sua percepção , não porque há uma sensibilidade nele, mas porque ele vê no outro a sua dor.

O Salmos 137 narra a trajetória de um homem que soube o que é ser aviltado na sua integridade, soube o que é ser exilado, viveu marcas profundas e mostra indícios do que o levou a viver num abismo de angustia. O cântico do Salmista nos mostra o que acontece ao enfrentar as angustias que faz parte da nossa existência.

 Você poderá estar, onde não estará o seu coração (137:1). “Junto dos rios de babilônia, ali nos assentamos e choramos, quando nos lembramos de Sião”.

O local que se encontrava o salmista era “junto aos rios de babilônia”, isso significa que ele estava longe da sua pátria, longe do desejo do seu coração, o objeto do seu desejo estava longe e quanto maior a distancia entre o sujeito e o objeto de seu desejo, maior a nostalgia, maior a dor, os rios de babilônia representa a dicotomia entre o corpo e o desejo, o desejo estava longe do corpo e o corpo ansiava pelo seu objeto de prazer.

O salmista estava experimentando a triste realidade de que a saudade é a equação da soma da distancia, com a diminuição da possibilidade, e quanto maior a distancia maior a saudade, saudade é ausência do objeto que se ama, pois a proximidade obscurece o valor do objeto amado!

O salmista experimenta algumas revelações dentro desse momento de desespero:
A pré-potencia só existe em razão da ausência da impotência, que é o antídoto para todo o sentimento de onipotência.  “Ali nos assentamos e choramos”. (137:1).

O que fazer quando se é levado por uma força maior que nos oprime, por um evento que nos tira da comodidade da vida, o que fazer quando olhamos ao lado e não vemos solução, ficamos paralisados nos sentindo impotente, nesse momento só nos resta colocar para fora toda a nossa dor.

Foi o que fez o salmista “nos assentamos e choramos”, afinal não tinha mais o que fazer, chorar é um dos momentos mais sublimes do homem, é o momento em que ele se encontra com suas limitações, e vê que ele não é onipotente, que há forças maiores que ele, esse é o momento quem se confessa ateu apela para os deuses, afinal não importa o nome que se dá ao deus, a fé surge na percepção do desamparo e consciência da vulnerabilidade: "O acaso vai me proteger enquanto eu andar distraido". O acaso também torna-se uma divindade!

Todo sentimento de onipotência parte da pré-potência do sentimento de poder fazer, é o sentimento de que nenhuma circunstância da vida irá o abater, o salmista estava se encontrando com a sua in-potência, era o momento de esvaziar qualquer sentimento de pré-potência, pois a in-potência deixa-nos com a dura realidade de que somos in-potentes para resolver muitos eventos que surgem em nossa vida.

A alegria de ontem, aumenta a tristeza de hoje, o termômetro da tristeza do presente será quantitativo a alegria que se teve no passado! (137:1). “Ali nos assentamos e choramos, quando nos lembramos de Sião”

As boas lembranças dos tempos felizes de outrora, não amenizou a dor do salmista, pelo contrário, aumentou! Isso mostra o porquê de muitas pessoas entrarem em depressão quando acometida de perdas, pois essas nos colocam num estado de nostalgia, tem a tendência de nos dominar, de nos deslocar a um tempo que ficou marcado em nossa memória, ao mesmo tempo em que aniquila qualquer perspectiva de futuro.

A alegria do passado serve para aumentar a tristeza no presente, e quanto maior a alegria vivida ontem, maior será a tristeza hoje. “Nos assentamos e choramos, lembrando de sião”! A lembrança de algo que deveria trazer alegria aumentou a tristeza, lembrar da alegria da sua terra dilacerou o seu coração!

Continua...
Essa foi uma série de mensagens pregadas que resolvi escrever.
Devido à extensão do texto a dividi em três partes.
Para não cansar você amigo da blogosfera.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Desejo de ser aceito!

Parte III

O inconsciente religioso tem desejo de conquistar o amor do Pai, essa é a gênese da neurose produzida pela religião.

Levantar-me-ei, e irei ter com o meu pai, e lhe direi: Pai pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus trabalhadores.” (Lucas 15:17)

O filho não entendia que ser filho não é uma dignidade que se conquista e se perde, mas sim uma dignidade de herança: “já não sou digno de ser chamado teu filho”. O pai não chama o filho de filho por esse conquistar o direito de ser chamado filho, mas por que foi gerado!

Essa fala inconsciente do filho revela que na sua consciência ele perdeu o que havia conquistado, mas estava enganado, pois ele não havia conquistado depois ele não havia perdido, o problema está em que ele achava que “conquistou”, e depois “perdeu” a dignidade de ser chamado de “filho”, por conseqüência aceita ser chamado de “servo”.

O filho não conhecia o pai, achava que tudo o que ele tinha era por méritos seu, isso o levou a culpa que tem sua causa no fato de não “conseguir merecer” isso explica a sua frustração ao pedir: “dá me parte da minha herança”, quero administrar o que é “meu”, mas perdi o que era “meu”, não tenho direito de usufruir o que é “teu”, por isso: “trata-me como um dos teus trabalhadores”.

Essa fala mostra o pensamento de que o status de filho dependia dos seus acertos, e que o erro cometido iria o rebaixar a categoria de empregado; acontece, porém, que o Pai ama, e jamais trata o filho como “escravo”, mesmo que o filho mereça esse tratamento, o amor do pai não é volúvel, não diminui a proporção dos erros dos seus filhos!

Vinha ele ainda longe, quando seu pai o avistou, e, compadecido dele, correndo, o abraçou, e beijou.(Lucas 15:20)

O desejo de conquista do amor do pai é buscado através do desejo reprimido, que fica recalcado gerando ressentimento entre: "O sujeito do desejo e o objeto que se interpõe como oposição"! (Lucas 25-29)

Ora, o filho mais velho estivera no campo; e, quando voltava, ao aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças. Chamou um dos criados e perguntou-lhe que era aquilo. E ele informou: Veio teu irmão, e teu pai mandou matar o novilho cevado, porque o recuperou com saúde. (Lucas 27)

O filho mais velho estava no campo trabalhando, cumprindo o seu dever, obedecendo ao pai, essa era a sua gratificação, podia dizer que era “obediente”, ao se aproximar percebe um ambiente em que não estava acostumado, ao ouvir música e danças, perguntou o que estava acontecendo; a sua vida certamente era vazia de festas, não celebrava a vida, não gastava tempo com nada do que fosse “supérfluo” daí a razão para o espanto!

A religião vive na dimensão de enfatizar a “obediência” a Deus, para que assim, o homem tenha uma recompensa futura! Afinal “o nosso descanso não é aqui”! Isso tem produzido pessoas que não desfruta a vida, tudo o que faz gira em torno de uma “recompensa futura”.

Anula a capacidade de festejar o “hoje”, não vêem que o evangelho acima de tudo a mensagem de que o “pai aceita o filho”, não porque o filho esforça-se para ser aceito, obedecer por medo de transgredir, transforma o filho numa pessoa irrepreensível, mas amargo, obediente, porém escravo: “Há tantos anos que te sirvo sem jamais transgredir uma ordem tua”!

O filho mais velho era obediente, mas no fundo ele queria ser como o seu irmão, que ao fazer tudo o que fez, merecia “castigo”, mas recebe “festa”, era demais para ele, fugia da lógica, pois tudo que ele achava que fazia de certo não lhe deu dignidade para ser recompensado, e tudo o que o outro fez de errado, não o tornou indigno de ser recebido com festa!

O desejo de liberdade reprimido é recalcado para o inconsciente, e nessa dimensão a obediência camufla a revolta, pois a liberdade é sagrada, todo o poder que se interpõe contra o desejo de transcender pode sujeitar-se a obediência pela coerção ou medo, mas não consegue remover a ira recalcada, que vai crescendo e no tempo oportuno certamente será ventilada.

O filho que ficou obedecia o pai, mais o detestava, não sabia que "sua obediência perfeita era uma forma de revolta", pois ao perceber que todo o seu esforço não mudou nada em relação ao pai,ventilou a sua ira contida, mostrando que odiava o seu pai por há tanto tempo se esforçar e ver que tudo era vão, pois quem não se esforçou, tinha o mesmo o amor que ele, isso o levou a perceber que seu esforço foi inútil!

O evangelho não é uma religião de “causa e efeito”, pois o filho que “errou” não foi punido, o que pensava estar “certo” não foi recompensado! Não é uma questão de “errar” ou “acertar”, mas uma questão de “reconhecer”, que na presença do pai até o filho que erra é aceito com festa!

A festa anulou todo o sentido de retribuição do pai para com o erro do filho, que ainda recebeu de “Graça” manifestação de alegria pelo seu retorno, e não punição pela sua saída, isso desmontou a sua “patro-logia”. (4)

A religião trata da retribuição ao homem pelo que ele faz para a divindade, de forma que se agradar a Deus fazendo tudo o que ele gosta, terá as bênçãos desse “deus” sobre ele. O evangelho trata da aceitação de Deus pelo homem, pelo que Deus fez por ele, o homem é convidado a receber gratuitamente por aquilo que não fez, e não merecia receber.

Na retribuição quem domina é a lógica: “porém, esse teu filho, que desperdiçou os teus bens com meretrizes, tu mandaste matar para ele o novilho cevado”. No evangelho quem reina é a anti-lógica: “Meu filho, tu sempre estás comigo; tudo o que é meu é teu”, não é preciso fazer para merecer, tudo que é do pai pertence ao filho, ainda que o filho não tenha consciência de que possui tudo!

O amor do pai não tem acréscimo pelo filho que fica em casa e se esforça para nunca errar, nem diminui pelo filho que sai e faz tudo errado. O amor do pai esta na paternidade, Ele ama por que é amor, inclina-se par amar o filho que gerou!
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Nota
(4) Patrologia = Patros + logia, Esse termo na teologia é uma referencia sobre a vida e obra dos pais da igreja, mas nesse caso estou dando um outro significado a essa palavra, que seria o "conhecimento doutrina ou estudo, do filho sobre o  conceito  formado pelo filho  no aprendizado que adquiriu do pai".

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Desejo de ser aceito!


Parte II


Há duas formas de sermos frustrados: Uma é não conseguir o que desejamos outra é conseguir! (Lucas 15: 11-12).


O filho que ficou viu que na presença do pai era “impossível” satisfazer o seu desejo de “liberdade”, restava ficar em casa, se acomodar a situação, fingir que está tudo bem, externar um sorriso, quando interiormente esta chorando, mas assim dá para manter o status de “filho”, seria um preço a pagar pelo estereótipo, mas a vida continuaria ser de escravo. Livre para quem o vê fazendo o “convencional”, aquilo que um filho deve fazer, mesmo que isso lhe traga na sua alma a inquietação: “Será que não seria melhor eu tentar buscar minhas realizações, longe do meu Pai?”.


Ao pedir ao pai sua parte na herança, estava implícito que o filho queria ter a liberdade de agir de acordo com as suas convicções, a fala do filho, mostra que para ele, a sua infelicidade estava em ter que agir de acordo com as normas do Pai, logo na óptica do filho o pai era responsável direto pela suas frustrações.


Mas ele teve ousadia, resolveu agir de forma que contraria a maioria, dizia ele no seu coração: “Quero experimentar por mim mesmo que é possível viver longe da presença pai”, afinal na sua presença, não há como fazer o que lhe é contrário! Só serei realizado se fizer tudo o que quero, sem ter que se sentir culpa, sem ninguém para dizer que estou errado.


“Passados não muitos dias, o filho mais moço, ajuntando tudo o que era seu, partiu para uma terra distante e lá dissipou todos os seus bens, vivendo dissolutamente”. (Lucas 15: 13)


O filho que saiu desejou a “liberdade”, o direito de escolher não ficar na casa do pai, e ir para onde quiser, mas a liberdade que deixa livre para agir, nem sempre nos deixa livre depois da ação, logo ele tinha livre arbítrio, mas não liberdade, a liberdade só existe quando ela não nos torna seu escravo! Ser livre não é ter o poder para fazer o que quiser, mas ao fazer o que quiser não ser afetado pela ação, logo liberdade não pertence aos mortais somente aos deuses!


O filho “viveu dissolutamente”, ou “irresponsavelmente”, teve liberdade para fazer o que quis, mas não continuou livre depois de fazer o que fez! Vivia como escravo na casa por não poder fazer o que queria na presença do pai, continuou como escravo longe da presença do pai, pois a liberdade que pretensamente o tornaria livre o escravizou, agora era escravo da liberdade, pois a liberdade também é regida pela lei, não a lei do pai, mas a lei da consciência!


“Então, caindo em si, disse: Quantos trabalhadores de meu pai têm pão com fartura, e eu aqui morro de fome”! Levantar-me-ei, e irei ter com o meu pai, e lhe direi: “Pai pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus trabalhadores”. (Lucas 17-18)


O filho reconhece “pequei” contra o céu e diante de ti.


A definição teológica para a palavra pecado é “errar o alvo”, não atingir o propósito para o qual foi designado! “Pequei contra o céu e diante de ti”. Essa confissão se dá pelo entendimento que antes de pecar contra o próximo se peca contra Deus.


Mas a realidade é que todo o pecado se dá em “errar o alvo com o outro”, não é uma transgressão no “espírito”, pois só ama a Deus amando o próximo. (1 Jo 4: 20), da mesma forma “Deus está no próximo” errarmos o alvo para com o próximo, pecamos contra Deus, de forma que “pecar contra os céus”, é antes de tudo pecar contra o próximo!


O filho relativiza o significado de “liberdade”, pois confessa o seu desejo: “trata-me como um dos teus escravos”. Outrora na casa do pai, queria estar longe de casa e livrar-se da “presença”, agora que estava longe, sente a falta da casa e da presença, percebe que viver como escravo na casa do pai, seria melhor do que viver “livre longe do Pai”. O desejo de ser livre para fazer o que queria, cedeu lugar para a saudade de quando não fazia o que queria.

Continua..